![]() |
![]() |
||
Perfil de Receitas e Despesas de Operadoras Sinaliza Várias Saúdes Suplementares
0198 – 06/07/2021
Referências: Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil
Entendendo como a ANS Falha ao Tentar se Equiparar com outras Agências Reguladoras
(*) todos os gráficos e tabelas são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil
O objetivo aqui está longe ... muito longe ... de criticar a atuação da ANS:
· Os profissionais da ANS fazem um excelente trabalho, dentro daquilo que podem;
· A questão é o escopo (o que abrange) a ANS, e como ela tenta atuar da mesma forma que as outras agências reguladoras que se relacionam com serviços prestados à população (ANATEL, ANEEL ...), que estão em um cenário e um contexto completamente diferentes;
· Enquanto a ANS continuar a atuar da forma como atua, vamos continuar com uma regulação inadequada, cujo resultado conhecemos bem: judicialização, multas, ressarcimento ao SUS ... e pior ... total descontentamento e desaprovação dos principais interessados em uma regulação para o setor: quem paga a conta (empresas que concedem o benefício plano de saúde aos seus funcionários, e pessoas que bancam seu plano de saúde), e quem utiliza os serviços intermediados pelas operadoras (o beneficiário do plano de saúde).
Os números são implacáveis para esta análise:
· A pizza da esquerda demonstra o perfil de despesas das operadoras de planos de assistência médica;
· Na pizza da direita, o perfil das operadoras de planos exclusivamente odontológicos.
Só a construção da pizza, sem mesmo analisar o resultado, já demonstra uma grande incoerência:
· Enquanto na da direita estamos falando apenas de assistência odontológica, no da esquerda temos tanto assistência odontológica como médica;
· Em outros segmentos de mercado isso seria ilegal, enquadrado como “venda casada” por parte de algumas empresas que prejudica o mercado das outras ... mas na saúde suplementar regulada pela ANS é literalmente legal !
Se observarmos apenas a participação dos custos (o tamanho proporcional de cada fatia de acordo com a cor) e compararmos com outros segmentos de mercado regulados (telecomunicações, energia, saneamento ...) não vamos ver variações deste tipo:
· Telecomunicações, energia, saneamento, transportes ... são atividades exclusivas do Estado – o governo concede que outra empresa o represente junto à população, mas não perde a responsabilidade ... por isso as empresas são chamadas “concessionárias”;
· Então estabelece parâmetros para estas prestações de serviços que fazem com que as empresas que prestam o serviço para ele tenham um perfil de custos muito parecido;
· A margem (lucro) pode ser diferente dependendo de condições “socio-econômicas-geográficas”, mas a “regra de concessão” é basicamente a mesma para que as empresas se habilitem a representar o governo perante a população;
· Saúde está definida na constituição (nossa Lei Magna) como livre à iniciativa privada, então o governo não concede nada ... as operadoras de planos de saúde não são “concessionárias”.
Quando a ANS tenta regular empresas livres como se fossem concessionárias ... dá no que vemos !
Os gráficos ilustram quanto pesa (qual o %) das despesas (o que sai de dinheiro) em relação às receitas (o que entra de dinheiro):
· O da esquerda, das operadoras de assistência médico-odontológicas;
· O da direita, das operadoras exclusivamente odontológicas;
· O mercado de assistência médica é mais antigo e está estabilizado pela concorrência, e pela própria profissionalização da gestão das operadoras;
· O mercado de assistência odontológica é mais novo ... ainda está se ajustando às movimentações das empresas, do crescimento do setor !
Por conta disso as despesas na assistência médica estão mais próximas do total de receitas, demonstrando que em termos de rentabilidade proporcional, odontologia ainda é um mercado muito mais atraente !!
Mas não nos enganemos:
· Apesar o % ser menor em assistência médica, o valor absoluto é muito maior, porque o preço do plano é muito maior;
· As operadoras exclusivamente odontológicas “nadam” em termos de rentabilidade líquida, mas as de assistência médica “nadam de braçada” em rentabilidade absoluta.
Não existe outra agência reguladora (ANATEL, ANEEL, ANT ...) que lide com tamanha diversidade em um mesmo subsegmento de mercado:
· Só a ANS tem isso “no colo”
· E quando regula, na maioria das vezes, coloca no “mesmo balaio” empresas que não têm nada a ver umas com as outras.
Os gráficos ilustram a relação % entre as despesas assistenciais (o que se gasta exclusivamente para tratar pacientes) com as receitas (o que se recebe de dinheiro dos beneficiários):
· O da esquerda das operadoras de assistência médico-odontológicas;
· O da direita, os das operadoras de planos exclusivamente odontológicos.
É desanimador ... frustrante ... saber que:
· No caso de planos de assistência médica mais de 20 % do que pagamos é para sustentar a estrutura da operadora ... não para pagar a nossa assistência médica;
· E no caso dos planos exclusivamente odontológicos, mais de 60 %.
O que pagamos ... os reajustes que são apresentados em forma de sinistralidade ... carregam um grande componente de lucro, de sustentar a expansão da operadora e ... o que mais dói ... de financiar coisas que a operadora tem que fazer “burocraticamente” porque a ANS exige nas regulações.
Para um gestor da saúde como eu ... dói muito ... dói muito saber que despesas assistenciais que deveriam consumir quase todo o financiamento do plano, deixe tanto dinheiro para coisas que não têm a ver diretamente com o tratamento dos pacientes.
Isso não ocorre nos outros segmentos de mercado regulados:
· Se descobrirem uma concessionária com 20 % de despesas que não tenham a ver com o objeto da sua prestação de serviços, um grande movimento social eclode;
· Se for algo na casa dos 60 % ... “pranto e ranger de dentes”, passeatas, CPIs ... imagine se alguém souber que 60 % do que paga pela energia elétrica que aumentou subitamente não tem a ver com geração e distribuição de energia !!!
· Mas para a ANS ... tudo ok ... tudo certo ... ela não pode fazer nada sobre isso porque não são concessionárias ... sua função é apenas regular o “insano” !!!!
Os gráficos ilustram as curvas de evolução dos tickets médios (valor médio por beneficiário de plano de saúde) ao longo dos últimos 4 anos:
· As barras azuis, as receitas (o que entra de dinheiro) e as laranjas as despesas (o que sai de dinheiro);
· O da esquerda de operadoras de planos médico-odontológicos;
· O da direita dos planos exclusivamente odontológicos.
As operadoras, dentro da regulação da ANS, portanto permitida por lei, vão adaptando seus preços livremente em relação aos seus custos, e mantendo sua rentabilidade:
· Diferente das concessionárias, cujo preço é definido em “leilões” onde ganham as empresas que apresentam melhor “custo x benefício”, as operadoras justificam seus reajustes de preços de acordo com mapas de sinistralidade apresentadas aos seus clientes ... clientes, cuja maioria absoluta ... a maioria da maioria absoluta ... não têm condições técnicas para discutir os números apresentados;
· A única ação dos clientes, eventualmente, é trocar de fornecedor (operadora) quando alguma corretora e/ou administradora de benefícios oferta algo mais barato ... e neste caso eles também não tem condições de avaliar se o que está sendo ofertado é tecnicamente compatível com o que tinha.
A ANS corrobora isso em regulações:
· Autoriza reajustes de preços únicos em planos individuais para todo o Brasil, de planos que não têm bada a ver em sinistralidade uns com os outros;
· Media negociações, quando provocada, no caso de planos coletivos;
· Especificamente no caso dos planos individuais ... um “show de horror” ... autorizou reajuste de planos durante a pandemia, quando a sinistralidade caiu !
Os gráficos demonstram a evolução da rentabilidade média líquida (a relação percentual entre o que entrou de dinheiro e o que saiu de dinheiro) das operadoras:
· O da esquerda, das operadoras de planos médico-odontológicos;
· O da direita dos planos exclusivamente odontológicos.
O que chama a atenção:
· A pandemia está sendo “um grande negócio para as operadoras ... e não há crítica alguma nisso ... não estão fazendo nada de ilegal ou imoral ... isso é fruto da sua profissionalização;
· As operadoras de planos exclusivamente odontológicos continuam “surfando” no mercado mais promissor da área da saúde, por estar ainda em plena expansão ... mesmo com a pandemia.
Pergunte para qualquer investidor do exterior:
· Se ele colocaria dinheiro em um negócio que rende 8,9 % líquido, no caso de planos de assistência médica !
· Ou se colocaria dinheiro em um negócio que rende líquido mais de 25 % !!
· Então entenderá por que o mercado da saúde suplementar está dominado por empresas estrangeiras no Brasil !!!
Alguém de operadora que está lendo este conteúdo pode estar dizendo:
· Na minha operadora os números não se parecem com estes;
· Em outro artigo me comprometo a destrinchar estes números por tipo (modalidades) de operadoras ... me aguarde !
· Veremos que em algumas os números não são tão bons ... mas não deixam de serem “extremamente generosos” !!
· E veremos que em algumas os números são “estratosfericamente” melhores ... não estão “nem nadando de braçada” ... estão de “jet ski” !!!!
Reforçando o que comentei no início, não se trata aqui de uma crítica aos profissionais ou aos erros de regulação da ANS:
· A questão é que a ANS não pode ser o que ela é atualmente;
· O governo (este que está aí e os anteriores) ainda não entenderam que a saúde suplementar não é o que pensam que é
· É algo muito maior !
E a população, especialmente os beneficiários de planos de saúde e as empresas que concedem este benefício aos seus funcionários, necessitam de algo diferente ... estamos todos cansados de regulações que não agregam ao que realmente interessa !
Conheça nossos cursos relacionados ao mercado e precificação na área da saúde:
· Como Avaliar Preços de Pacotes em Hospitais, Clínicas e Centros de Diagnósticos - www.escepti.com.br/cursos/GNAS12
· Como Definir e Precificar Pacotes em Operadoras de Planos de Saúde - www.escepti.com.br/cursos/GNAS13
· Práticas para Reduzir Custos com o Plano de Saúde dos Funcionários - www.escepti.com.br/cursos/GNAS15
· Gestão Comercial em Saúde - www.escepti.com.br/cursos/GNAS16
· Práticas para Precificação de Produtos Hospitalares - www.escepti.com.br/cursos/GNAS19
· Fundamentos e Ferramentas Básicas do Marketing em Saúde - www.escepti.com.br/cursos/GNAS20
· Managed Care e Modelos de Remuneração Alternativos ao Fee for Service - www.escepti.com.br/cursos/GNAS22
E para informações adicionais ou consultorias contato@escepti.com.br !
Este endereço consta na lista porque em algum momento houve relacionamento com o autor em consultorias, seminários, cursos ou outra atividade profissional
Caso não queira receber novos informes, responder com a mensagem excluir
Sobre o autor Enio Jorge Salu
Histórico Acadêmico
· Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo
· Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo
· Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas
· Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta
· Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed
Histórico Profissional
· CEO da Escepti Consultoria e Treinamento
· Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas
· Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares
· CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa
· Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação
· Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas
· Associado NCMA – National Contract Management Association
· Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
· Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria
· Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado