Qualidade Ainda Pouco Reconhecida como Oportunidade na Área da Saúde
Queda no Volume de Certificações Define o que Pensam Gestores da Saúde sobre Acreditação no Brasil
Enio Jorge Salu – Publicado em 31 de agosto de 2020
(*) Todos os gráficos são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil – Edição 2020
Já há alguns anos a acreditação deixou de ser tema obrigatório na agenda dos gestores da saúde no Brasil:
· Uma parte culpa da banalização que permeou o tema – houve uma época em que tudo tinha obrigatoriamente que ser associado ao tema sob pena de ser algo secundário;
· Uma parte culpa dos próprios processos de certificação – presenciamos cenários em que ao visitar uma instituição, por outra razão, não era possível entender como o selo foi concedido para ela;
· Uma parte pela baixa especialização das equipes internas de qualidade em conceitos de qualidade – equipes que se preocupavam em decorar o que está escrito no caderninho, sem pensar em porque aquilo está escrito: com que objetivo foi escrito;
· E uma parte pela mania que o gestor brasileiro tem de aproveitar uma estrutura especializada para resolver tudo – cansei de presenciar em consultorias os departamentos de qualidade atuando em processo de relacionamento com clientes, com órgãos reguladores, com fornecedores ... como órgãos dotados de uma visão mais abrangente da organização, tudo que “engrossa” é jogado para ele resolver, em detrimento da sua função de compliance dos processos internos visando prioritariamente a segurança do paciente.
E após chegar a uma espécie de platô, o volume de serviços acreditados caiu em 2019, como demonstra o gráfico:
· Vale lembrar que 1.200 serviços acreditados em todo o universo de serviços existentes é uma quantidade insignificante;
· Uma queda em uma quantidade tão pequena é muito preocupante !
Só pelo volume total já é possível concluir que por mais que o tema qualidade tenha sido cantado em verso e prosa durante décadas no Brasil a maioria dos gestores não entendem o significado:
· Não entendem por que o McDonalds, a empresa de maior qualidade no mundo, não tem selo de certificação de qualidade em cada loja;
· Acham que uma empresa que tem selo tem mais qualidade do que qualquer uma que não tenha;
· Não entendem o benefício que uma empresa de saúde pode ou não ter ao aderir a um programa de certificação da qualidade, a diferença entre os selos, como se estruturar ...
· Continua sendo um assunto vendido de forma inadequada, tratado de forma inadequada, e naturalmente não atingindo os objetivos desejados.
Se tirarmos da conta o PNASS - Programa Nacional de Avaliações dos Serviços de Saude, que é a forma mais simples e barata de se acreditar:
· Não há queda, e sim aumento no volume de acreditadas;
· Mas o volume de acreditadas é ainda mais insignificante – metade do total;
· Neste ritmo vamos demorar muito para certificar os serviços existentes ... mais de 100 anos !
O gráfico demonstra a distribuição das acreditadas por selo:
· Quase 90 % se concentra no PNASS e MBA, que são as certificações mais baratas;
· É simples concluir que os outros processos de certificação ainda não muito caros – é difícil para o gestor, que já não tem muita motivação para aderir ao tema, optar por um processo mais caro;
· É bom deixar claro que, como em qualquer atividade de certificação, a existência de vários selos não contribui para que gestores entendam qualidade: a falta de um padrão único traz insegurança – são raros os segmentos de mercado que têm mais de um padrão para certificação, e nenhum tem tantos como as áreas da saúde e da educação;
· E é bom deixar claro que não existe selo melhor ou pior – existe selo mais ou menos aderente a necessidade, que é outra coisa, e o aspecto custo x benefício da marca do selo, que também é outra coisa !
O gráfico demonstra que existe uma grande competição pelo mercado de acreditação:
· Avaliando cada avaliadora é possível concluir que ao longo dos anos elas se alternam no protagonismo de determinados nichos;
· A maior competição é a que faz com que o selo MBA seja mais barato – se não existisse esta competição o selo certamente seria bem mais caro.
O gráfico demonstra a distribuição percentual das acreditadas pelo Brasil:
· São Paulo concentra 1 a cada 4 entidades, mais ou menos compatível com a relação de serviços de saúde existentes no Brasil;
· Mas temos UFs que não tem sequer 1 entidade acreditada.
Analisando a distribuição sem o PNASS:
· A proporção de São Paulo é surpreendentemente maior, porque seria de se pensar que os estados mais ricos teriam maior participação percentual dos selos mais caros !
E é mais preocupante analisando o gráfico:
· Saber que além de desperdiçarmos a oportunidade que os processos de certificação da qualidade oferecem para melhoria assistencial, redução de custos, transparência ...
· ... ainda estamos desperdiçando uma especialização que construímos ao longo do tempo.
Está caindo o % de processos em que a entidade não consegue se certificar:
· Mesmo com viés na afirmação: investimos na formação de equipes de auditores e internas de qualidade;
· Se houver retrocesso, será uma importante qualificação perdida ... tempo e dinheiro perdido !