Desafios para Faturar bem SUS
Enio Jorge Salu – Publicado em 31 de Outubro de 2019
Foto da turma que dei uma aula ontem no Hospital de Base de São José do Rio Preto.
O maior desafio do gestor é fazer sua estrutura faturar bem:
· Primeiro porque se você não vai atrás do dinheiro ele não vem até você, e sem dinheiro não há mágica que faça você administrar bem;
· Depois porque tudo conspira para você deixar de faturar tudo que pode;
· E mais um monte de razões que poderia listar aqui ...
Nas aulas costumo dizer que quando resolvi abrir minha empresa há quase 15 anos só tinha uma certeza: a conta sempre vai estar errada e poderia atuar em consultorias e cursos para auxiliar hospitais a perder menos.
A cada nova portaria do SUS, a cada nova RN da ANS, a cada nova proposta de modelo de remuneração ... enfim, a cada ação que aumenta a complexidade do processo de remuneração pelos serviços prestados pelos hospitais, sempre existe uma consequência negativa no processo de faturamento para ser ajustado ... onde tem gente chorando tem gente vendendo lenço !!!
Dentro deste cenário desafiador, e para mim fascinante, existem hospitais ainda mais complexos. Entre os três tipos mais complexos está o que atende tanto pacientes do SUS como os da Saúde Suplementar.
Algumas razões:
· A complexidade das regras comerciais do SUS, e a insanidade das regras comerciais da Saúde Suplementar são muito diferentes e o fato da maioria absoluta dos hospitais ser formada por pequenas empresas, sem estrutura e especialização adequadas para lidar com a complexidade dos controles, faz com que eles deem mais foco na SS que paga mais, e menos no SUS ... menos atenção ao SUS, mais erros nas contas SUS;
· Para um mesmo procedimento as contas do SUS são muito diferentes das da Saúde Suplementar, e as próprias contas da Saúde Suplementar são diferentes entre si porque variam em função de cada contrato. Caindo em uma armadilha comum deste cenário, hospitais definem processos diferentes de formação das contas junto aos profissionais assistenciais ... maior variedade de processos para quem não deve ter como foco o faturamento, mas sim o atendimento do paciente, maiores os erros nas contas;
· Para a maioria absoluta dos envolvidos existe a crença de que as contas do SUS são pacotes, onde se lança somente o procedimento principal, e os hospitais não aproveitam todas as oportunidades de lançamentos que existem nos 8 grupos da tabela SIGTAP, gerando uma grande perda;
· Existe também a crença de que nas contratualizações, como o repasse do SUS é fixo, não existe necessidade de faturar toda a produção ... só o teto. Se compor a base histórica da produção adequadamente o hospital vai vendo seu orçamento sendo reduzido ao longo dos anos;
· Na maioria dos hospitais o processo de faturamento ainda ocorre exclusivamente dentro do faturamento, depois da alta do paciente, muito próximo da data limite de remessa. Fazer as coisas correndo, sem envolver adequadamente os envolvidos na origem da informação que gera a receita ... erros;
· A incompatibilidade da atividade assistencial com a necessidade de envolvimento dos profissionais assistenciais nos processos de formação das contas define processos que não aderem a rotina do médico, da enfermagem, e dos outros profissionais multidisciplinares ... na verdade eles nem entendem direito porque pedem tanta coisa burocrática;
· Na Saúde Suplementar os médicos geralmente recebem produtividade e no SUS não ... aliado ao fato de que na Saúde Suplementar todas as contas de alto valor serem auditadas e no SUS não, os prontuários na Saúde Suplementar são muito melhores que no SUS, seja em papel ou eletrônico. Prontuário ruim ... conta com erro;
· ... não pararia aqui ... nas aulas estressamos o assunto.
Acho que não preciso dizer que quando o erro é a maior para o hospital a auditoria aponta ... quando é a menor ninguém fala nada: é perda !
E também acho que não é necessário dizer que se não existe engajamento da administração para isso, o resultado é uma receita absolutamente pífia em relação à produção real !!!
Poderia também listar tudo o que costumamos fazer para mitigar os danos de cada um destes tópicos, mas vou aqui me limitar a comentar somente um deles, que é o principal em se tratando de faturamento SUS: o envolvimento de todos no processo se formação das contas.
Se você tem uma empresa e os funcionários não sabem o que ela vende e nem o preço dos produtos, qual a chance de dar certo ?
Se o médico, a enfermagem, a fisio ... se quem produz não sabem, daquilo que fazem, o que se pode faturar é a mesma coisa !
Não é necessário, nem desejável, que eles sejam especialistas em faturamento, mas se não conhecem o básico da tabela SIGTAP, e o básico do orçamento e repasse do SUS nunca vão estar envolvidos adequadamente em processos de sustentabilidade financeira.
Nunca vão ajudar a desenvolver os processos, os checklists, os kits ... ficarão eternamente como agentes da passiva reclamando da burocracia.
Por isso não deixo de elogiar iniciativas como as da Roche de auxiliar serviços de saúde a disseminar o tema para médicos:
· Nesta aula em SJRP estavam presentes médicos, enfermeiros e outros profissionais multidisciplinares;
· No portal conexaoroche, entre outras coisas, tem um manual e vídeos para download gratuitos que ensinam como faturar APACS de quimioterapia. Um portal prioritariamente desenvolvido para médicos;
· No ano passado proveu cursos gratuitos de faturamento SUS em 6 capitais do Brasil.
Todos os atores (SUS, operadoras, governo, hospitais, fabricantes ...) podem estar em lados diferentes da mesa negociando dependendo do evento, mas todos os que entendem sua missão em um mercado que tem como pano de fundo curar doenças têm um interesse em comum: melhorar a gestão da saúde.
Porque melhorando a gestão do sistema, equilibram as finanças e o acesso da população à saude aumenta !
Melhorar o faturamento não é mera atividade de explorar a fonte pagadora ... levar vantagem sobre ela ... antes de tudo é assegurar a remuneração justa para dar sustentabilidade ao serviço de saude ... no caso do SUS evitar o sucateamento do ator mais sensível aos danos que a falta de recursos pode ocasionar: tratar doentes gratuitamente !