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Quem Ganhou, Perdeu, Vai Ganhar e Vai Perder na Saúde com a Pandemia
0214 – 22/08/2021
Referências: Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil
COVID-19: Bom e Ruim Dentro e Fora da Área da Saúde ... Dependendo Para Quem !
(*) todos os gráficos e tabelas são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil
É incrível saber que muita gente observa o gráfico de queda da média móvel de óbitos já com saudade da época da pandemia em que sua empresa teve a maior rentabilidade da história ... que na área da saúde, como em todos os outros segmentos de mercado, a pandemia está sendo o caos, o sucesso, ou indiferente dependendo da empresa.
Importante iniciar dizendo que tenho especialização em epidemiologia, administração e economia da saúde:
· Não tenho formação em medicina, especialmente em infectologia, pneumologia ou qualquer outra área assistencial;
· As análises aqui não têm a pretensão de defender quais os métodos mais eficazes para conter a pandemia ... confio naquilo que os infectologistas, virologistas e sanitaristas que estudaram a vida inteira para lidar com isso dizem ...
· Também não tem a pretensão de defender os métodos mais eficazes para tratar a doença ... confio naquilo que dizem os pneumologistas que compõem a especialidade médica mais diretamente relacionada com o tratamento da doença
· E confio no que dizem os profissionais que estudaram a vida inteira para tratar dos “efeitos colaterais” que esta terrível doença está impingindo (cardiologistas, psicólogos, educadores físicos ...).
O gráfico ilustra a evolução da média móvel de óbitos por COVID-19 no Brasil em 2021:
· Análises de indicadores isolados como este em epidemiologia sempre dão uma visão inadequada ... levam aos erros;
· Olhando simplesmente este gráfico nos dá a impressão de que o vírus, como se fosse uma nuvem de fumaça expelida por um vulcão na atmosfera, está desaparecendo ... como se em poucos meses o vírus COVID-19 vai ser “mais um dinossauro a estrelar filmes de ficção !”
· Isso está fazendo com que políticos, pressionados por grupos econômicos prejudicados pela pandemia, se utilizem deste indicador para relaxar completamente medidas restritivas.
O reflexo da pandemia na economia tem faces diversas:
· Números divulgados pela área econômica do governo são conflitantes com os divulgados pelos institutos de pesquisa ... como sempre ocorreu ... não é privilégio deste governo, diga-se de passagem;
· Em todos os cantos do Brasil vemos canteiros de obras ... a construção civil vai muito bem obrigado;
· O agronegócio vai “espetacularmente bem” apesar da crise hídrica ... obrigado;
· A indústria da tecnologia vai bem obrigado;
· Serviços de logística, insumos para prestação de serviços à distância ... vão bem obrigado;
· Alimentação ... muito bem obrigado;
· O comércio “Internet Based ... arrebentando a boca do balão”;
· Mas, é claro, os negócios que dependem do contato direto das pessoas ... o turismo, bares e restaurantes, espetáculos, o comércio popular que não atinge consumidores através da tecnologia, entre outros ... muito prejudicados.
Nesta mistura de “muito bem obrigado” e “muito prejudicado” no mundo todo, inegavelmente o efeito da pandemia na vida essencial das pessoas foi muito menor do que havia sido projetado quando “o bichinho” saiu de uma província montanhosa da China e de forma completamente improvável “ganhou o mundo” quase que instantaneamente !
Pois bem ... na área da saúde ... para quem atua profissionalmente na área da saúde ... o cenário é o mesmo:
· Não foi bom ou ruim para todos, muito pelo contrário, estamos tendo um enorme contraste durante a pandemia, que vai se prolongar durante algum tempo após a pandemia;
· O gráfico “meio que traduz” a variação do volume de negócios entre o período “antes da pandemia” e o “período pandemia”, e o período “pós pandemia”;
· Está baseado no volume de atendimentos de algumas especialidades, em empresas que atuam no segmento da saúde pública e privada ... dados captados no DATASUS e ANS !
· Sinaliza o que, na média, ocorreu com “os principais atores” que compõem o mercado de negócios da área pública e privada no Brasil.
Saúde é um dos maiores segmentos da economia mundial ... um dos que mais empregam ... o mais presente em qualquer canto do mundo ... com uma enorme diversidade de instituições, totalmente diferentes umas das outras em tamanho, objetivo societário, objetivo social ... lucro !
Na média, tivemos maior diversidade de atores que estão ganhando com a pandemia:
· Não a maioria das instituições, mas a maioria dos tipos de instituições;
· Porque a maioria absoluta das instituições de saúde “em volume” são consultórios, clínicas ... pequenas empresas com um foco de especialização única (médico, dentista, fisio, psico, fono ...) ... as mais prejudicadas com a pandemia;
· Somente na Cidade de São Paulo, analisando o CNES, contabilizamos mais de 2.000 consultórios multidisciplinares fechados desde o começo da pandemia;
Também na média, vamos ter maior diversidade de atores que vão ganhar no pós pandemia na área da saúde:
· Esta maioria em diversidade (tipos) será menor do que está sendo na pandemia ... mas em volume de instituições será muito maior;
· Porque para colocarmos tudo que era eletivo e foi adiado em dia vamos demorar alguns anos, e justamente as pequenas empresas que ainda sofrem hoje, vão ser “o fiel da balança” para colocar as coisas novamente “nos trilhos”;
· As operadoras de planos de saúde, por exemplo, já estão sentindo que não tem rede suficiente para a demanda;
· No SUS as filas “são galácticas” ... quando a sociedade deixar de pressionar para abrirem os bares e começar a pressionar para que as filas andem, os serviços de baixa complexidade e os profissionais multidisciplinares vão ter mercado de trabalho !
Uma coisa é certa ... a pandemia mudou completamente o perfil epidemiológico da população em função do descompasso dos protocolos de tratamento ... da elevação do diagnóstico tardio ... da desinformação que “a politização covarde” impôs na prevenção.
A “politização covarde” vai agora impor o relaxamento das medidas preventivas sem base sólida ... já preocupa o que está ocorrendo na Cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, e preocupa muito o que pode acontecer na Cidade de São Paulo daqui a uns 15 dias ...
A mudança de perfil dos pacientes de todas as doenças em consequência do COVID-19 já mudou e vai continuar mudando a configuração dos serviços de saúde. Já estão muito diferentes do que eram antes da pandemia, e vão ter que se alinhar novamente quando a pandemia acabar.
E por “consequência das consequências” acima, mudou e ainda vai mudar o perfil atuarial das carteiras de beneficiários das operadoras de planos de saúde ... e do próprio SUS financiador da saúde pública.
A história da gestão da saúde pública e privada no mundo passará a ser contada em “3 eras” muito distintas: antes, durante e após a pandemia.
A era que hoje chamamos de crítica ... a de menor duração e maior impacto na história ... a “durante” ... será a menos lembrada pelos gestores que têm um desafio gigantesco pela frente:
· Ajustar ... alinhar ... tudo que tinham de ativos antes da pandemia, com o que será necessário no pós pandemia;
· E não será tarefa fácil, porque é a primeira vez que a gestão profissional da saúde privada e pública no mundo está lidando com um pós pandemia de tamanha proporção ..
· Nas pandemias anteriores, comparadas com a da COVID-19, ou eram menores, ou não existia gestão da saúde pública e privada nos moldes que temos hoje ... com o nível de regulação e infraestrutura que temos hoje !
Mas quando será este pós pandemia ?
Vamos despolitizar o tema ?
Os governos (federal, distrital, estaduais e municipais) estão se valendo dos índices de vacinação e “a fotografia”... o flash ... da ocupação de UTIs para se posicionarem politicamente:
· Como ilustrado no gráfico da esquerda, fazem propaganda do tipo “sou o máximo”, estou vacinando assustadoramente rápido a minha população ... no meu país estou vacinando mais rápido que os outros ... no meu estado estou vacinando mais rápido que os outros ... cidade ... e assim vamos assistindo os discursos;
· E com isso se respaldam para o “liberô geral”, “dia nacional da libertação das máscaras” ...
· Assim, ao mesmo tempo que cedem à pressão dos grupos econômicos prejudicados pela pandemia, já jogam uma âncora nas eleições do ano que vem.
A realidade ... “pés no chão” ... é o gráfico da direita:
· Ele ilustra a evolução da população não imunizada ... os que ainda não tomaram a dose única, ou as duas doses;
· É fácil notar que a curva “não cai” com a mesma inclinação “que sobe” no primeiro gráfico;
· Quando se tem 1 vacinado e se vacina outro, temos 100 % de aumento em relação aos que estão sendo vacinados ...
· Mas 1 e 2 em um universo de mil, dez mil, cem mil ... milhão ... quanto maior o denominador ... é nada ! ... longe do que seriam os 50 % (o inverso do 100 %) !
Sem entrar no mérito do que deve ser feito ou não, fazendo uso da minha especialização declarada no primeiro parágrafo:
· A análise aqui não defende o distanciamento ou não ... o uso de máscara ou não ... cloroquina ou não ...
· A questão é: se uma ação foi adotada, qual o indicador que dá suporte para que ela seja relaxada ?
· A questão é: o que faz com que já se mudem as condutas ... as opiniões ?
Vamos mesclar o primeiro gráfico (média móvel de óbitos) com este segundo (população não imunizada) ?
· COVID-19 ainda está matando no Brasil quase 6 pessoas por milhão de não imunizados;
· Um indicador gigantemente maior do que o da maioria dos países que possuem um sistema de saúde público minimamente estruturado;
· Um péssimo indicador quando comparamos com os países da “zona do Euro” ... e até com alguns de nossos vizinhos;
· Mesmo com o aumento da disponibilidade de leitos de UTI, do aprendizado que os profissionais de saúde hoje têm no tratamento da doença ... mesmo assim, continua matando praticamente a mesma proporção de não imunizados do que março de 2021 !
A questão é ... se foi adotada alguma ação em março ... não importa qual ... por que em agosto deve ser diferente ?
Não ficou claro ? ... vamos observar os mesmos gráficos mudando apenas a linha de tendência:
· Temos uma queda “ridícula” na inclinação da linha de tendência da média móvel de óbitos quando comparamos com a inclinação da linha de tendência de óbitos por milhão de não imunizados;
· O simples fato da linha de tendência dos óbitos por milhão de não imunizados ainda não apresentar tendência clara de queda já seria suficiente para entendermos que a imunização ainda não é suficiente para mudar o perfil da doença !
Para efeito de controle da doença não interessa quantos óbitos temos em relação a população total:
· Este indicador (óbitos em relação a população total, em relação a população imunizada) serve para calcular a eficiência da vacina ... para sabermos se ela adianta ...
· Graças a Deus já sabemos há algum tempo que a vacina funciona ... que o Brasil escolheu imunizantes que são eficazes ... que não colocou placebo no braço da população ... graças a Deus porque havia uma grande chance disso acontecer !
Mas número de óbitos pela população total não serve para sinalizar se estamos com a doença controlada:
· Somente quando a proporção de óbitos for menor em relação à população desprotegida ... a não imunizada ... for menor estaremos seguros;
· E quando for muito menor, diga-se de passagem ... 6 por milhão é “show de horror” !
O cenário anima e desanima:
· Por um lado estamos vacinando ... mais lentamente do que poderíamos, mas estamos ...
· Por outro temos uma grande parcela da população que não quer se vacinar;
· E infelizmente para que a imunização da população ocorra, teríamos que ter todos dispostos a colaborar.
Não temos ... não vamos ter ... aqui é Brasil:
· Vamos lembrar que a adesão à campanha de vacinação contra a gripe é baixa ... vamos lembrar que aumentou muito nos últimos anos a quantidade de mães que não levam seus filhos para vacinar contra a poliomielite !
· Tem muita gente disposta a pagar por um comprovante de vacinação fraudado, do que se vacinar gratuitamente contra COVID_19 !!
· Hoje somos um país de grupos populacionais inimigos e intolerantes uns com os outros que compartilham o mesmo espaço físico !!!
Então ...
· Os gestores e empresários que atuam na área da saúde em instituições que estão lucrando com a pandemia ainda têm tempo para aproveitar a oportunidade ...
· Os outros ... infelizmente ... ainda devem amargar alguns meses dificuldade.
Mas uma coisa é certa para uns e para outros ... planejar ... projetar onde o seu caso se enquadra, por exemplo, na tabela ilustrativa acima ... definir o que deve ser feito para alinhar ao que vai acontecer no pós pandemia ... já passou da hora ... a seara vai estar lá para quem estiver preparado !!!
Divulgamos na página www.jgs.net.br a agenda dos cursos da Jornada da Gestão em Saúde ... como sempre: vagas limitadas ... turmas pequenas !
Conheça o estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil www.gesb.net.br !
Informações adicionais contato@escepti.com.br !
Sobre o autor Enio Jorge Salu
Histórico Acadêmico
· Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo
· Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo
· Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas
· Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta
· Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed
Histórico Profissional
· CEO da Escepti Consultoria e Treinamento
· Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas
· Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares
· CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa
· Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação
· Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas
· Associado NCMA – National Contract Management Association
· Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
· Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria
· Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado