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Fatores que Influenciam As Variações nos Preços da Saúde Suplementar e do SUS
0122 – 28/11/2020
Fonte: Geografia Econômica da Saúde no Brasil
Precificação na Saúde Exige Melhor Especialização em Custos e Análise do Mercado
Já se foi o tempo em que a precificação dos serviços na saúde se baseava apenas em marcas e padrões de hotelaria:
· Há algum tempo padrões de hotelaria viraram “Commodities” na área da saúde, por conta das diversas linhas de financiamento de “dinheiro barato” para os serviços privados ... é cada vez mais difícil se deparar com um “hotel com menos que 4 estrelas” na saúde;
· As marcas foram construídas com base em um passado, onde determinadas instituições tinham realmente um grande diferencial em relação às demais. Posso afirmar porque atuei como executivo durante 12 anos de uma delas, e naquela época realmente havia um diferencial absurdo entre uma meia dúzia de serviços de saúde e os demais;
· Hoje as marcas não justificam a enorme diferença de preço que podia ser praticada no passado ... continuam sendo instituições de excelência, é bom que se diga – instituições de excelência, suas marcas ainda têm significado, são sólidas porque foram construídas durante décadas ... mas tecnicamente não representam mais a enorme distância que havia entre elas e as demais para elevadas diferenças entre preços;
· O custo, que não era tão significativo na definição dos preços, avançou no compartilhamento do protagonismo;
· E a geografia econômica do segmento da saúde também assumiu seu protagonismo.
Para efeito didático, a geografia econômica da saúde que embarca muitos aspectos, pode ser resumida em 2 quando recorremos a ela apenas para efeito de precificação: a existência de concorrentes, e o preço praticado por eles.
O primeiro é a oferta do serviço na região:
· Contempla avaliar a microrregião, identificando concorrentes que o cliente pode acessar de forma simples e rápida;
· Os gráficos mostram a quantidade de leitos da saúde suplementar no Amazonas e Goiás;
· Notar que no caso de Goiânia, o cliente pode se deslocar em menos de 2 horas para Brasília, de automóvel, mesmo em condições desfavoráveis de saúde, e com o aporte de familiares. Os familiares nem necessitam se acomodar em hotéis para acompanhar o caso;
· No caso de Manaus, para optar por oferta de serviço de saúde de nível semelhante em outra cidade, o deslocamento só é viável utilizando avião ou barco. Os familiares que desejarem acompanhar o caso de perto terão que se hospedar em um hotel.
O exemplo mostra que em Manaus a concorrência é “parede a parede”, ou seja, a análise da concorrência é a do vizinho ... já em Goiânia não: a distância “entre as paredes” pode ser de mais de 100 quilômetros !
O segundo é o preço praticado:
· A figura mostra a diferença do preço médio de um procedimento (não do valor total da conta ... apenas do procedimento ... o preço de tabela do procedimento) nos Estados do Amazonas, Ceará, Goiás, Rio Grande do Sul e São Paulo;
· Sempre dizemos que o Brasil é uma coleção de mini países em um só – é “sonolento” ver comparações de precificação da saúde pública e privada no Brasil com os países “nanicos” da Europa, ou com os Estados Unidos onde a maioria da população tem plano de saúde. Chega a ser ridículo ver alguns estudos, seminários, “lives” ... que fazem estas comparações por pessoas que nunca atuaram na precificação, nem em fonte pagadora, nem em serviço de saúde;
· Nota-se que mesmo um procedimento simples, que muitos serviços de saúde tenham competência para realizar, tem variação de preços significativa.
O fascinante da precificação na saúde suplementar é que se pegarmos um outro procedimento que também é executado em muitos serviços de saúde, a variação de preços não guarda relação com o do outro:
· Porque a negociação comercial não fixa o preço da tabela de referência inteira (no caso procedimentos médicos as tabelas AMB, CBHPM ...);
· O aspecto regional faz com que os negociadores adequem os preços “de pedaços das tabelas” às particularidades regionais;
· Na saúde suplementar as tabelas de preços são meras referências de preços, e não regras de preços como ocorre na maioria absoluta dos outros segmentos de mercado;
· A posição geográfica da cidade, a proximidade de cidades com o mesmo nível de produto, a facilidade de deslocamento ... influenciam diretamente nesta variação de preços.
