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Preço dos Medicamentos Remete ao Controle de Custos e Renegociação dos Pacotes

0238 – 06/11/2021

Referências: Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil

Inflação Oficial “x” Inflação Real Sempre “Causando” na Rotina do Gestor da Saúde Privada e Pública

 

(*) todas as ilustrações são partes integrantes do material didático dos cursos Escepti e do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil

 

O gráfico , dentre os medicamentos “homologados” pela ANVISA, demonstra o percentual de reajuste de preços entre 2019 (antes da pandemia) e 2021 (“núcleo duro” da pandemia):

·         Mais ou menos a metade deles ficou no mesmo patamar de preços;

·         Tivemos quase 20 % de medicamentos novos ... na verdade não são novos ... abaixo a explicação;

·         E aproximadamente 30 % tiveram reajuste acima de 12 % ... maior que a inflação oficial dos 18 meses – sem comparar com a inflação oficial “aviltante e acusada de manipulada” dos últimos 3 meses !

Somente este gráfico já é suficiente para afirmar que gestão da precificação e dos custos em saúde não é coisa para amadores:

·         Nesta semana que inicia vou ter a oportunidade de dar continuidade em programas de capacitação de custos para gestores de Unimeds vinculadas a Federação do Estado de São Paulo, e para gestores do Grupo Hospitalar Americas Health;

·         Este tema acaba “sinergindo” com o interesse das fontes pagadoras dos serviços de saúde ... me sinto um privilegiado por poder discutir temas como estes com gestores de um lado e de outro da mesa, sem viés ... como o que está sendo posto aqui !

Todos conhecemos uma infinidade de índices de inflação (IGPM, IPC ...) e sabemos que na prática nenhum deles representa a inflação real que nos afeta:

·         É só calcular quanto pagávamos por uma pizza há alguns anos, e verificar se existe algum índice que chega perto;

·         Pode fazer isso com o preço da gasolina, do pão, do leite ... do cinema, daquele lanche daquele fast food ...

·         Por se tratar de média, o índice serve para sinalizar tendências, orientar ações estratégicas e infelizmente alimentar especuladores do mercado financeiro e de bens duráveis ... mas não serve para refletir a realidade em cenários específicos, que são os que nos afetam realmente;

·         Eu não sou afetado pela inflação da mesma forma que você ... nem mesmo se comparar com a minha esposa, casados e vivendo juntos (quase 40 anos ... raridade hoje em dia não é verdade ?) – a inflação “que afeta a ela” é completamente diferente “da inflação que me afeta” !

Na saúde é assim ... olhando para o gráfico é muito fácil entender:

·         Os serviços de saúde não consomem os mesmos medicamentos;

·         E mesmo nos que são comuns entre um e outro, o consumo não é na mesma proporção;

·         Se o medicamento for um elemento importante na precificação do serviço de saúde, e consequentemente no custo da operadora ou da secretaria de saúde ... trabalhar com o preço deles é “um jogo de xadrez”: é necessário entender os movimentos do mercado para planejar o que se deve fazer !

 

 

Se “pegarmos” um medicamento específico podemos nos deparar com deflação:

·         O gráfico da esquerda demonstra o valor PF do medicamento nos anos 2019, 2020 e 2021;

·         E o da direita as variações anuais – entre 2019 e 2020 aumento, e entre 2020 e 2021 redução, e no final entre 2019 e 2021 queda de quase 10 % no preço.

 

 

Mas “pegando” outros, vemos aumento:

·         Nos dois casos, como demonstra o caso da esquerda, aumento praticamente constante ao longo dos anos;

·         No final, um aumentou 10,22 % e outro 14,98 % ... quase 50 % de diferença !!!

Mas se não notou ainda (olhou bem os medicamentos do gráfico ?): é a mesma substância ... o mesmo “sal”:

·         Isso ocorre (em parte) porque o Brasil resolveu tabelar preços de medicamentos – tabelamento de preços não funciona ... o mercado se utiliza de outros mecanismos para ajustar o preço a inflação real;

·         Como os preços são fixados por “uma combinação” de produto, fabricante e apresentação do medicamento na embalagem ...

·         Se o reajuste autorizado não cobre os custos do fabricante, ele descontinua uma determinada apresentação e lança outra;

·         Ou justifica a necessidade do aumento por algum componente associado à apresentação do produto, e não ao produto especificamente;

·         E não podemos criticar isso, porque ninguém vai fabricar alguma coisa para ter prejuízo ... temos que agradecer pagar mais caro e curar a doença do que não ter medicamento e não combater a doença ... é o que nos resta !

 

 

“Pegando” outros dois medicamentos:

·         Os aumentos foram “sinistros” entre 2019 e 2021;

·         Beirando 100 % ... e com muita chance de aumentar mais entre 2021 e 2022 !

Entendendo o cenário ...

Infelizmente o governo brasileiro (federal, distrital, estaduais e municipais) em todos os tempos (atuais e antecessores) “enxergam” a saúde como custo ... não como oportunidade de desenvolvimento:

·         Países menores (em tamanho e riqueza) que têm visão diferente lucram com o desenvolvimento de inovação em saúde (medicamentos, equipamentos, materiais);

·         Nós optamos por importar insumos para produzir e pagar royalties para os donos da tecnologia;

·         Optamos por privilegiar o lucro de uns poucos empresários e políticos que lucram com este caminho;

·         Então se o presidente, o ministro ... se um político mal preparado qualquer ... fala uma bobagem ... o dólar sobe, e sobe o preço dos insumos que necessitamos na saúde: materiais e medicamentos !

·         Alguns insumos sofrem mais, outros menos ... mas na média: a saúde “paga a conta” do ganho dos especuladores !!

O gestor da saúde, privada ou pública, tem que lidar com isso !

Se o medicamento é vendido em contas abertas:

·         O serviço de saúde simplesmente repassa o preço;

·         Cabe a fonte pagadora a gestão do custo: a sinistralidade que não tem a ver com erro, desperdício, fraude ou inovação – a sinistralidade imposta por condições do mercado e não pelo aumento do consumo por parte dos beneficiários.

Se o medicamento é vendido em contas do tipo pacote, temos 2 cenários:

·         Em um deles o cenário é parecido com o das contas abertas ... apenas “escorregando” o reajuste para a época do reajuste da tabela negociada;

·         Em outro, a operadora se livra da variação do preço do medicamento, e cabe ao serviço de saúde analisar a viabilidade de continuar atendendo pacientes da fonte pagadora enquanto o reajuste do pacote não compensar a sua inviabilização econômica.

Já nas redes próprias de operadoras de planos de saúde, e nas secretarias de saúde ...

·         O que se deve fazer é tentar negociar os preços com os fornecedores ... e tentar identificar a possibilidade de substituir dos protocolos um medicamento mais caro por um mais barato;

·         “O estrago é inevitável” ... e a agenda do gestor privado ou público de redes próprias e orçamentos baseados em históricos é mitigar o prejuízo “líquido e certo”;

·         A vida deles não é o que podemos considerar de ‘fácil” !

 

 

É mesmo um “jogo de xadrez”:

·         Quando estratificamos os grupos de medicamentos vemos “uma gangorra” de variações de preços;

·         Em grupos absolutamente próximos vemos deflação, estabilidade, e inflação pequena e grande ... é como se a inflação fosse calculada com base em “uma bolinha caindo aleatoriamente em uma das “casinhas da roleta de um cassino” !

·         Cada gestor, dentro do seu negócio, seja em um hospital, clínica, centro de diagnósticos, ambulatório ... seja em operadora de planos de saúde, secretaria de saúde ... seja no sistema de saúde público (SUS) ou os privados (saúde suplementar regulada pela ANS e saúde suplementar não regulada pela ANS) ... somente cada um em seu negócio específico ... tem propriedade para avaliar o impacto da variação dos preços dos medicamentos;

·         Quantas vezes é necessário dizer: somente o gestor pode conhecer profundamente seu negócio ... as “técnicas consagradas” para gestão de tudo” são as mesmas ... o resultado da aplicação delas depende de cada gestor !!

Disso tudo o que é indiscutível ?

·         Como os demais índices de inflação (divulgados por entidades de classe pela mídia), a tendência de aumento de preços na área da saúde é “simplesmente assustadora”;

·         O gestor de serviço de saúde que não avaliar adequadamente a necessidade de rever os preços dos pacotes que são reajustados por índices gerais vai fazer com que sua empresa acabe pagando para fazer o procedimento ao plano de saúde – como se perguntasse: quanto você quer receber para que eu faça para você ?

·         Um gestor de operadora que paga contas abertas e não se atentar ao fato vai estourar o orçamento mais rapidamente do que poderia imaginar;

·         O gestor que faz a gestão de serviços próprios de operadoras ou de secretarias de saúde e não ajustar seu orçamento vai ver o resultado do fluxo de caixa “grafado” com números vermelhos e “um sinalzinho de menos” à esquerda !!

Quero aproveitar o espaço para comunicar que as vagas para o curso de 36 horas do primeiro trimestre de 2022 (a mentoria em gestão da saúde) já esgotaram ... 2 meses antes do início ! – fico muito honrado em mais uma vez poder contar com a confiança dos inscritos: gestores de “todos os lados da mesa”: hospitais, operadoras e fornecedores – poder trocar experiências com eles “não tem preço” !

Conheça os cursos da Jornada da Gestão em Saúde     www.jgs.net.br   !

Conheça o estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil, e os seminários temáticos     www.gesb.net.br     !

Informações adicionais     contato@escepti.com.br  !

 

Sobre o autor Enio Jorge Salu

Histórico Acadêmico

·  Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo

·  Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo

·  Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas

·  Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta

·  Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed

Histórico Profissional

·  CEO da Escepti Consultoria e Treinamento

·  Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas

·  Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares

·  CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa

·  Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação

·  Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas

·  Associado NCMA – National Contract Management Association

·  Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde

·  Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria

·  Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado