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Remuneração Baseada em Valor Não Como se Discute Cloroquina
0210 – 10/08/2021
Referências: Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil
Teorias e Narrativas que Não Deixam o Tema Sair da Obscuridade
(*) todos os gráficos e tabelas são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil
Novamente a Profa. Ellen Bergamasco me proporcionou a oportunidade de discutir com uma turma da pós-graduação da Faculdade Einstein do Rio de Janeiro os modelos de remuneração alternativos ao fee for service:
· É fantástico poder discutir o assunto com profissionais que se interessam em desenvolver o assunto sem o viés dos grupos de interesse que distorcem o tema;
· E é mais fantástico ainda quando pegamos uma cidade de ~100 mil habitantes, que tem uma população flutuante importante ... e assim representa “uma enormidade” de cidades brasileiras ... , descrevemos o básico do que existe na cidade de saúde pública e privada, e enquadramos fee for service e cada modelo alternativo onde é viável;
· Muito, mas muito mais fantástico ainda quando os participantes vão concordando caso a caso no que é viável e no que é “abstração teórica” !
Muito diferente, por exemplo, na forma como foi discutido se é bom ou ruim usar cloroquina para os pacientes COVID-19:
· Como não tenho inclinação política ou ideológica, não julgo se é bom ou ruim ... não tenho competência para isso;
· O problema é como o tema foi tratado ... isso foi “deplorável”.
Os que defendem o uso não apresentaram fatos reais para justificar:
· Em uma pandemia que mata milhões de pessoas em todo o mundo, nem era necessário estudo “ortodoxamente” correto;
· Se dados consistentes fossem apresentados, a comunidade científica aceitaria ... como aceitou “o encurtamento” do processo de aprovação das vacinas que não existiam um ano antes de ir para o braço das pessoas na última fase dos testes ... ou existe alguma dúvida de que estamos descobrindo agora os reais efeitos das vacinas que não cumpriram as etapas da forma como seria exigido se não fosse pandemia ?
· Ao invés disso, quando foram inquiridos na CPI, por exemplo, alguns defensores disseram que era para casos “assim ou assado” e não da forma como haviam dito que eles tinham dito ... algo bem confuso e diferente do que diziam nas redes sociais !!
E os que criticaram o uso também não apresentaram dados reais para justificar o não uso ... é bom que se diga:
· Quantas pessoas fizeram uso e ela realmente não fez efeito ?
· Quantas pessoas realmente tiveram efeitos adversos pelo uso tão alertado ?
· Todos dados que poderiam ter sido colhidos nas internações para comprovar que o medicamento não deveria ser utilizado, e acabar com discussões;
· Ao invés disso o discurso “ainda não existe comprovação científica” ... com a palavra “ainda” bem na frente da frase como “válvula de escape” para o caso de surgir uma comprovação de que faz bem ... vai saber né !!!
Com remuneração baseada em valor está ocorrendo a mesma coisa:
· Um grupo de pessoas que se apoderaram das discussões sobre o tema não age de forma ética;
· Utilizam termos que significam uma coisa para vender a ideia de outra e, principalmente ... infelizmente ... confundem as pessoas que tem boa intenção em discutir o assunto misturando modelos de remuneração com formas de apresentação de contas ... misturando “valor” com penalidades ... não associando “valor” ao nível de serviço pleno ... insinuando que profissionais de saúde e serviços de saúde não querem desenvolver o assunto porque “se fartam” de excessivo lucro ...
· Colocam serviços de saúde e médicos como “arqui-inimigos” do financiamento da saúde, narrando a necessidade de reduzir seus lucros, e em nenhum momento citam o lucro das fontes pagadoras;
· E a ANS, fugindo totalmente do seu escopo, financia a narrativa ... como se a SUSEP devesse interferir em quanto a seguradora paga para consertar o “carro batido” do segurado ... como se a ANATEL devesse interferir em quanto a VIVO ou CLARO pagam pelo metro de cabo ... como se a ANEEL devesse interferir em quanto a Light paga de salário para seus funcionários ... uma postura absolutamente fora de propósito: “coisa mais absurda” !!!
E assim o tempo vai passando, os projetos vão fracassando, e o tema vai sendo revestido do mesmo pano de fundo que minou a discussão das contas tipo pacote ... passados mais de 10 anos, pacotes ainda representam uma parcela pífia do potencial que possui, pela forma inadequada como o assunto foi conduzido por algumas fontes pagadoras.
Tivemos a oportunidade de discutir o assunto com a clareza de que modelos de remuneração alternativos ao fee for service só está na agenda porque aumentou o poder negocial dos compradores ... as fontes pagadoras:
· Embora algumas delas ... e grandes ... nem queiram lidar com o tema porque o custo benefício é pequeno, já que se aplica somente em procedimentos de alta complexidade de alta frequência em poucos serviços de saúde ... o esforço para elas é muito grande em relação ao resultado ... e elas preferem continuar na linha do “de hoje em diante vou pagar X pela colecistectomia ... se quiser fazer por este preço muito bem, senão tem quem faz pra mim” ... e neste caso, nenhum elemento de “valor em saúde”, muito pelo contrário, não importa a qualidade, e sim o preço;
· Embora algumas delas ... infelizmente poucas ... tratam o assunto com seriedade, partindo do pressuposto de que a condição “sine qua non” é a parceria entre ela e o serviço de saúde;
· Mas infelizmente algumas delas narram a necessidade da qualidade, mas praticam mesmo “é preço” – aplicação de desconto, multa, e outras penalidades ... nunca se propondo a pagar mais por algo de qualidade que vai lhe reduzir o custo no médio e longo prazo ... que vai melhorar a qualidade de vida do beneficiário ... que vai melhorar a experiência do paciente.
Estamos vivendo algo parecido com “o caso das sacolinhas de supermercado” na Cidade de São Paulo ... para quem não reside aqui:
· Há alguns anos um “lobby” fez ser editada uma lei que permite que os supermercados não forneçam sacolinhas de plástico para os clientes, “sob o pretexto” de que as sacolinhas poluem o meio ambiente;
· A lei não obriga que o estabelecimento se obrigue a substituir as sacolinhas de plástico por outro tipo de embalagem não poluente ... o cliente que se vire ... isso só ocorre nos supermercados ... todo o comercio fornece embalagem para os produtos que vendem;
· Bem ... se fosse uma causa real, os supermercados não forneceriam sacolinhas de forma alguma, afinal o objetivo é proteger o meio ambiente ... mas como é uma narrativa, eles passaram a vender sacolinhas !!!!
· Perto da minha residência apenas um supermercado não faz isso, fornecendo sacolinhas gratuitamente;
· Os demais cobram R$ 0,11 por sacolinha ... o custo de 1 sacolinha não chega a R$ 0,01 ... é só fazer uma pesquisa para se certificar ... é um lucro de 1.000 % na venda de um produto, amparado por lei ... e estranhamente tabelado ... todos os que vendem na região, vendem pelo mesmo preço ... não vendem qualquer produto por preço tabelado – somente as sacolinhas !!!!
· Em um dia estes estabelecimentos que “narram uma coisa e praticam outra” faturam o mínimo de R$ 1.000,00 por dia só com a venda de sacolinhas ... ou seja ... algo em torno de R$ 30.000,00 por mês
· Coisa que os mercadinhos, que se não derem sacolinha não sobrevivem, não tem de faturamento bruto total, os grandes supermercados lucram somente vendendo sacolinhas ... coisa que a maioria absoluta dos estabelecimentos de comercio da região adorariam faturar, diga-se de passagem !
É isso que está ocorrendo com a discussão de remuneração baseada em valor:
· Alguns, aproveitando a narrativa, discursam “a poluição que as sacolinhas geram”, mas no fundo se aproveitam da narrativa para “vender sacolinhas”;
· Ao invés de premiar os clientes que vem com sacolas reutilizáveis de casa que lhes daria algum custo, só se interessam pela penalização da venda da sacolinha, que lhes dão lucro.
