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2022 - O Ano da Inadimplência na Saúde Suplementar Regulada

0246 – 19/12/2021

Referências: Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil

Operadoras sob regulação inadequada, e o reflexo para os hospitais será inevitável - atraso nos pagamentos

 

 

(*) todas as ilustrações são partes integrantes do material didático dos cursos Escepti e do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil

 

Os gráficos foram produzidos com base nos dados publicados na página da ANS:

·         O da esquerda resume a situação do fechamento do segundo trimestre de 2021 (até junho);

·         O da direita a situação no fechamento do terceiro trimestre de 2021 (até setembro);

·         Seguindo o “timing” histórico da ANS para divulgar dados financeiros das operadoras, “se Deus quiser” vamos ter os dados do fechamento de dezembro 2021 somente “lá para maio de 2022” ... infelizmente !

Os percentuais representam a proporção de operadoras que estão com resultado negativo:

·         Receitas de Contraprestações + Outras Receitas – Despesas Assistenciais – Despesas Administrativas – Despesas Comerciais – Outras Despesas;

·         2020 foi “o ano das operadoras”, com lucros inimagináveis para os mais otimistas ;

·         2021 já é um ano para as operadoras esquecerem ... ainda nem acabou e a maioria já está com a “fonte do número mais abaixo da planilha em vermelho” !

·         2022 ... infelizmente ... !!!

O aumento % de operadoras com resultado negativo ocorre em todas as modalidades:

·         A modalidade que apresenta menor proporção de operadoras que já estão apresentando resultado negativo é a das cooperativas médicas;

·         É a única modalidade que não apresenta a maioria das operadoras com resultado negativo, mas ... mas .. o ano ainda não acabou ... para nós restam alguns dias ... para os dados divulgados pela ANS ainda restam 3 meses “terríveis”;

·         O “olho do furação da pandemia” foram os 2 primeiros trimestres de 2021, onde “as eletivas” ainda estavam “minguando” ... o segundo semestre está sendo de plena pressão nas operadoras;

·         Então este % de 35 % de cooperativas com resultado positivo deverá despencar ... só vamos ter visibilidade quando a ANS nos fizer o favor de permitir avaliar, já perto do segundo semestre do ano que vem !

 

 

Quando analisamos uma operadora específica ... qualquer uma delas ... fica bem claro o quanto o cenário é preocupante:

·         A tabela ilustra resultado de uma delas em 2019, 2020 e 2021;

·         O quadro “de cima” o resultado em 2021 até junho;

·         O quadro “de baixo” o resultado em 2021 até setembro;

·         Em apenas 1 trimestre “a dívida” desta operadora cresceu mais do que “o lucro” que ela teve em 2020 ... que foi o maior lucro que ela já teve;

·         O prejuízo dela em 2021, ainda faltando os “3 terríveis meses de contabilização” já é 26 vezes maior do que o lucro total dela em 2019 !

 

 

Esta é uma outra operadora, da mesma modalidade diga-se de passagem:

·         A característica dos números entre 2019 e 2020 é a mesma ... na verdade a característica é a mesma em praticamente 100 % das operadoras de qualquer modalidade;

·         Em 2021 ela ainda não está apresentando prejuízo;

·         No caso desta, o ritmo de “crescimento da dívida” entre o segundo e o terceiro trimestres lhe permite “a esperança” de que mesmo crescendo o prejuízo no terceiro trimestre, pode ser que não fique negativo.

·         Mas mesmo que “não amargue” prejuízo em 2021, corre o risco de seu resultado ser menor que em 2019 ... já é muito ... mas muito ... mas muito menor que em 2020 !

 

 

Nunca vimos uma situação similar na saúde suplementar:

·         A tabela ilustra o resultado das 20 maiores operadoras das modalidades Autogestão, Cooperativa Médica e Medicina de Grupo;

·         Pode contar ... tem mais “números em vermelho’ no resultado do que “em preto”;

·         Desde o ano passado era previsto que 2021 começaria a reverter o “comemorativo 2020”, e que 2022 seria um ano difícil;

·         Mas ... “fala sério !” ... “vamos combinar” que ninguém previu um cenário “de terra arrasada” como este !

Vamos lembrar que este cenário só será revertido:

·         Se a operadora conseguir repassar a sinistralidade para o comprador ...

·         ... cuja maioria são empresas que contratam para seus funcionários ...

·         ... que estão mergulhadas em um cenário de depressão econômica criada por razões meramente políticas ... e o ano que vem é de eleições majoritárias ...

·         ... portanto, nem todas vão conseguir absorver !

O cenário para 2022, infelizmente, é este:

·         A verdade é que a maioria das empresas contratantes, que respondem por ~80 % da saúde suplementar regulada no Brasil ... a maioria ... não quer mais “continuar com a brincadeira” !

·         “Um jogo” que têm regras absurdas definidas na regulação dos planos ... regulação que interessa prioritariamente para os interesses do governo ... não do beneficiário ... não da empresa contratante ... não da operadora ... não do hospital, clínica, CDI, consultório ...

 

 

Não existe um único gestor hospitalar, de hospital que atende pacientes de operadoras, que não esteja preocupado:

·         A preocupação não é “à toa” ... longe disso ... a inadimplência “está batendo às portas dos hospitais” ... não vai bater ... já está batendo !

·         2022 já se define para os hospitais como sendo “o ano das inadimplências das operadoras” !

·         É imperdoável a ANS ter deixado chegar a esse ponto !!

Não dá para afirmar que não era previsto para a ANS ... foram dezenas ( centenas ? ... milhares ? ) de especialistas alertando desde o início da pandemia !

·         Não dá para afirmar que nada se podia fazer ... parâmetros de reserva técnica poderiam ter sido ajustados ... regras especiais para utilização durante a saída da pandemia e entrada no pós pandemia poderiam ter sido alinhadas ... políticas específicas para reajustes em uma situação de exceção poderiam ter sido definidas ...

·         Nada de impacto efetivo foi feito “na Lua Crescente” ... nada “na Lua Cheia” ... agora “nada na Minguante” ... operadoras e hospitais estão “entrando na Lua Nova sem nada para guiar na escuridão”.

Como demonstra a tabela, quem mais sofre são as operadoras menores:

·         As maiores têm estrutura ... tem “inteligência administrativa” para lidar com crises;

·         Por isso, por exemplo, as cooperativas estão com resultado melhor ... as singulares têm uma federação estadual para dar apoio, fazer benchmarkings, fornecer padrões ... suporte da nacional ...

·         Eu por exemplo, pude ministrar cursos para dezenas delas sobre custos, BI, auditoria ... organizados pela Federação do Estado de São Paulo ... e elogiei a iniciativa: como lidar com este cenário sem informação, contenção de custos e compliance ?

 

 

 

 

Ao invés disso:

·         Entrando no site da ANS hoje é isso que vemos como destaques: absolutamente nada que se relaciona com o “holocausto” que discutimos aqui !

·         É como se este cenário preocupante não exista para ela ...

·         ... o importante para ela são os temas burocráticos como reuniões de diretoria, indicação de nomes para a diretoria ...

·         ... o importante para ela é a campanha de conscientização sobre o parto adequado ... que é da alçada da saúde pública ... muito pouco tem a ver com algo que as operadoras possam fazer !

·         ... o importante para ela é continuar patrocinando discussões sobre modelos de remuneração entre operadoras e serviços de saúde ... coisa que não lhe compete !

·         E a “a dor” que o mercado sente ... a agenda da operadora que está “vendendo o almoço para pagar a janta” em um cenário de extrema insustentabilidade financeira ... passa longe da “agenda pirotécnica” ... espetacularmente divulgada no seu web site !

Não se dispôs nem mesmo a fazer:

·         Uma cartilha “despolitizada” sinalizando sobre o risco que “a tempestade que viria” traria para a sustentabilidade das operadoras ... sugerindo ações preventivas para a retomada da produção assistencial;

·         Programas de capacitação para as operadoras que não têm estrutura organizacional evoluída ... para que pudessem lidar com isso ... a maioria nem sabe que tipo de capacitação necessita;

·         Quanto mais adaptar a regulação para um cenário de absoluta exceção “mais do que previsto” ... líquido e certo !

·         Com uma postura inaceitável destas ... não é injusto criticarmos ... não é uma “questão de opinião” ... de “achismo” ... é fato comprovado por números do setor colhidos na própria base de dados dela !!

 

 

Esta tabela sintetiza bem a diferença entre como a ANS observa o mercado ... e como o mercado é:

·         Tivemos entre 2019 e 2021 (até setembro) aumento do número de beneficiários de planos de saúde;

·         De ~47 milhões para ~48,5 milhões ... aumento de 1.455.277, para ser preciso;

·         Então a agencia reguladora “e os desavisados” comemoram que o mercado não reduziu durante a pandemia ! ... que saúde suplementar “não precisa tomar vacina contra o vírus porque tem anticorpos” !

Mas:

·         Do total de 772 operadoras, 372 delas (~48 % delas) tiveram queda no número de beneficiários ... quase metade das operadoras encolheram em volume de beneficiários;

·         E houve substituição de beneficiários de planos mais abrangentes do que tinham antes ... migraram de planos mais caros e melhores por planos mais baratos e piores ... alguns dos que cresceram em volume de beneficiários dão uma “pequena impressão” de se tratar de planos de saúde “decentes”, se é que me entende !

·         O resultado é que, comparando o resultado que as operadoras estão tendo em 2021 em relação ao de 2019, ~55 % delas já estão tendo resultado pior em 2021 do que em 2019 ... e faltam em 2021 ainda 3 meses “de seca profunda”;

·         O mercado real é, na média, aumento de beneficiários de planos de baixa qualidade e menor preço, e consequente queda de rentabilidade ... um mercado em recessão;

·         Parte dos clientes “sem dinheiro para comprar comida”, e parte substituindo “a carne e o tomate pelo ovo e farofa pronta” ... parte “buscando osso no lixo para fazer sopa” ... e gente comemorando que “ninguém está passando fome” !

Toda a cadeia de valores da saúde suplementar vai sofrer muito em 2022 por conta disso: operadora, hospital, clínica, CDI, fornecedor ... quantos funcionários perderão o emprego por conta disso ?

·         Porque as operadoras pequenas que não têm uma “mantenedora” ou algo parecido para dar suporte vão agonizar em 2022 ... e vão atrasar pagamentos aos hospitais, querer negociar dívidas “na base de descontos” ... na “gíria” mais utilizada: “vão ter que ajoelhar no milho” !

·         No momento em que será absolutamente fundamental para a sustentabilidade das operadoras uma gestão profissional, sem amadorismo, sabemos que entre as quase 800 de AM que existem, pouquíssimas entendem o significado disso !

Para as operadoras que “ainda não acordaram” fica uma sugestão:

·         Se existe insegurança para diagnosticar e definir o que fazer, é melhor quebrar os paradigmas e buscar ajuda;

·         2022 será um ano muito difícil;

·         Não espere que a ANS venha a fazer algo para ajudar – o histórico já demonstrou que isso “não faz parte do DNA dela” ... e em ano de campanha eleitoral o que interessa é “olho nas pesquisas e articulação política” ... não duvide disso !

 

 

E para os gestores hospitalares fica uma sugestão:

·         Construir uma tabela como esta, com seus maiores clientes, e a variação do número de beneficiários e do resultado delas entre 2019 e 2021;

·         Ela vai sinalizar seus maiores riscos de inadimplência, que vão refletir nos seus compromissos com funcionários, parceiros comerciais e fornecedores;

·         E definir diretrizes para demonstrar parceria com elas neste momento !

·         Alguma flexibilização poderá até significar um resultado menor para o hospital no curto prazo, mas certamente o momento vai servir para solidificar parcerias no médio e longo prazos !

Conheça os cursos da Jornada da Gestão em Saúde     www.jgs.net.br   !

Conheça o estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil, e os seminários temáticos     www.gesb.net.br     !

Informações adicionais     contato@escepti.com.br  !

 

Sobre o autor Enio Jorge Salu

Histórico Acadêmico

·  Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo

·  Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo

·  Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas

·  Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta

·  Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed

Histórico Profissional

·  CEO da Escepti Consultoria e Treinamento

·  Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas

·  Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares

·  CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa

·  Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação

·  Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas

·  Associado NCMA – National Contract Management Association

·  Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde

·  Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria

·  Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado