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Preços do ECG Ilustrando Discussões de Qualidade, Telemedicina e RBV

0183 – 14/05/2021

Referências: Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil

Leigos em Precificação da Saúde Prejudicam Tanto as Discussões Sérias como os Cartéis e os Aproveitadores

 

 

Quando saímos da essência da saúde, que é a área assistencial – o cuidado direto do profissional da saúde (médico, dentista, enfermeiro, fisioterapeuta, nutricionista, psicólogo, farmacêutico, TO, Fono ...) com o paciente – surgem “zonas nebulosas” de discussões que tanto podem trazer contribuições positivas para os sistemas de saúde, como podem atrapalhar a assistência, reduzir o acesso da população à saúde, e encarecer desnecessariamente os sistemas de financiamento da saúde.

É necessário muito cuidado para separar “interessados dos interesseiros” toda vez que temas que exigem maior teor de conhecimento teórico entra em pauta no Brasil, porque existe um “exército de aproveitadores”:

·         É só lembrar da quantidade de discussões inócuas que persistem desde o início da pandemia sobre ações de enfrentamento do vírus;

·         Tudo .. quase 100 % ... do que ouvimos sobre temas importantíssimos como vacinação, afastamento social, medicamentos, prevenção ... são “opiniões” de pessoas que não têm competência (capacidade técnica e/ou operacional) para embasar suas teses, e buscam “um minuto de fama” ou, pior ... muito pior ... defender interesses espúrios.

... e o Brasil resolveu “cacifar” estas pessoas pagando com meio milhão de vidas ... a maior parte de pessoas que poderiam ainda estar aqui entre nós se não fosse isso !

Devo confessar que, por estar na área da saúde há algumas décadas, me decepcionei profundamente com algumas pessoas que ao invés de terem contribuído de forma positiva durante a pandemia, “se venderam” aos interesses econômicos e políticos ... pessoas cuja competência “é anos luz” maior que a minha diga-se de passagem, e poderiam ter desempenhado um papel decisivo para mitigar os efeitos da pandemia !

Entre outras coisas, podemos associar questões econômicas com a pandemia e os “mantras” qualidade em saúde, telemedicina e RBV, ao analisar variações regionais de preços ... estou escolhendo aleatoriamente um procedimento que existe em todo o território nacional, em grande escala, na saúde pública e na saúde suplementar, em consultórios, clínicas, centros de diagnósticos e hospitais ... o ECG !

 

(*) todos os gráficos são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil

 

Não existe procedimento que esteja mais permeado em qualquer canto do Brasil, e em qualquer tipo de serviço – o gráfico comprova isso:

·         Ele demonstra a quantidade de eletrocardiógrafos por 1.000 habitantes;

·         Foi construído a partir de uma ferramenta que será entregue aos participantes do seminário Mercado de Diagnósticos – Precificação e Equipamentos, que será realizado no dia 11 de junho próximo. Também será disponibilizada uma ferramenta que tabula preços de 613 exames em cada município brasileiro;

·         A variação entre a UF de menor oferta (AC) para a que oferece maior oferta (RJ) é de menos de 4 vezes ... uma das menores que existem entre todos os tipos de equipamentos para realização de exames diagnósticos !

Algo que pouca gente conhece tive contato quando fui diretor comercial e de saúde suplementar em um dos mais reconhecidos hospitais especializados em cardiologia do mundo (um hospital nosso ... aqui do Brasil ... que atende SUS e SS):

·         Tínhamos (acredito que ainda tenham) algumas dezenas de contratos com prefeituras municipais de todo o Brasil para “laudar” ECG à distância;

·         Porque para uma cidade pequena muitas vezes não é viável ter um médico cardiologista para fazer isso ... não existe volume suficiente para compensar o pagamento do médico, mesmo que sejam de alguns plantões;

·         E a margem de erro para “laudar” exames baseada “naqueles rabiscos” que o equipamento gera “é nenhuma”;

·         Então o ECG era realizado pela equipe local, treinada para isso dentro de protocolos definidos, a imagem era recebida pela internet e o laudo era enviado de volta.

Justamente nestas áreas mais claras do mapa era onde existiam proporcionalmente mais contratos.

Alguns anos mais tarde, como consultor, participei de um projeto para dar apoio ao primeiro processo de acreditação deste hospital:

·         Esta área de “diagnóstico remoto” não entrou no processo de certificação da qualidade, porque não existia no manual de certificação parâmetros de avaliação para esta atividade ... acredito que ainda não exista algo que se aplique a isso (confesso que não li o manual dos últimos 2 anos);

·         Então veja ... o processo existe para dar qualidade aos laudos em serviços de saúde que não teriam condições de fazer isso a um custo muito baixo. Um custo muito ... mas muito ... mas muito .. menor do que se o serviço contratasse, seja lá qual fosse o regime de contratação, um médico para produzir laudos de alguns minguados exames por mês;

·         Uma ação para redução do preço pago pela fonte pagadora preservando a qualidade do exame impediu uma instituição de excelência, mais reconhecida mundialmente do que a entidade certificadora, de inserir esta área no projeto de certificação por falta de parâmetros adequados de avaliação !

As imagens vinham por e-mail, e os laudos retornavam por e-mail ... nada de certificação digital, criptografia, tokens:

·         A maioria absoluta dos serviços de saúde que realizavam estes exames “lá na ponta” e enviavam para laudar remotamente não tinham (e acredito que ainda não têm) infraestrutura de TI para fazer de forma diferente;

·         Então ... dar acesso a população para realizar um exame que pode definir a continuidade da vida ou não utilizando e-mail, ou negar o acesso ao recurso porque o processo não está “aderindo” aos preceitos da Telemedicina e da LGPD ?

Durante a pandemia sentimos a força do cartel da TI na área da saúde:

·         O que era proibido ( tele consulta ) passou a ser permitido ... mas não se engane ... quando a pandemia acabar a pressão para proibir volta .... quer apostar ?

·         Enquanto o mundo dava foco em ações contra a pandemia em 2020, o Brasil deu foco na publicação de uma lei (LGPD) que não vai mudar absolutamente nada nas nossas vidas;

·         Entre outras coisas “meio inúteis”, ficar “dando ok” em perguntas se aceitamos ou não que um site utilize “cookies” na nossa navegação nos sites não vai mudar nada. Primeiro porque a tecnologia sempre “arruma” uma outra forma de burlar tudo (afinal é tecnologia) ... e depois porque se não der “ok” não vai poder utilizar sites vitais ... vai acabar dando “ok” em tudo se quiser “fazer parte do jogo”;

·         Se um hospital, por exemplo, era negligente em dar acesso remoto ao prontuário dos seus pacientes para operadoras de planos de saúde, abrindo “um caminhão” de fragilidades da segurança da informação para expor inadequadamente o prontuário do lado de lá do modem”, nada do que existe na “maravilhosa LGPD” vai fazer com que o risco deixe de existir.

Estamos vendo uma série de questionamentos e discursos da indústria da TI na saúde apenas porque interessam para a venda dos seus produtos e serviços ... e com propagandas absolutamente antiéticas típicas de “gabinetes do medo” a respeito de multas milionárias ... algo parecido com o que faziam em relação às licenças de software pirata, quando a indústria da TI vivia da venda de caixinhas de software ... uma vergonha !

Durante algum tempo o custo destas coisas certamente vai reduzir o acesso da população e dos beneficiários de planos de saúde aos recursos da saúde ... até que as áreas de negócio saibam diferenciar o que é real e o que é conveniente para o fornecedor e para a sua equipe interna de TI ... vai demorar um pouco, como sempre, mas a “onda de aproveitadores do discurso do caos” para tirar algum dinheiro das instituições que atuam na área da saúde passará !

 

 

Já vi algumas dezenas de estudos teóricos e algumas tentativas de implantação de projetos sobre Remuneração Baseada em Valor:

·         Em todos eles existiam “contas” de custos tabuladas no fee for service e projetadas conforme a tese do apresentador ... evidentemente demonstrando que pela sua tese o custo reduz;

·         Em quase todos vi a confusão entre custo e preço, erro muito comum entre gestores que não tiveram a oportunidade de se capacitar no assunto;

·         Em nenhum deles ... absolutamente nenhum ... vi a menção da importante variação de custos e preços que existe regionalmente no Brasil.

O gráfico demonstra a variação do preço médio do ECG pago pelas operadoras de planos de saúde em cada unidade federativa do Brasil:

·         É uma variação de quase 100 % entre a UF onde o preço médio é menor (MS) e a maior (RR) ... de um exame absolutamente padronizado ... um dos mais “protocolizados” que existem !

·         O preço pago pela fonte pagadora varia em função de vários aspectos;

·         Um deles é o custo de realização. Discutimos a apuração real do custo de exames no curso de precificação em centros de diagnósticos, que inclusive tem uma turma com inscrições abertas para os dias 17 e 18 de junho próximo;

·         Outro são os pacotes, que incluem procedimentos secundários em contas fechadas que apresentam o preço relacionando o procedimento principal;

·         Discutimos como operadoras devem flexibilizar as propostas aos serviços no curso de definição de pacotes para operadoras de planos de saúde, uma turma com inscrições abertas para os dias 21 e 22 de junho próximo – como alinhar a definição para viabilizar os pacotes. E discutimos as técnicas que os serviços de saúde devem utilizar para avaliar a viabilidade de propostas de pacotes feitas por operadoras de planos de saúde, uma turma com inscrições abertas para os dias 14 e 15 de junho próximo.

Se os preços de um exame tão padronizado variam tanto regionalmente ... como definir uma mesma forma de remuneração alternativa ao fee for service sem considerar isso ?

Discutimos este assunto no curso de modelos de remuneração alternativos ao fee for service, que tem uma turma com inscrições abertas para os dias 23 e 30 de junho próximo !

 

 

A ANS tem pregado a necessidade de mudanças nos modelos de remuneração, mas os gráficos ainda demonstram que a sua própria regulação não auxilia o desenvolvimento do tema:

·         O gráfico da esquerda ilustra o preço médio pago na Saúde Suplementar pelas operadoras, o preço pago pelo SUS em regime ambulatorial, e o preço pago pelo SUS em internações para este exame;

·         A diferença de preço entre o que o SUS paga e o que as operadoras pagam varia muito regionalmente;

·         E, pela regulação atual da ANS, o ressarcimento pago pelas operadoras ocorre somente na internação, porque não existe capacidade operacional para pedir ressarcimento dos exames não apresentados por APACs em regime ambulatorial;

·         Então, se o beneficiário fizer um exame destes na internação, o valor a ser ressarcido é zero !

·         Falamos muito sobre isso no curso sobre ressarcimento das operadoras ao SUS, que tem uma turma com inscrições abertas para os dias 28 e 29 de junho próximo;

·         Uma regulação ruim ao invés de coibir más práticas de algumas operadoras, na verdade acaba dando base legal para elas ... e, sem fazer qualquer juízo de valor, se existe lei que dá suporte para que algo seja feito, a operadora deve aproveitar !

É interessante encerrar comentando que a maioria das pessoas que atua em gestão da saúde é composta por pessoas bem-intencionadas ... as vezes pecam por não terem tido a oportunidade de acesso a uma capacitação adequada ... os oportunistas, graças a Deus, são poucos !

Se tiver interesse em participar do seminário do dia 11 de junho, as informações estão na página   www.gesb.net.br 

Se tiver interesse em participar de algum dos cursos sobre precificação, pacotes, ressarcimento ao SUS ou Modelos de Remuneração Alternativos ao Fee for Service (Compartilhamento de Riscos e Remuneração Baseada em Valor), as informações estão na página   www.jgs.net.br 

... ou diretamente através do canal   contato@escepti.com.br  !

 

Sobre o autor Enio Jorge Salu

Histórico Acadêmico

·  Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo

·  Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo

·  Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas

·  Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta

·  Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed

Histórico Profissional

·  CEO da Escepti Consultoria e Treinamento

·  Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas

·  Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares

·  CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa

·  Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação

·  Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas

·  Associado NCMA – National Contract Management Association

·  Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde

·  Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria

·  Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado