No Brasil a Maior Rede de Atenção Psiquiátrica e Psicossocial do Mundo

0211 – 12/08/2021

Referências: Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil

Um dos Reflexos da Substituição das Internações Pela Atenção Ambulatorial Especializada

(*) todos os gráficos e tabelas são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil

É correto iniciar que os dados que podemos discutir sobre atenção psicossocial são carregados de um grande viés:

· Temos 3 sistemas de financiamento da saúde: o público (SUS), a saude suplementar privada regulada pela ANS (que se relaciona apenas com os planos de saúde), e a saúde suplementar privada que não sofre regulação alguma;

· A terceira sabemos que é grande ... e justamente por não ser regulada, não sabemos o quão grande ... é maior que a regulada, e menor que o SUS ... é a única coisa que sabemos.

E quando tratamos desta especialidade (saúde mental), a não regulada sabemos que é gigante:

· Existe uma enormidade de serviços de saúde que prestam atenção psiquiátrica, aos dependentes de álcool e drogas, aos autistas ... que não atendem pacientes do SUS nem de convênios ... somente “particulares”;

· Existe uma enormidade de instituições filantrópicas que auxiliam estas pessoas “sem cobrar um tostão”, invisíveis para a maioria da população, e importantíssimas para quem delas necessita.

Mesmo desconsiderando o viés, a quantidade de serviços existentes, demonstrada no gráfico e na tabela ... também é gigante.

No seminário Geografia Econômica da Saúde no Brasil – Saúde Mental, estarão reunidos muitos profissionais e acadêmicos que se orgulham de estarem envolvidos com a maior rede de atenção psicossocial do mundo !

Os países ricos, que têm estruturas organizacionais parecidas com as nossas, estão anos luz de distância em relação ao tamanho da rede:

· Ou não tem um SUS que atende gratuitamente toda a população, como é o caso dos Estados Unidos;

· Ou não tem o nosso tamanho, como é o caso dos “ricos” europeus ou os “ricos” asiáticos.

Tanto na saúde pública como na privada ... como na benemerente gratuita ... temos serviços que atuam em todos os níveis de complexidade ... não dá para não se orgulhar !

É a maior rede de atenção psiquiátrica e psicossocial do mundo !!

Pouca gente se dá conta que a especialidade no Brasil é revestida de um aspecto da constituição que diferencia os investimentos e custeio dela em relação às demais especialidades médicas e odontológicas:

· Quando o “legislador” lá em 1988 definiu a seguridade social como sendo Assistência Social + Previdência Social + Saúde ...  que foi um avanço social elogiado por muitos países do mundo (não ouvi dizer isso – vi, ouvi, li, vivenciei – na época da promulgação) ... talvez nem imaginasse que esta especialidade seria tão influenciada pelo desenvolvimento da assistência social no Brasil;

· A atenção psicossocial no Brasil se desenvolveu mais por influência da assistência social do que por qualquer outro fator;

· As pessoas que construíram o SUS ... algumas que tive a honra de conviver – algumas com que tenho contato até hoje ... certamente não tinham esta visão: foram agradavelmente surpreendidos pela “história que veio depois” !

No passado, manicômios eram “depósito de gente” ... para ficarem lá até a morte:

· Os mais velhos, como eu, presenciaram cenas terríveis de maus tratos aos pacientes internados em hospitais psiquiátricos;

· Hoje os mais jovens até têm contato com hospitais psiquiátricos que retêm pacientes internados “por toda uma vida”, e o Estado não sabe o que fazer com eles ... não têm familiares ... não têm ninguém para que o Estado devolva;

· Alguns casos raros, a família até existe, ganhou na justiça o direito de deixar o paciente internado lá ... ao mesmo tempo que ganhou o direito de ficar com o dinheiro da “aposentadoria” do paciente (o dinheiro garantido por lei para ser destinado a estes pacientes) ... casos em que a gente não sabe quem necessita mais de atendimento psiquiátrico: o paciente ou o familiar que se aproveita de uma legislação tirar vantagem econômica de um ser humano !!

Na verdade o Estado não é impotente apenas em não saber o que fazer com estes pacientes:

· Ele não sabe o que fazer com estes hospitais psiquiátricos;

· Alguns com quase 200 vezes mais funcionários do que pacientes internados;

· Alguns de uma arquitetura antiga maravilhosa, tombados pelo patrimônio histórico ... onde a gente não pode consertar um vazamento como fazemos em qualquer edifício – tem que ser uma restauração, cara ... muito cara ... e demorada ... muito demorada !

Mas quando hoje vemos a evolução da especialidade, apesar disso ... hoje temos uma rede de atenção especializada para evitar ao máximo que o paciente seja internado:

· Especialmente os CAP’s (Centros de Atenção Psicossociais), parte deles até equipados com leitos de acolhimento noturno;

· Evitar a internação, a não ser que sejam casos que realmente necessitem, evita repetirmos os erros do passado;

· E as equipes dos CAP’s ... também posso dizer porque atuei em projetos de consultoria em vários deles – não foi algo que ouvir dizer ... são extremamente capacitadas para lidar com isso ... são exemplares na integração coordenada entre assistência social, medicina, psicologia, terapia ocupacional ... dá gosto de conhecer ... dá um grande conforto saber que existem.

Nossa rede privada também é excelente:

· Veja pelos gráficos que tabulam a quantidade de profissionais que atuam na especialidade que a diferença entre o SUS e a SS é a menor que existe em todas as especialidades;

· Basta fazer uma continha de cabeça: se formos conservadores, temos 1 beneficiário de planos de saúde para ~4 beneficiários do SUS

· Veja que a proporção em relação aos profissionais que atuam na especialidade não chega a 2 ... é a especialidade da saúde privada mais proporcionalmente bem servida ... mas não vamos esquecer: não se trata exclusivamente de serviços que sejam pagos por operadoras, na saúde suplementar regulada ... isso embarca a saúde suplementar não regulada – a que não tem nada a ver com operadoras de planos de saúde: por isso é tão grande !

E como:

· As internações no SUS vão diminuindo;

· A regulação da ANS é péssima, a ponto de permitir coparticipação em atendimentos psiquiátricos ... um completo absurdo !!! ... imagine uma pessoa acometida por doença que não tem cura ser submetido ao pagamento de parte do seu tratamento !!!!!

... o negócio saúde mental vai crescendo:

· No âmbito ambulatorial SUS;

· E especialmente na saúde suplementar não regulada !

Enquanto nada for feito de diferente em termos de regulação para os planos de saúde ... enquanto a ANS tratar transtornos mentais como itens como outros quaisquer do seu Rol ... esta tendência não mudará.

Os números são implacáveis para comprovar esta tendência;

· Os gráficos demonstram a evolução da enfermagem especializada ao longo dos últimos 4 anos;

· Perceba que tanto enfermeiros como técnicos em enfermagem no SUS, representados pelas linhas azuis, vão reduzindo, porque enfermagem nesta especialidade é utilizada muito mais intensamente nas internações ... e com o avanço dos serviços ambulatoriais vai cada vez mais evitando a internação desnecessária;

· Mas na SS, representada pelas linhas laranja, vai aumentando ... porque com toda a dificuldade imposta pela regulação para prover o beneficiário de uma assistência mais digna, a pressão sobre o sistema vai aumentando, mesmo com o tímido aumento do acesso dos beneficiários de planos de saúde à especialidade, o acesso à saúde suplementar não regulada vai aumentando.

Este gráfico demonstra que a redução das internações não prejudica a evolução da qualidade assistencial da especialidade:

· Veja que o número de médicos psiquiatras vai aumentando ao longo do tempo seja no SUS, seja na Saúde Suplementar;

· Porque o paciente desta especialidade necessita do médico em qualquer tipo de interação (ambulatorial, internação, pronto socorro ...);

· E a quantidade sempre acompanhará o crescimento da população ... existe uma parcela da população que necessita de atenção mental em todo o mundo, comprovado por uma infinidade de publicações e estudos ... e por estes números;

· Cenário de crescimento que se agrava com os dependentes de álcool e drogas, que crescem alimentados pelos negócios do crime organizado e das milícias que controlam “o ramo” ... e o Estado, como sabemos, não desenvolveu mecanismos para impedir.

Bem ... o caminho desenhado na constituição há 33 anos atrás ... pelo menos em relação à atenção psicossocial ... deu certo no Brasil ... deu muito certo ... a constituição tão desrespeitada pelas classes econômicas mais privilegiadas.

Vale comentar que as instituições que atuam na gratuidade nesta especialidade desenvolvem um papel que inexiste em qualquer outra área da saúde ... na verdade da saúde e da assistência social:

· Temos uma infinidade de instituições onde voluntários se propõem a doar uma parte do seu tempo para atender pessoas por telefone, valorizando a vida ... evitando pior mal que pode acontecer para quem sofre de transtorno mental ... que estimamos levar a vida de 800 mil pessoas por ano ... 12 mil por ano somente no Brasil !

· Temos uma infinidade de instituições onde voluntários apoiam dependentes de álcool e drogas que vivem em situações de rua ... apoiam de várias formas, desde o conforto mental até o fornecimento de vestuários, alimentos ...

· Você encontra até páginas que dão acesso para consultas via internet (telemedicina psicossocial) ... mais do que isso ... mapeiam onde estão e como acessar os serviços gratuitos ...

Indiscutivelmente ... motivo de orgulho !!!

Conheça um pouco sobre o estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil na página   www.gesb.net.br

Está aberto o processo seletivo para inscrição no curso de média duração da Jornada da Gestão em Saúde (40 horas).

Informações na página     www.jgs.net.br     ou pelo canal    contato@escepti.com.br  !

· Uma mentoria prática sobre negócios na área da saúde pública e privada ... um conteúdo exclusivo e um material didático sem similar !!!

Em tempo – para interessados, abrimos uma turma extra do curso Modelos de Remuneração Alternativos ao Fee for Service:

· Será realizado nos dias 30 e 31 de Agosto e 1 de Setembro, das 17:00 h às 20:00 h – poucas vagas.

Este endereço consta na lista porque em algum momento houve relacionamento com o autor em consultorias, seminários, cursos ou outra atividade profissional

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Sobre o autor Enio Jorge Salu

Histórico Acadêmico

· Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo

· Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo

· Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas

· Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta

· Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed

Histórico Profissional

· CEO da Escepti Consultoria e Treinamento

· Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas

· Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares

· CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa

· Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação

· Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas

· Associado NCMA – National Contract Management Association

· Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde

· Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria

· Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado