Um Pouco Sobre o Custeio dos Planos de Assistência Médica e Odontológica
Produtos Muito Diferentes ... Deverão Sofrer Impactos Diferentes no Perfil de Custos Devido a Pandemia
Enio Jorge Salu – Publicado em 9 de Novembro de 2020
Inseridos no mesmo mercado (saúde suplementar regulada):
· Regulados pela mesma agência no Brasil;
· Operados em boa parte pelas mesmas mantenedoras;
· Mas são produtos muito diferentes, que deverão sofrer impactos de sustentabilidade completamente diferentes a partir de 2020 em função da pandemia.
A regulação dos planos de saúde de assistência médica e odontológica tem sido criticada há anos, entre outras coisas:
· Por se tratar de produtos diferentes inseridos em um mesmo cenário;
· Por ter sido permitido a comercialização de assistência médica em conjunto com assistência odontológica, o que em outros setores é rotulado como venda casada (ilegal);
· Por ter sido permitido que um plano que combina assistência médica e odontológica não possa ser dissociado, ou seja, se o beneficiário quiser migrar o odontológico para um exclusivamente odontológico não terá base de preço clara no anterior para avaliar o custo x benefício.
Tudo isso cria, no mínimo, uma condição de competitividade muito complexa, onde o maior prejudicado é o beneficiário do plano de saúde ... como sempre !
(*) Todos os gráficos são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil – Edição 2020
Estes gráficos já ilustram como os produtos são diferentes:
· Ele ilustra a distribuição % dos custos dos 2 tipos de planos;
· A diferença percentual, quando classificados os custos da mesma forma, é muito significativa;
· Bastaria comparar 82,1 % de despesas assistenciais dos planos de assistência médico-odontológicas com os 59,9 % dos planos de assistência exclusivamente odontológica;
· Mas, com exceção das outras despesas, os outros custos (administrativos e comerciais) também têm perfil completamente diferentes.
O produto assistência médica é muito mais sensível à sinistralidade do que o odontológico:
· A pandemia trouxe um refresco para a sinistralidade das operadoras;
· O efeito ruim da pandemia para o negócio operadora de planos de saúde foi a queda de beneficiários – a queda de receita;
· Mas em relação aos custos foi o inverso, então este perfil que vemos no gráfico deverá se alterar significativamente nos anos seguintes: reduzindo proporcionalmente os custos assistenciais, aumentarão proporcionalmente os demais.
Mas esta mudança será mais significativa nos planos de assistência médica onde a participação dos custos assistenciais é maior, ou seja, o perfil dos planos odontológicos também vai alterar, mas a alteração nos de assistência médica será maior.
Estes gráficos ilustram a evolução das despesas administrativas e assistenciais entre 2011 e 2019:
· Nos planos de assistência médica a evolução dos custos assistenciais antes da pandemia era muito significativa, enquanto nos planos de assistência odontológica isso não era verificado como tendência;
· Nota-se que em ambos os casos as operadoras procuraram reduzir custos administrativos gradativamente. Esta proporção deverá mudar, não porque as despesas administrativas cresceram, mas porque são na maioria despesas fixas, e como a assistencial reduzirá, proporcionalmente ela crescerá.
Nestes gráficos fica um pouco mais visível a comparação da evolução:
· Nota-se queda das despesas administrativas nos dois produtos, mas nos planos de assistência médica a queda é bem maior;
· Relativamente o mesmo ocorre com as despesas assistenciais – aumento nos dois produtos, mas na assistência médica o aumento é muito maior.
Todo o esforço para redução de custos em um ambiente de normalidade será significativamente modificado pelo cenário de exceção da pandemia ... o novo normal pós pandemia apresentará um novo perfil de custos para as operadoras, mais significativa para os planos de assistência médica do que para os planos de assistência exclusivamente odontológica !