Boletim    noticia.net.br Conteúdo para Gestores da Área da Saúde
 

 

 


Distribuição Geográfica dos Médicos no SUS e na Saúde Suplementar

0168 – 01/05/2021

Referências: Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil

Brasil Não Equaciona o Problema da Falta de Médicos - Beneficiários do SUS e de Planos de Saúde Sofrem as Consequências

 

(*) todos os gráficos são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil

 

Na pandemia o Brasil acabou sendo sensibilizado que mesmo se pudéssemos multiplicar leitos de UTI não teríamos médicos para assistir os pacientes:

·         Os gráficos dão uma boa noção do problema, comparando o número de médicos por leitos de UTI no Brasil;

·         No da esquerda a proporção entre médicos intensivistas do SUS e os leitos de UTI do SUS;

·         O da direita a proporção entre médicos intensivistas da saúde suplementar e os leitos de UTI da saúde suplementar;

·         E fica nítido que existem regiões onde a dificuldade em conseguir médicos intensivistas é grande ... muito nítido que nas regiões menos desenvolvidas economicamente é muito mais difícil “empregar” médicos.

Todos os gráficos aqui foram formatados a partir das ferramentas que serão entregues aos participantes do seminário Geografia Econômica da Saúde no Brasil – Profissionais da Saúde, que ocorrerá no próximo dia 28 de maio:

·         São ferramentas que tabulam a quantidade de profissionais de saúde (médicos, dentistas, enfermagem, fisioterapia, farmácia, nutrição, fonoaudiologia, diagnósticos, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, psicólogos ... e afins) por município, e por unidade federativa;

·         As tabulações apresentam a quantidade de profissionais, e alguns indicadores adicionais. Por exemplo: farmacêuticos per capita, enfermeiros por médico, médicos por leito ...

Esta ilustração do gráfico se refere apenas aos médicos intensivistas, alvo das discussões na pandemia ... mas o assunto “médicos” é mal resolvido no Brasil “desde a época em eu era criancinha”:

·         Entra governo e sai governo e a falta de médicos no SUS prevalece;

·         Na saúde suplementar, a cada nova resolução da ANS que impõe alguma dificuldade de remuneração ... a cada movimento que sugere modificação do modelo de remuneração para reduzir custos idealizado por “oportunistas” ... menos incentivo os médicos têm para se sujeitar a atuar e condições inóspitas e com tendência de redução do seu sustento.

É só se lembrar dos últimos episódios mal resolvidos relacionados ao programa “mais médicos” que acaba atraindo profissionais de países do Caribe, Sul Americanos e Africanos ... quando a água começa a bater no pescoço abrem as portas para eles ... quando a pressão popular reduz, colocam restrições para eles ... e a população dependente SUS vai vivendo na base do “efeito sanfona”: ora tem médico, ora não tem, e nunca se estabelece um vínculo duradouro entre o médico e o paciente.

É só perceber os movimentos de modelos de remuneração que discursam valor mas só tem foco no preço, que iniciam projetos que fracassam rapidamente, e causam grandes perdas para todo um trabalho de qualidade em credenciamento: ao perceber que está sendo enganado pelo discurso o médico se desvincula e, tal qual no SUS, perde-se o vínculo de confiança entre o médico e o paciente.

 

 

Contabilizados em 2020 pelo CNES temos 1.265.390 postos de trabalho médico:

·         São 69 especialidades diferentes;

·         Quase ¼ (23 %) de clínicos gerais, que é a especialidade “fundamental” para que a atenção básica tenha condições minimamente adequadas para funcionar;

·         Em volumes, 291 mil clínicos para 5.400 cidades ... seria impensável imaginar que existem cidades sem médicos com esta proporção ... mas existem muitas cidades sem médicos no Brasil, porque uma infinidade delas não oferecem qualquer condição para que o médico possa realizar seu trabalho adequadamente, com segurança ... com um mínimo de qualidade.

Se isso ocorre com os clínicos gerais que não demandam muita tecnologia para atuar, é fácil entender o que ocorre com as especialidades onde a infraestrutura necessária para a prática médica inclui maior tecnologia, maior investimento ... o paciente, seja do SUS, seja da SS, tem que ser deslocado para outra localidade, ou fica sem acesso.

 

 

Podemos analisar qualquer indicador de distribuição dos médicos para comprovar que é um assunto “longe de ser resolvido” tanto na saúde pública como na privada no Brasil:

·         O gráfico da esquerda ilustra a quantidade total de médicos que atuam no SUS em relação à população dependente SUS (os que não têm plano de saúde);

·         O da direita a relação entre a quantidade total de médicos da saúde suplementar em relação aos beneficiários de planos de saúde;

·         Nos dois casos a variação entre a UF que permite maior acesso e a UF que oferece o menor acesso é de cerca de 4 vezes – ou seja: existem 4 vezes mais médicos por paciente em uma do que na outra ... é muita coisa !

·         E nos dois casos a tendência de que quanto mais ao norte do Brasil, menor a quantidade de médicos “per capita” ... tanto no SUS como na SS !

 

 

Nestes gráficos, feitos na própria ferramenta distribuída no seminário, vemos as UF’s pintadas de forma um pouco diferente:

·         O da direita a relação entre médicos SUS e leitos SUS;

·         O da esquerda a relação entre médicos SS e leitos SS;

·         Mas a relação entre mínimo e máximo de 4 vezes para cima se mantém ... e a mesma tendência em relação às regiões Norte e Sul do Brasil.

Ficaria muito longo expor aqui ... mas utilizando as ferramentas e construindo os gráficos selecionando uma ou algumas especialidades, as diferenças regionais são muito diferentes:

·         Não existe qualquer relação entre o volume de clínicos e o das outras especialidades que se mantenha regionalmente;

·         Isso quer dizer que não faltam médicos proporcionalmente entre as especialidades ... em uma falta mais gineco, em outra falta mais dermato ... são “pontos brancos” aleatórios.

Esta “aleatoriedade” no SUS se traduz em filas de espera completamente desiguais regionalmente:

·         O beneficiário do SUS que se adoenta tem que torcer para estar em uma região onde a escassez é pouca, senão vai amargar mais tempo na fila;

·         Ou até ser encaminhado para realizar um procedimento em outra cidade ... em outro estado ...

·         ... particularmente para o dependente SUS, isso é um transtorno gigantesco para toda a sua família que não tem condições de se deslocar junto com ele.

Da mesma forma a “aleatoriedade” na SS:

·         Pode se traduzir em multa pelo não cumprimento do prazo mínimo para a realização do procedimento;

·         Pode se traduzir em ressarcimento ao SUS se o beneficiário buscar um serviço público;

·         Pode se traduzir em judicialização.

 

 

Estes gráficos resumem o problema que o governo (não especificamente este atual ... todos ... desde o início do SUS e da criação da ANS ... até hoje) “teima jogar debaixo do tapete”:

·         O da esquerda demonstra a distribuição do total de médicos;

·         O da direita a proporção dos médicos SUS em relação ao total de médicos;

·         Nota-se claramente que justamente nas UFs onde existem menos médicos, a proporção de médicos SUS é maior !

Significa dizer que:

·         Aceitam trabalhar no SUS, com menos estrutura para praticar a medicina, uma “minoria proporcional”;

·         A maioria proporcional, ou trabalha na SS com mais estrutura, ou até trabalha no SUS, mas em regiões menos inóspitas.

Se quisermos melhorar a qualidade da medicina no Brasil:

·         O governo deve parar de “importar médicos” que se sujeitem a trabalhar em condições desfavoráveis ... deve oferecer as condições favoráveis para que nossos médicos possam exercer de forma digna a sua vocação;

·         Operadoras de planos de saúde devem parar de propor modelos de remuneração onde o discurso é qualidade, mas na prática são projetos de aviltamento dos honorários médicos. O volume de multas, de ressarcimentos ao SUS e de judicialização está sinalizando que atribuir aos médicos “a culpa” pela inflação da saúde não é sustentável. Atribuir o custo da saúde à caneta do médico já é coisa do passado ... não deu certo no Brasil ... não deu certo em lugar algum do mundo !

Vale encerrar lembrando que estar bem-informado sobre quantos médicos existem, de cada especialidade, em cada localidade brasileira não é fundamental somente para as fontes pagadoras:

·         Para os próprios médicos, grupo de profissionais formado por uma grande quantidade de empreendedores, é importante para avaliar a concorrência e as oportunidades de negócios;

·         Para os serviços de saúde que empregam ou têm médicos como parceiros comerciais, é importante para dimensionar os serviços para atender as demandas do mercado;

·         E para fornecedores de insumos para direcionar suas estratégias de marketing, dimensionar sua logística ... afinal, a conduta, o procedimento que será realizado no paciente e que vai consumir o insumo, é definido pelo especialista !

Se tiver interesse em participar do seminário e obter tabulações de quantidade de fonoaudiólogos e de outros profissionais da saúde por cidade e por unidade federativa ... as informações complementares e sobre as inscrições estão na página  www.gesb.net.br   ou diretamente através do canal   contato@escepti.com.br