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A Complexa Cadeia de Negócios em Saúde Chamada Oncologia
0206 – 29/07/2021
Referências: Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil
Tanto Fontes Pagadoras como Serviços de Saúde Têm Baixa Especialização em Negócios na Especialidade
(*) todos os gráficos e tabelas são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil
O tema é muito oportuno:
· Primeiro porque executivo e legislativo federais estão “brigando” pela agilização ou não da cobertura de tratamento via oral contra o câncer ... estamos escutando um monte de gente falando um monte de bobagens, ideologizando mais uma vez um tema técnico, sem conhecer a cadeia de valores de financiamento dos tratamentos tanto na área pública como na privada ... mais um “show” de horror promovido por partidários de A ou B, que “não são do ramo” e não se importam com o que mais importa: a vida das pessoas que necessitam de tratamento contra o câncer;
· Segundo porque estamos nos aproximando do seminário Geografia Econômica da Saúde no Brasil do eixo temático Oncologia.
Os gráficos dão uma noção de como Oncologia é diferente das outras especialidades:
· As barras de cor laranja ilustram todas as especialidades juntas no SUS;
· As barras de cor azul ... a oncologia.
O primeiro demonstra a evolução anual das internações:
· No geral elas vinham crescendo ano a ano e em 2020, com a pandemia, reduziram significativamente;
· Mas na oncologia ... queda significativa não ocorreu.
No da direita, quanto o SUS gastou ano a ano com internações:
· No geral, crescendo de forma constante;
· Na oncologia, se manteve no mesmo patamar.
No terceiro a evolução dos óbitos em internações:
· No geral vinha crescendo, e o aumento se intensificou em 2020 por conta da pandemia;
· Na oncologia também se manteve no mesmo patamar.
Para oncologia é como se não tivesse havido pandemia:
· Porque uma vez diagnosticada, oncologia deixa de ser eletiva;
· E, com todos os defeitos que o nosso SUS possa ter ... ele responde rapidamente aos casos oncológicos;
· Tão rapidamente como os casos graves de cardiologia;
· Ambas (Oncologia e Cardiologia) muito mais rapidamente do que ocorre nas demais especialidades.
O primeiro gráfico demonstra que, em se tratando de internações:
· Tivemos sim uma queda para os procedimentos cirúrgicos ... e não sabemos, das vidas perdidas por COVID-19, quantas estavam inseridas no âmbito das doenças cancerígenas, que têm maior prevalência de casos graves nas pessoas de idade mais elevada – o principal grupo de risco da COVID-19;
· Mas cresceram as internações para tratamentos clínicos, fazendo com que a queda geral tenha sido muito pequena.
É importante ressaltar que neoplasias não são doenças que afetam mais pobres do que os mais ricos:
· A epidemiologia do câncer é a mesma no SUS e na Saúde Suplementar, portanto o que ocorre no SUS, que demonstram os gráficos, pode ser extrapolado para a saúde suplementar regulada, e para a saúde suplementar não regulada;
· E o gráfico da direita demonstra como esta doença não poupa nenhuma parte do corpo, o que sob o ponto de vista de gestão significa dizer que antes do caso cair nas mãos do oncologista, é muito comum consumir recursos de outras especialidades, conectando a cadeia de negócios da oncologia com quase todas as demais especialidades;
· A oncologia “se conecta” com as demais especialidades no diagnóstico, e depois na reabilitação, criando uma cadeia de valores particular ... própria ... cadeia de valores ignorada, por exemplo, pela maioria dos especialistas em modelos de remuneração alternativos ao fee for service, especialmente no desenho de pacotes para melhorias de cuidados, isolando a especialidade das demais.
E temos, na oncologia, a maior integração entre os sistemas de financiamento público e privado, pela maior falha da regulação da ANS, criticada “em verso e prosa”, que se refere a proteção na entrada, e a isenção na saída ... explicando para quem não teve a oportunidade de discutir o assunto ainda:
· A ANS permite que uma operadora imponha carência ao beneficiário quando adquire o plano de saúde, ou seja, protegendo a operadora caso o beneficiário tenha alguma doença pré-existente;
· Mas se o beneficiário abandona o plano sem saber que estava doente, e for diagnosticado alguns dias depois por uma doença que já tinha, a operadora não se obriga a dar assistência para ele;
· As pessoas acham justa a carência para que o beneficiário, intencionalmente, adquira o plano para curar uma doença que já sabia que tinha ... para a mulher fazer o parto de uma gravidez que já era conhecida;
· Mas existem pessoas que acham justo que a operadora tenha que arcar com os custos de um tratamento que não ocorreu porque não houve procedimento que diagnosticasse a doença enquanto o beneficiário era adimplente.
Vale dizer que, se fosse regulado adequadamente, a “garantia” que se refere o tratamento após a saída do beneficiário do plano “não quebraria” as operadoras, que simplesmente colocariam seus atuários para considerar este “custo estatístico” no cálculo do valor do prêmio a ser pago pelo beneficiário.
E também vale dizer que esta falha na regulação da ANS prejudica o próprio governo:
· Se o beneficiário adimplente utiliza a rede pública para tratamento oncológico, temos o processo de ressarcimento das operadoras ao SUS;
· Mas se o beneficiário deixou de ser adimplente e for buscar o atendimento na rede pública isso não ocorre, ficando todo o ônus com o SUS;
· É um erro de regulação da ANS que prejudica tanto a população, como o próprio governo !
Na verdade nós temos uma grande deficiência de capacitação dos gestores da saúde pública e privada quando o tema é oncologia ... especialmente nas quimioterapias:
· Os gestores não sabem como calcular quanto custa um tratamento no SUS;
· Não entendem a dinâmica das APACs, que geralmente não correspondem ao tratamento;
· Não entendem a dinâmica de compra dos quimioterápicos por parte do governo, e como eles chegam para tratamento nos hospitais públicos e privados;
· Cansei de “esbarrar” com fornecedores que comparam o custo de uma tecnologia antiga com uma nova de forma totalmente errada, as vezes pedindo ajuda para o serviço de saúde que, por incrível que pareça não fornece a informação correta, porque as contas são controladas por uma área, e a logística de recebimento direto dos insumos é controlada por outra ... e uma área não faz ideia do que a outra faz a respeito !
· Estou acostumado a lidar, nas consultorias e cursos para operadoras, com gestores envolvidos com ressarcimento que nunca receberam treinamento adequado sobre a tabela SIGTAP e a Estratégia de Medicamentos do SUS !!
· Não conseguem entender que o tratamento é uma coisa (o procedimento de quimioterapia, por exemplo) e os insumos são outra (os quimioterápicos, por exemplo) ... e fazem uma “lambança danada” !
Oncologia é, de longe, a cadeia de valores mais complexa, dentro da já muito complexa cadeia de valores da saúde pública e privada !
Graças a Deus isso não impede que a especialidade tenha tido um desenvolvimento excelente no Brasil:
· Mesmo não tendo muitos estabelecimentos exclusivamente especializados, como demonstra o gráfico da esquerda;
· Temos uma grande quantidade de serviços especializados, dentro de serviços gerais, como demonstra o gráfico da direita;
· Entre eles, temos estabelecimentos de saúde mundialmente reconhecidos, e não somente em Capitais ... se eu citar interior do Estado de São Paulo, por exemplo, tenho certeza de que vem à mente de qualquer pessoa que está lendo o nome da mesma cidade ... nem preciso “nominar” !
No SUS temos a diferenciação da remuneração para os “CACON’s” e “UNACON’s”, que motivam a excelência assistencial na especialidade.
Mesmo não necessitando obrigatoriamente da destinação de leitos especificamente para oncologia, podendo as internações serem realizadas em leitos de cirurgia geral, ou clínica geral:
· Temos tanto no SUS, como demonstra o gráfico da esquerda, quanto na saúde suplementar, como demonstra o gráfico da direita, um volume significativo de leitos especialmente reservados para oncologia;
· E o gráfico de baixo que une os dois sistemas de financiamento, demonstra a grandeza da estrutura hospitalar dedicada à especialidade em todo o Brasil !
