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O Mistério dos Respiradores

0142 – 12/02/2021

Referência: Jornada da Gestão em Saúde

Aumento do Volume de Respiradores Deverá Reduzir Filas no SUS e Baixar Preços na Saúde Suplementar ... Só Não Está Dando para Avaliar o Quanto ... Ainda !

 

(*) todos os gráficos são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil

Este gráfico demonstra a variação do preço médio do procedimento (10104020) Atendimento Médico do Intensivista em UTI nas UF’s do Brasil:

·         Só se referem aos pacientes da saúde suplementar regulada (contas pagas por planos de saúde);

·         Existe viés nos dados capturados nas bases da ANS, porque as vezes este procedimento está incluso em pacotes gerais, ou em “diariões de UTI” ... as vezes o procedimento é associado a item de tabela negociada, que não segue o padrão TUSS ... as vezes o procedimento é pago diretamente pelo beneficiário ao médico, e depois o beneficiário vai buscar ressarcimento em um valor tabelado junto a operadora, ou seja, não representa exatamente o que foi pago ao médico / serviço de saúde ...

·         Enfim ... é necessário conhecer as nuances da gestão comercial da saúde para entender o viés, e o quanto ele pode afetar as análises.

No nosso caso aqui o viés não vai fazer diferença, porque vamos tratar de como o aumento do número de respiradores poderá afetar o SUS e a Saúde Suplementar, e não da análise da precificação regional, que demandaria outras coletas de dados, e outros filtros – discutir a razão pela qual existe a variação de preços.

 

 

 

É com as crises que a medicina evolui, e a pandemia que ninguém gostaria que tivesse acontecido deixará, além do legado de catástrofe humanitária, várias coisas que vamos considerar positivas:

·         Em tempo recorde foram desenvolvidas vacinas ... há pouco mais de um ano esta doença não existia ... é extraordinário como o setor farmacêutico se desenvolveu ao longo dos anos para chegar a este ponto;

·         Boa parte da população mundial vai incorporar na sua rotina medidas de higiene que não davam muita importância ... era difícil conscientizar pessoas a lavar as mãos mesmo em serviços de saúde ... hoje muita gente já diz que vai aderir ao uso de máscaras quando estiver doente;

·         E os serviços de saúde, especialmente os públicos, acabaram ganhando “na marra” parte da infraestrutura que sentiam falta;

·         É o caso dos respiradores.

O gráfico demonstra que em um ano “saltamos do patamar” de 70.000 respiradores para a “casa” dos 90.000.

Necessitamos muito que a infraestrutura para a saúde se equalize:

·         O gráfico demonstra a distribuição dos respiradores por milhão de habitantes;

·         Independente de ser SUS ou Saúde Suplementar, a proporção entre a UF do menor e do maior indicador é de quase 4 vezes;

·         Doenças que necessitam de respiradores não escolhem ricos ou pobres, regiões do Brasil ... não podemos ter esta variação tão grande;

·         O que dá um pouco de alento é o fato da proporção não estar 100 % associada nem à riqueza nem à população absoluta;

·         O que define a proporção da distribuição é fundamentalmente o trabalho dos gestores regionais da saúde pública, e a demanda que necessita ser cumprida pelas operadoras de planos de saúde em função das metas que têm que cumprir.

Crises como a pandemia contribuem para reduzir a diferença.

Me desculpe aproveitar a deixa do “Per Capita” para alertar que ninguém mais fala sobre o Censo ... vamos lembrar:

·         Fazemos censo populacional a cada 10 anos ... deveria ter sido feito em 2020, mas com a pandemia não foi feito;

·         Levando-se em conta que a lógica do afastamento social é ter mais gente em casa, era um ano melhor para fazer o censo do que os que não tinham pandemia ... mais fácil de “achar as pessoas em casa”;

·         Já estamos entrando no segundo mês de 2021 e ninguém fala do assunto;

·         Por que não fazer ? ... Dá para ser feito com segurança;

·         Para onde foi o dinheiro que deveria ter sido gasto para fazer no ano passado no censo ? ... fazer o censo é dar emprego para quem está necessitando;

·         E o censo é absolutamente necessário para políticas públicas, especialmente as de saúde ... e os dados mais precisos poderiam estar ajudando muito no planejamento da campanha de vacinação, na definição de ações de enfrentamento !!!

 

 

Mas ... tudo tem um mas ... tem algo que está deixando os gestores da saúde muito apreensivos:

·         O gráfico demonstra a evolução absoluta do volume de respiradores nos últimos anos;

·         Era de se esperar que entre 2019 e 2020 a evolução seria gigantesca ... e foi, como demonstrado;

·         Mas o que se esperava era um “gigantismo” ainda maior;

·         Com uma evolução geral (SUS e Saúde Suplementar) de 18.740 “a conta não fecha”.

 

 

Se fizermos uma pesquisa nos sites do governo federal, dos governos estaduais, tribunais de contas, imprensa ... e coletarmos informações que sinalizam quantos respiradores foram adquiridos:

·         Não fiz uma pesquisa profunda ... na verdade não é preciso para o foco deste post;

·         Pesquisa dificultada pela “enxurrada” de notícias seguramente falsas, tanto de propagandas políticas (2020 foi um ano de eleição) como de “pichadores” de plantão que ainda não consegui descobrir a razão de fazerem isso.

 

 

Na verdade parei por aqui ... já era mais que suficiente para comentar:

·         Somente nestes casos se totalizam quase 16.500 respiradores na área pública;

·         Na área pública ... reforçando ... na área pública;

·         Contra 18.740 no total (SUS, Saúde Suplementar Regulada e Saúde Suplementar Não Regulada).

Não é possível ... não tem como achar que a área privada inseriu nos seus hospitais meia dúzia de respiradores !

É de se esperar que os serviços “Não SUS” devem ter incrementado seu volume de respiradores não menos que ¼ do total:

·         Vamos lembrar que se o SUS deixar pacientes na fila de espera para internar por falta de leito ... vira notícia ... rende um “nossa !” ... mas fica por isso mesmo;

·         Se uma operadora fizer isso ... dá multa e cadeia.

O mistério do “fechamento da conta” vai nos acompanhar até as próximas eleições.

 

 

E se alguém quiser se utilizar do discurso de que os equipamentos estão parados ... “não vai colar”:

·         A diferença entre o volume de equipamentos existentes e os que estão em uso é muito pequena;

·         Algo em torno de 6 %, em média ... e esta proporção se manteve no fechamento de cada ano, inclusive em 2020, como demonstra o gráfico;

·         Os gestores de serviços sabem quanto devem deixar de reserva técnica em função do histórico de manutenção ... no caso dos respiradores “a taxa” não apresentou surpresa.

É certo que o volume de respiradores em hospitais cresceu, e são equipamentos que vão ficar lá depois da pandemia:

·         Em contato com vários gestores hospitalares, tanto da área pública como da privada, foi comum ouvir que “aqueles projetos de expansão e/ou fortalecimento da reserva técnica que sempre ficavam no fim da fila andaram”;

·         Vamos sair da pandemia melhor do que entramos em relação a isso.

Depois da pandemia quem vai ter trabalho mesmo são os órgãos de fiscalização (tribunais de contas) e a polícia que vai ter que desvendar este grande mistério ... afinal, ano que vem tem eleições de novo !!!

 

 

O gráfico demonstra a quantidade de leitos de UTI por milhão de habitantes.

O lado bom, mesmo não tendo números mais fidedignos para avaliar, são as consequências desta “invasão de respiradores” a partir do início da pandemia no SUS e na Saúde Suplementar.

No SUS:

·         Tínhamos filas enormes de procedimentos eletivos que dependiam da disponibilidade de leitos de UTI para serem realizados ... com a pandemia as filas destes procedimentos até aumentaram;

·         Mas ao final da pandemia, quando as UTIs estiverem com poucos pacientes COVID-19, teremos a maior proporção de UTIs da história do SUS;

·         Então teremos a chance de reduzir a fila de procedimentos que dependem de UTI para níveis menores dos que existiam antes da pandemia.

E na Saúde Suplementar Regulada e na Saúde Suplementar Não Regulada:

·         São sistemas de financiamento em que a precificação é principalmente dependente da lei da oferta e da demanda;

·         Com um maior volume de UTIs disponíveis, os preços tenderão a cair;

·         Pode ser que não caiam “no primeiro momento”, enquanto houver overbooking para equilibrar a demanda reprimida ... mas cairá depois, quando as unidades passarem a ter um nível de ocupação menor ... uma “certa ociosidade”.

Ou seja, é esperado que o crescimento do volume de respiradores devido a pandemia nos apresente “efeitos colaterais benignos” para os sistemas de financiamento da saúde, público e privados ... é esperar para ver.

Se cruzarmos agora o primeiro gráfico (o da variação de preços de honorários do médico intensivista) com o último (a distribuição per capita de UTIs) fica evidente que onde existe menor oferta de UTIs, o valor médio dos honorários é maior:

·         Com mais respiradores, aumenta a chance de termos mais UTIs – não é determinante, mas é um fator facilitador;

·         É bem provável que isso venha a reduzir a desigualdade demonstrada no último gráfico;

·         E com a oferta de mais leitos, o mercado pressiona para baixo os preços de diárias e honorários médicos ... aumenta a concorrência ... diminuem os preços !