![]() |
![]() |
||
Brasil Se Esforça Para Surfar Sozinho a 3ª Onda COVID-19
0131 – 10/01/2021
Aos cuidados de: «Nome» «empresa» «depto» «cargo»
Referência: Jornada da Gestão em Saúde
Se quiser comparar o Brasil com países da “esquecida” África, ou com países “nanicos” em território como Israel, ou com países dominados por ditaduras, não vale a pena continuar lendo ... não perca seu tempo aqui:
· Já estive à trabalho algumas vezes em Angola (que é um dos mais ricos da África), e apesar do meu apreço pelo povo de lá, que aprendi a admirar pela força de vontade em trabalhar em condições tão adversas, sei que não possuem sistema de saúde estruturado para compilar informações de forma minimamente adequadas para podermos comparar;
· Não vou me expor ao ridículo de fazer como a imprensa, que enaltece o ritmo de vacinação em Israel, país do tamanho do Estado de Sergipe, e com um PIB de cerca de 1/3 do Brasil inteiro. Com exceção do elogiável consórcio que os veículos de imprensa estruturaram para nos dar informações que o Ministério da Saúde não dá sobre a pandemia, infelizmente o restante do papel da imprensa está sendo muito ruim – informações que confundem a maioria da população ao invés de ajudar;
· E não pretendo comparar informações sobre a pandemia no Brasil com países onde “pensar em voz alta” é proibido – todas as informações que vem deles são “puro horóscopo”.
O Brasil se enquadra no grupo dos países que poderiam ter enfrentado a pandemia de maneira adequada, mas infelizmente optou por não fazer ... para exemplificar, e deixar claro que não se trata de observação tendenciosa de ideologia, política ou outro tipo de coisa, vamos lembrar somente o que ocorreu nos últimos 2 meses:
· Até as eleições, as regras de prevenção eram uma coisa – após as eleições coincidentemente mudaram completamente;
· Enquanto países da Europa faziam lockdown para conter a segunda onda, aqui nosso presidente “mergulhou” na Praia Grande (razões políticas fizeram optar por fazer no Estado de São Paulo, ao invés de fazer no Lago Paranoá) ... o governador do Estado de São Paulo decretou fase vermelha e pediu para todos ficarem em casa nas festas, mas viajou de férias para Miami ... o Prefeito da Cidade de São Paulo liberou geral o comércio popular no Brás (show de horror de aglomeração) ... e como a maior cidade do Estado deu este péssimo exemplo, os prefeitos das cidades do Litoral Norte do Estado de São Paulo descumpriram a determinação do Estado e abriram comércio e praias ... e foi assim em todo o Brasil com políticos de todos os partidos;
· O resultado estamos vendo ... números indicavam que chegaríamos perto de 200 mil óbitos por volta de Maio de 2021, mas os políticos “fizeram o favor de antecipar calendário”.
Muito por conta da ambição de apenas 2 pessoas, o Brasil não deixou as instituições competentes enfrentarem a pandemia, nem no âmbito da saúde, nem no âmbito econômico:
· A explicação da razão pela qual, diante de tantas opções de fabricantes de vacinas no mundo, a Fiocruz não ter escolhido uma chinesa, e o Butantan ter escolhido uma chinesa ... é a mesma;
· E assim foi com tudo o que foi tratado em relação à pandemia: interesse político e ideológico em primeiro lugar, o econômico em segundo ... e lá no fim da fila a saúde da população.
Vivemos uma época de críticos e analistas “acovardados” pelo extremismo que se instalou aqui no Brasil ... calados ou se limitando a dar “indiretinhas”, permitem que o governo passe para uma população que não entende “entrelinhas” o que é mais importante para alimentar seu capital político.
E gastamos proporcionalmente muito mais do que os outros países, e vamos continuar gastando muito mais, porque a ambição política continua, sinalizando que “surfaremos” quase sozinhos a terceira onda da COVID-19 que não ocorrerá no “mundo civilizado” ... só nas “repúblicas das bananas”.
Vamos entender o desperdício de dinheiro público no enfrentamento da pandemia, para entender porque a “gastança” não tem chance de parar, partindo dos números de óbitos.
Não vou aqui comentar o que todos têm sensibilidade sobre os óbitos (exceto os políticos), que são aspectos relacionados ao sofrimento de mais de 200 mil seres humanos até o óbito, e tudo que cada um dos óbitos significam para os familiares – vou me limitar a comentar que se o Brasil tivesse seguido um caminho que tinha condições de escolher, teríamos gasto muito menos com a pandemia, e como este dinheiro está fazendo falta no próprio sistema de saúde público.
(*) Todos os gráficos são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil
Este gráfico mostra a média mensal de óbitos em internações do SUS associadas ao capítulo 1 do CID, que se relaciona com as internações por COVID-19:
· Vale lembrar que ainda não temos informações sobre novembro e dezembro de 2020 disponíveis no DATASUS, por isso ao invés de utilizarmos os números absolutos, estou recorrendo à média mensal;
· Vemos, é claro, um aumento gigante entre 2019 e 2020 – até outubro em 2020, os óbitos em internações SUS somaram 149.076;
· Como os “números oficiais” apontam ~200.000 de óbitos por COVID-19, seria de se supor então que 50.000 ocorreram em internações na saúde suplementar, e em casos não relacionados às internações;
· Imagino que esteja pensando o que é mais correto concluir: é óbvio que os números oficiais estão errados ... as mortes fora das internações SUS não podem ter sido apenas 50.000 ... esta proporção não se sustentaria em “nenhuma defesa de tese”.
Mas vamos considerar os números assim mesmo para fazer nossa estimativa ... assim ela “fica boazinha” para o governo:
· Mortes em internações estão associadas aos casos mais graves, em que o paciente “consome mais UTI”, maior empenho de equipe assistencial, maior tempo de internação;
· Se considerarmos uma média de permanência de 10 dias (para ser conservador) e um custo diário de R$ 3.000 (também conservador), cada óbito deste significa um gasto de ~R$ 30.000;
· Se estimarmos que se o governo tivesse agido da forma adequada no enfrentamento da pandemia poderíamos ter evitado 30 % dos óbitos (qualquer especialista em epidemiologia prova por A + B que poderíamos ter evitado muito mais que 30 %, mas vamos usar 30 % para ser “bonzinhos” com o governo), teríamos evitado 44.772 óbitos (30 % de 149.076) em internações do SUS;
· Então o governo teria deixado de gastar R$ 1.341.684.000 com COVID-19 !!!
Mas veja que fizemos a conta apenas dos óbitos:
· Nem todo mundo que internou por COVID-19 no SUS morreu (graças a Deus!);
· O gráfico mostra o número de internações associadas ao Capítulo 01 do CID em 2020 (lembrando: ainda faltam novembro e dezembro);
· Até outubro somaram 841.442 internações – se descontarmos 149.076 (os óbitos), temos 692.366 que internaram e se salvaram;
· Se utilizarmos a mesma premissa de que uma política pública adequada teria evitado 30 % destas internações, temos 207.710 internações que poderiam não ter acontecido;
· Se considerarmos o custo destas internações como sendo 1/3 das de óbito (R$ 10.000), chegamos a um gasto que poderia ser evitado com elas de R$ 2.077.098.000 !!!
Então, sendo “bonzinho” ... o governo gastou ~R$ 4,5 bilhões desnecessariamente porque não incentivou o uso de máscaras, não adotou políticas corretas de afastamento social, cedeu às pressões políticas em ano eleitoral ... !
Me desculpe o desabafo, mas a COVID-19 provocou “acefalia” tanto no ministério da saúde como no da economia aqui no Brasil: além desta “dinheirama toda”, ainda distribuiu o auxílio emergencial ... que inclusive, uma boa parte acabou caindo nas mãos de quem não merecia, como amplamente divulgado (e ficou por isso mesmo, diga-se de passagem).
Posso estender o termo “acefalia” para o ministério das relações exteriores também ... estamos isolados do mundo ... veja:
· A União Europeia negociou em bloco a compra de vacinas e insumos, desde a metade do ano passado ... há mais de 6 meses os países do bloco se uniram para definir o que fazer. E fizeram um programa único para todos os países da Europa (exceto o Reino Unido que já estava saindo do bloco);
· O Brasil nem considerou fazer algo em conjunto no Mercosul, nem com os BRICS ... parece que confiou que os Estados Unidos ajudariam (imagine se americano teria algum interesse nisso !) ... e somente no final do ano, por muita pressão, começou a pensar no que ia fazer ... até então ouvíamos “por que tanta ansiedade ?”;
· O Estado de São Paulo se apegou na ideia de que conseguiria todas as doses necessárias com a China (não é verdade) e que pode ignorar o resto do país vacinando a sua população ... o governo do Estado parece que esqueceu que vivemos em uma federação ... a essência da construção do SUS é que somos uma federação ... sem privilégios para Estados mais ricos;
· Perdemos o “timing”, que os outros países não perderam ... aliás da mesma forma que perdemos quando foi necessário comprar respiradores, máscaras ... e refrigeradores;
· E agora isolados de qualquer parceiro internacional importante, pagamos muito mais caro pela vacina e pelos insumos ... e ninguém tem mais o volume que necessitamos, porque a produção já está comprometida há meses para quem levou o assunto a sério. É humilhante ouvir que estamos mandando uma carta para o Governo da Índia pedindo ajuda “a esta altura do campeonato” ... é um absurdo;
· Dá a impressão até que tem “Farma” que claramente nem quer falar com o Brasil depois de “tanta lambança” nas exigências e desrespeito institucional ... vimos um vai e vem de exigências que nenhum outro país fez, e agora vão sendo cortadas !
Temos um risco real de 3ª onda:
· Enquanto países vizinhos, mais pobres e com menor estrutura que nós, já iniciaram a vacinação e devem terminar pelo meio do ano, aqui ainda vamos ver o governo continuar sinalizando que vacinação é bobagem ... toma quem quer ... os fabricantes é que devem se esforçar para vender vacina para o Brasil;
· Nossa população está desorientada com informações que são insistentemente divulgadas para quem não entende o significado ... tem uma legião de pessoas achando que uma vacina com quase 80 % de cobertura “é groselha e pode matar” ... será que depois de mais de 40 anos de proibição da censura à imprensa não aprendeu que a mensagem tem que ser simples e direta ? ... estamos vendo uma imprensa que não diz o que é certo ou errado: fica olhando nas redes sociais para ver se tem “joinha” !
· A população que relaxou na vacinação contra a pólio, contra o sarampo ... que passou a não se importar em prevenir contra a dengue ... está sendo educada a rejeitar a vacina;
· Assim certamente teremos uma 3ª onda ... vamos ter vacina, não vamos ter um programa de conscientização adequado, e uma parcela enorme da população não vai tomar ... e vai lotar hospitais no segundo semestre novamente;
· Vamos lembrar que gastamos quase o dobro com internações de quem não morreu, do que o que gastamos com quem morreu;
· E vamos lembrar que “no país dos feriados”, temos pela frente o Carnaval, a Semana Santa, as Festas Juninas ... a percepção que está sendo passada para a população é que estamos todos salvos ... vamos ver “libera geral” várias vezes com aqueles números ridículos que o governo divulga para afrouxar o controle !
Este dinheiro que o governo gastou desnecessariamente, está fazendo falta ao próprio SUS:
· O Governo não gastou mais com a saúde ... gastou mais com a pandemia;
· Tirou dinheiro “de uma conta’ e passou para outra.
Enquanto os óbitos em internação aumentaram por COVID, reduziram absurdamente nas internações associadas a todos os demais capítulos do CID:
· Veja que situação nos chegamos ... quem diria que um dia eu fosse assistir isso;
· O que poderia ser motivo para comemoração (redução de óbitos) é motivo de muita preocupação;
· Tivemos uma queda absurda nos óbitos por outras doenças ... muitas pessoas estão agonizando porque seu procedimento foi adiado;
· E infelizmente, muitas estão morrendo de outras doenças em casa, porque não existe leito para internar e tratar a sua doença.
É fácil entender ao analisar a média total mensal de óbitos em internações:
· Não existe um acréscimo proporcional ao de internações por COVID;
· Porque apesar dos óbitos em internação por COVID terem aumentado 83,9 % de 2019 para 2020 ... no mesmo período o total de óbitos em internações aumentou apenas 11,1 %.
Se pegarmos óbitos por internações em qualquer outro capítulo do CID teremos gráficos como este:
· Em psiquiatria houve queda de 7,6 % entre 2019 e 2020;
· E vamos lembrar que casos críticos de transtorno mental não esperam o tratamento;
· Se as pessoas que necessitam de internação para esta doença não estão morrendo nas internações, infelizmente estão morrendo em casa, nas ruas ... sem assistência ... sem dignidade ...;
· E neste caso específico (transtornos mentais), um tipo de morte das que marcam mais profundamente as vidas dos familiares.
Na visão econômica, os que se salvarem da falta de leitos estarão em quadros piores nos próximos anos:
· Além de continuar gastando mais do que deveríamos com casos de COVID-19, vamos ter que gastar mais com qualquer tipo de doente que atrasou seu tratamento;
· O tratamento tardio sempre é mais caro.
Que bom seria se não estivéssemos correndo o risco real d 3ª onda aqui no Brasil ... mas infelizmente é utopia pensar que vamos ficar na 2ª onda !