Rentabilidade e Custo por Procedimentos de APS e ABS

Enio Jorge Salu – Publicado em 9 de Outubro de 2019

 

 

 

Foto do curso que ministrei para a Unimed FESP nesta semana, que contou com gestores de 15 Unimeds do Estado de São Paulo ... se não estiver enganado !!!

 

APS está "na boca do povo" porque é a única alternativa viável para a não implantação dos modelos de remuneração baseados em valor que se falam há anos, mas sem nenhum case real conhecido ... muita discussão, muito marketing sobre o tema, mas quando temos a oportunidade de visitar os locais que dizem ter implantado nos deparamos com modelos “fee for service” com elementos de redução de custo, restrição de acesso e verticalização ... sem elementos efetivos que resultem em melhoria da qualidade assistencial (o valor) !!!

 

APS está então ocupando a lacuna, e criando um mercado de negócios bem conflitante: de um lado as operadoras aplicando o conceito para reduzir seus custos, e do outro os serviços de saúde aplicando o conceito para eliminar os intermediários entre ele e o principal cliente da saúde suplementar: a empresa que adquire o plano para seus funcionários.

 

Como este conflito vai evoluir é a grande expectativa do momento: estamos vendo um mesmo cliente ser visitado por uma operadora com rede 100% própria, e ao mesmo tempo por um famoso serviço de saude ofertando uma APS "meio que limitada" como sendo a "salvação da lavoura" para a redução de custos com a folha de pagamento dos funcionários.

 

Está cada vez mais difícil saber quem é cliente de quem ... quem é concorrente de quem ... e o mercado vai se ajustando ... operadoras e serviços de saúde vão envolvendo as empresas clientes na discussão de sinistralidade como se esta fosse a atividade fim dela também!!!

 

Quem tem melhor visão de oportunidades do mercado e não "só do seu pedaço" ... quem está tendo como métrica que "cada um no seu quadrado" é coisa do passado ... está se dando melhor: está colhendo os frutos da "onda".

 

 

O curso foi muito legal porque iniciamos conceituando a diferença entre APS - Atenção Primária da Saúde e ABS - Atenção Básica da Saúde !

 

Por mais incrível que possa parecer a maioria dos gestores não tem claro a diferença, pensando que é gestor de uma coisa, quando na verdade é gestor de outra ... e sem esta definição adequada do papel da unidade que administra, não trabalha com métricas e indicadores adequados ... acaba sendo surpreendido quando comparado o seu resultado com outras unidades, que na verdade não têm nada a ver com a sua ... embora façam muita coisa igual na baixa complexidade !

 

 

Especialmente para este grupo do curso tivemos que discutir duas situações muito específicas da realidade deles:

·         O prestador que é cooperado, enquanto prestador e não como cooperado, pode ter interesse conflitante em relação a um dos objetivos da APS que é reduzir o de desperdício ... se é que me entende ... e enfatizando "pode ter" não é a mesma coisa que "tem";

·         Se não bem definido o modelo, APS pode se tornar uma singular dentro da singular, concorrendo e conflitando na obtenção da receita, no compartilhamento do risco ... se é que me entende ... também lembrando: "pode ser" não significa que "é".

 

E são particularidades exclusivas das cooperativas !

 

 

Isso posto, pudemos introduzir os conceitos que a maioria dos gestores de APS e ABS não domina porque geralmente tem formação assistencial: operacional, não operacional, lucro, prejuízo, ponto de equilíbrio, custo, despesa, margem de contribuição ...

 

Discutimos os métodos de cálculo de rentabilidade, custo médio e custo por procedimento baseado em ficha técnica e as particularidades da precificação na área da saúde.

 

Enfatizando a diferença de foco que existe entre a contabilidade de custos, que "apura os custos" seguindo critérios contábeis, e o gestor de custos que "controla custos" e necessita trabalhar com outros critérios, avaliamos que os cálculos são diferentes, e que não é porque apresentam resultados diferentes estão errados ... apesar de serem "números imbatíveis" (um não "bate" com o outro) cada um serve para uma coisa !

 

 

Só então ... somente após estarmos todos falando a mesma língua ... com a visão do gestor do negócio e sem os vieses comerciais, discutimos como avaliar a rentabilidade de uma APS e de uma ABS.

 

Esta discussão valeu todo o esforço inicial porque cada um que falava já posicionava sua unidade como uma coisa ou outra ... foi muito bacana presenciar isso ... tem coisas que não têm preço!!! ...

 

... alguns entenderam que em sua unidade, em que a carteira de beneficiários está dividida (uma parte APS, uma parte ABS) na prática vai ter que avaliar a rentabilidade como ABS até que APS passe a significar a maioria da carteira ...

 

... e, principalmente, todos se certificaram que os sistemas de financiamento público (SUS) e privado (Saúde Suplementar) têm como premissa remunerar procedimentos e não gerenciamento assistencial ... são meros sistemas de financiamento ... não são sistemas de saúde ... e tudo que se discute, inclusive no tema remuneração baseada em valor continua sendo remuneração de procedimentos !!!

 

Por isso está sendo muito mais fácil e pratico discutir APS e não DRG ... e que fique bem claro, sem juízo de valor: não falo sobre o que é melhor ou pior ... estou comentando o que é mais fácil e prático ser discutido com gestores , cuja maioria tem formação assistencial ... apenas isso !

 

Aliás, é uma pena a ANS estar empenhando recursos em modelos de remuneração com base em procedimentos que não se tem claro o resultado que realmente podem dar em redes fragmentadas de assistência ao invés de empenhar recursos para APS que muda o paradigma do sistema para o gerenciamento do paciente ... particularmente acho um erro estratégico que pode custar caro para o sistema de financiamento como um todo !!!

 

O mais legal da discussão foi deixar claro que rentabilidade de APS se mede da mesma forma que se mede carteira de planos de saude, enquanto rentabilidade de ABS, se mede da mesma forma que se mede serviço de saúde ... uma tem como base sinistralidade e custo, enquanto a outra tem como base custo e preço !!!

 

Bem, foi unânime a conclusão de que ainda não existem casos que permitem avaliar os resultados reais das APSs que já iniciaram ... não existe certeza de que os resultados serão os planejados, defendidos pela literatura ... só está sendo possível mesmo avaliar o resultado de cada ABS.

 

E mais uma vez me senti recompensado em poder discutir isso com o maior interessado, envolvido, responsabilizado: o gestor da APS e da ABS ... agradeço muito a oportunidade que a equipe de desenvolvimento da Unimed FESP me proporcionou !!!!