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As Várias Ortopedias do Brasil

0186 – 01/06/2021

Referências: Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil

Discutindo o Mercado Público e Privado da Ortopedia: Infraestrutura

 

(*) todos os gráficos e tabelas são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil

 

Para entender como a Ortopedia é diferente pelo Brasil podemos analisar a distribuição geográfica da infraestrutura. Bom ... como tudo começa no diagnóstico, e a especialidade utiliza muito Radiologia Geral e Ressonância Magnética:

·         O gráfico da esquerda ilustra a quantidade de equipamentos de RX existentes, e o da direita a quantidade de equipamentos de RM em uso, por unidade federativa;

·         Apesar do destaque de SP, é possível verificar que a proporção (a variação da quantidade mínima e máxima) não guarda relação com a população das UFs;

·         A variação em RX entre a UF de menor e maior oferta é de 133 vezes ... e em RM é de 197 vezes !

Como o diagnóstico precoce aumenta a qualidade da assistência, a dificuldade de acesso aos equipamentos que realizam exames já sinaliza que não existe chance da ortopedia ter o mesmo nível de qualidade em todo o Brasil:

·         Para que não haja interpretação equivocada: não significa que em SP a ortopedia é melhor porque existem mais equipamentos – a relação per capita em SP (equipamentos em relação à população) não é a maior do país;

·         Esta primeira análise apenas indica que esta relação (equipamentos em relação à população) não guarda proporção de equivalência ... existem UF’s muito melhor equipadas do que outras ... e nem guarda relação entre equipamentos de RX e de RM.

Na verdade todos os indicadores aqui demonstram que não existe proporção técnica entre qualquer dos itens de infraestrutura da especialidade pelo território nacional:

·         As pessoas pensam que como ortopedia está “na agenda da vida” de qualquer pessoa, em qualquer idade – seja por fatores hereditários, seja por costumes e posturas, seja por acidentes, seja pela própria deterioração do corpo ao longo dos anos – ela se desenvolve da mesma forma, com a mesma qualidade pelo Brasil no SUS, em todos os serviços de saúde onde ela está presente, no credenciamento de todas as operadoras ...

·         Um grande engano ... temos ortopedias diferentes “da água para o vinho” regionalmente, e os indicadores demonstram de forma incontestável isso. É uma das razões, por exemplo, do fracasso humilhante de projetos de modelos de remuneração alternativos ao “fee for service” que não consideram as diferenças regionais gigantes do nosso país.

Vale a pena observar esta diversidade em outros indicadores de infraestrutura:

 

·         O gráfico da esquerda ilustra a distribuição de hospitais especializados em ortopedia, privados e públicos;

·         O da direita a distribuição dos serviços especializados em reabilitação física (CER”f”) do SUS.

Novamente a característica da quantidade não guardar proporção de relação com a população:

·         Não guardam relação de proporção também com a área física ... nem com o PIB (produto interno bruto);

·         Eles sinalizam que o padrão assistencial varia de acordo com parâmetros completamente aleatórios, que mesclam oportunidade de mercado, cultura assistencial, origem da doença ortopédica dependendo da cultura social;

·         Não conseguimos estabelecer lógica a partir de um ou dois parâmetros ... o que ocorre é “a comunhão” de vários parâmetros mais ou menos significativos dependendo da região.

Você pode discordar da existência de hospitais especializados em ortopedia ... defender a tese que ortopedia deve ser uma especialidade como outra qualquer em um hospital geral:

·         E provavelmente deve conhecer pessoas que defendem o contrário ... que a medicina “funciona melhor’, o “negócio se sustenta melhor” na especialização;

·         É exatamente esta dicotomia, aplicada a cada um dos parâmetros que dimensionam os serviços de saúde que provoca este mosaico na ortopedia ... não existe “verdade universal” nesta discussão ... cada lado tem suas vantagens e desvantagens, que mudam regionalmente.

É fato que hospitais especializados em ortopedia estão “perdendo espaço” para os hospitais gerais ... na média:

·         Isso ocorre não somente com hospitais, mas com prontos-socorros e clínicas especializadas;

·         Particularmente prestei consultoria durante alguns anos em um hospital especializado em ortopedia que atende SUS e Saúde Suplementar – como é vinculado a uma universidade, tive a oportunidade de conviver com professores, doutores, mestres, residentes ... e equipes assistenciais de apoio (enfermagem, fisio, TO ...) especializadas em ortopedia;

·         Não existe parâmetro de comparação assistencial entre ele e outros ... mesmo para um leigo como eu, é fácil notar a diferença no resultado final;

·         Devo mencionar que atuei como diretor em hospital privado geral (famoso), e consultor em centenas de hospitais gerais e especializados ... me dou ao direito de comparar e afirmar que nada se compara a um serviço especializado (de qualquer especialidade) ... ninguém me contou, não foi porque li em livros e/ou artigos publicados ... vivenciei e vi com meus próprios olhos !

 

 

Estes gráficos ilustram, da esquerda para a direita:

·         A relação entre os leitos especializados em ortopedia do SUS e a população dependente do SUS (os que não têm plano de saúde);

·         A relação entre os leitos especializados em ortopedia da saúde suplementar e os beneficiários de planos de assistência médica;

·         E a relação entre as salas para gesso e a população existente.

Vale começar comentando que os leitos especializados em ortopedia e as salas para gesso não existem somente nos serviços especializados em ortopedia ... existem em qualquer tipo de serviço de saúde que oferta ortopedia: hospitais gerais, clinicas, e até hospitais especializados em outro tipo de especialidade !

Vemos claramente que o SUS tem proporcionalmente para a população dependente SUS mais leitos do que a saúde suplementar tem para os beneficiários de planos de saúde:

·         Isso serve para explicar uma das razões pelas quais o SUS cobra ressarcimento das operadoras de planos de saúde: na média, elas não têm rede assistencial adequada para dar cobertura aos seus beneficiários;

·         E vemos claramente que não existe proporção equivalente entre salas para gesso e leitos especializados;

·         A evolução da tecnologia, a eventual substituição do gesso por outra tecnologia, não justifica a desproporção;

·         ... a não ser que a qualidade assistencial não seja a mesma em todos os locais !

·         ... se a tecnologia avançou em uma região e não na outra, a desproporção é explicada !!

Portanto ... mais um indicador que sinaliza que a ortopedia é muito diferente regionalmente !!!

 

 

O gráfico da esquerda ilustra a quantidade de médicos ortopedistas do SUS em relação à população dependente SUS, e o da direita a quantidade de médicos ortopedistas da SS em relação aos beneficiários de planos de saúde.

·         Como vemos, nem mesmo a relação médico-paciente em ortopedia é uniforme;

·         E até regionalmente vemos enorme diferença entre a ortopedia SUS e a da Saúde Suplementar !

 

 

Os gráficos ilustram a proporção entre outros profissionais que atuam no SUS e a população dependente SUS:

·         Da esquerda para a direita: Fisioterapeutas, Terapeutas Ocupacionais e Educadores Físicos;

·         Não guardam proporção com a população dependente SUS ... e nem entre eles;

·         Sinalizam que a ortopedia SUS é muito diferente regionalmente !

 

 

Estes ilustram a proporção entre estes mesmos profissionais que atuam na SS e os beneficiários de planos de saúde:

·         Da mesma forma, da esquerda para a direita, Fisioterapeutas, Terapeutas Ocupacionais e Educadores Físicos;

·         Também não guardam proporção com a quantidade de beneficiários de planos de saúde ... e também não guardam proporção entre eles;

·         Sinalizando que a ortopedia SS também é muito diferente regionalmente !

Como vimos, todos os indicadores sinalizam que a ortopedia, uma das especialidades mais demandadas seja no SUS como na Saúde Suplementar:

·         Assistencialmente é muito diferente regionalmente, e a gigante variação da infraestrutura é a prova indiscutível;

·         Se assistencialmente é muito diferente, evidentemente o “negócio ortopedia” regionalmente é muito diferente;

·         O gestor da saúde é exigido a conhecer o seu mercado, sob risco de colocar a sustentabilidade do negócio em risco!

Aplicar parâmetros nacionais no dimensionamento dos serviços ... no credenciamento dos serviços por parte do SUS e das operadoras de planos de saúde ... na discussão de modelos de remuneração ... na discussão de parâmetros de avaliação de qualidade ... é um grande erro !!

Importar parâmetros de qualidade de outros países para aplicar aqui no Brasil ... isso nem é erro ... é crime !!!

Todos os gráficos aqui foram elaborados a partir dos dados das planilhas disponibilizadas aos participantes do Seminário Geografia Econômica da Saúde no Brasil – Ortopedia: Mercado Privado e Público.

Elas tabulam informações do “mundo de negócios da ortopedia”: preços, internações, óbitos, valores médios de contas, estabelecimentos, equipamentos, leitos, salas, ortopedistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, repasses do SUS para os serviços de saúde, perfil dos pacientes, e ressarcimentos das operadoras de planos de saúde ao SUS.

Com inscrições abertas para o dia 25 de junho próximo, para quem tiver interesse em participar as informações podem ser obtidas na página    www.gesb.net.br  ... ou diretamente através do canal   contato@escepti.com.br  !

 

Sobre o autor Enio Jorge Salu

Histórico Acadêmico

·  Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo

·  Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo

·  Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas

·  Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta

·  Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed

Histórico Profissional

·  CEO da Escepti Consultoria e Treinamento

·  Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas

·  Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares

·  CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa

·  Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação

·  Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas

·  Associado NCMA – National Contract Management Association

·  Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde

·  Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria

·  Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado