Evolução dos Administradores na Profissionalização da Gestão da Saúde no Brasil
Enio Jorge Salu – Publicado em 01 de fevereiro de 2020
Quando ingressei no segmento da saúde (ninguém me contou) sofria muito com o fato das empresas serem geridas por médicos – que fique bem claro: não porque eram médicos, mas porque não tinham formação em gestão.
Como o segmento da saúde era muito lucrativo, as empresas geravam resultado mesmo com algumas, vamos dizer assim, “barbeiragens” dos dirigentes. Este tempo já passou:
· Embora as empresas do segmento ainda sejam muito lucrativas, a complexidade do mercado evoluiu muito: regulamentações, regulações, proliferação de entidades de classes com interesses extremamente conflitantes
· Atualmente um erro estratégico, ou até mesmo operacional, pode levar a empresa a insolvência ... tanto que presenciamos a agonia e falência de grandes empresas ... “dos dois lados do Rio Jordão” (operadoras e serviços de saúde).
É inegável que o segmento, antes tido como amador, já se faz respeitado no “mundo dos negócios”.
Uma das razões é a profissionalização da gestão. Apesar de ter muito ainda a ser melhorado (e quem é do segmento sabe o quanto), é inegável que houve avanço.
Vou fazer uso de dados do estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil Edição 2020 para demonstrar com números que a administração na área da saúde hoje é muito diferente.
Pelos dados do CNES somos (*) mais de 160 mil administradores atuando na área da saúde.
(*) Me permitam a inclusão no grupo uma vez que graduado na área de exatas (TI), fui me especializar em Administração de Serviços de Saúde na USP, com professores que guardo a mais absoluta estima e muito ... muito ... respeito, culpados pela decisão de migrar para a área de gestão ... e que graças a Deus tenho a oportunidade de conviver profissionalmente !
Estou usando meu exemplo pessoal para explicar que existem muito mais que 160.000 administradores atualmente na saúde:
· Eu não figuro no CNES, porque minha empresa de consultoria não é obrigada a publicar seus profissionais lá ... não é uma empresa de saúde;
· Como eu, existe uma infinidade de administradores que não se vinculam às empresas que necessitam publicar seus dados lá;
· Portanto a quantidade de administradores é desconhecida ... e certamente muito maior que isso.
Mas vamos aqui considerar que sejam “apenas” 160.000 ... quantos segmento de mercado empregam tantos profissionais da área de administração no Brasil ?
Este outro gráfico, que estratifica por CBO, demonstra que já são 41.225 profissionais de nível não operacional ... especializados !
Estão em funções que eram ocupadas por médicos, dentistas, enfermeiros ... um profissional assistencial bem avaliado era premiado com o cargo de médico administrador, enfermeiro administrador ...
Conforme ilustra o gráfico, estes administradores em cargos não operacionais evoluíram na área da saúde de 30.253 em 2017 para 41.255 em 2019 ... 36,4 % de crescimento em apenas 2 anos !
E para não deixar dúvidas ...
... isso ocorreu tanto no SUS com crescimento de 30,9 % ...
... como na Saúde Suplementar, com o impressionante crescimento de 51,7 % - o volume de administradores gestores na Saúde Suplementar no Brasil praticamente duplicou de tamanho apenas nos últimos 4 anos !!!
O fenômeno da profissionalização da saúde está intimamente relacionado com 2 fatores principais:
· O médico (dentista ...) que assumia a administração de uma instituição antigamente e chamava um grupo de amigos para auxiliar, geralmente profissionais de alto nível de excelência assistencial, hoje:
o Ou incorpora administradores profissionais no board;
o Ou chama profissionais assistenciais que se especializaram em gestão (em cursos de especialização em gestão);
· Os administradores que pretendem ir para a área da saúde se especializam no segmento, especialmente em relação ao que é o mercado de negócios da saúde, as complexas regras de financiamento do SUS e da Saúde Suplementar, as particularidades da gestão de custos em saúde, e das peculiaridades da gestão de contratos entre fontes pagadoras, serviços de saúde e fornecedores.
Acho que assim consegui justificar que não há como negar que se existe um segmento de mercado que está se profissionalizando muito nos últimos anos ... é a área da saúde ... sempre lembrando que estamos falando de um período de extrema recessão econômica que tirou o emprego de milhões de brasileiros com alta especialização.
Já foi finalizado o primeiro capítulo do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil Edição 2020 ( gesb.net.br ), que tabula informações do CNES sobre Recursos Humanos.
Sem falsa modéstia, o capítulo Recursos Humanos da versão 2020 do estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil ficou ainda muito melhor do que o do ano passado:
· Caderno guia com algumas análises de evolução anual;
· Uma ferramenta (planilha) que permite a contagem de número de profissionais de cada uma das famílias CBO de cada município brasileiro ... e totalizando por unidade federativa:
o Permite que o sejam escolhidas para contagem 1, várias ou todas as famílias CBO;
· Uma planilha que totaliza número de profissionais por grupo de famílias CBO, e inclusive calculando indicadores:
o Per Capita
o Per PIB
o Per Área
o Per Beneficiário de Plano de Saúde
o Per Capita SUS
· E nada menos que 910 plotagens geográficas dos indicadores:
o Por Grupo de Família CBO
o Por Região do Brasil (Centro-Oeste, Norte, Nordeste, Sul e Sudeste)
Para interessados, programamos o primeiro seminário para entrega do estudo em Brasília para os dias 23 e 24 de julho de 2020 ... são poucas vagas !
A programação completa da Jornada da Gestão em Saúde 2020, com seminários para entrega do estudo, os prêmios para operadoras e secretarias de saúde e cursos em várias cidades do Brasil já está disponível em jgs.net.br .