Novo Normal Pode Favorecer Mercado de Planos Individuais
Um dos Dilemas das Operadoras É Acreditar que Tudo Será Como Antes no Pós Pandemia ... Ou Não
Enio Jorge Salu – Publicado em 25 de Agosto de 2020
Em agosto de 2020, 6 meses após o início da pandemia no Brasil:
· Por falta de políticas públicas de saúde foi superada a marca de 110 mil mortes, e a população sem orientação adequada e firme do governo não se dispôs a entender a gravidade da situação, exigindo reabertura de serviços não essenciais, promovendo aglomerações e povoando praias e espaços públicos;
· E por pura falta de visão, os próprios empresários e gestores da área da saúde não articularam movimentos para adequar seus produtos ao novo normal.
A maioria dos empresários e gestores da área da saúde se manteve na posição de que após a vacina tudo volta ao normal ... que “novo normal” é “mimimi” ... :
· Poderiam acertar se fosse apenas uma questão de erradicar uma doença;
· Mas erram ao não perceber que muita coisa mudou, não pelo evento da doença em si, mas pela mudança que a pandemia promoveu na sociedade.
A pandemia promoveu mudanças definitivas em uma série de comportamentos sociais:
· Que por sua vez modificou definitivamente uma série de negócios;
· Da mesma forma que o surgimento da AIDs modificou uma série de comportamentos sociais, que a erradicação da poliomielite modificou uma série de comportamentos sociais ... a pandemia modificou comportamentos definitivamente.
Somente para citar os mais evidentes:
· Acelerou a migração de compradores de lojas convencionais para lojas virtuais. Muitas pessoas que não sabiam ou não confiavam no mercado eletrônico mudaram de perfil e jamais vai voltar a fazer compras em lojas físicas no mesmo volume que fazia antes;
· Muitas pessoas que pagavam consultas presenciais em psicólogos, aprovaram a experiência da tele consulta;
· Muita gente que nunca havia comprado comida por aplicativo experimentou e gostou;
· Até gente que experimentou fazer aula de ginástica em casa gostou !
Tudo isso afetou o modelo de negócios destes segmentos de mercado, mas uma mudança em especial deverá afetar muito o segmento da saúde – o home office:
· Muitos empresários experimentaram as vantagens de não ter o funcionário o tempo todo dentro da empresa, quebrando o paradigma de que “o olho do dono é o que engorda o porco”;
· A evolução dos aplicativos para reuniões e, especialmente o barateamento das licenças de uso, fizeram o empresário perceber que é muito mais barato que o funcionário não fique dentro da empresa quando não há necessidade;
· Jamais, no pós pandemia, o cenário de reuniões presenciais será o mesmo – é uma mudança irreversível.
Irreversível e muito significativa em toda a cadeia de valores:
· Boa parte das empresas vai aproveitar o cenário para terceirizar atividades que reduzirão muito de volume. Por exemplo: com menos funcionários dentro da empresa é necessário menos volume de serviços de segurança, higiene, segurança do trabalho, e outros;
· E boa parte dos funcionários vai aproveitar o cenário para soltar suas amarras: deixar de ser funcionário para se tornar empreendedor – não ser exclusivo de uma única empresa.
Esta mudança, mesmo que lenta, deverá ser tendência e vai modificar o perfil dos planos de saúde:
· Menos funcionários em empresas, menos necessidade do benefício plano de saúde (o coletivo);
· Mais empreendedores, maior a demanda dos planos PME e Individuais. Se considerarmos que a maioria dos novos empreendedores tendem a ser individuais, o Plano Individual é favorecido em relação ao PME independente de outras razões que quando pesadas na balança sempre o favoreceram em relação ao outro.
(*) Todos os gráficos são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil – Edição 2020
Do que estamos falando – em 2019:
· Os beneficiários de planos de assistência médica individuais representavam 19,1% do total;
· Os de planos de assistência exclusivamente odontológica, 17,6 %.
Como ordem de grandeza, aproximadamente 1 a cada 5 beneficiários de planos de saúde têm plano individual.
Boa parte das pessoas acha que o número de beneficiários de planos individuais no Brasil reduziu significativamente nos últimos anos:
· O gráfico demonstra que não é verdade;
· Nos planos de assistência médica houve queda, mas de apenas 5,2 % entre 2011 e 2019;
· Nos planos de assistência odontológica houve acréscimo de quase 55 % nestes 9 anos.
O que reduziu foi a proporção entre os beneficiários de planos individuais e o total de beneficiários:
· Mas o gráfico demonstra que a proporção mudou muito pouco entre 2011 e 2019;
· A proporção nos planos de assistência médica modificou apenas 1,7 %, e nos de assistência odontológica nada (0,1 % em 9 anos é nada !).
Se no “ante pandemia” com a insana regulação que favoreceu completamente a migração dos beneficiários para os planos coletivos o resultado foi este ...
... no “pós pandemia”, o novo normal, a tendência de reversão desta tendência é muito forte.
Quem “estiver antenado” vai largar na frente !