Como o Brasil estaria equipado para internações de uma epidemia como a do novo Coronavírus ?

Enio Jorge Salu – Publicado em 28 de Fevereiro de 2020

(*) Todos os gráficos e dados são partes integrantes do Capítulo B2 – Leitos, do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil – Edição 2020.

Este “novo coronavírus” (surto do COVID-19) pode ser que se transforme em um “bug do milênio”, “profecia de 2012 para o fim do mundo” ...

·         Todos os indicadores, todas as informações divulgadas .... tudo aponta para uma letalidade menor do que as que existem no Brasil em relação à dengue, febre amarela ...

Sem se ater às estruturas de vigilância e ações quando os casos ocorrem, que funcionam muito bem no Brasil (os relatos diários do MS e o detalhamento de tudo que aconteceu com o primeiro caso envolvendo Einstein, FioCruz, MS e SES-SP comprovam), podemos aproveitar o evento apenas para ilustrar um pouco de como é a estrutura de leitos para internação.

É uma ilustração que pega  surto do COVID-19 apenas como “gancho” para comentar sobre internações, até porque mesmo se este vírus se espalhe, pelas características divulgadas quase 100 % dos infectados não vão necessitar de cuidados hospitalares – sua recuperação seria na sua própria residência.

... isso posto ...

 

Em 2019 o Brasil contabilizou nada menos que meio milhão de leitos – 556.071 para ser mais exato:

·         A figura ilustra a distribuição desses leitos pelos MacroGrupos definidos no estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil;

·         A OMS prega que o ideal é ter entre 3 e 5 leitos por habitante;

·         É um pouco estranho quando em qualquer situação alguém sugere um indicador que pode variar 66 % - não cai bem ouvir alguém dizer que o ideal é adoçar o café colocando entre 3 e 5 colheres de açúcar ... se é que me entende !

 

O gráfico demonstra que a nossa realidade varia entre 1,56 e 3,36 leitos por habitante dependendo da UF:

·         Comparado com a maioria absoluta dos países do mundo o Brasil está muito bem;

·         Em especial 12 das 27 UF’s do Brasil tem indicador muito próximo ou superior à 3 !

·         Sem cometer a injustiça de comparar o Brasil com países menores do que o Estado do Rio de Janeiro (um dos menores do Brasil), comparado com outros países o Brasil está “nadando de braçada” !!!

 

A maioria absoluta dos leitos é composta por leitos para internação Clínica, que junto com os de Internação Cirúrgica representam 78,6 % do total:

·         Se houvesse uma epidemia que necessitasse alocar leitos para tratar seus doentes, seriam estes 2 grupos de leitos o foco, porque a maioria das internações nesses leitos é eletiva, ou seja, programadas, e em situação de emergência seriam as internações eletivas as que seriam reprogramadas;

·         Então se tivéssemos que trabalhar leitos para uma epidemia no Brasil, não seriam os de UTI, Semi, Cuidados Intermediários e Obstetrícia.

 

Este gráfico separa somente os leitos para internações clinicas e cirúrgicas contabilizados em 2019:

·         São 436.992, se somarmos os 152.812 da SS e os 284.180 do SUS;

·         Não está muito longe da casa do meio milhão ... na verdade está bem perto disso.

 

 

Estes gráficos demonstram a evolução do número de leitos para internação clínica e cirúrgica na SS no Brasil – entre 2017 e 2019:

·         O quadro superior esquerdo mostra a evolução do número de leitos para internação clínica, e o abaixo dele a mesma evolução em termos %;

·         Os quadros da direta se referem aos leitos para internação cirúrgica;

·         Em apenas 2 anos crescimento de 8,7 % nos clínicos e 5,2 % nos cirúrgicos;

·         Ou seja, mesmo em anos de grave crise econômica a iniciativa privada criou 10.504 novos leitos;

·         O número impressiona, mas o que é mais significativo é o fato de que expandir leitos não é algo que não esteja na nossa agenda – certamente não somos um país que teria que importar tecnologia e mão de obra para lidar com isso !

 

 

E estes gráficos demonstram, da mesma forma, o que ocorreu no SUS:

·         Ao contrário da Saúde Suplementar, no caso de leitos clínicos houve queda;

·         Mas não afetou o crescimento geral se somado o aumento dos cirúrgicos SUS e os da saúde suplementar, contabilizamos aumento geral de 7.309 leitos em 2 anos.

É evidente que se a análise aqui fosse o acesso da população à saúde esta queda não traz nenhum alento, mas como nossa análise aqui é “como a estrutura responderia a uma epidemia ?”, por incrível que pareça tem um lado bom mesmo neste indicador:

·         Geralmente a queda de leitos no SUS não é por fechamento de estabelecimentos ... são desativação de unidades;

·         Com redução de recursos para contratar mão de obra, é comum fechar uma unidade de internação;

·         Aqui mesmo em São Paulo, em um hospital muito importante pela sua qualidade assistencial, existe um com uma unidade de mais de 50 leitos fechada por falta de funcionários !

·         Ou seja, sob o ponto de vista da rotina da saúde pública esta queda nos leitos do SUS desanima, mas se pensarmos em uma ação emergencial para disponibilizar mais leitos tem um lado bom: temos “poupança de leitos” prontinha para ser utilizada ... basta colocar funcionários para que eles funcionem !

Em unidades não especializadas (ou seja, tirando UTI’s, semi ...) acrescentar mais leitos em unidades existentes não é algo tão complicado:

·         E se somarmos SS e SUS, temos quase 29.000 unidades com leitos espalhadas pelo Brasil;

·         Para estabelecer uma relação que demonstra esta grandeza, temos ~5.500 municípios, e ~29.000 unidades com leitos para internação !

Se um dia houver uma epidemia que demande a utilização de leitos em massa para a população, o Brasil está muito mais preparado para lidar com ela do que quase 100 % dos países no mundo:

·         Para postergar internações eletivas para atender a urgência, temos uma enorme quantidade funcionando – perto de meio milhão;

·         Nosso histórico recente é de expansão – temos tecnologia e “braço” para expandir. Não sei se construiríamos um hospital com aquela velocidade que vimos na China, mas certamente não decepcionaríamos;

·         Temos uma “poupança” de leitos fechados prontos para serem ativados na rede SUS;

·         E temos um volume e capilaridade de unidades de internação invejável, apesar do tamanho do nosso país.

Reforçando que esta análise é uma simulação do que poderia acontecer em relação a uma epidemia que demandasse leitos ... não é possível prever a dimensão do que vai acontecer com o surto do COVID-19 aqui no Brasil, mas é possível prever que se houver uma epidemia que demande leitos de internação certamente não estamos “com o pires na mão” !

 

 

Já foi finalizado o capítulo do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil Edição 2020 (www.gesb.net.br), que tabula informações do CNES sobre Leitos.

 

O capítulo tem:

·         O caderno, que serve como guia de estudo e apresenta algumas análises, como esta;

·         Planilhas que permitem tabular leitos por tipo, MacroGrupos e grupos, por municípios e por UF’s;

·         E apresentações em Power Point com 200 plotagens de indicadores por região geográfica brasileira.

 

A programação para os seminários de entrega do Estudo, e da premiação das Operadoras e Secretarias de Saúde está publicada na página da Jornada da Gestão em Saúde (   jgs.net.br   ) – são poucas vagas:

·         Brasília – 23 e 24 de Julho

·         Curitiba – 13 e 14 de Agosto

·         Recife – 24 e 25 de Setembro

·         São Paulo – 22 e 23 de Outubro