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Perfil dos Leitos de Internação em 2020 no Brasil

0148 – 25/02/2021

Referência: Geografia Econômica da Saúde no Brasil

A Pandemia Mudou a Distribuição por Tipo de Leito, Mas Não Barrou a Evolução do Segmento

 

(*) Todos os gráficos são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil

O gráfico demonstra a evolução do número de leitos de internação nos últimos anos no Brasil:

·         No SUS, que apresentava retração entre 2017 e 2019, a pandemia elevou o número “a fórceps” em 2020;

·         O número de leitos Não SUS (Saúde Suplementar Regulada e Saúde Suplementar Não Regulada), manteve a tendência de crescimento.

No Geral o crescimento foi de 9,43 %:

·         No SUS, 32.897, representando 9,25 % de aumento;

·         E os Não SUS, 19.454, representando 9,74 % de aumento.

Em um ano atípico, considerando:

·         Que houve total retração de internações eletivas não relacionadas aos casos de COVID-19;

·         E que os casos de COVID-19 ocuparam menos de um quarto dos leitos existentes ...

... o segmento seguiu firme na expansão, projetando um futuro bem promissor.

Não por acaso, o “IPO” de um grande grupo hospitalar causou, digamos assim, “uma certa emoção no mercado financeiro” ... para investidores que não são muito conectados ao gigantesco mercado econômico que envolve os sistemas de financiamento público e privado gerou “mais emoção” do que merecia, diga-se de passagem !

 

Em 2020 ultrapassamos a marca de 600 mil leitos:

·         Foram contabilizados 608.513, para ser mais preciso;

·         Imagine quantas pessoas trabalham em função de cada leito de internação ... quantos profissionais diferentes e quantas vagas, considerando que o leito funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana, sábados, domingos e feriados;

·         Multiplicando este número por 600 mil temos a dimensão da economia da saúde no segmento das internações ... são alguns milhões de vagas !

 

 

O gráfico demonstra a evolução do número total de leitos por 1.000 habitantes:

·         O ano de 2020 “deu uma acelerada” no indicador;

·         Chegamos quase a 3 leitos para cada 1.000 habitantes no Brasil.

 

 

Se analisarmos a distribuição por tipo de leito Não SUS, comparando 2017 com 2020:

·         O grande aumento de leitos de UTI por conta da pandemia modificou significativamente o perfil da distribuição;

·         Serviços particulares, que têm mais flexibilidade para mudanças, rapidamente transformaram leitos de unidades de atendimento clínico e cirúrgico em UTIs para dar conta da demanda na saúde suplementar (regulada e não regulada);

·         Esta característica da área privada é a que nos anima para prever que quando a pandemia acabar a demanda reprimida para realização dos procedimentos eletivos será atendida ... claro que não com a velocidade que todos gostariam, mas será atendida.

 

 

Já no caso do SUS o perfil se modificou de forma bem diferente:

·         O aumento de leitos de UTI não foi tão significativo ... vamos lembrar que foram inaugurados vários hospitais de campanha e rapidamente fechados (um dos absurdos que agravaram a segunda onda), e cuja maioria dos leitos não eram de UTI;

·         Houve aumento significativo de leitos em unidades de atendimento clínico, que foram utilizados para atendimento de casos COVID-19, inclusive com alguns hospitais com inauguração antecipada para a demanda;

·         E desativação de unidades de internação para atendimento cirúrgico, uma vez que cirurgias eletivas foram drasticamente reduzidas.

Para ser bem sincero, fiquei bem decepcionado ao ver o resultado ... os números ... é evidente que o SUS não reagiu da forma como poderia / deveria com os equipamentos públicos que já possuía ... não era o caso de investimento em “coisa nova” ... apenas uma questão de planejamento adequado para “mexer no que já existia”:

·         O impacto da negligência, ou falta de prudência, dos governos federal, estaduais, distrital e municipais em lidar com algo que não conheciam e não quiseram ouvir os que alertavam estamos vendo agora;

·         A pandemia não recrudesceu, leitos dos hospitais de campanha foram desativados em canetadas sem muita ciência, e agora estamos mergulhando no pior cenário ... que infelizmente tende a piorar ainda mais por algum tempo.

Este cenário é que projeta o que a maioria dos gestores do segmento, eu incluso, afirmam:

·         Com os recursos próprios o SUS, que já tinha filas enormes antes da pandemia, terá uma grande dificuldade para atender a demanda reprimida de procedimentos eletivos suspensos para dar foco aos casos de COVID-19 e evitar contaminações;

·         Se houver pressão popular o SUS obrigatoriamente terá que se utilizar em larga escala de mutirões, para atrair inclusive a iniciativa privada para “fazer a fila andar” !

Para aproveitar esta oportunidade, e o preço pago pelo SUS nos mutirões geralmente “dão jogo”, hospitais privados devem:

·         Entender minimamente a estrutura da tabela SIGTAP e a formação dos preços no SUS;

·         E avaliar adequadamente a margem de contribuição que poderá obter ao comparar o custo do procedimento com o preço do SUS.

Como sabemos que o governo tentará ao máximo obter recursos extraordinários para pagar esta conta:

·         O apetite pelos ressarcimentos das operadoras, correspondentes aos atendimentos para tratamento de COVID-19 dos beneficiários de planos de saúde será enorme;

·         As operadoras devem estar adequadamente preparadas para analisar e recursar, porque a margem de erro nas ABI’s é grande.

 

 

Se analisarmos o indicador número de leitos por 1.000 habitantes Não SUS:

·         Destacam-se RJ, SP, GO e DF;

·         De forma geral as regiões Norte e Nordeste são as menos supridas;

·         A variação entre a UF de menor indicador (AC) e a de maior indicador (DF) é de 6,7 vezes;

·         É o mais forte indicador da existência do “turismo da saúde” para estas localidades.

 

 

Já quando analisamos o número de leitos SUS por 1.000 habitantes:

·         Na teoria não deveria haver variação – no SUS tudo deve ser proporcional à população;

·         Mas é fácil notar que o mapa fica, em média, mais escuro na região Nordeste;

·         E vemos uma variação entre a UF de menor indicador (SE) e a de maior indicador (RR) é quase o dobro (1,9);

·         O SUS é realmente fantástico ... com todas as influencias políticas que sofre consegue manter esta diferença de leitos “no dobro”, enquanto em relação aos leitos da saúde suplementar a variação é próxima de 10 vezes !!!

De forma geral o perfil da distribuição dos leitos foi alterado de forma diferente no SUS e no ambiente Não SUS:

·         Foi uma alteração significativa, embora fosse de se esperar que no SUS a alteração fosse diferente do que ocorreu;

·         Mas, graças a Deus, nossa infraestrutura para internações não foi depredada, nem no SUS, nem fora dele ... muito pelo contrário !!!