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Óbitos em Internações - A Conta do Pós Pandemia Já Chegou Para Ser Paga
0209 – 08/08/2021
Referências: Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil
Os Números Já Sinalizam Cenário “Sinistro” Para o SUS e Para as Operadoras de Planos de Saúde
(*) todos os gráficos e tabelas são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil
Uma coisa que sempre comentamos em consultorias e cursos é o nosso problema com a “visão sistêmica”:
· Todas as pessoas, incluindo todos nós gestores da área da saúde – é claro – “estão presas nela”, se atentando apenas aos dados divulgados sobre número de casos COVID-19, óbitos por COVID-19, leitos ocupados por COVID-19 ...
· Mas os dados do período da pandemia já expõem o grande problema do pós pandemia: o estado da doença dos pacientes dos tratamentos eletivos que foram adiados !
O gráfico sinaliza a nossa “cegueira subliminar”:
· As barras de cor azul representam a evolução das internações;
· As barras de cor laranja, os óbitos em internações ... não os óbitos totais ... os óbitos em internações.
O azul está “meio que alinhado” com os gráficos que a mídia expõe diariamente sobre a pandemia:
· Mas repare que o gráfico laranja não está alinhado com o azul;
· Porque o azul é muito influenciado pelas internações COVID-19 que monopolizaram a rede de atendimento na alta complexidade ... são todas as internações ... as internações associadas aos CID’s “Não COVID-19” “minguaram” desde o início da pandemia;
· Já o laranja sofre influência tanto dos óbitos COVID-19 como das demais doenças ... os casos graves, mesmo associados aos outros CID’s (outras doenças), continuaram acontecendo !
Esta “falta de sincronismo” entre os dois gráficos é um péssimo sinal ... é isso que podemos discutir extrapolando melhor os números deste gráfico !
Em todos os gráficos estamos analisando mensalmente o que ocorreu entre outubro de 2019 (6 meses antes da pandemia) até maio de 2021 – pouco mais de um ano de pandemia “garrada”, como se diz em Minas:
· O primeiro gráfico demonstra o % total de óbitos sobre o total de internações;
· O segundo, o % de óbitos do Cid 01, que está “populado” majoritariamente de pacientes COVID;
· Eles não têm a mesma característica, sinalizando que houve modificação no perfil dos óbitos “não COVID”.
O receio de todo gestor de saúde, público ou privado, desde que COVID-19 começou a monopolizar os recursos existentes (leitos, equipamentos, medicamentos ...) ... desde que os tratamentos eletivos começaram a ser adiados ... era o de que quando o paciente voltasse para a rede após a pandemia, estaria em condições piores para ser tratado ... consumindo mais recursos e aumentando a taxa de óbitos.
A pandemia nem acabou ... e os números demonstram que isso já está acontecendo !
Veja, no mesmo período, como aumentou a taxa de óbitos das internações com CID de neoplasia e cardiologia:
· E são as especialidades que menos adiaram os tratamentos eletivos ... também adiaram o máximo que puderam, mas a urgência no tratamento destas doenças fez com que os adiamentos fossem menores que os das outras especialidades;
· E os tratamentos ambulatoriais ... de controle ... destas doenças também foram muito prejudicados.
Com o estado pior e/ou diagnosticando tardiamente, a internação é menos eficiente ... e os números demonstram claramente isso: a taxa de óbitos em internações cresceu !
Vejam que o mesmo já aconteceu em internações associadas aos CIDs de:
· Doenças do Sangue e Endócrinas, como demonstra o primeiro gráfico;
· Doenças do Sistema Nervoso e do Aparelho Digestivo, como demonstra o segundo gráfico ...
Em todas as linhas de tendência se elevam ao longo do tempo ... a taxa de óbitos em internação elevou em todas elas !
E até mesmo em ortopedia, que é uma das especialidades onde o adiamento do eletivo traz menor risco de vida aos pacientes, elevou ... e o crescimento da taxa não é pequeno, como se pode ver na inclinação da linha de tendência !
Não é possível negar que o estado geral dos pacientes na internação “piorou”:
· E o reflexo medido pela taxa de óbitos é a pior que poderíamos ter;
· No caso do SUS e da Saúde Suplementar, estamos já estamos gastando mais para ter como resultado óbito, do que gastávamos antes ... o dinheiro “mais mal gasto” que existe ... o dinheiro que jamais gostaríamos de estar gastando;
· E no caso da saúde suplementar, ainda o agravante de estarmos perdendo beneficiários que financiam o plano ... que é a razão de existir do plano !
A questão que se coloca é que, na área pública ... o ministério da saúde ... não está dando nenhum sinal de reação para mitigar este problema:
· Já deveríamos estar vendo programas de incentivo para reduzir as filas do SUS .. que já eram grandes ... e com a pandemia estão gigantes;
· Já gostaríamos de estar vendo há alguns meses a edição de mutirões, que serão absolutamente necessários para evitar o agravamento do cenário, “fazendo as filas andarem”;
· Já gostaríamos de estar vendo uma coordenação do ministério junto aos conselhos de secretários de saúde para definir as ações coordenadas entre o governo federal, estaduais, distrital e municipais para padronizar o que será feito;
· Vamos lembrar que a gestão do SUS é tripartite, distribuindo atribuições (responsabilidades) entre Governo Federal, Estados, Distrito Federal e Municípios ... e a coordenação geral é do ministério da saúde, que detém as agências reguladoras, normativas, diretrizes.
Esta “ausência do Estado” no enfrentamento do problema incentiva que comecem a “pipocar ações eleitoreiras e ideológicas diferentes” em cada canto do Brasil:
· O “liberou geral” que já está sendo feito por prefeituras sem nenhum critério técnico defensável ... da mesma forma como foram as ações do enfrentamento da pandemia ... não está sendo coordenado pelo ministério;
· Vamos lembrar que no ano que vem temos eleições majoritárias ... cada um, de acordo com os seus interesses políticos, vai querer adotar a regra mais adequada de redução das filas às suas pretensões políticas, em detrimento à justiça de atenção do SUS que constitucionalmente prega a igualdade de acesso para todos !!!
Um recado para o governo – sentido amplo: federal, estaduais, distrital e municipais – “Acordem”:
· No sentido de despertar;
· E no sentido de entrarem em acordo;
· Olhem estes números já e pelo menos agora empenhem algum esforço coordenado ... coletivo !!!
Ao contrário, na área privada as operadoras com que tenho contato mais direto já estão trabalhando ... e muito ... para evitar o descontrole da sinistralidade que este cenário impõe:
· Afinal ... a sinistralidade “já está forçando a fechadura”, mas não tenha dúvida: “vai arrombar a porta” se o devido cuidado não for dado agora;
· Para as demais que, não colocaram esta ação na agenda ainda, vale mesmo recado: é hora de despertar ... o momento é agora !
As operadoras que acharem que vão conseguir jogar tudo para a sinistralidade base do próximo reajuste, como sempre foi feito, estão cometendo um grande erro:
· A pandemia ... o pós pandemia ... são coisas inéditas para a saúde suplementar;
· A variação da sinistralidade antes da próxima negociação de reajuste pode ser financeiramente insuportável colocando a sustentabilidade econômica em risco;
· E lembrar que na hora de negociar, “lá na frente”, as empresas que contratam planos de saúde para seus funcionários, que são 80 % do mercado, podem decidir trocar de operadora, ficando a variação da sinistralidade passada naquela linha da planilha de custos que tem o nome “perdas financeiras irrecuperáveis”;
· É hora de colocar na mesa para discutir quem cuida do dinheiro junto com quem cuida do paciente para analisar os indicadores de morbidade e mortalidade da carteira, projetar bem as tendências de aumento de custos e de mortalidade por especialidade, e definir rapidamente o que será feito para mitigar o problema;
· Qualquer ação “de rede”, “de prevenção”, de protocolos que possam retardar os eletivos que menos trazem risco à mudança de perfil da sinistralidade ... é bem-vindo ... os números dizem: “muito bem-vindo” !
Quem já se chateou como eu com pessoas despreparadas que apresentam estudos de pacotes para melhorias de cuidados em modelos de remuneração baseados em valor sem considerar fatores regionais e as diferentes condições pré-existentes dos pacientes vai se chatear ainda mais nos próximos meses ... é claro que a narrativa destas pessoas que têm interesse em discutir o assunto com viés não vai mudar no cenário pós pandemia ... infelizmente.
Tenho enaltecido que não temos um contingente adequado de bons gestores na saúde pública e privada, mas isso não significa que não existem ... se a quantidade total ainda não é a adequada, ainda assim temos “um monte” de gestores bem capacitados no SUS e nas operadoras para lidar com tudo isso ... graças a Deus !
Então, agora é a hora de “mostrar serviço” ... de provar que valeu a pena se especializar em sustentabilidade financeira das fontes pagadoras, nos conceitos reais de modelos de remuneração aderentes à realidade, no equilíbrio das relações entre fontes pagadoras, serviços de saúde, profissionais e fornecedores de insumos ... precisamos muito destes gestores capacitados nesta época tão disruptiva do financiamento da saúde que a pandemia nos impôs !!!
Vamos trabalhar para reverter estas linhas de tendência de óbitos em internações dos gráficos ?
Conheça o estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil na página www.gesb.net.br .
Está aberto o processo seletivo para inscrição no curso de média duração da Jornada da Gestão em Saúde (40 horas).
Informações na página www.jgs.net.br ou pelo canal contato@escepti.com.br !
· Uma “mentoria prática” sobre negócios na área da saúde pública e privada ... um conteúdo exclusivo e um material didático sem similar !!!
Este endereço consta na lista porque em algum momento houve relacionamento com o autor em consultorias, seminários, cursos ou outra atividade profissional
Caso não queira receber novos informes, responder com a mensagem excluir
Sobre o autor Enio Jorge Salu
Histórico Acadêmico
· Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo
· Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo
· Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas
· Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta
· Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed
Histórico Profissional
· CEO da Escepti Consultoria e Treinamento
· Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas
· Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares
· CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa
· Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação
· Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas
· Associado NCMA – National Contract Management Association
· Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
· Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria
· Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado