O que Significam 110 mil Óbitos por COVID-19 para o Financiamento do SUS

Em Apenas 5 Meses Mais Óbitos do Que Todos os Óbitos de Doenças Respiratórias em 2019

Enio Jorge Salu – Publicado em 19 de Agosto de 2020

 

(*) Todos os gráficos são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil – Edição 2020

 

O gráfico demonstra a evolução % dos óbitos em internações nos últimos anos:

·         São dados coletados no DATASUS;

·         Infelizmente não temos bases de dados da saúde suplementar para tabular – a ANS só lida com internações que têm a ver com operadoras, e regula as contas de modo ser impraticável: o mesmo procedimento pode ser apresentado em contas abertas, codificando o procedimento, ou em pacotes, que podem conter diversos. E tudo que não tem a ver com operadoras não é tabulado pelo MS.

Mas temos o SUS, único acesso à saúde de 1 em cada 5 brasileiros:

·         São apenas 47 milhões na saúde suplementar regulada, em relação à 210 milhões da população total;

·         E, como provam as multas aplicadas pela ANS nas operadoras, uma boa quantidade de internações de beneficiários de planos é atendida na rede do SUS;

·         Portanto, ao estudarmos a epidemiologia através das bases do Datasus, temos uma razoável segurança em entender que este é o perfil mais próximo da população total, apesar destes vieses.

Isso posto ...

O gráfico demonstra uma certa estabilidade no perfil dos óbitos nas internações:

·         Nas barras azuis o incide de ~4,3 % de óbitos considerando todos os tipos de internações – partos, baleados, oncológicos, cardiológicos ...

·         E este % varia bastante quando estratificamos por grupo de doenças (grupos do CID);

·         Nas barras laranja vemos que o % em internações para tratamentos de doenças respiratórias é ~ o dobro – pneumonias, gripes ... quando o que origina a internação é uma doença respiratória o caso é, na média, mais grave que o da maioria das outras doenças.

 

 

A evolução dos óbitos em internações nos últimos anos não é significativa:

·         Um acréscimo de 4 % em 4 anos;

·         Neste mesmo período o volume de internações cresceu 5,3 %, ou seja, mesmo que de forma discreta, o % de óbitos em internação vem caindo;

·         A técnica melhora ... o índice de acidentes diminui levando para internação pacientes menos graves ... o diagnóstico precoce vai evoluindo ... uma série de fatores colaboram para este progresso.

Mas estes gráficos vão ser completamente diferentes por conta do COVID-19:

·         Em apenas 5 meses ele matou mais de 110 mil pessoas ... nunca existiu algo parecido aqui no Brasil, mesmo nos raros períodos de guerra;

·         E a maioria estava internada !

A maioria absoluta das pessoas negligencia este número:

·         Temos mais de 5.500 cidades no Brasil;

·         Somente 287 delas tem mais de 110.000 habitantes !

·         Apenas 5,2 % das cidades brasileiras tem mais habitantes do que a quantidade de pessoas que o COVID-29 matou em 5 meses !!

Se projetarmos a mesma média de mortes pelo período de 1 ano, teremos 264.000 mortes, ou seja:

·         Se as pessoas não entenderem que nada mudou em relação ao vírus (ele continua contaminando da mesma forma, causando o mesmo tipo de doença, sendo tratado da mesma forma ... desde o início da pandemia), vão relaxar ainda mais as medidas de prevenção, distanciamento ... respeito à vida dos outros !

·         Teremos ainda mais que o dobro de óbitos na contabilização macabra que assistimos diariamente na mídia !!

·         Temos no Brasil apenas 106 cidades com mais de 264 mil habitantes !!!

·         COVID-19 matará mais que a população de 98 % das cidades brasileiras !!!!

O que significa isso para o sistema público de saúde, em relação aos recursos financeiros é muito mais que preocupante.

 

 

Em 5 meses o COVID-19 matou mais do que todos os óbitos em internações por doenças respiratórias de 2019:

·         E doenças respiratórias, mesmo antes do COVID-19, já matavam muito;

·         Dos 517 mil óbitos em 2019, 96 mil foram em internações por doenças respiratórias.

 

 

·         Representaram em 2019 8,32 % do total !

 

 

O gráfico seria completamente diferente se somássemos os 110 mil óbitos por COVID-19:

·         Doenças respiratórias passariam a representar 32,9 % do total;

·         Só os óbitos por COVID-19, somente destes 5 meses e não de 1 ano, representaria 17,2 % do total !!!!!

Se fossemos considerar o ticket médio das internações por doença respiratória em 2019 (R$ 1.131,82):

·         Ticket médio é o valor médio que o SUS pagou por internação deste tipo de doença em 2019;

·         Para tratar COVID-19 gasta-se muito mais – mas mesmo se utilizarmos este valor “otimista” (menor) nos deparamos com custos que não gostaríamos de contabilizar;

·         Os óbitos por COVID-19 nestes 5 meses significaram R$ 124.500.033;

·         Ou seja, o SUS gastou mais de 124 milhões para não conseguir curar 110 mil pessoas !

Que bom seria se fosse 1 bilhão para curar 110 mil pessoas ... mas foram 124 milhões para não conseguir curar 110 mil pessoas !!

Quando tivermos os dados para cálculo do ticket médio real vamos concluir que gastou mais ...

... e quanto tivermos os dados dos óbitos aferidos adequadamente vamos chegar à conclusão de que foram mais óbitos;

Como o SUS é um cobertor curto, ou seja, não existe dinheiro suficiente para fazer tudo que a demanda exige, este dinheiro vai faltar para outras coisas ... infelizmente vai faltar dinheiro para:

·         Cirurgias de catarata ... quantas pessoas vão perder a visão ?

·         Remoção de pedras nos rins e vesículas ... quantas pessoas vão continuar sofrendo com dores insuportáveis ?

·         Realização de exames de imagem ... quantas pessoas não serão diagnosticadas a tempo de iniciar um tratamento adequado para evitar complicações maiores e óbitos ?

Qualquer gestor da área da saúde fica muito chateado com este cenário:

·         Já não tem dinheiro para tudo que gostaríamos;

·         Gastamos muito em tratamentos que não deram certo ... os pacientes foram à óbito;

·         E, infelizmente, vemos a população brincando com a situação, sem respeitar as recomendações, sem se importar em contaminar pessoas que vão piorar muito este cenário.

Imagine se fizéssemos estes cálculos considerando os óbitos em internações por COVID-19 não foram identificados como COVID-19 !!!

 

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