Omitem nas discussões a origem dos conceitos que premiam as boas práticas na saúde, “enaltecidas”, por exemplo, nas ações tabuladas lá na origem das discussões nos Estados Unidos ... um dia também “embarcadas no Obamacare”:
· Na origem, não quero pagar o mesmo preço por um procedimento bem-feito ou mal feito ... por isso vou premiar os que fizerem bem feito, tratar normalmente o que realiza dentro de padrões razoáveis, e penalizar os que entregam um produto com defeito;
· Na origem, não quero pagar para o Einstein / Sírio Libanês / Moinhos de Vento / VNS onde os padrões de qualidade são elevados ... o mesmo preço que pago para a Santa Casa de Xiririca da Serra onde a experiência do paciente é ruim;
· Mas o conceito é preço ... tabela de preço ... e não desconto na conta, caso a caso, como é a narrativa dos “vendedores de sacolinhas” ... os aproveitadores.
O que queremos:
· É que o cliente se conscientize da necessidade de usar pouca sacolinha ... reutilizar ... e não cobrar aviltantes R$ 0,11 por algo que custa zero;
· É que a fonte pagadora estabeleça uma relação de parceria com o serviço de saúde entregando o caso para ser tratado, e não encaminhando o paciente para o procedimento de alta complexidade, retendo todo o pré-operatório e a reabilitação na sua rede própria ou credenciada de baixo preço;
· É que uma cadeia de valores reduza o desperdício e entregue o melhor produto possível através da aplicação de melhores práticas ... que isso esteja permeado na cadeia de valores e não que seja uma imposição da fonte pagadora.
Modelos de remuneração alternativos ao fee for service passam por algumas premissas inegociáveis:
· O objetivo é diminuir o desperdício ... o único defeito do fee for service ... fraude, erro e lucro não são defeitos proprietários do fee for service ... ocorrem em qualquer modelo de remuneração;
· Parceria entre fonte pagadora e serviço de saúde – sem fragmentar a atenção tirando do serviço de saúde o controle da atenção assistencial;
· Parâmetros que se adaptam as variações das condições pré-existentes dos pacientes – chega de ver gente apresentando modelos matemáticos onde só existem constantes ... não existem variáveis;
· Considerar condições regionais de disponibilidades e preços, que são muito diferentes em um “país de dimensões continentais” como o nosso;
· E que tenha como premissas a Premiação e Penalização ... jamais apenas Penalização !
É maravilhoso sentir que quando os envolvidos olham fotos das empresas envolvidas nos sistemas de saúde público e privado ... o mundo real ... imaginam que tipo de estrutura organizacional tem lá dentro ... e “cai a ficha” de que temos que ter muito cuidado ao investir em projetos que exigem uma “inteligência de gestão” que a maioria absoluta das fontes pagadoras e serviços de saúde não têm !
A minha felicidade ... a minha gratidão à Ellen e aos alunos da turma que participaram do estudo de caso ... foi ter tido a oportunidade mais uma vez de discutir o tema de forma transparente e “dormir tranquilo” sabendo que mesmo que estes gestores forem obrigados a “aplaudir uma falsa narrativa” por pressão profissional ... entendem que é falsa.
E ter a certeza de ter contribuído mesmo que de forma tímida ... saber que se tiverem oportunidade de conduzir o tema de forma adequada, vão conseguir !!!
Conheça um pouco sobre o estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil na página www.gesb.net.br
Está aberto o processo seletivo para inscrição no curso de média duração da Jornada da Gestão em Saúde (40 horas).
Informações na página www.jgs.net.br ou pelo canal contato@escepti.com.br !
Uma mentoria prática sobre negócios na área da saúde pública e privada ... um conteúdo exclusivo e um material didático sem similar !!!
Sobre o autor Enio Jorge Salu
Histórico Acadêmico
· Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo
· Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo
· Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas
· Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta
· Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed
Histórico Profissional
· CEO da Escepti Consultoria e Treinamento
· Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas
· Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares
· CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa
· Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação
· Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas
· Associado NCMA – National Contract Management Association
· Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
· Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria
· Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado