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Nuances e Impactos da Precificação dos Exames de Imagem
0181 – 14/05/2021
Referências: Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil
Relação entre Custo e Preço Afeta a Dinâmica dos Pacotes, Ressarcimento ao SUS e Remuneração Baseada em Valor
(*) todos os gráficos são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil
A figura ilustra a quantidade de equipamentos de exames de diagnóstico por imagem por 1.000 habitantes nas UF’s Brasileiras:
· Da esquerda para a direita e de cima para baixo: RX, Mamografia, Tomografia e Ressonância;
· Uma tendência evidente de que quanto mais caro o equipamento, menor a quantidade existente;
· E uma tendência de, quanto mais ao sul do Brasil, maior a quantidade proporcional, ou seja, maior o acesso da população aos exames, seja no SUS, seja na Saúde Suplementar.
A variação proporcional mínima (RX) é de 3 vezes, enquanto a máxima (TC) é de 7 vezes:
· Significa dizer que a qualidade do diagnóstico das doenças que necessitam dos exames destas modalidades não pode ser a mesma;
· Quando se tem mais acesso ao exame, o diagnóstico precoce é maior, a prevenção da doença é maior, os tratamentos tardios que são mais complexos e consomem mais recursos ocorrem em menor escala !
· Significa dizer que não basta simplesmente que os serviços de saúde de uma região queiram prestar uma assistência de melhor nível, definir protocolos mais eficientes, buscar certificação em programas de qualidade;
· Se os pacientes chegam para serem atendidos em estágios diferentes nas diversas regiões porque a eficiência do diagnóstico varia em função da disponibilidade do recurso para definir a doença ... “o melhor” tratamento do mundo não dará o mesmo resultado ... não produzirá o mesmo desfecho ... não vai “agregar o mesmo valor”.
No curso sobre modelos de remuneração alternativos ao fee for service, que está com inscrições abertas para a turma dos dias 23 e 30 de junho próximo, chamamos a atenção sobre “os que pregam” que a implantação da remuneração baseada em valor só depende da vontade do serviço de saúde e da fonte pagadora ... não é verdade:
· Depende de condições de infraestrutura, e o acesso não dificultado ao exame que define o diagnóstico da forma mais precoce possível, é um deles;
· Não adianta definir um cenário ideal para classificar os procedimentos de maior complexidade para curar doenças em qualquer localidade brasileira se o paciente chega para iniciar o tratamento em estágios diferentes da doença ... se é diagnosticado mais precocemente, ou mais tardiamente regionalmente;
· Discutir remuneração baseada em valor deve considerar o cenário real ... não o ideal ... sob pena de investir em um projeto que já inicia fracassado !
Na mesma ordem (RX, Mamo, TC e RM) os gráficos ilustram a variação do preço de um mesmo exame de cada uma destas modalidades nas UF’s:
· As características da tendência da quantidade per capita são quase as mesmas aqui;
· Quanto mais barato o equipamento, menor o custo de infraestrutura e manutenção, menor o preço do exame;
· E quanto mais ao sul do Brasil, maior a concorrência, menores os custos dos insumos ... menores os preços !
Em um outro curso, o de precificação em centros de diagnósticos por imagem, que tem uma turma com inscrições abertas para os dias 17 e 18 de junho próximo, estressamos a discussão de que um CDI ... uma RO ... um Laboratório de Análises ... não pode comparar seus custos com os de concorrentes sem uma metodologia adequada:
· Pode utilizar, dependendo do caso, 2 metodologias (custo médio ou custo unitário) mas não deve inserir artifícios contábeis na análise – deve utilizar uma metodologia simples que considere somente custos, sem influência de conceitos contábeis que mascaram o custo real da realização do exame, mesclando com investimentos, depreciações, amortizações;
· Uma metodologia simples que permita apurar somente o custo do exame para poder embasar a precificação ... que o próprio gestor da unidade de negócios possa fazer e ajustar rapidamente de acordo com as condições do mercado, para não ter prejuízo ... para não perder oportunidades;
· Porque como se vê nos gráficos, o preço médio real varia de acordo com condições regionais dos mercados ... porque os custos variam de acordo com condições regionais de cada mercado.
Os gráficos demonstram a comparação do preço médio destes exames na saúde suplementar com o preço pago pelo SUS (Tabela SIGTAP):
· Costumamos tratar disso no curso que discute como as operadoras devem aferir os ressarcimentos ao SUS, que tem uma turma com inscrições abertas para os dias 28 e 29 de junho próximo;
· A regulação definida pela ANS/SUS é completamente inadequada. Sem discutir o mérito ... se é justo que a operadora deva ou não ressarcir o SUS pelos atendimentos que seus beneficiários geram na rede pública ... não o mérito ... a regulação, esta não se discute: é ruim;
· Apenas observando o gráfico vemos que exames da radiologia geral, na tabela do SUS, só têm valor, ou seja o SUS só paga o serviço, quando o exame é realizado em ambiente ambulatorial. Na internação não paga, porque assume que o preço do exame está incluso no preço do procedimento principal. Isso é uma coisa entre o SUS e o serviço de saúde que atende paciente do SUS. Se estamos falando de ressarcimento – de novo sem entrar no mérito da justiça – é correto a operadora não pagar pelo exame nunca, uma vez que o ressarcimento só existe quando relacionado aos atendimentos de alta complexidade ?
· E mais ... pior ... o SUS cobra da operadora 1,5 o valor da tabela SUS ... perceba que 1,5 x o preço da TC e da RM exemplificada é maior que o valor médio que a operadora pagaria para o serviço de saúde que tivesse contratado. Praticamente 100 % das ABI’s que têm a maioria dos exames desta modalidade são recursadas (glosadas) pelas operadoras !!!
· Um absurdo colocar este ônus na conta das operadoras ... que vão repassar como sinistralidade para a empresa que contrata o plano para seus funcionários ... ou seja ... uma regulação ruim, “cai no colo” da empresa que quer dar um benefício para seu funcionário ... uma empresa que não tem nada a ver com isso ... empresas que, na maioria, nem do segmento da saúde são !!!
Observando esta variação de preços em outro tipo de gráfico fica mais simples analisar:
· É simples perceber que apesar de serem exames com variações regionais de preços muito diferentes, os gráficos guardam uma certa proporção: onde um é mais barato o outro também tende a ser ... onde um é mais caro o outro também tende a ser;
· Tanto no curso que discutimos como a operadora deve definir pacotes, que tem uma turma com inscrições abertas para os dias 21 e 22 de junho próximo, como no curso que discutimos como o hospital e a clínica deve analisar a proposta de pacotes da operadora, que tem uma turma com inscrições abertas para os dias 14 e 15 de junho próximo, sempre expomos a necessidade do pacote ser compatível com o mercado ... uma proposta de pacote que vinga em uma região pode ser absolutamente inviável em outra;
· Um dos fatores é comprovado por esta variação de preços que os gráficos demonstram – a proposta viável do pacote deve considerar que os itens que o compõem não têm o mesmo custo em todos os lugares ... muitas vezes em cidades “coladas uma na outra” o custo dos insumos pode ser completamente diferente, até por incentivos fiscais concedidos por prefeituras municipais vizinhas;
· É fácil perceber nos gráficos que a variação de preços nem sempre está relacionada a deficiência de infraestrutura da região ... se isso fosse verdade o DF não apareceria nos gráficos, na média, como sendo a região dos preços mais elevados, por se tratar de uma UF pequena e praticamente toda habitada. Os preços são mais elevados no DF porque o custo de vida no DF é mais elevado ... os insumos mais caros ... o custo maior ... e consequentemente o preço maior.
O gráfico demonstra a evolução do volume dos equipamentos utilizados nestes exames:
· Nota-se claramente que não existe indício de que este cenário vai mudar;
· Todas as modalidades apresentam crescimento, mesmo em anos de crise econômica no Brasil ... mesmo no primeiro ano da pandemia;
· Mas o crescimento dos equipamentos de menor custo é maior ... ainda tem muito mercado para os empreendedores que têm mais recursos para investir nas tecnologias mais caras ... e os preços compensam, tanto na saúde suplementar, como no SUS !!!
É mesmo fantástica a gestão da precificação na área da saúde:
· Como os assuntos que parecem tão diferentes (custo, preço, pacote, ressarcimento, remuneração baseada em valor), na verdade estão muito mais intimamente interligados do que parecem ... não há como fazer alguma coisa com foco em um sem se importar com o que demandam os demais;
· Boa parte do fracasso dos projetos inovadores de remuneração ocorre pelo desconhecimento desta fortíssima integração que existe entre procedimentos de baixa, média e alta complexidade;
· Porque alguns teóricos esquecem que esta classificação (baixa, média, alta complexidade) é uma definição teórica ... o que está em jogo é uma coisa que existe independente das classificações teóricas: a cura de uma doença ... o parto ... o processo assistencial realizado pelo profissional assistencial em um paciente: esta é a prática real;
· Tudo que está em torno são assuntos que resultam da “exploração comercial” das empresas em relação à vocação do profissional assistencial em cuidar de pacientes ... a gestão comercial que define custos e preços independente das classificações teóricas ... define em função da oportunidade dos mercados regionais !
Veja que para ilustrar estas nuances nem precisamos recorrer aos procedimentos de maior complexidade e preço ... fizemos isso aqui apenas com base em exames de diagnóstico da área de imagem !!!
Tem um seminário no dia 11 de junho com inscrições abertas onde os participantes vão receber ferramentas que tabulam a quantidade de equipamentos existentes de cada modalidade diagnóstica em cada município brasileiro ... e vão receber também uma ferramenta que tabula preços de 613 exames diagnósticos em cada UF brasileira ... os gráficos aqui foram todos construídos com base nestas ferramentas ... as informações estão na página www.gesb.net.br
E para quem tiver interesse em participar de algum dos cursos sobre precificação, pacotes, ressarcimento ao SUS ou Modelos de Remuneração Alternativos ao Fee for Service (Compartilhamento de Riscos e Remuneração Baseada em Valor), as informações estão na página www.jgs.net.br
... ou diretamente através do canal contato@escepti.com.br !
Sobre o autor Enio Jorge Salu
Histórico Acadêmico
· Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo
· Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo
· Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas
· Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta
· Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed
Histórico Profissional
· CEO da Escepti Consultoria e Treinamento
· Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas
· Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares
· CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa
· Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação
· Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas
· Associado NCMA – National Contract Management Association
· Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
· Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria
· Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado