Impacto do COVID-19 na Oncologia Clínica

Variação Mensal no Volume de Quimioterapias Preocupa a Rede de Serviços, Pacientes e Epidemiologistas

Enio Jorge Salu – Publicado em 22 de Julho de 2020

 

(*) todos os gráficos são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil – Edição 2020.

 

Os gráficos demonstram os reflexos da pandemia na Oncologia Clínica no Brasil:

·         Analisando a curva da média mensal de quimioterapias dos últimos anos observamos que existe uma mudança de tendência em 2020, com achatamento da curva mesmo considerando que dos 5 meses de 2020, metade do período foi afetado pelo COVID_19;

·         Analisando a curva de média mensal de 2020 vemos variações que demonstram que os serviços tentam se adaptar o mais rapidamente possível, uma vez que os tratamentos em pacientes oncológicos não podem esperar o surgimento de uma vacina ou remédios para a outra doença;

·         Explorando esta variação vemos queda e recuperação alternadamente em cada mês – esforço das equipes envolvidas nos tratamentos oncológicos que merecem tanto reconhecimento como os que estão na linha de frente do tratamento do COVID-19;

·         E observando a variação geográfica da variação entre 2019 e 2020, é quase possível afirmar que quanto mais rico o estado, maior foi o reflexo da pandemia nas agendas ... os estados menos favorecidos economicamente reagiram melhor, surpreendentemente.

 

 

Vale lembrar do tamanho da estrutura de serviços que estamos tratando:

·         Quase 3 mil serviços especializados em oncologia;

·         Que mantém uma tendência de crescimento constante nos últimos anos.

 

 

·         Distribuídos em basicamente 5 grupos de subespecialidades, vale lembrar que, especialmente no caso de oncologia cirúrgica, a maioria destes procedimentos ocorrem em unidades não especializadas em oncologia – uma grande parcela em hospitais gerais;

 

 

·         E que a distribuição per capita denuncia que a maioria deles não está vinculada aos repasses do SUS, que procura equalizar os recursos financeiros de modo a equalizar em função da “População Dependente SUS”.

 

É uma grande estrutura assistencial afetada pelo distanciamento social, pelo medo do paciente e dos familiares de se contaminarem pelo COVID-19, pelo afastamento de profissionais da área da saúde contaminados !!!

 

 

Também vale  lembrar que não existem serviços disponíveis em todas as localidades:

·         O gráfico faz um recorte dos serviços de oncologia existente na região que combina maior densidade e PIB per Capita Médio (SP, RJ, PR, MG, DF);

·         Onde existe um “quadradinho vazio” não existe um único serviço especializado. Pode ser que haja oferta de tratamento em serviço não especializado ... mas não é regra ... é exceção;

·         Ou seja, o tratamento oncológico na maioria dos casos envolve deslocamento do paciente / familiares de um município para o outro, que é um outro fator importante para restrição em tempos de pandemia;

 

 

·         E mudando o indicador na mesma região para número de salas de quimioterapia vemos que o “turismo da saúde” para tratamentos de quimioterapia é bem maior do que a maioria das pessoas pode imaginar quando não têm acesso aos dados.

 

Qualquer epidemiologista está com a mesma preocupação: como será o perfil de óbitos por oncologia no pós pandemia ?

 

Passamos da hora de ver os governos pararem de fazer política, travarem guerras ideológicas e discursarem sobre ações apenas para melhorar a economia ... necessitamos de grupos coordenados e organizados para prover ações efetivas para evitar os efeitos colaterais do COVID-19 na própria área da saúde !!