Desabastecimento de Medicamentos, Papel Inadequado do Governo e a Inflação Absurda na Saúde Pós COVID-19

O Protagonismo da Gestão de Custos, Rentabilidade e Precificação nas Empresas de Saúde em 2020

Enio Jorge Salu – Publicado em 21/06/2020

 

 

A foto mostra que uma participante “brindou” com um post no Linkedin a Jornada da Gestão em Saúde EAD de junho, do eixo temático custos, rentabilidade e precificação em saúde ... um grande orgulho que não é possível retribuir com a mesma grandeza.

O fato dos cursos que estavam programados para serem realizados presencialmente em Joinville, Belo Horizonte, São Paulo, Brasília, Recife, Curitiba, Rio de Janeiro e Porto Alegre, terem tido adesão em formato EAD nesta etapa é porque definitivamente o tema entrou na agenda das empresas de saúde: secretarias de saúde, operadoras de planos de saúde, serviços de saúde, fornecedores de insumos para a área da saúde ... todos estão preocupados com a sustentabilidade pós pandemia, e conhecer bem e ajustar seus custos e preços será o “fiel da balança” da competitividade ... e sobrevivência !

Dezenas de gestores dos mais variados tipos de empresas que atuam no segmento discutindo que vem aí uma inflação que nenhum órgão poderá medir – além da certeza de que todos os indicadores oficiais que vemos e veremos são irreais ... a certeza de que estão longe ... mas muito longe da realidade.

É fácil entender observando como se formam, por exemplo, os preços dos medicamentos ... o insumo mais comum da área da saúde.

 

 

A maioria das pessoas envolvidas em gestão comercial, faturamento e auditoria de contas se refere aos preços dos medicamentos como “Tabela Brasindice”:

·         Nós utilizamos este termo regularmente, mas quem realmente conhece o segmento sabe que não existe uma “Tabela Brasindice”;

·         Brasindice é uma prestação de serviços de uma empresa privada, que tabula de forma amigável os preços de medicamentos da ANVISA;

·         O governo “tabela” os preços de medicamentos e divulga na Internet (é só pesquisar “CMED” que ela aparece).

É muito discutível o governo tabelar preços:

·         Tem quem defenda que o governo não deveria se intrometer em preços ... a lei da oferta e da procura é quem rege os preços, com ou sem tabelamento;

·         Tem quem defenda que se ele não fizer isso “o sistema” vai explorar quem necessita de tratamento. Existe aí um fundo de verdade, mas não é uma verdade absoluta;

·         E tem os que defendem que se ele tabela preços de medicamentos, deveria tabelar também preços de materiais, serviços e outros insumos utilizados na saúde, porque o medicamento não trata o paciente sozinho, precisa de alguém que prescreva, alguém que ministre, equipamentos para ministrar, materiais para ministrar. A pergunta que vale 1 milhão de dólares é por que o governo tabela preços de medicamentos e não tabela preços de OPME’s que são muito mais danosos para os sistemas de financiamento do que os de medicamentos ?

Na prática este tabelamento não é aplicado em quase 100 % dos casos:

·         Existe ali um preço máximo para venda ao governo, mas diversas situações de mercado fazem com que ou o governo compre por um preço infinitamente menor que aquele, ou maior que aquele;

·         Também um preço máximo de fábrica – comprar por menos é bem comum (afinal é um preço máximo), mas comprar por preço mais caro que aquele está longe de ser coisa rara;

·         E um preço máximo ao consumidor – este é o que tem menor relação com a realidade. A competição faz com que muitos medicamentos sejam vendidos por preço inferior, e o PMC não é a base para formação do preço: o valor mais baixo é definido peça concorrência de acordo com as características regionais. E é muito comum vender por preço maior que o PMC, porque alguns contratos entre fonte pagadora e serviço de saúde não se viabilizam se o PMC for o limite de preços. O Brasil não é um pequeno país, e suas diferenças econômico-sociais se equivalem às da Europa, Ásia ... e não de um único país destes continentes.

 

 

Tomando como base aleatoriamente um medicamento qualquer (aqui o Propofol) para discutir o papel inadequado do governo no tabelamento dos preços:

·         O reajuste dos preços entre 2017 e 2018 foi de 2,5 %, e o entre 2018 e 2019 foi 4,3 %;

·         Foram definidos com base em uma “inflação oficial” que só serve para rechear os chatíssimos comentários de economia na mídia e, evidentemente e principalmente, para os interesses do governo;

·         Qualquer pessoa que pague contas, “faça supermercado”, use o dentista ... enfim qualquer pessoa que vive no Brasil ri (ou chora) quando alguém diz que a inflação de dois anos foi 7 ... 8 % ! Quem dera que a “conta de luz”, o arroz, o pãozinho, a pizza ... tivessem tido este aumento pífio calculado pelas “fórmulas tabajaras” dos economistas !

