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A Real Diferença da Tabela de Preços da Saúde Suplementar e do SUS

0188 – 04/06/2021

Referências: Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil

Discutindo o Mercado da Ortopedia Privada e Pública: Tabelas de Preços

 

(*) todos os gráficos e tabelas são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil

 

O gráfico ilustra o preço médio de honorários médicos de um procedimento de ortopedia na saúde suplementar:

·         Aproveitando que vamos realizar em junho a segunda edição do seminário Geografia Econômica da Saúde no Brasil que coloca em foco a Ortopedia, vamos utilizar alguns indicadores da especialidade como base da discussão das tabelas de preços;

·         Os preços do gráfico são preços médios de honorários, e não o valor médio total das contas;

·         Foram coletados em algumas milhares de contas apresentadas por serviços de saúde para as operadoras;

·         Tem outros posts/artigos que discutem valores médios de contas de ortopedia na saúde suplementar e no SUS ... a discussão aqui é sobre tabelas de preços !

Quem tem intimidade com o tema não acha estranho coisas que parecem ser estranhas no gráfico ... os vieses da precificação da saúde suplementar:

·         Nas UFs sem valor, a quantidade de contas tabuladas é pequena, então os valores médios acabam não representando a realidade ... por isso é melhor nem apresentar;

·         Em boa parte das UF’s o valor de tabela é próximo, e particularmente em 2 delas (RJ e BA) os valores são bem mais altos.

É uma característica destas UF’s na especialidade:

·         A ortopedia pública nelas é muito mais equipada;

·         Pesquise pelo post/artigo que discute a infraestrutura de ortopedia, e veja que nelas a quantidade de ortopedistas, serviços, leitos, salas e equipamentos é bem maior;

·         E acredito que todos conheçam os serviços públicos de saúde gigantes do Rio e de Salvador que são especializados em Ortopedia;

·         Veja que interessante ... onde o SUS é mais desenvolvido “menor a necessidade de saúde suplementar”, então a negociação da operadora com os serviços de saúde na especialidade é muito mais difícil ... e os “preços de tabela” ficam maiores !!!

Este é o primeiro grande viés da precificação:

·         Quando analisamos o Brasil, e não a região ... erramos no atacado, e não no varejo !

·         Avaliar a precificação regional é fundamental para a viabilidade dos projetos de pacotes, de modelos alternativos ao fee for service ...

·         ... e de parcerias entre o serviço de saúde e operadoras, e elas e os parceiros comerciais (neste caso principalmente o médico ortopedista e o fornecedor de OPME)

Os contratos negociados entre operadoras e planos de saúde definem preços “aleatórios”:

·         As tabelas têm uma referência, no caso da medicina as de honorários médicos da AMB (AMB90, AMB92 ... CBHPM), no caso da odontologia a de honorários médicos da ABO ...

·         Mas são apenas referência ... é quase certo que o “preço oficial da tabela” nunca é o preço fechado no contrato;

·         Sempre chamamos a atenção: quer saber quanto se paga por algo ? ... o valor “chapado” na tabela é que não é !!!

·         Deflatores e multiplicadores são aplicados nos contratos para alinhar quanto o mercado pode pagar, e ao mesmo tempo, por quanto o serviço e o médico está disposto a receber para fazer !

·         O preço real que vale ... é sempre o que viabiliza o negócio da operadora, do serviço de saúde, e do médico !!

 

 

Também chamamos a atenção quando se compara o preço médio de honorários aferidos nas contas da saúde suplementar com o preço da tabela SIGTAP (SUS) ... é uma comparação absurda (sem nexo):

·         O preço médio dos honorários da SS aqui é 5 vezes maior que o do SUS ... mas não têm nada a ver um com o outro;

·         Enquanto o preço do SUS é para todo o procedimento principal (honorários e demais insumos) ... e só para o procedimento principal e não para todo o atendimento;

·         Na saúde suplementar o valor médio do honorário médico remunera somente o honorário médico.

O médico no SUS, na maioria absoluta dos casos, tem salário, enquanto na SS ganha por produção:

·         Eventualmente o médico do SUS recebe produtividade, mas “não é sócio” no negócio como ocorre na SS;

·         E vale lembrar que “ser sócio do negócio” significa correr os riscos do negócio: pode não haver produção, pode não receber da fonte pagadora;

·         Por isso ao desenhar projetos estratégicos, de modelos de remuneração, de precificação sempre temos que ter em mente que em qualquer situação o médico é mais parceiro que funcionário ... mas no SUS a relação tem mais “peso de subordinação”, enquanto na saúde suplementar tem mais “peso de sociedade” !

Por incrível que pareça, apesar do preço muito baixo da tabela SIGTAP que está sem reajuste “desde quando o Brasil era campeão mundial de futebol”:

·         Somando tudo que pode ser cobrado relativo ao procedimento em uma AIH, o valor final nem sempre é tão menor (ver posts/artigos sobre preço médio de contas na ortopedia);

·         O “valor de chegada” final da conta é menor, mas “não é de se jogar fora” !

Podemos exemplificar com algo que todos estão tendo contato com dados divulgados pela mídia para ficar mais fácil entender:

Durante a pandemia está sendo comum o SUS pagar até R$ 2.100 por diária de UTI para tratamento de COVID-19, mais (acrescentando) o que é compatível com o procedimento, segundo a tabela;

·         Não é o que um hospital particular cobra da operadora por uma diária de UTI, mas se comparar com os requisitos de atendimento “paga a conta e sobra”;

·         O cuidado assistencial com o paciente é muito menor do que um que saiu de uma cirurgia em cardiologia (por exemplo) e está “cortado”, completamente descompensado e tem histórico de doenças pré-existentes;

·         E o nível de hotelaria exigido ... “é nenhum” ... cansamos de ver UTI’s montadas as pressas, sem os equipamentos que usualmente “habitam” as unidades de atenção intensiva ... e muitas montadas em verdadeiras “barracas de camping”, diga-se de passagem !!!

·         Este valor “está bom demais” !!!

Na verdade os gestores de precificação reclamam menos da falta de reajuste de preços da tabela do que do fato do preço não variar regionalmente:

·         Se existisse um tabelamento de preços nacional na saúde suplementar a maioria das operadoras não conseguiria estruturar;

·         A tabela do SUS deveria considerar as particularidades regionais ... não é certo pagar o mesmo por um procedimento em uma grande metrópole e em uma cidade “remota” ... os custos delas para realização dos serviços não têm nada a ver, e portanto o preço pago pela fonte pagadora (no caso o SUS) não pode ser o mesmo !

·         E não existe oferta igual de serviços para realização de um mesmo procedimento em todo o território nacional !!

·         Basta visitar novamente o primeiro gráfico para comprovar: na saúde suplementar os preços variam ... em função do custo, e em função da oferta;

·         Como na área pública não existe variação, desestimula a rede de serviços a ofertar ao SUS ... e ele (o SUS) acaba gastando mais tendo que deslocar o paciente de uma cidade para outra ... as vezes de uma UF para outra. Quem duvida: veja a quantidade de ambulâncias de outras cidades do estado de São Paulo, e até de Minas Gerais e Paraná, que “embarcam” diariamente no estacionamento do Hospital das Clínicas de São Paulo ... e depois me diga se estou mentindo ... isso ocorre em diversos hospitais, especialmente os universitários, de grandes metrópoles em todo o Brasil.

 

 

Quanto maior o volume de procedimentos por serviço, por equipamento, por médico ...

·         Menor a chance da variação de preços ser grande na saúde suplementar;

·         O gráfico ilustra o preço médio de um exame, que tem “como referência” a mesma tabela do procedimento anterior (AMB / CBHPM);

·         Comprova que a variação de preços não é regulada por tabela de preços ... mas pelas regras comerciais regionais ... oferta e demanda ... o aumento da produção sempre derruba e equaliza os preços;

·         E ilustra, para os que não tem muita intimidade com precificação, que os deflatores e multiplicadores aplicados nas tabelas de preços (AMB, Brasindice, Simpro ...) não costumam serem os mesmos para toda a tabela no contrato;

·         Em cada contrato entre operadora e serviço de saúde diversos índices diferentes são aplicados em grupos das tabelas, chegando ao ponto de ter exclusivos por procedimentos específicos ... chegando ao ponto de definir um preço fora da tabela de referência, inclusive !

A correta “leitura do mercado regional” para entender quanto a operadora depende do serviço e/ou quanto o serviço depende da operadora e/ou quanto eles dependem do fornecedor ... esta habilidade fantástica do bom gestor comercial da operadora, do hospital, da clínica, da farma ... é o que define os preços que garantem a sustentabilidade de todos eles ... e a mais justa remuneração dos médicos !!!

 

 

E veja que neste caso do exame, a diferença entre o preço médio na SS não é tão grande em relação ao preço do SUS:

·         Porque neste caso ambos os preços remuneram apenas, e totalmente, o procedimento ... somente ele;

·         Preço SUS “não carrega” insumos diferentes do que a SS !

·         Por isso “é tão mais fácil” para o SUS credenciar serviços que realizam diagnósticos do que serviços que realizam procedimentos na alta complexidade !!

Toda vez “apanho” quando digo que a regulação de preços na saúde suplementar é péssima ... mas “não dá pra calar”:

·         Para produzir mapas de preços médios (honorários, exames, diárias ...);

·         ... para produzir mapas de preços médios de contas (artroplastia de joelho, parto ...);

·         ... gastamos uma energia enorme para tabular itens de contas, tabular grupos de despesas, identificar o procedimento principal, separar contas abertas de pacotes ... mesmo para um “fanático meio nerd” como eu ... dá uma canseira danada.

SIGTAP dá de 7 x 1 na TISS, TUSS, AMB, CBO, CMED ... a SS seguiu o caminho da “burocomplicação desnecessária”, “capitaneada” pela ANS que “eterniza” a dinâmica de criação de mais e mais códigos “TISS TUSS e Cia Ltda” ... um grande erro.

A ANS não desiste de complicar:

·         Vai querendo intermediar discussões sobre pacotes, modelos de remuneração ... valor em saúde !!!!!

·         Como se pudesse ... como se tivesse competência para reger todas as relações entre empresas privadas;

·         Esquece que saúde é livre à iniciativa privada (está na constituição), desde a sua promulgação !

·         Criando “uma montanha” de resoluções que quando analisamos na prática ... não servem para nada;

·         Porque “comprador e vendedor” sempre ... em qualquer situação ... sempre farão o que é melhor para o seu negócio, independente da existência das infinitas RN’s;

·         O mercado de negócios se ajusta ... sempre !

Só não podemos reclamar porque a cada nova portaria da ANS ... a cada novo padrão ... temos mais serviço ...

... de tédio ... tenho certeza ... não vamos morrer ... não é verdade !!

Os gráficos foram elaborados a partir dos dados das planilhas disponibilizadas aos participantes do Seminário Ortopedia: Mercado Privado e Público, que tabulam informações sobre preços, internações, óbitos, valores médios de contas, estabelecimentos, equipamentos, leitos, salas, ortopedistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, repasses do SUS para os serviços de saúde, e ressarcimentos das operadoras de planos de saúde ao SUS.

Com inscrições abertas para o dia 25 de junho próximo, para quem tiver interesse em participar as informações podem ser obtidas na página    www.gesb.net.br  ... ou diretamente através do canal   contato@escepti.com.br  !

 

Sobre o autor Enio Jorge Salu

Histórico Acadêmico

·  Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo

·  Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo

·  Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas

·  Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta

·  Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed

Histórico Profissional

·  CEO da Escepti Consultoria e Treinamento

·  Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas

·  Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares

·  CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa

·  Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação

·  Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas

·  Associado NCMA – National Contract Management Association

·  Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde

·  Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria

·  Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado