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Análise Pragmática da Variação de Preços Entre Ambulatório e Internação

0199 – 09/07/2021

Aos cuidados de:  «Nome»     «empresa»    «depto»       «cargo»

Referências: Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil

(*) todos os gráficos e tabelas são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil

 

Os gráficos ilustram o a proporção entre o volume de exames de realizados em ambiente ambulatorial e nas internações na saúde suplementar:

·         O da esquerda se refere aos exames de análises clínicas e o da direita aos de anatomia patológica;

·         Observamos que é imensamente maior no ambulatório do que nas internações.

Em qualquer negócio que existe, desde que “negócios são negócios”, quando existe maior volume de produtos vendidos, a tendência é que os preços sejam menores:

·         É a diferença de preços entre o varejo e o atacado ... vemos isso ao pagar, por exemplo, por um “refri no buteco”, no mercado, ou no atacadista;

·         E na saúde, “na maioria das vezes” ... “na maioria das vezes” ... não é diferente;

·         Isso vale para o preço que o fornecedor cobra do hospital que adquire mais ou menos insumos ... que o hospital cobra da operadora que interna mais ou menos ... que a operadora cobra da empresa que contrata o plano coletivo com mais ou menos funcionários ...

·         Quanto maior o volume, quem está vendendo renuncia à margem individual de um produto, porque tem a compensação no lote !

 

 

Mas, não canso de dizer, os negócios na saúde não são tão simples assim, especialmente na saúde suplementar regulada pela ANS:

·         Os gráficos ilustram a média dos preços praticados no ambulatório e na internação;

·         O da esquerda, referente aos mesmos exames de laboratório do gráfico anterior e o da direita referente aos mesmos exames de patologia do gráfico anterior;

·         Para quem não está atento ao mercado pode ser surpreendente o fato do preço em ambiente ambulatorial ser maior ... com volume “gigantemente” maior, os preços deveriam ser menores ... mas não são !

Existem vários fatores, além da questão atacado/varejo, que influenciam os preços na saúde:

·         Neste caso, por exemplo, o processo de coleta da amostra para a realização dos exames não é o mesmo ... poderia ser o fator decisivo da “quebra da regra do volume” ... em outros procedimentos é ... mas neste caso, não é;

·         Também neste caso, especialmente no caso do laboratório, é comum haver uma infinidade de postos de coleta que enviam exames para serem realizados em um mesmo lugar, o que não é tão comum assim de acontecer nas internações, especialmente nos atendimentos do PA/PS, CC e UTI ... poderia ser o fator decisivo da “regra” ... em outros procedimentos é ... mas neste caso também não é;

·         Para não citar outros vários fatores da precificação deixando o texto muito longo, indo direto ao ponto: neste caso um fator fundamental é a coparticipação.

Coparticipação é uma parte do preço pago pela operadora ao serviço de saúde, que é ressarcido diretamente pelo beneficiário para a operadora ... dividindo o custo entre a operadora e o beneficiário:

·         É a parte do preço pago ao serviço de saúde que “não pesa no bolso da operadora”;

·         “Pesa no bolso” do beneficiário.

Quanto a ANS regulou de forma a permitir a coparticipação, desequilibrou completamente a relação que existia entre cliente, fonte pagadora e prestador do serviço:

·         No caso da saúde suplementar regulada, o maior cliente são as empresas que contratam os planos coletivos para seus funcionários ... quase 80 % do mercado;

·         Mas no caso da coparticipação a empresa que contrata o plano também não arca com este custo ... é repassado para o funcionário. Vale mencionar que no caso de planos de autogestão a empresa contratante é “praticamente” a própria fonte pagadora;

·         Ou seja, em planos individuais quem paga o plano é o beneficiário, e a coparticipação também ... mas no caso dos planos coletivos a empresa paga o plano, mas o funcionário é quem paga a coparticipação.

A coparticipação inseriu neste cenário uma “coisa bizarra”:

·         O beneficiário se obriga a pagar uma parte do valor da prestação de serviços, mas não negocia preço ... não existe nada parecido fora da área da saúde ... o comprador não tem chance de negociar o preço;

·         Então, é mais do que lógico, que a fonte pagadora (seja a empresa contratante do plano, seja a operadora) atua de forma diferente em relação à precificação naquilo que envolve o não coparticipação;

·         O que não é coparticipação é risco total da fonte pagadora ... a coparticipação não ... isso reduz o risco da fonte pagadora;

·         A fonte pagadora, então, na prática tem menor incentivo em reduzir o preço que vai pagar quando existe coparticipação, porque o risco de não conseguir inserir este custo na sinistralidade e reduzir o reajuste do preço do plano é 0 (zero) !!!

Que fique bem claro: não ter o mesmo incentivo para negociar preços do que tem ou não coparticipação não é ilegal ... a coparticipação é regulada (permitida) pela ANS, portanto legal:

·         E também não há nada de imoral ou antiético nisso: pode até ser discutido como sendo culpa, mas não dolo: uma coisa deixar de fazer algo que não é necessário ou obrigatório, outra coisa é deixar de fazer para prejudicar o beneficiário;

·         O que se discute aqui não se encaixa em dolo ao beneficiário ... são as “regras do jogo” definidas pela ANS  !

A coparticipação costuma ser 40 % da baixa complexidade ambulatorial:

·         Não costuma existir nas internações;

·         Voltando ao gráfico: os exames ilustrados são justamente de baixa complexidade;

·         Então nenhuma surpresa o preço médio pago pela fonte pagadora ser maior no ambulatório do que na internação;

·         Se não existisse coparticipação para estes exames também na internação, certamente a negociação de preços seria muito diferente ... e os preços médios tabulados seriam bem menores no ambulatório do que na internação !

 

 

Quanto analisamos a maioria absoluta dos procedimentos vemos o mesmo cenário:

·         Este gráfico ilustra procedimentos de “fisios”, de psicólogos, de “fonos”, de nutricionistas;

·         Todos inseridos no cenário da coparticipação.

 

 

Alguém pode dizer que o gráfico anterior tem o viés de mesclar vários procedimentos diferentes:

·         É verdade ... os gráficos anteriores mostram a tendência geral das especialidades;

·         Construindo um gráfico com estes 3 exames de análises clínicas específicos observamos que o valor médio na internação é maior que o ambulatorial;

·         Isso é fascinante na gestão comercial em saúde: a precificação depende de uma comunhão de fatores, que ao estudarmos no âmbito macroeconômico, fica mais fácil de entender os casos particulares !

·         O que os gráficos anteriores demonstram é que a regra é a coparticipação afetar a maioria dos procedimentos, mas existem procedimentos que fogem da “pressão” da coparticipação, e ficam sob “outras pressões”, algumas citadas “lá em cima”!!

·         De qualquer modo, o volume “gigantemente” maior mesmo nestes exames no âmbito ambulatorial não “derruba” os preços da forma que seria esperado – o preço ambulatorial não é proporcionalmente menor do que a diferença de volume !!!

 

 

Então, o que é indiscutível é que o volume não é o principal fator da diferença de preços dos procedimentos de baixa complexidade:

·         O gráfico da esquerda ilustra a variação de preços no ambulatório e na internação de 3 procedimentos ... nos 3 o preço no ambulatório é maior;

·         O gráfico da direita ilustra a variação de volume dos mesmos procedimentos realizados no ambulatório e na internação;

·         Veja que a quantidade na internação é “tão ridiculamente pequena” que a barrinha laranja “nem aparece” no gráfico da direita !

·         Ou seja, o volume aqui é o menor fator de influência na negociação dos preços para “externos e internos” ... se fosse, o preço no ambulatório seria “merreca” perto do da internação !!

 

 

Mais um gráfico ilustra a relação de preços de mais alguns procedimentos que não estão “na mira” da coparticipação:

·         Quanto o preço absoluto é elevado e/ou quando a complexidade não é baixa, costuma ficar fora do âmbito da coparticipação no contrato ... a operadora, a empresa contratante, evita inserir no âmbito da coparticipação porque o beneficiário ou “não aguenta”, ou “muda de plano”;

·         Então ... observamos o valor na internação maior que no ambulatório ... porque com o risco sendo da fonte pagadora, existe a motivação para negociar utilizando o volume como “narrativa” !

Sempre alertamos os mais jovens que se envolvem em definição de pacotes, modelos de remuneração alternativos ao fee for service (compartilhamento de riscos, remuneração baseada em valor), pacotes para melhoria de cuidados ...

·         Não subestime a complexidade da gestão comercial em saúde;

·         Da mesma forma que uma diretiva do mercado (coparticipação) influencia preços, como vimos aqui, vai influir decisivamente em qualquer projeto que envolva um modelo alternativo de remuneração;

·         A cadeia de valores não é a mesma para qualquer procedimento médico, odontológico ... exige atenção para mapear bem o cenário específico;

·         Se o preço individual varia tanto em função de vários parâmetros, o pacote vai sofrer influencias também ... o modelo de remuneração alternativo ao fee for service também ... a definição do pacote para melhoria de cuidados também ... negligenciar isso é gastar esforço em algo que certamente mais cedo ou mais tarde vai fracassar !!!

·         Se uma proposta de remuneração baseada em valor, por exemplo, tiver o propósito real de melhoria da atenção, qualidade assistencial, melhoria da experiência do paciente, melhoria do futuro do paciente ... dá certo !

·         Quando a proposta é um pretexto de precificação ... não dá ... não perca seu tempo !!

Conheça nossos cursos relacionados ao mercado e precificação na área da saúde:

·         Como Avaliar Preços de Pacotes em Hospitais, Clínicas e Centros de Diagnósticos - www.escepti.com.br/cursos/GNAS12

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E para informações adicionais ou consultorias   contato@escepti.com.br  !

 

 

Este endereço consta na lista porque em algum momento houve relacionamento com o autor em consultorias, seminários, cursos ou outra atividade profissional

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Sobre o autor Enio Jorge Salu

Histórico Acadêmico

·  Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo

·  Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo

·  Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas

·  Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta

·  Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed

Histórico Profissional

·  CEO da Escepti Consultoria e Treinamento

·  Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas

·  Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares

·  CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa

·  Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação

·  Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas

·  Associado NCMA – National Contract Management Association

·  Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde

·  Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria

·  Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado