Complexo é Lidar com o Lixo da Área da Saúde
Um dos Problemas para Definir Indicadores para Remuneração Baseada em Valor no Brasil é a Infraestrutura
Enio Jorge Salu – Publicado em 3 de Agosto de 2020
(*) Todos os gráficos são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil – Edição 2020
Estes gráficos emblemáticos permitem observar como está estruturada a coleta de lixo seletiva no Estado mais rico da Federação:
· Somente a coleta de lixo seletiva comum está presente em todos os municípios. Aquela que existe nas grandes cidades para destinação do “material reciclável”;
· A maioria das cidades possui algum equipamento de radiologia, mas a maioria das cidades não possui coleta de rejeitos radioativos;
· Na maioria absoluta das cidades existe produção de rejeitos químicos e biológicos, mas em muitas delas não existe coleta especializada para este tipo de resíduo.
A equação é bem complexa:
· Não é viável que exista coleta especializada de algum resíduo ou rejeito que não seja produzido com frequência;
· Mas quando não se tem e a produção ocorre, sabemos que ele vai acabar sendo destinado junto com o comum, e o risco para quem manipula este lixo é enorme.
Não é falta de regulamentação, fiscalização ... o problema é que o lixo que não cria uma cadeia de valores que remunera os envolvidos na coleta é um mero problema e não uma oportunidade de negócios – exemplos:
· As latinhas de alumínio das bebidas alimentam uma cadeia de remuneração que envolve desde o catador até a indústria de reciclagem;
· Os pneus de automóveis também.
No caso do lixo da área da saúde é praticamente 100 % apenas custo:
· Não há motivação para cumprir as regras a não ser as multas;
· Conseguiu fugir da multa ... descartou de forma inadequada ... simples assim.
Mesmo assim avançamos:
· O número de serviços com coleta seletiva tem crescido constantemente;
· E significativamente nos últimos anos, como ilustra o gráfico (14 % em 2 anos).
No Brasil a maioria dos quase 540.000 serviços é de coleta seletiva de resíduos comuns (61,2 %):
· É evidente que temos falta de coleta dos demais tipos;
· E pelo baixíssimo % de 1,8 % dos radioativos podemos dizer que não aprendemos nada com o episódio do Césio-137 em Goiânia há mais de 30 anos !!!
Basta observar o gráfico:
· Não vale a pena comentar sobre diferenças entre UFs da Região Sul e Norte ... as diferenças geográficas são imensas;
· Mas se compararmos 2 estados da região sudeste teremos variações que não se equiparam as diferenças populacionais, de municípios ou de serviços existentes. Neste caso, se o mapa de São Paulo já preocupa em vários aspectos, o dos outros estados preocupam ainda mais ... temos muito o que fazer ainda !
Com este gráfico fica mais fácil entender as diferenças:
· Ele ilustra o % de serviços com algum tipo de coleta seletiva em relação ao total de serviços;
· Observamos variações entre UFs de quase 40 % de cobertura !
Em uma época que se fala tanto em mudança do modelo de remuneração Fee for Service para outros que consideram indicadores de qualidade, que incluem por exemplo infecção, o tema coleta seletiva é muito oportuno:
· Jamais se pode comparar parâmetros de qualidade em modelos de remuneração da Europa e Estados Unidos com o Brasil;
· Somos um país desprovido de infraestrutura: saneamento, energia, telecomunicações ... e coleta de lixo !!!
Os indicadores estrangeiros devem ser avaliados com muita cautela para não inviabilizarem a evolução dos sistemas de remuneração baseados em valor:
· Aqui no Brasil o paciente está muito mais propenso a fazer uma infecção em casa do que em um hospital;
· A maioria dos serviços de saúde que se preocupa com questões relacionadas à segurança do paciente não dispõe de apoio de serviços públicos adequados para cumprir sua missão;
· Se pensarmos no ambiente que reveste a pandemia COVID-19 – um pequeno incidente de manuseio de resíduo, seja ele qual for, pode destruir todo o esquema de proteção dos profissionais e pacientes de um serviço de saúde ... quantos pequenos incidentes como este já não aconteceram por falta de coleta adequada, e não foram adequadamente notificados ?
Um dos maiores erros que se pode cometer ao definir parâmetros de remuneração baseados em valor é adotar padrões estrangeiros, de países com infraestrutura anos-luz a frente do Brasil !