E quando aferimos a variação % entre os preços mínimos e máximos tabulados:
· As variações são significativas mesmo dentro de um mesmo Estado;
· É bom que se diga que isso ocorre em estados pequenos, médios e grandes territorialmente;
· A concorrência e os acordos comerciais que garantem mais ou menos produção de uma fonte pagadora para o serviço de saúde definem esta variação de preços.
Sob qualquer ponto de vista, é claro, avaliar qual a margem de contribuição do produto, ou seja, qual é a diferença entre o custo de realização e o preço praticado, é a chave de sucesso para manter o procedimento na oferta de produtos ao mercado ou não:
· O cálculo do custo para precificação é simples: pode ser o custo unitário, ou pode ser o custo médio;
· Diferente do método utilizado pela contabilidade que é mais complexo porque enquanto ela tem como objetivo apurar o resultado da empresa, e se obriga a seguir ritos técnicos rígidos, os gestores de precificação só têm necessidade de apurar o custo do procedimento, sem contaminações dos gastos não operacionais, artifícios contábeis utilizados para chegar ao melhor resultado que represente a menor retenção de tributos, sem ferir a lei;
· A metodologia utilizada em precificação é de simples assimilação por “profissionais da precificação” que geralmente não tem, e não necessitam ter, formação em ciências contábeis.
E se engana quem pensa que no SUS o preço é sempre o mesmo, que não existe gestão da precificação. Existem 2 condições que alteram o preço do procedimento: incremento e mutirão.
Incremento é o % aplicado no preço da tabela de preços SIGTAP que o SUS concede dependendo de parâmetros de qualidade / produção dos serviços de saúde em determinadas condições – por exemplo:
· Preço da quimioterapia de colo de útero para serviços que realizam acima de X exames anátomo patológicos para diagnóstico de câncer de colo de útero;
· Preço da diária global de psiquiatria para serviços que desenvolvem pesquisas de protocolos de atendimento multidisciplinares para reduzir o tempo de internação em psiquiatria.
Mutirão é o acréscimo no valor da tabela de preços SIGTAP que o SUS concede quando uma determinada fila de realização de procedimentos para uma determinada doença “não está andando”, ou está “sufocada” por um surto, por uma epidemia. Por exemplo:
· X % de aumento no preço da tabela SIGTAP por procedimento de catarata na Região do ABC entre os meses de janeiro e março;
· X % de aumento no preço da tabela SIGTAP para cirurgias de coluna na Cidade Y até que a fila reduza para Z dias;
· X % de aumento no preço da tabela SIGTAP para tratamento de dengue na Região do Baixo São Francisco.
Em ambos os casos:
· A variação do preço pode ser o fator que define se o serviço de saúde vai realizar ou não o procedimento para o SUS;
· Pode definir, inclusive, o interesse de um serviço privado, que tradicionalmente não presta serviço para o SUS, para realizar estes procedimentos específicos durante o período do mutirão;
Ou seja, também no caso do SUS avaliar a margem de contribuição do procedimento é fundamental ... especialmente se for um leilão do SUS, para definir o lance mínimo em mutirões.
Por isso dizemos que o cenário da precificação na saúde é absolutamente fascinante:
· É cheio de nuances, embora os conceitos sejam muito simples;
· A habilidade do gestor de precificação é dominar bem estes conceitos simples e aplicar uma metodologia simples que lhe permita análises rápidas;
· Da sua habilidade resultam os serviços de saúde mais ou menos lucrativos ... mais ou menos sustentáveis;
· Seja no SUS, seja na Saúde Suplementar Regulada e ... principalmente ... na Saúde Suplementar Não Regulada, onde a liberdade de atuação produz serviços de saúde muito mais agressivos comercialmente.