Diagnósticos e Geração de Emprego
Enio Jorge Salu – Publicado em 07 de Maio de 2019
Infelizmente os últimos governos, em todas as instâncias, entenderam saúde como um encargo – algo que têm obrigação de fazer e está associado simplesmente aos custos que não tem previsão orçamentária.
Se a visão fosse outra – se saúde fosse entendida também como oportunidade de negócios – teríamos um sistema de saúde pública mais eficiente, e nossa saúde suplementar muito mais desenvolvida.
Vou escolher exemplificar aqui com dados do estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil, que mapeiam os SADT’s (serviços de apoio ao diagnóstico e terapia). Poderia ilustrar com dados das outras especialidades do estudo, mas só com estes que se relacionam com o diagnóstico já é possível entender como os governos perderam oportunidades nas últimas décadas.
Especificamente em relação aos diagnósticos, como vamos ver, o tema demonstra que operadoras de planos de saúde trabalham com uma lógica equivocada em relação ao assunto.
O quadro a seguir demonstra o cenário atual por grande grupo de equipamento de diagnóstico no Brasil
Temos cerca de 318 mil equipamentos para diagnósticos no Brasil.
O quadro define uma estimativa de empregos diretos e indiretos para cada tipo de equipamento (estimativa conservadora), o que resulta em mais de 1 milhão e cem mil empregos.
É importante citar que são empregos qualificados: não se trata de empregos informais, de baixo valor e sem capacitação. Ao inserir um equipamento de diagnóstico no mercado, existem implicações econômicas muito favoráveis além do emprego propriamente dito:
· O profissional que realiza os exames tem formação assistencial, o que influencia a economia da formação das pessoas;
· Os profissionais da retaguarda têm formação específica, o que influencia a economia das especializações;
E o funcionamento do equipamento exige insumos, desde energia, passando por suprimentos, manutenção, até a higienização adequada. Higienização adequada, por exemplo, diferencia o emprego gerado para um trabalhador doméstico sem especialização alguma, do emprego gerado para um trabalhador de empresa, que deve seguir rotinas que cumprem obrigações de prevenção de infecção !
A tabela demonstra claramente como governo e operadoras de planos de saúde entendem diagnóstico como custo, e não como redução de custo – vamos a um exemplo:
· Quase 80 % das cidades brasileiras não tem sequer um único equipamento para mamografia;
· A logica atual é que mamógrafo é caro e exame de mamografia é caro;
· A lógica deveria ser é a de que o diagnóstico precoce do câncer de mama vai economizar muito no tipo de tratamento que virá a seguir !
A lógica que está sendo cantada em verso e prosa é que no Brasil se faz exames desnecessariamente, aumentando os custos do SUS e da operadora de planos de saúde:
· O desperdício se combate com gestão e não com restrição de acesso;
· A restrição de acesso causa desperdício muito maior de recursos.
Vendo o quadro vemos que mais de 15 % das cidades não possui um único ECG, e quase 25 % não possui um único equipamento de RX:
· A lógica atual é fazer o paciente se deslocar – um absurdo se pensar que o ECG pode estar sendo requerido por pessoas hipertensa, ou o RX por pessoas com dificuldade de locomoção;
· O custo associado é muito maior do que se o exame fosse feito na própria localidade do necessitado.
Os dados do estudo são, vamos dizer assim, um pouco mais dramáticos que isso. Escolhi 2 plotagens do estudo para comentar aqui:
A distribuição dos mamógrafos per capta varia quase 6 vezes da UF menos favorecida, para a UF mais favorecida. Chama a atenção o Estado de Pernambuco, que não é dos mais ricos da federação, ter uma ótima oferta de mamógrafos, comparado com os demais. Tanto em relação à saúde pública, como na saúde suplementar, o diagnóstico precoce do câncer de mama tende a ser muito mais eficiente !
A distribuição dos equipamentos de RX varia mais de 6 vezes. O Estado do Paraná é o que tem melhor oferta. Sem considerar outros aspectos, a indicação de exames de diagnóstico por imagem mais caros reduz quando o acesso ao RX é mais adequado.
Procurei aqui não citar aspectos assistenciais protocolares – minha área de atuação é avaliar receitas e custos independentemente das melhores práticas assistenciais, porque como todos sabem não tenho formação assistencial. Mas me atrevo a dizer que se o cenário fosse diferente, com maior oferta, além dos aspectos econômicos citados aqui, as práticas assistenciais seriam muito mais aderentes ao que os protocolos de melhores práticas assistenciais definem. Este tipo de análise, deixo para quem tem capacitação adequada para opinar – apenas concluo que, sob o ponto de vista dos negócios, posso afirmar que economizar “copinho de café” não evita o consumo “elevado de cafeína” !!