Quem fabrica não consegue manter preços com este índice “me engana que eu gosto” porque o salários dos seus funcionários, a energia elétrica, o transporte, os insumos que adquire para fabricar, embalar, o IPTU ... ou seja, tudo que ele gasta ... não são reajustados pelos índices oficiais ... são reajustados de acordo com o mercado real.

Então, para sobreviver e continuar abastecendo a área da saúde, se não é possível ajustar o preço à necessidade o mercado, se utiliza dos artifícios legais que existem.

 

 

 

Um deles é ir mudando a apresentação:

·         Notando na figura que o mesmo medicamento possui diversas apresentações, não só em relação à técnica de ministração (capsulas, injetável ...), mas em relação à quantidade de ampolas por caixa, de comprimidos por caixa ...

·         Para cada apresentação um registro na ANVISA ... e pronto ... algemas no reajuste de preços de acordo com a inflação oficial e irreal !

·         Uma nova apresentação ... um novo registro na ANVISA ... e a vida deste produto começa do zero. Pelo menos por alguns anos o preço do produto não será tão aviltado pelos reajustes oficiais do governo.

 

 

Não vamos esquecer de citar que um mesmo medicamento, com a mesmíssima apresentação têm preços diferentes na tabela:

·         Porque o registro é feito por fabricante / distribuidor no Brasil;

·         E eles competem para vender medicamento da mesma forma que competem os fabricantes de carros, os produtores de frango ... tem gente que acha que todos eles são parte de um grande cartel, combinam todos os preços para prejudicar as pessoas, são arqui-inimigos da sociedade ... esta “teoria da conspiração” é muito maléfica para a gestão adequada da saúde pública e privada.

O ponto mais discutível deste tabelamento é que ele não contém os preços:

·         Em determinadas situações ele contribui para aumentar o preço. O comprador não atento ao mercado paga o “preço Brasindice” sem saber que seu concorrente paga muito menos;

·         Ao pagar o preço da tabela acha o preço justo, quando na verdade é muito mais caro, e se sente confortável com isso. Ainda não conheci algum vendedor de qualquer coisa que avise o comprador que o preço que ele está lhe pagando está caro – e não existe nenhum crime aqui: se você paga mais caro pelo sabonete em um supermercado mercado ao invés de pesquisar o preço em outro, convenhamos, não é culpa do supermercado !

Preços de medicamentos diminuem quando existe política governamental e não pelo controle de preços:

·         Há muitos anos atrás o preço dos medicamentos para controle de pressão e diabetes eram muito mais caros;

·         Quando passaram a serem distribuídos gratuitamente pelo governo nas “farmácias populares”, a queda dos preços foi abissal – isso é política governamental;

·         Mudou a escala de produção ... quem produzia 1 passou a produzir 100 ... e os preços despencaram, porque os fornecedores passaram a ganhar mais vendendo mais, com margem de lucro menor por unidade.

 

 

Logo no início da pandemia alguns fatores começaram a sinalizar um cenário devastador para o segmento econômico da saúde no Brasil.

Alguns medicamentos de uso no tratamento de pacientes COVID-19 começaram a faltar no mercado:

·         O mercado não tinha esta média de consumo. Serviços de saúde e distribuidores não tinham em estoque, e fabricantes não tinham capacidade de produção para adequar ao consumo;

·         Se o medicamento é exclusivo para tratamento COVID-19, faltou para os pacientes desta doença apenas, mas se são utilizados em outros tratamentos (maioria absoluta dos casos) “faltou pra todos os pacientes”;

·         No pior cenário, se o medicamento é produzido pela China ou Índia, ou o insumo para fabricação vem destes países (coisa muito comum, infelizmente), é claro que estes países terão que adequar sua produção para o mundo todo, e não só para o mercado brasileiro.

Em um mercado importador quem disse que a China e Índia vão manter seus preços ? Se fosse o Brasil fornecendo para o mundo manteria ?

E os fabricantes nacionais:

·         Não sobrevivem destes medicamentos específicos. No geral têm queda de vendas em um mercado, no geral, recessivo da área da saúde;

·         No geral caiu sua receita;

·         E tiveram que manter seus custos. O valor do IPTU continua o mesmo, a contribuição ao INSS, FGTS ... sobre a folha de pagamento continua a mesma;

·         Ou aumento de custos ... China e Índia passaram a vender mais caro, ou alguns distribuidores mundiais fizeram isso mesmo que as fábricas lá na origem não fizeram;

·         O governo não reduziu a alíquota de tributos sobre folha de pagamento, e quer que os empresários mantenham seus funcionários com menor receita;

·         Se tiver que vender estes medicamentos específicos pelo “preço tabelado” vão falir.

