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Gestão da Saúde é Ciência Exata – Não dá Lugar para Politização
0191 – 11/06/2021
Referências: Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil
Discutindo o Mercado da Privado e Público: A “Ortopedia Populacional”
(*) todos os gráficos e tabelas são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil
Infelizmente não temos na saúde suplementar dados tão ricos como os do SUS, e é fácil explicar:
· A ANS regula somente o que diz respeito aos planos de saúde, e a saúde privada é muito maior do que ocorre com os ~48 milhões de beneficiários (menos de 23 % da população brasileira);
· A ANS não disponibiliza os dados do segmento que regula da mesma forma que o DATASUS o faz com o que ocorre no SUS;
· Como digo em todas as oportunidades que tenho, não tenho crítica aos profissionais que atuam na ANS ... conheço e admiro o trabalho de muitos deles ... a questão que se coloca é o papel da ANS, tentando se colocar como uma ANATEL, ANEEL ... mesmo não sendo saúde uma concessão ... não tem como dar o mesmo resultado das outras !
Ainda bem que o SUS é maior do que a saúde suplementar regulada ... com os dados do DATASUS podemos provar que, apesar de medicina, odontologia, psicologia e outras especialidades assistenciais da saúde não serem ciências exatas, a gestão da saúde é absolutamente exata:
· Temos números para demonstrar a relação causa-efeito de tudo que os gestores da saúde fazem;
· E são números divulgados pelos próprios órgãos públicos, tabulados sem qualquer ajuste mesmo quando alguns apresentam “sintomas de alguma contaminação”;
· E mesmo com as eventuais “contaminações” voluntárias e involuntárias, os vieses são completamente insignificantes para as discussões que podemos “travar” em relação à habilidade na gestão da saúde pública e privada.
Bem ... aproveitando que estamos às vésperas do seminário Geografia Econômica da Saúde no Brasil que coloca em foco a ortopedia, vamos utilizar indicadores de ortopedia para mostrar como o resultado da gestão em saúde não é discricionário ... é uma ciência exata !
O gráfico ilustra o % do valor total do repasse do SUS à sua “rede credenciada” na especialidade ortopedia, em 2020:
· Ele “despejou” 53 % para custear procedimentos ambulatoriais, e 47 % para internações;
· Ortopedia é um pouco diferente da maioria das especialidades porque embarca no ambiente ambulatorial reabilitações físicas pós cirúrgicas longas e caras;
· Existem outras especialidades com a mesma característica, mas não com a mesma incidência (proporcionalidade em relação à população) como a ortopedia.
Mas estes indicadores são gerais do Brasil ... e nós temos “várias ortopedias diferentes” no Brasil:
· São diferentes na saúde suplementar prioritariamente porque o mercado privado é regulado por quem quer e/ou pode pagar pelos tratamentos, e as condições econômicas variam muito regionalmente;
· Mas são diferentes na saúde pública basicamente pelo tipo de gestão ... pela capacidade, capacitação, habilidade do gestor em entender o que deve fazer para dar o melhor acesso à população “sob o seu guarda-chuva”.
Como os gestores não são iguais, mesmo em um sistema de financiamento que “prima” pela equidade, o resultado é bem diferente regionalmente.
Os gráficos ilustram valor repassado para ortopedia por 1.000 habitantes em cada UF:
· Mesmo o SUS tentando “despejar” proporcionalmente o mesmo valor, temos diferenças de ~7 vezes tanto no âmbito ambulatorial como nas internações;
· É certo que não existem serviços com a mesma capacidade técnica em todas as UF’s ... não existem doentes da mesma doença em todas as UF’s ... mas isso não justificaria 7 vezes em uma especialidade “tão dominada tecnicamente” como é o caso da ortopedia;
· O maior fator é a forma da gestão ... como o gestor planeja, como ele articula para conseguir os recursos ... e principalmente como define o modelo de gestão.
Estes gráficos “fantásticos” demonstram um paradoxo muito evidente na maioria das UF’s:
· As que investem mais em ações de promoção e prevenção da saúde em ortopedia, que são procedimentos do âmbito ambulatorial, gastam menos em internações;
· Na maioria absoluta das UFs ocorre isso ... a que está “mais escurinha” em um gráfico, está “mais clarinha” no outro;
· São poucas as UF’s “equilibradas no clarinho/escurinho” !
Gestão é ou não é uma ciência exata ?
Quem previne e promove a saúde, reduz o gasto na alta complexidade:
· Alguns podem dizer que em ortopedia é mais difícil promover ações de promoção e prevenção;
· Mas os números demonstram o contrário;
· Desde campanhas para motociclistas realizarem direção responsável, utilização de capacetes ... passando pelas campanhas de esclarecimento sobre o uso de sapatos desconfortáveis, de salto alto ... passando pelos exames de prevenção de osteoporose, do fornecimento de cálcio ...
· Cada “moedinha” da prevenção vai “enchendo o cofrinho” ... reduzindo o problema mais sério na alta complexidade.
Uma pena que a regulação da saúde suplementar reduz o tempo médio de permanência dos beneficiários nos planos ... e isso faz com que as operadoras não se motivem como o SUS em relação a isso ... é claro ! ... e não há nada de errado, que se possa criticar, em relação a isso ... a operadora atua dentro da regulação ... não regula o mercado !!
O gráfico ilustra o número de internações per capita para internações em ortopedia:
· Repare que justamente na maioria das UF’s mais equilibradas (“escurinho e clarinho” do gráfico anterior), temos maiores indicadores;
· Se o gestor “balanceia” prevenção, promoção e alta complexidade, consegue dar, proporcionalmente, mais acesso à saúde para a população na especialidade !
Este gráfico ilustra o % de óbitos em internação em ortopedia:
· Repare como onde existe maior indicador de internação per capita, na média não ocorre o maior indicador de óbitos em internação per capita;
· Na média os óbitos em internação ocorrem onde é menor o investimento em promoção e prevenção, porque o paciente da alta complexidade chega mais agravado;
· Neste indicador existe o viés de algumas cidades (são poucas em relação ao total que interna) serem referências para a especialidade em uma grande região geográfica e/ou “um aglutinado” de regiões metropolitanas não muito distantes.
Os gráficos ilustram a evolução total das internações no SUS, e as internações para internação em ortopedia no SUS:
· Com a pandemia o volume geral de internações caiu;
· As de ortopedia também, mas caíram muito menos, como demonstra o gráfico;
· É outra característica da ortopedia – procedimentos de urgência. Mesmo com a pandemia os acidentes continuaram acontecendo, os casos mais avançados se tornaram graves e inadiáveis.
Mas o gráfico preocupa ... e preocupa muito:
· Todos os eletivos que ficaram represados ... que estão represados ... estão agravando as condições dos pacientes;
· Quando a pandemia acabar como vamos fazer para “a fila andar” ... já não “andava muito rápido” antes da pandemia quando a fila era menor ...
· ... depois da pandemia com uma fila gigante o que fazer ?
O gestor da saúde sabe:
· O gestor da fonte pagadora privada já está (já deve estar) articulando as parcerias para ajuste na rede e/ou projetando a viabilidade de estruturar alguns serviços próprios adicionais ... e muito atento para a projeção do aumento da sinistralidade;
· O gestor da saúde pública vai se utilizar dos mutirões ... prática comum no SUS;
· O gestor dos serviços de saúde se equipando para ofertar produção e aproveitar o aumento da demanda.
Amigos gestores ... não acreditem em políticos ... não politize sua gestão prejudicando a população, os beneficiários e a sua própria carreira ... nós gestores não podemos cair “nas fakes”:
· O gráfico da esquerda ilustra a evolução total dos repasses do SUS ... o que ele gastou anualmente;
· O da direita a evolução dos gastos em ortopedia.
O governo não gastou mais com o SUS na pandemia:
· O gráfico mostra que isso é mentira ... gastou a mesma coisa;
· O aumento anual é constante, e sempre menor do que o aumento da arrecadação dos impostos ... estamos em uma época de recorde de arrecadação de impostos ... e os repasses ao SUS não acompanham isso ... não acreditem neles;
· O governo (federal, estaduais, distrital, municipais ...) tirou dinheiro de um bolso e pôs no outro ... e o acréscimo de dinheiro que arrecadou não passou por nenhum dos dois bolsos para a saúde ... como sempre.
O que ele deixou de gastar com ortopedia, vai se refletir no agravamento dos casos que não foram tratados ... vamos gastar mais com os mesmos procedimentos no futuro, porque o paciente chega em estado mais avançado da doença ... não tenham dúvida disso !!
Estou “com medo” de fazer estes gráficos quando tivermos os números fechados de 2021 ... após a pandemia:
· Por conta da pandemia houve aumento do número de óbitos em internações ... ficamos discutindo bobagens ... esquecemos ou não quisemos fazer a gestão da pandemia ... e deixamos centenas de milhares de inocentes morrerem ... centenas de milhares de pessoas que poderiam estar entre nós;
· E é assustador ver a maior queda na relação óbitos em internações em ortopedia, quando os casos atendidos foram em maioria de urgência;
· É muito assustador ... quantas pessoas acabaram morrendo por problemas ortopédicos por não terem conseguido internar e não entraram na conta ?
· Se a proporção em 2021 for ainda menor, o problema da falta de leitos para internação durante a pandemia “terá sido” muito maior do que o divulgado ... uma legião de mortos por falta de atendimento, sem um mínimo de dignidade.
O texto aqui ilustra como é exata a ciência da gestão em saúde ... as leis da “ação e reação”, “causa-efeito”, “oferta e demanda” demonstrada com números ...
... e como é importante que formemos gestores capacitados na saúde privada e pública !
Os gráficos foram elaborados a partir dos dados das planilhas disponibilizadas aos participantes do Seminário Ortopedia: Mercado Privado e Público, que tabulam informações sobre preços, internações, óbitos, valores médios de contas, estabelecimentos, equipamentos, leitos, salas, ortopedistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, repasses do SUS para os serviços de saúde, e ressarcimentos das operadoras de planos de saúde ao SUS.
Com inscrições abertas para o dia 25 de junho próximo, para quem tiver interesse as informações podem ser obtidas na página www.gesb.net.br ... ou diretamente através do canal contato@escepti.com.br !
Vou pedir licença e tomar a liberdade de divulgar a agenda dos cursos da jornada da gestão da saúde do mês de julho:
· Como Aferir Ressarcimentos das Operadoras de Planos de Saúde para o SUS – 02 de julho – Das 8:00 h às 14:00 h
· Managed Care e Modelos de Remuneração Alternativos ao Fee for Service – 09 de Julho – Das 8:00 h às 14:00 h
· Impactos da Nova Lei de Licitações (14.133) na Gestão dos Contratos – 16 de Julho – Das 8:00 h às 14:00 h
· Como Avaliar Preços de Pacotes em Operadoras, Hospitais, Clínicas e Centros de Diagnósticos – 22 de Julho – Das 8:00 h às 16:00 h
· Práticas de BI na Área da Saúde Privada e Pública – 30 de Julho – Das 8:00 h às 16:00 h
Informações na página www.jgs.net.br ... ou diretamente através do canal contato@escepti.com.br !
Sobre o autor Enio Jorge Salu
Histórico Acadêmico
· Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo
· Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo
· Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas
· Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta
· Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed
Histórico Profissional
· CEO da Escepti Consultoria e Treinamento
· Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas
· Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares
· CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa
· Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação
· Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas
· Associado NCMA – National Contract Management Association
· Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
· Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria
· Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado