A Verdade Sobre a Falta de EPI na Crise COVID-19 que Ninguém quer Admitir

A Pandemia Servirá para Melhorar a Segurança dos Pacientes e Profissionais da Saúde em Todo o Mundo

Enio Jorge Salu – Publicado em 14 de Junho de 2020

 

 

Uma questão emblemática não foi colocada na pauta com a devida franqueza em tempos de enfrentamento da pandemia:

·         Faltou EPI porque a gestão dos insumos na saúde é inadequada ?

·         Faltou EPI porque necessitou muito mais do que era necessário antes ?

·         Ou faltou EPI porque as pessoas do segmento não utilizavam adequadamente, e passaram fazer o que sempre deveriam ter feito a partir da pandemia ?

É possível defender a terceira opção:

·         A gestão deste tipo de insumo na saúde quase é praticamente igual a de qualquer outro: material descartável, medicamento, material de manutenção, material de escritório ... se o problema fosse gestão entrariam em colapso todos os insumos, e não somente os EPI’s;

·         O enfrentamento do COVID-19 demandou maior uso de EPI’s ... mas este aumento não foi suficiente para causar colapso no abastecimento deste tipo de insumo;

·         Infelizmente os profissionais que atuam no segmento da saúde nunca se preocuparam adequadamente com a sua segurança – como “mandam os protocolos”. Eu, que atuo na área há muito ... muito tempo ... inclusive nas entranhas dos serviços de saúde ... faço parte destes profissionais, como quase 100 % dos profissionais que conheço !

 

 

1

Para contrapor a tese de que a causa do colapso pudesse ter sido a gestão inadequada dos estoques:

·         Em qualquer empresa os estoques são  dimensionados em função do consumo;

·         Seguindo as melhores práticas, calculamos a média de consumo, o tempo de aquisição e dimensionamos o ponto de pedido e o lote de compra;

·         Compramos, distribuímos e conforme o consumo vai ocorrendo vamos recalculando as médias, entrando em um círculo vicioso.

É claro que quem já teve a oportunidade de se envolver no planejamento e gestão de insumos sabe que existe "um pouco mais de ciência nisso" ... mas para esta discussão, simplificando desta forma é suficiente !

O que ocorreu em relação a gestão é que a demanda foi maior que o normal e que quando os pontos de pedido foram sendo atingidos, faltou o insumo no mercado, porque isso ocorreu com todos os serviços de saúde no mundo. Não se pode atribuir o colapso à má gestão.

2

Para contrapor a tese de que o problema tenha sido pelo aumento da demanda em relação à doença, ou seja, que a doença demandou mais o insumo do que era demandado antes:

Não aumentou instantaneamente, nem significativamente, o número de leitos para tratamento dos pacientes infectados por COVID-19. Muito pelo contrário, a limitação dos leitos é que obrigou a saúde a propor o isolamento social. Se houvessem leitos para toda a população estaríamos discutindo a crise nos “barzinhos”, rodeados de amigos. O acréscimo de leitos, todos sabem, está sendo lento ... muito mais lento do que desejaríamos, a ponto de estarmos sujeitos ao “efeito sanfona”: libera o isolamento ... aumentam os casos ... volta ao isolamento;

Por consequência, não aumentou significativamente o número de profissionais que trabalham na beira dos leitos, no pronto socorro. Todos vimos inclusive que existiu grande dificuldade até para contratar profissionais para substituir os afastados (infectados), e equipar poucos novos leitos. O aumento de profissionais foi limitado ao número de leitos.

Portanto, a causa do colapso instantâneo nos estoques de EPIs não foi a demanda gerada especificamente pela pandemia. Pela forma como o aumento de leitos foi ocorrendo, os estoques se ajustariam como em qualquer outro tipo de insumo.

3

A alternativa que resta é a que sinaliza que a utilização do insumo começou a ser maior do que era não por causa do COVID-19 ... é difícil admitir, mas não existe outra explicação que mais se adeque a situação ... os profissionais de saúde começaram a utilizar os EPI’s da forma mais adequada para protegerem a sua própria vida.

Quem já teve a oportunidade de trabalhar em ambiente hospitalar:

·         Sabe que uma das mais frequentes campanhas do CCIH se refere à simples necessidade de “lavar as mãos”. Particularmente tenho dezenas de vídeos, cartazes e comunicados de diversos hospitais, para apresentar em projetos de melhoria de processos o quanto isso costuma gerar de “não conformidade” apontada pelos auditores da acreditação, porque apesar do esforço do CCIH as pessoas “não ligam” para os POP’s;

·         Certamente já presenciou milhares de vezes profissionais paramentados saindo de centros cirúrgicos e UTIs para conversar com acompanhantes do paciente e retornando com a mesma paramentação para a unidade. Não para esculachar alguém ... não é esta a intenção ... mas já presenciou pessoas na cantina com a mesma vestimenta que acabou de fazer a visita ... e que vai retornar para a próxima visita;

·         Já viu pessoas que não têm nada a ver com assistência circulando em UTIs e unidades de internação com a mesma roupa que usa no escritório, na lavanderia, na manutenção (presente !!!);

·         Já viu auditores de contas analisando a parte do prontuário do paciente que ainda não virou eletrônico sem máscara, sem luva  ... o mesmo prontuário que circulou por várias áreas infectadas ... você já deve ter visto isso em hospitais cuja especialidade de referência é “queimados” ... doenças infecciosas. Mesmo que o prontuário não é de uma área infectada, compartilhou o mesmo veículo de transporte, o mesmo armário, as mesmas mãos dos outros;

·         Já viu funcionários administrativos assistindo procedimentos ... aguardando o profissional assistencial para resolver algum problema da retaguarda administrativa “antes que o profissional fuja” !

 

 

Vou me valer destas fotos para encerrar a defesa da tese:

·         Se ampliadas, todas, têm uma coisa em comum: profissionais da área da saúde com o uniforme a espera do transporte coletivo. Especialmente nas grandes metrópoles é muito comum ver em estações do metrô, terminais de ônibus, e plataformas de trens próximas de hospitais;

·         O mesmo uniforme que passou por uma área infectada no serviço de saúde, “vai sentar” na mesa do jantar na casa do funcionário, entrar no quarto do filho ... o mesmo uniforme “que sentou” no banco da padaria de manhãzinha para aquela “média com pão na chapa” e estará circulando na “sala de endoscopia” algumas horas depois;

·         Profissionais com uniforme assistencial estão “as pencas” no transporte público das grandes metrópoles ... basta observar;

·         E pessoas com uniforme, por exemplo, de recepcionista acham normal ir para casa com ele porque trabalham na recepção ... só “de vez em quando” circulam em outro local no serviço ... só “de vez em quando” abraçam, beijam, apertam a mão de profissionais assistenciais que saíram de áreas infectadas !!!

Custa caro ... o funcionário reclama “da trabalheira que dá” ... mas o que deve ser feito:

·         Uniforme de funcionário que trabalha em área assistencial jamais deveria sair do serviço ... a troca da roupa normal pelo uniforme sempre deveria ser no vestiário do serviço ... o ideal seria qualquer uniforme de qualquer tipo de profissional de serviço de saúde, mas ...

·         Funcionários administrativos jamais deveriam circular por áreas assistenciais sem se paramentar, como qualquer outro;

·         Prontuários, como qualquer insumo que circula em área assistencial, jamais devem ser manipulados sem proteção por parte dos auditores, faturistas, gestores de OPME, centrais de guias, e uma infinidade de profissionais da retaguarda administrativas, inclusive e principalmente, o SAME e a Recepção do Ambulatório.

Já vi greve por atraso de salário, por falta de funcionário ... por um monte de coisas ... nunca ouvi falar de uma greve por falta de EPI !

Como o COVID-19 apareceu como uma fama devastadora e pela primeira vez a saúde profissionalizada teve realmente medo, pessoas que achavam bobagem usar máscara imediatamente mudaram seus hábitos ... alguns que diziam que não usavam porque incomodavam, que eram de má qualidade, que estavam fora da norma, que eram de  fornecedor não homologado ... hoje usam até máscara de pano “feita sabe-se lá por quem” !

Quanta gente não foi infectada (pacientes e profissionais assistenciais) antes da pandemia por esta negligência de todos nós. A pandemia veio para mudar os hábitos ... neste aspecto, sorte do CCIH ... e dos fornecedores de EPIs, é claro !!!

Na verdade sorte de todos nós que estamos aprendendo “na marra” que nossa atividade não é brincadeira ... não podemos “abrir a guarda” porque lidamos com saúde ...

... vamos nos engajar em “não esquecer disso” no novo normal ?

 

Para os interessados em cursos sobre gestão em saúde, lembro que estão abertas as inscrições para os cursos EAD da Jornada da Gestão em Saúde de Julho:

·         Abaixo a Programação, e maiores informações sobre conteúdo e inscrições podem ser obtidas na página jgs.net.br , ou via e-mail pelo  contato @ escepti.com.br :

 

>>> Jornada EAD de Gestão de Negócios na Área da Saúde Privada e Pública

 

·         06 e 07 de Julho   —   Das 16:00 às 21:00 h

Mercado Público e Privado de Negócios da Área da Saúde

Investimento R$ 200,00

 

·         08 e 09 de Julho   —   Das 16:00 às 21:00 h

Gestão Comercial em Saúde Privada e Saúde Pública

Investimento R$ 200,00

 

·         10 de Julho   —   Das 16:00 às 21:00 h

Faturamento SUS para Operadoras de Planos de Saúde e Fornecedores da Área Pública

Investimento R$ 150,00

 

·         13 e 14 de Julho   —   Das 16:00 às 21:00 h

Gestão do Faturamento e da Auditoria de Contas Hospitalares SUS e Saúde Suplementar

Investimento R$ 200,00

 

·         15 e 16 de Julho   —   Das 16:00 às 21:00 h

Managed Care e Modelos de Remuneração Baseados em Valor e Compartilhamento de Riscos

Investimento R$ 200,00