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Rejeição dos Pacotes (Mesmo os Viáveis) por Parte dos Hospitais, Ainda é mais “Tabu” que Realidade

0124 – 14/12/2020

Encarando como “Loteria”, sem Análises Adequadas, Hospitais Continuam Sem Querer Apostar

Referência: Jornada da Gestão em Saúde

 

(*) Todos os gráficos são partes integrantes do estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil

 

Os antigos quando queriam que a visita fosse embora costumavam sinalizar oferecendo um café. Este costume ainda ocorre quando gestores comerciais de operadoras vão visitar os dos serviços de saude: ao chegar a “etiqueta” oferece café e água, começam a tratar os assuntos e quando surge o tema “pacote” rapidamente é oferecido outro café !

É evidente que as operadoras têm seus motivos para preferir contas apresentadas em forma de pacotes, e como tudo que acontece no relacionamento comercial entre fonte pagadora e serviço de saúde, são conflitantes com os interesses dos serviços de saúde.

Mas também é evidente que a maior parte dos serviços de saúde pode perder oportunidades de negócios:

·         Porque existem projetos bem e mal executados pelas operadoras até chegar à proposta;

·         E como tudo na área de negócios, sempre é preciso analisar algo antes “pré conceituar” como bom ou ruim.

No caso específico dos hospitais o “pré conceito” se deve à ausência de especialização adequada para avaliar:

·         Alta complexidade na saúde não é complexa apenas no âmbito assistencial ... também é no âmbito comercial;

·         Embora a especialização necessária não seja “nada do outro mundo”, porque na verdade os conceitos são poucos ... devem apenas serem bem aplicados;

·         É necessário que se tenha especialização “neste mundo” antes de “oferecer o segundo café”.

O gráfico demonstra que o % de contas do tipo pacote na saúde suplementar regulada no Brasil é de apenas 6%:

·         Este percentual se refere apenas às contas da alta complexidade;

·         Se considerado o total de contas incluindo baixa e média complexidades o % é praticamente = 0.

 

 

E como tudo que ocorre no Brasil o % geral não representa o que ocorre em todas as UFs:

·         Quem tem a oportunidade de atuar profissionalmente neste tema sabe que o nível de especialização da gestão comercial em saúde varia significativamente pelo Brasil;

·         Neste caso não é uma questão de profissionais com maior ou menor nível de escolaridade, maior ou menor tempo de atuação na área da saúde ... é uma questão do profissional não ter tido contato com a metodologia mais adequada para avaliar;

·         Os cursos de pós graduação em gestão (vou até ignorar do comentário em relação aos de graduação), embarcam poucas disciplinas relacionadas à geração de receitas hospitalares, relacionamento com fontes pagadoras, precificação ... e evidentemente, pacotes !

Se analisar a geografia econômica das UF’s do gráfico certamente chegará à conclusão de que onde existem mais hospitais próximos, ou seja, onde existem mais regiões metropolitanas que concentram hospitais, o percentual é um pouco maior:

·         Mas também concluirá que mesmo na UF de maior percentual, ainda é muito pequeno !

 

 

Uma das razões se deve ao que a ANS, indevidamente diga-se de passagem, tenta fazer:

·         Padronizar a codificação de itens do tipo pacote;

·         Ela dá ao tema uma complexidade que dificulta o gestor menos especializado da análise correta;

·         Veja que para apenas 6 % de contas do tipo pacote, já temos quase 30 % de itens do tipo pacote ... da forma como o assunto é tratado pela ANS, quando tivermos cerca de 10 % das contas apresentadas em forma de pacote, teremos mais itens do tipo pacote nas tabelas da ANS do que todos os demais juntos.

É fácil entender o erro que a ANS está cometendo se fizermos analogia com alimentação:

·         Imagine que todos os gêneros alimentícios fossem codificados pelo governo: você teria uma meia dúzia de códigos de feijão, mais meia dúzia de códigos de arroz ... e assim por diante;

·         Claro que seriam muitos ... mas ...;

·         Agora imagine que os pratos (os itens de cardápios) fossem codificados pelo governo: você teria milhões de pratos ... centenas de tipos de feijoada, de macarronada ... conforme a culinária vai se adaptando ao mercado, você iria chegando aos bilhões, trilhões de pratos;

·         Tentar padronizar pacotes é mais ou menos como estabelecer uma regra para comparar o preço da feijoada completa, feijoada carioca, feijoada light, feijoada com e sem pé, orelha, rabo ... algo, no mínimo, inútil, porque apesar do nome ser parecido, são produtos completamente diferentes ... como comparar hambúrguer bovino com hambúrguer vegano !

Esta pretensa padronização, além de não servir para nada, pode confundir o gestor hospitalar ao comparar propostas das operadoras:

·         Na verdade não deve fazer isso ... não deve cometer o erro que a ANS lhe induz com a pretensa padronização;

·         A metodologia de análise de pacotes em serviços de saúde está longe ... mas muito longe ... dos padrões TUSS, TISS ... pelo menos 1 ano-luz de distância disso.

 

 

O gráfico demonstra como o avanço da diversidade dos pacotes não é aritmético:

·         A relação entre itens do tipo pacote e itens do tipo não pacote cresce em proporção geométrica conforme os pacotes vão sendo implementados em progressão aritmética.

 

 

No Estado de São Paulo por exemplo, ao “bater” em apenas 7,3 % das contas do tipo pacote, os itens do tipo pacote nas já alcançam quase metade de todos os itens:

·         Para não haver dúvida ... não estamos falando a quantidade de itens lançados nas contas, se fosse isso seria de se comemorar;

·         Estamos falando da diversidade dos itens do tipo pacote ... são coisas diferentes;

·         O primeiro é uma mera questão de capacidade de processamento ... o segundo vai se referir a capacidade de análise adequada do cenário que se coloca pelas operadoras.

Nunca se fez tão necessário:

·         Entender a diferença entre conta tipo pacote e pacote para melhoria de cuidados;

·         Aplicar a metodologia que retira da análise o viés da comparação do preço da “dobradinha” com o preço da “feijoada” como sendo algo único do tipo “refeição à base de feijão”.

Se o gestor comercial de serviço de saúde, principalmente o que atua em hospitais, não estiver atento e/ou estiver despreparado, é evidente que a “oferta do segundo cafezinho” acaba sendo a sua única opção.