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Tanto para SUS Como Para Operadoras, 2021 Já É Muito Diferente de 2020
0212 – 15/08/2021
Referências: Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil
Pacientes Chegando mais Agravados nas Internações: Inferno Orçamentário Perfeito na Saúde Pública e Privada !
(*) todos os gráficos e tabelas são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil
Ainda tem gente que não entendeu que o pós pandemia não é igual ao pré pandemia:
· Não vamos voltar ao normal de antes;
· Especialmente, e muito especialmente, na gestão da saúde privada e pública ... 2023, 2024, e os anos seguintes ... não têm chance de podermos adotar os mesmos parâmetros de gestão que adotávamos antes de 2020 ... os números estão aí “para quem quiser ver” !
Os gráficos ilustram o que está ocorrendo no SUS:
· O da esquerda, quanto o governo empenhou de dinheiro para financiar internações – a média mensal em cada ano;
· O da direita a evolução % anual destas médias desde 2016.
Como no SUS:
· Temos quase 4 vezes mais internações do que na saúde suplementar regulada;
· A tabela de preços que não é reajustada desde que o maior esportista do mundo de todos os tempos apelidado de Pelé marcou seu último gol ...
· ... não carregamos viés significativo para extrapolar análises de evolução “epidêmio-econômicas” para a saúde privada.
E isso hoje é o ponto central da gestão da saúde privada e pública:
· Entender o que aconteceu com o custo da saúde antes e durante a pandemia;
· E projetar o que acontecerá quando o COVID-19 estiver dominado ... “sei lá quando” !
· Estar preparado para o risco certo, o que a gente sabe que pode se materializar, é a essência do trabalho do gestor ... quem fica esperando o que pode acontecer sem projetar o futuro não faz gestão – administra crises ... não é o motorista – é o passageiro.
O gráfico é assustador:
· O empenho médio mensal caiu de 2019 para 2020, porque reduziu o volume de internação, e as internações se concentraram nas internações “dos velhinhos” que contraíram COVID-19;
· Isso já estava diagnosticado (prevíamos que ia acontecer) desde o segundo trimestre de 2020;
· Mas o gráfico mostra que em 2021 o valor médio das internações subiu exageradamente ... e este é o ponto crítico que deve ser entendido e monitorado pelos gestores;
· No SUS “vai minguar dinheiro” nos últimos meses do ano para financiar internações ... na saúde privada (suplementar regulada e não regulada) terá outro impacto !
O gráfico nos dá uma explicação parcial do que está ocorrendo:
· O da esquerda é o empenho total do valor gasto pelo SUS nas internações ... ele praticamente acompanha os gráficos que são exibidos pela mídia em relação ao número de casos de COVID-19, da taxa de ocupação dos leitos de UTI ... nenhuma novidade gastar mais quando o volume é maior;
· O da direita ilustra o valor médio das internações associadas ao Grupo CID 01, que é o associado aos tratamentos de COVID-19 ... este traz uma grande novidade ... o valor médio das internações aumentou, para o tratamento da mesma doença.
Este descolamento do gráfico da direita em relação ao da esquerda se deve principalmente porque o paciente COVID-19 mudou de perfil:
· Deixamos de cuidar dos velhinhos (como eu) e passamos a cuidar dos mais jovens;
· Os velhinhos foram tratados com protocolos ainda não existentes (doença nova), com “um banho” de medicamentos sem eficácia, porque não sabíamos o que fazer, e assim além da alta taxa de mortalidade, o tempo de internação era curto até o óbito;
· Os jovens resistem mais ao óbito (graças a Deus ... uma pena que os mais velhos como eu perdem esta resistência) ... mas mesmo assim para escapar do óbito ... ficam mais tempo internados;
· Mais tempo internado ... maior o valor médio das internações;
· Mesmo no caso do SUS onde o valor total do procedimento é acrescido do valor das diárias de UTI ... as contas não são “pacotes” como pensam a maioria dos gestores que não se especializaram na dinâmica de financiamento “SIGTAP” !
Quando discutimos que o aumento da taxa de óbitos em internações está aumentando, significando piora no estado dos pacientes na internação, alguns gestores ficaram em dúvida em acreditar ... mas agora mesmo os mais céticos acredito que não tenham como discordar ... que não entendam o cenário:
· Os preços de tabela são os mesmos;
· O valor médio da conta subiu;
· Ou o paciente ficou mais tempo internado e/ou consumiu maior diversidade de recursos
· É pura matemática !
Mas infelizmente o que ocorre não é somente isso ... não ocorre somente com os pacientes COVID-19:
· Os gráficos mostram a evolução do valor médio das internações de tratamentos de neoplasias e de cardiologia;
· Veja que o valor médio das internações também elevou !
· Novamente: como a tabela de preços é a mesma, e estas doenças não tiveram a variação de faixa etária dos pacientes COVID-19 ao longo do tempo, só existe uma explicação: o estado do paciente está pior quando é atendido;
· O valor do procedimento principal é o mesmo, mas consumiu mais itens (UTI, Alto Custo, Procedimentos Multidisciplinares de Reabilitação ...) ... e o valor médio da conta sobe !!
Isso está ocorrendo em praticamente todos os tipos de tratamentos no SUS:
· O valor médio está crescendo ... reforçando: em um cenário de tabela de preços que não reajusta, e de pacientes que não mudaram de faixa etária;
· O paciente está sendo diagnosticado mais tardiamente e chegando para o tratamento em piores condições !
Isso significa dizer que o SUS e as Operadoras de Planos de Saúde, que tiveram em 2020 “o melhor ano fiscal” da sua história, vão se deparar agora com um período extremamente crítico:
· Já previam que o legado (o que ficou adiado) ia voltar junto com o novo ... era possível planejar o orçamento para alinhar ao custo decorrente do aumento de volume ... do “encavalamento” de atendimentos;
· Mas não tinham ainda a noção mais exata do que significaria de incremento de custo devido a piora do estado dos beneficiários ... isso os números já estão “clareando” isso agora !
O caminho agora não pode ser outro ... e tem que ser agora:
· Tanto na saúde pública como na privada, tabular quanto está represado por especialidade, avaliando a variação que ocorreu do antes da pandemia até agora;
· Projetar a tendência, e planejar as ações para cobrir os “gaps” de disponibilidade de rede e, principalmente, de acréscimo no custo que, como os números estão demonstrando, são maiores do que estávamos imaginando ... pelo menos maiores do que eu particularmente imaginei.
O gráfico demonstra bem como podemos enfrentar o problema:
· Ele representa o % de gasto com as internações por Grupos CID em 2019, 2020 e 2021 em relação ao total;
· Estes percentuais, em situação de normalidade, como vimos nos anos anteriores a 2020, não variavam tanto;
· Mas a pandemia mudou o perfil epidemiológico do financiamento ... é importantíssimo que os gestores se atentem a isso !
A questão que “vale 1 milhão de dólares” ... o que está pesando mais na variação dos gastos nos tratamentos que não são COVID-19 ?
· O adiamento dos tratamentos eletivos do passado que “está aglomerando” agora os atendimentos que estariam mais espaçados no tempo !
· Os efeitos colaterais causados pelas pessoas infectadas pelo vírus em outras doenças, que já sabemos que existem, alguns muito evidentes como a reabilitação do sistema respiratório, mas outros que ainda vamos demorar ainda alguns anos para conhecer em estudos científicos confiáveis, como é o caso de sequelas relacionadas ao sistema nervoso, por exemplo !
· Ou a piora do estado de admissão dos pacientes para realização dos procedimentos em função do adiamento de um tratamento que deveria ter sido feito antes ?
O fascinante na gestão da saúde pública e privada é que em cada especialidade cada um destes parâmetros estará agravado em maior ou menor escala:
· É isso que sugere o gráfico;
· É um exercício que exige atenção por parte dos gestores “financeiros” em conjunto com os gestores “assistenciais” para melhor entendimento de cada cenário e planejamento das ações para mitigar os danos !
Não dá para deixar de lembrar que as melhores análises são, e sempre serão, as baseadas nas contas hospitalares ... como é o caso da construção destes gráficos:
· A conta é o melhor instrumento de gestão tanto para serviços de saúde ... como para operadoras de planos de saúde ... como para o SUS, como para o fornecedor de insumos ...
· A conta hospitalar detalhada só não interessa mesmo para quem vem com a “narrativa de complexidade”, mas com a intenção prática de reduzir o preço pago/justo pelo procedimento !
E não dá para deixar de comentar que os “aproveitadores” da discussão de remuneração baseada em valor ... não os que discutem o assunto de forma adequada – os que se “apoderam” do discurso para reduzir preços ... vão amargar um maior número de projetos fracassados com estas mudanças no cenário epidemiológico:
· Os que levam o assunto a sério já consideram as diferenças regionais e epidemiológicas nos projetos e não vão necessitar esforço para alinhar seus projetos às mudanças de cenário ... ao “novo normal” ... porque desenvolveram suas proposições com base nestes parâmetros (variáveis);
· Os aproveitadores que “jogam” com o desconhecimento dos gestores que não se capacitaram adequadamente para “largar na frente” com o discurso terrorista de “caças às bruxas” ... estes ... na “hora do vamos ver vão continuar lá no final do grid” ... “discursando aquele monte de desculpas” que estamos acostumados a ver !
COVID-19 está nos impondo um exercício de planejamento que vai colocar a prova a capacitação e habilidade dos gestores da saúde pública e privada !!
Se o gestor se aventurar em decisões não baseadas em dados, a sustentabilidade financeira da instituição, seja ela qual for ... pública ou privada ... fonte pagadora, ou serviço de saúde, ou fornecedor de insumos ... estará completamente comprometida !!
Se deixar de lado a aposta, a futurologia, a “horóscopologia” ... vai continuar se dando bem !
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Sobre o autor Enio Jorge Salu
Histórico Acadêmico
· Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo
· Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo
· Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas
· Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta
· Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed
Histórico Profissional
· CEO da Escepti Consultoria e Treinamento
· Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas
· Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares
· CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa
· Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação
· Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas
· Associado NCMA – National Contract Management Association
· Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
· Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria
· Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado