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Hospitais e o Potencial do Turismo da Saúde no Brasil

0133 – 11/01/2021

Aos cuidados de:  «Nome»     «empresa»    «depto»       «cargo»

Referência: Jornada da Gestão em Saúde

Geografia Hospitalar Brasileira Sustenta Também Muitas Empresas que Nem São do Segmento da Saúde

(*) Todos os gráficos são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil

O gráfico ilustra a distribuição dos hospitais no Brasil:

·         Como são empresas que atuam na alta complexidade assistencial, têm uma estrutura de custos que dificulta sua existência em todas as 5.470 cidades do Brasil;

·         Então, uma grande concentração nas cidades mais populosas, e quem não estiver nelas e necessitar do serviço, se desloca;

·         Pode até haver hospital em determinada cidade, mas se a especialidade ali não existir, ou se o hospital não goza de boa reputação, o deslocamento também ocorre;

·         Este “fenômeno” ocorre em todo o mundo.

O gráfico mostra a distribuição dos hospitais em “um pedaço” da Região Nordeste, que é uma das mais densamente povoadas:

·         Onde se vê um “quadradinho vazio” é uma cidade que não tem hospital;

·         No Brasil, um “país continental” com uma maioria absoluta de cidades pobres e pequenas que contrastam muito com as grandes metrópoles, o deslocamento em busca do hospital ocorre mais do que em outros países;

·         E, contrastando com a maioria dos países do hemisfério sul, temos centros de excelência na saúde pública e privada reconhecidos mundialmente, e recebemos uma enormidade de estrangeiros que procuram tratamento médico no nosso país;

·         Isso é o que chamamos de Turismo da Saúde !

O gráfico mostra a distribuição dos hospitais em “um pedaço” da Região Norte:

·         Além do deslocamento enorme (distâncias gigantescas), não se tem estradas, ferrovias como existem nas demais regiões do Brasil;

·         É um deslocamento que depende de barcos e aviões;

·         Já que o deslocamento será grande, parte de quem pode optar por isso acaba indo para outras regiões do país, em busca de hospitais mais equipados dos que existem na região (ou de “marca”);

·         Deslocamento de pacientes e acompanhantes não é tão simples ... e se não é um procedimento eletivo, é algo extremamente complexo e perigoso;

·         Só quem é do ramo entende o que realmente significou transportar pacientes COVID-19 de Manaus para outros Estados  por falta de leitos e oxigênio durante a “segunda onda”.

O mercado hospitalar continua em evolução, apesar dos últimos anos terem sido de crise econômica no Brasil, e da pandemia ... é motivado basicamente porque:

·         A população cresce;

·         A consciência global da população pela busca dos direitos para acesso à saúde cresce, tanto na área pública como na privada;

·         Fontes pagadoras privadas vão gradativamente se equipando com hospitais próprios (verticalização);

·         Hospitais privados isolados tem mais dificuldade de sustentabilidade do que redes hospitalares, e vão mudando seu perfil: hoje a tendência é “espalhar hospitais de menor porte” ao invés de “ir agigantando” os existentes, e equipar a rede com centros administrativos e de logística apartados e cada vez mais especializados.

É um mercado robusto, de alta rentabilidade:

·         Mas ainda carente de gestores adequadamente capacitados;

·         Especialmente em precificação, análise de pacotes ofertados por operadoras de planos de saúde, gestão comercial, custos dos procedimentos, contratualizações com as fontes pagadoras, relacionamento com fornecedores de insumos, especialmente os de alto custo ... e formação das contas na alta complexidade;

·         A tradição do segmento sempre foi formar profissionais assistenciais de excelência ... mas a formação adequada dos gestores sempre ficou em segundo plano no âmbito hospitalar;

·         Apesar de continuar alta, a rentabilidade está reduzindo por conta da crescente concorrência, e porque muitos gestores não estão habilitados para aproveitar todas as oportunidades que o ambiente comercial oferece;

·         Gestores comerciais passam mais tempo envolvidos em atividades operacionais, necessárias em função da complexidade dos sistemas de financiamento, diga-se de passagem ... e acabam não “reservando tempo adequado” para analisar o “imenso e diverso” mercado real da saúde privada e pública;

·         Precisamos de mais gestores hospitalares, e de gestores hospitalares mais bem preparados para garantir a sustentabilidade financeira dos hospitais.

E hospital é um estabelecimento que gera empregos:

·         Diretos ... centenas nos hospitais de pequeno porte, milhares em hospitais de médio porte, dezenas de milhares em complexos hospitalares ... o HC de São Paulo tem mais de 16.000 colaboradores, funcionários e terceirizados que atuam diretamente;

·         Indiretos ... milhares ... prestadores de serviços especializados, fornecedores, e transportes e comércio da região;

·         No passado os governos davam muito foco nas indústrias para geração de empregos ... as indústrias foram se “robotizando” e o volume de empregos diminuindo drasticamente ... e foram “sumindo” também. Nem estou falando da fuga das indústrias por conta do “Custo Brasil”, mas porque as grandes foram engolindo as pequenas, e nas grandes, proporcionalmente, o volume de empregos é menor;

·         Já em hospitais a essência da assistência se baseia em procedimentos manuais, na atenção pessoal e personificada ... acrescido da enorme infraestrutura para manter o edifício funcionando, a logística interna, a zeladoria ... faz com que hospitais sejam, no mundo todo, o tipo de empresa que mais gera empregos qualificados, proporcionalmente aos demais tipos de empresa.

O reflexo da falta de visão estratégica para o segmento é demonstrado no gráfico da distribuição dos tipos de hospitais em 2020:

·         Ainda temos uma maioria absoluta de hospitais gerais;

·         Os Gerais não são somente hospitais ... embarcam ambulatório, pronto socorro, serviços de diagnósticos ... são “shopping centers da saúde” ... existem razões comerciais que justificam parte disso na área privada, mas não na área pública;

·         Hospitais especializados podem realizar procedimentos com custos muito menores, permitindo a venda do serviço por preços muito menores, mas com melhor rentabilidade.

Não que os outros tipos de hospitais estejam desaparecendo:

·         Na verdade estão em crescimento, mas em uma proporção que deveria ser maior;

·         Centros para Partos Normais, por exemplo, têm o menor índice de crescimento;

·         Mesmo que você tiver um serviço destes dentro de um hospital geral, o custo de realização será muito maior do que se tivesse em um serviço especializado;

·         É só aplicar a metodologia simples de cálculo de custo médio e/ou de custo unitário e/ou de rentabilidade de unidades de negócios em saúde para comprovar que a margem obtida, pelo preço praticado no mercado, é muito diferente ... muito favorável para os serviços especializados;

·         Como o mercado paga geralmente o mesmo preço para o procedimento, independente se o hospital é especializado ou não, é importante que a formação da conta e o cálculo da margem esteja sob o mais alto controle possível.

É a mesma linha de conselho que damos em relação aos pacotes oferecidos pelas operadoras:

·         Tem muita oferta de operadora que é uma afronta – inadequada e inviável. Temos muitas operadoras que não desenvolvem projetos de pacotes adequadamente – jogam “propostas indecentes” para hospitais e reclamam pela não aceitação;

·         Mas existem ofertas viáveis, alinhadas com a realidade – se não forem adequadamente analisadas, podem ser oportunidades desperdiçadas;

·         Um pacote pode ser absolutamente inviável em um hospital geral, mas pode ser uma boa oportunidade em um hospital especializado !

 

 

 

De qualquer forma, o Turismo da Saúde não favorece somente os hospitais:

·         Acho que não preciso falar a respeito dos serviços de transporte envolvidos !

·         O familiar que acompanha o deslocamento do paciente e a internação nem sempre tem acomodação para ficar no hospital ... precisa fazer uso de hotéis;

·         Durante alguns anos prestei consultoria de gestão em uma rede de hotéis aqui em São Paulo, logo que abri minha consultoria e simultaneamente aos projetos na área da saúde, e posso assegurar que o volume de “turistas” que vem para a Cidade de São Paulo, não para conhecer pontos turísticos e sim em busca de serviços de saúde ... é grande !

·         E estando fora do seu domicílio, vai consumir produtos em mercados, restaurantes, bares, farmácias ...

Como sempre digo:

·         Que bom seria se o governo não enxergasse saúde como uma obrigação ... um gasto ... quem dera um dia pudéssemos ter governantes que entendam saúde como geradora de riqueza ... como fator de desenvolvimento econômico;

·         Veja o exemplo agora com a pandemia: dos membros dos BRICS, 3 dos 5 países são os maiores fabricantes de vacinas COVID-19 – na verdade de insumos em geral para a saúde. Enquanto ficamos aqui com mi mi mi, eles cresceram por conta da pandemia e vão vender bilhões e bilhões de doses de vacina para o mundo. Por razões ideológicas nos afastamos ainda mais de 2 deles (Rússia e China), e não tivemos nenhum apoio diferenciado da Índia;

·         Vai passar a pandemia e vamos continuar dependentes de outros países para suprir o mercado da saúde com medicamentos, agulhas, seringas, gaze, algodão, respiradores ... vamos continuar sustentando os outros membros dos BRICS ... nada vai mudar !

Neste cenário, mesmo “remando contra a maré”, o segmento hospitalar vai mostrando em números a sua força:

·         E ajudando empresas tanto do segmento como fora dele ... e desenvolvendo as cidades em que se instalam;

·         Números que seriam muito, mas muito, mas muito melhores se o governo entendesse saúde de forma diferente.

Precisamos formar e capacitar adequadamente mais gestores hospitalares ... quanto mais e mais capacitados em mercado eles forem, maior é a nossa chance de mudar o cenário em relação às políticas públicas !!!