O mesmo ocorre com a estrutura especializada para as terapias em ambiente ambulatorial:
· Os gráficos ilustram a distribuição das unidades e salas de radioterapia e quimioterapia pelo Brasil;
· Quando falamos em serviços de quimio e radio as pessoas geralmente associam os grandes hospitais, os grandes serviços;
· Os gráficos demonstram que “existe muito mais entre o céu e a Terra” .. somente em São Paulo 335 serviços, contabilizando 3.504 salas ... sinalizando o tamanho do mercado de pequenas e médias empresas que a especialidade “embarca”;
· Impossível não se admirar com o porte da infraestrutura disponível !!
E é claro, citar os profissionais especializados:
· Somente médicos temos quase 4.000 atuando no SUS e quase 3.000 atuando na saúde suplementar;
· Cada um destes médicos assistidos por enfermagem, farmácia, nutrição, fisio, fono ... e até físicos no planejamento da radioterapia;
· É realmente uma cadeia de valores gigantesca ... sempre é bom “chorar um pouco”: Ah se o governo entendesse saúde não exclusivamente como custo, mas como fator de desenvolvimento econômico ... quem sabe um dia !!!
Quando eu era criança as coisas eram muito diferentes ... câncer era uma palavra proibida ... era “quase pecado” pronunciar, e as pessoas escondiam que tinham a doença, porque o índice de cura era muito baixo ... as famílias escondiam “como se fosse uma coisa para se envergonhar”.
Mesmo quando entrei para a área da saúde, em um hospital que era e é até hoje uma das maiores referências na especialidade, há quase 30 anos, a “técnica” ainda não era tão desenvolvida como nos dias atuais.
Nesta história perdi para a doença familiares ... amigos ... colegas de trabalho ...
· Uma vez um médico patologista (fantástico) chorando comentou comigo: “é um jogo ... sabemos que vamos ter que jogar, mas nunca sabemos quando o “Juiz” vai apitar o início da partida”;
· As lágrimas escorriam pelo seu rosto porque falávamos de uma pessoa que admirávamos ... mais próximo a ele do que a mim ... um médico diretor do hospital, especialista em oncologia no sistema digestivo ... que não escapou da doença !
· Mas estou vivendo para acompanhar os avanços da cura ... se temos obrigação de ver o lado bom das coisas ... é disso que se trata !!
Uma coisa é certa ... o avanço será ainda maior ... as pessoas vão ter mais acesso ao tratamento e a cura ... quanto mais capacitados estiverem os gestores da saúde privada e pública em relação à cadeia de valores da especialidade !
· E se a ANS se dispuser a rever a regulação, ao invés de incentivar modelos de remuneração que prejudicam a qualidade assistencial, especialmente para esta especialidade;
· Se ela mantiver o foco no paciente e não no interesse de algumas instituições / pessoas ... vai ajudar muito !!!
Bem ... nesta trajetória de convívio profissional com centenas de hospitais, dezenas de operadoras de planos de saúde e fornecedores de insumos para a saúde:
· Presenciei “vexaminosos” casos do “joguinho emocional” que alguns profissionais inescrupulosos praticam para “tirar o máximo de dinheiro” de quem pode pagar, pelo resultado que não vai ocorrer, porque não tem condições de entender o cenário da doença ... infelizmente é fato que não podemos negar que existe;
· Mas, graças a Deus, a maioria absoluta dos profissionais e empresas que preencheram os capítulos desta história é composta de ética, integridade moral, e renúncia ao mercenarismo ... graças a Deus;
· O oportunismo está longe de ser a regra ... é a exceção !
Conheça o estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil na página www.gesb.net.br .
Está aberto o processo seletivo para inscrição no curso de média duração da Jornada da Gestão em Saúde (40 horas).
Informações na página www.jgs.net.br ou pelo canal contato@escepti.com.br !
· Uma “mentoria prática” sobre negócios na área da saúde pública e privada ... um conteúdo exclusivo e um material didático sem similar !!!
Sobre o autor Enio Jorge Salu
Histórico Acadêmico
· Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo
· Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo
· Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas
· Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta
· Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed
Histórico Profissional
· CEO da Escepti Consultoria e Treinamento
· Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas
· Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares
· CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa
· Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação
· Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas
· Associado NCMA – National Contract Management Association
· Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
· Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria
· Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado