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Mercado Ainda Carece de Bons Auditores e Analistas de Contas Médicas
Fonte: Geografia Econômica da Saúde no Brasil
Erro, Desperdício e Fraude na Saúde Suplementar e no SUS Definem a Necessidade de Uma Boa Estrutura de Auditoria
(*) todas as tabelas e gráficos são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil
O gráfico demonstra a característica das contas na saúde suplementar no Brasil, sob o ponto de vista da fonte pagadora:
· A maioria absoluta (98,5 %) são contas da baixa e média complexidades;
· Apenas 1,5 % das contas da alta complexidade ... aquelas que os que não dominam a formação “fazem o sinal da Cruz” quando são obrigados a entender;
· Mas os 98,5 % das contas da baixa complexidade representam metade do valor total das contas, ou seja, os 1,5 % das contas da alta complexidade representam a outra metade.
A fonte pagadora, evidentemente, se preocupa muito com a exatidão das contas da alta complexidade:
· Mas não só porque um erro ali “quebra sua previsão de sinistralidade” ... é que estas contas são pagas exclusivamente com “dinheiro que sai do seu bolso”;
· Boa parte do valor das contas da baixa e média complexidades está associada aos planos com coparticipação, ou seja, boa parte do da metade do valor que ela paga ali, vai buscar a compensação diretamente “no bolso” do beneficiário;
· Então, além de 98,5 % dar muito trabalho, ela não tem o mesmo rigor com a conferência das contas da baixa e média complexidades, como tem com as da alta complexidade, que “por sorte” são apenas 1,5 %.
Nas contas da alta complexidade, especialmente as da saúde suplementar, podemos lidar com:
· Erros: a maioria absoluta do que não condiz com a realidade se dá por conta de erros ... porque as regras comerciais variam a cada contrato, envolvendo várias tabelas de preços, várias coberturas;
· Desperdício: uma pequena parte do que se deseja evitar como custo do sistema é o fato de serem realizados mais procedimentos do que se deveria, de se utilizar mais insumos do que se deveria ... mas é uma pequena parte comparada com os erros;
· Fraude: uma pequeníssima parte do que não condiz com a realidade fica por conta dos “espertos” que se aproveitam da complexidade dos sistemas de financiamento (SUS e Saúde Suplementar) para tentar levar vantagem da fonte pagadora. É uma pequeníssima parte ... mas quando ocorre o estrago pode ser grande.
Os efeitos indesejados podem ser minimizados:
· Os erros por uma boa estrutura de faturamento, com bons analistas de contas e auditores internos (do serviço de saúde) que auxiliam a melhoria contínua dos processos, e os auditores externos (da fonte pagadora) no processo de análise e glosa;
· Os Desperdícios são identificados e apontados por uma boa estrutura de auditoria externa (da fonte pagadora);
· E as Fraudes também são do escopo da estrutura de auditoria externa (da fonte pagadora);
· Nos 3 casos ... note-se ... aparece a figura do auditor de contas !
Já este gráfico ilustra a característica das contas para hospitais ... os que têm os 4 tipos básicos de pacientes (PA/PS, Ambulatório, SADT e Internação):
· ~ 15 % do volume de contas são de internação ... ~ 85 % para PA/PS, Ambulatório e SADT);
· Mas os ~ 15 % das contas de internações representam ~ 80 % da receita !
· Se o hospital tem porta 2 (atende SUS e SS), ~ 80 % do volume de atendimento é SUS;
· Mas os ~ 20 % de atendimentos na SS representam ~ 60 % da receita !!!
Ou seja, se o hospital errar para menos nas contas de internação sua sustentabilidade fica muito prejudicada:
· Se atende SUS e SS simultaneamente, as contas de internação da SS representam o risco do risco ... o risco máximo que possui;
· Hospitais dependem muito da atuação dos auditores, porque por mais evoluído que seja seu processo de composição e faturamento, tudo conspira para a existência de erros ... se os erros forem “à maior” o auditor da fonte pagadora aponta, caso contrário “fica debaixo do tapete” – prejuízo !
Entre os vários auditores (médicos, dentistas, enfermeiros ...) escolhi a auditoria de enfermagem para ilustrar o quanto o mercado ainda carece de bons profissionais ... dá para se ter uma noção do quanto tanto hospitais como operadoras perdem.
A enfermagem ... não auditores de enfermagem ... a enfermagem:
· É uma área de trabalho em constante evolução nos últimos anos;
· Qualquer profissão que cresce algo em torno de 5 % ao ano é, sem dúvida, muito promissora;
· No SUS vinha crescendo neste patamar nos últimos anos, e em 2020 por conta da COVID cresceu o dobro: tivemos afastamentos sistêmicos de contaminados que obrigaram o SUS a dispor de reservas como nunca havia necessitado !
Na saúde suplementar, por conta da redução dos procedimentos eletivos, a necessidade não foi a mesma:
· Mesmo assim manteve taxa de crescimento significativa (6 %);
· Não fosse a pandemia, certamente o crescimento teria sido “na casa” dos anos anteriores (na casa do 8 %).
Para os menos atentos sobre o que estou discorrendo:
· Os números que estão sendo demonstrados não são números absolutos, são percentuais de crescimento;
· A queda na saúde suplementar não foi no número de “empregos”, foi de oferta de “novas vagas”;
· Se construirmos um gráfico com os números absolutos, por exemplo somando SUS 2 SS:
· Temos uma curva crescente ... fantástica ... em anos que não podemos chamar de “primor do crescimento econômico”;
· Abrindo parênteses ... Ah se o governo entendesse saúde como instrumento de desenvolvimento econômico ... profissões especializadas como esta têm ”aos baldes” na área da saúde !!! ... pena que o governo enxerga saúde como despesa ... como doença ... como obrigação e não como oportunidade ... quem sabe um dia vamos eleger pelo menos um que “enxerga” !!!
A enfermagem está 24 horas por dia com os pacientes da alta complexidade:
· Da sua atividade, dos seus registros, fica evidenciada a assistência definida e realizada pelos médicos, dentistas, fisioterapeutas, psicólogos;
· Na alta complexidade tudo envolve a enfermagem de uma forma ou de outra, que é a responsável pelo paciente: admite na sua unidade, planeja os cuidados, prepara e monitora os procedimentos dos demais profissionais assistenciais;
· Temos então quase 1.300.000 profissionais cujos atos sinalizam e dão suporte à formação das contas !
· E quando trocam o jaleco branco/azul pela atividade de auditoria, como estão envolvidos em todo o ciclo da assistência, são profissionais extremamente úteis para sinalizar / apontar o erro, o desperdício e a fraude !
O gráfico ilustra que ainda temos carência deste profissional auditor:
· Nos anos anteriores a taxa de crescimento de enfermeiros auditores era o dobro do da enfermagem assistencial;
· Em 2020, por conta da pandemia, inverteu ... vamos lembrar que a maioria deles está na saúde suplementar que reduziu drasticamente os procedimentos eletivos na alta complexidade;
· Mesmo assim um crescimento de 6 %.
A proporção entre enfermeiros auditores e enfermeiros ainda é muito pequena:
· Comparando com enfermeiros e afins na casa de 0,35 %
· Se comparado com técnicos e auxiliares de enfermagem, 0,15 %;
· Tem muito “debaixo do tapete” porque as estruturas de auditoria ainda são menores do que deveriam.
E como ressaltamos nas consultorias e cursos:
· Novos modelos de remuneração aumentam a complexidade da auditoria, porque inserem um perigoso componente de elegibilidade e seletividade, que só pode ser medido adequadamente por auditores mais capacitados naquilo que envolve as contas e não estão no prontuário do paciente;
· Modelos alternativos ao fee for service (que não podem eliminar o fee for service totalmente ... apenas parcialmente), têm como foco apenas o desperdício ... o erro, e principalmente a fraude, independem do modelo de remuneração e continuam exclusivamente “no colo” do auditor;
· É fácil comprovar a afirmação nas situações reais onde tivemos a implantação de modelos de compartilhamento de riscos (que já “deslancharam” há algum tempo) ... estão ocupando seu espaço e convivendo pacificamente com o fee for service;
· Infelizmente não podemos demonstrar com veemência a mesma coisa em relação às situações reais de RBV que ainda são raríssimos no mundo, porque infelizmente os projetos geralmente “são capitaneados” por profissionais que não conhecem o mercado da saúde adequadamente para ter discernimento do que não vai dar certo !
Mas o fato inegável é que a cada movimento do mercado, a cada nova regulação ... fortalece a necessidade de auditores preparados para lidar com o erro, o desperdício e a fraude tanto no SUS como na Saúde Suplementar !