O governo não está olhando para o segmento como deveria:

·         Ele está confortável mantendo todos os tributos (impostos, contribuições e taxas) sob a alegação de que com a queda da economia existe a queda de arrecadação;

·         O que se discute é a aplicação da arrecadação dos impostos. Salários do presidente, ministros, senadores, deputados, governadores, secretários, vereadores, juízes ... e seus assessores ... não tiveram queda. Gastos com a coisa pública, no geral, estão intactos mantendo uma classe de pessoas que não sentirão o impacto da crise;

·         É fácil manter o foco populista afirmando que vai mandar prender quem estiver vendendo por preços maiores que a tabela !

O mercado está reagindo como pode: como ocorre com a venda de qualquer coisa ... só está conseguindo comprar quem estiver disposto a pagar mais caro pelo insumo, e medicamento está “no meio do bolo” como qualquer outro.

Conversando com um participante da jornada de custos ele disse que uma determinada fração de anestésico que pagava 4 agora está pagando 14:

·         Isso mostra que, como sempre, não teremos indicadores oficiais de inflação que chegarão perto da inflação real da saúde no pós pandemia ... o que se vê na mídia é pura abstração dos economistas. Aqui estamos falando de um aumento de 250 % ... e pode ser que teremos que fazer o sacrifício de ouvir economistas falando em deflação;

·         E mostra que existe desabastecimento de medicamentos, mas apenas se quiser comprar pelo preço tabelado ... se quiser pagar mais caro nada faltará, sejam os fabricados aqui no Brasil, seja os importados da China e da Índia.

Os gestores da área da saúde devem que entender que entramos em um cenário jamais experimentado no Brasil. Além da crise sanitária, e da crise econômica em consequência dela (coisas que estão ocorrendo no mundo todo), nossos políticos nos fizeram o favor de juntar mais 2 crises a elas: uma crise política e uma crise institucional (um privilégio de raros países no mundo) ... que Deus tenha piedade de nós !

Os desafios dos gestores da área da saúde serão basicamente 2:

·         Saber entender o mercado, diferenciando quem está vendendo mais caro para se aproveitar de uma situação, daqueles que se não majorarem os preços vão para a falência. Conhecer o mercado para “não fazer bobagem” ... não perder parceiros que demoraram décadas para desenvolver ao rotular todos como “bandidos” ... conhecer o mercado;

·         E conter custos ... no novo normal tudo será importante ... mas conter os custos é muito, muito, muito mais importante ... quem não fizer vai quebrar ... sejam operadoras de planos de saúde, serviços de saúde, secretarias de saúde, clínicas, consultórios, SADTs, ou fornecedores de insumos para a saúde ... não basta saber calcular custos (coisa de contador) ... é hora de conter os custos (coisa do gestores) ... fazer isso com uma ferramenta simples, que permita simular muitos cenários rapidamente ... neste momento não é necessária a precisão dos números na segunda casa da vírgula ... é necessária a flexibilidade para simular os diversos cenários que podem ocorrer !!!

 

Para os interessados em cursos sobre gestão em saúde, lembro que estão abertas as inscrições para os cursos EAD da Jornada da Gestão em Saúde de Julho:

·         Abaixo a Programação, e maiores informações sobre conteúdo e inscrições podem ser obtidas na página jgs.net.br , ou via e-mail pelo  contato @ escepti.com.br :

 

>>> Jornada EAD de Gestão de Negócios na Área da Saúde Privada e Pública

 

·         06 e 07 de Julho   —   Das 16:00 às 21:00 h

Mercado Público e Privado de Negócios da Área da Saúde

Investimento R$ 200,00

 

·         08 e 09 de Julho   —   Das 16:00 às 21:00 h

Gestão Comercial em Saúde Privada e Saúde Pública

Investimento R$ 200,00

 

·         10 de Julho   —   Das 16:00 às 21:00 h

Faturamento SUS para Operadoras de Planos de Saúde e Fornecedores da Área Pública

Investimento R$ 150,00

 

·         13 e 14 de Julho   —   Das 16:00 às 21:00 h

Gestão do Faturamento e da Auditoria de Contas Hospitalares SUS e Saúde Suplementar

Investimento R$ 200,00

 

·         15 e 16 de Julho   —   Das 16:00 às 21:00 h

Managed Care e Modelos de Remuneração Baseados em Valor e Compartilhamento de Riscos

Investimento R$ 200,00