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ESG e Inclusão na Área da Saúde como alguns discursam, é Piada Pronta

0247 – 24/12/2021

Referências: Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil

Discursos “versus” Realidade do Racismo, Machismo, Homofobia, Gerofobia, Gordofobia e Descaso com o Meio Ambiente

 

 

 

(*) todos os gráficos e tabelas são partes integrantes dos Cursos Escepti e do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil

 

Observar o que algumas instituições do segmento da saúde discursam sobre ESG e Inclusão seria engraçado, se não fosse trágico:

·         Somos um dos países que mais discriminam pessoas ... e cada vez mais um dos que mais poluem e destroem o meio ambiente no mundo;

·         As instituições do segmento da saúde são espelho fiel da nossa cultura e realidade;

·         Fomos ensinados a agir assim e nos acostumamos a tolerar o cenário ... vamos demorar algumas gerações para que as coisas efetivamente mudem;

·         Ver instituições do segmento da saúde discursando que são inclusivas, que estão alinhadas com ESG ... não colabora !

Tem gente que ainda acha que não existe racismo no Brasil ... dá para acreditar ?

·         Um dia (muito recentemente) surgiu o início da “onda da Variante Ômicron” no mundo indicando origem em alguns países da África, e isso bastou para que imediatamente colocássemos restrições para a entrada de pessoas que vinham de lá;

·         Desde o início da pandemia não tivemos uma única ação do ministério da saúde tão imediata para distanciamento social como esta ... sempre uma resistência abissal quando se fala do assunto no âmbito federal ... neste exemplo não se colocou a necessidade de fazer “consulta pública” para validar uma decisão técnica e adiar ... não é verdade ?

·         Mas no dia seguinte ... um dia imediatamente depois do fechamento da “fronteira aérea” com estes países ... foi amplamente noticiado que havia “registro da cepa” na Holanda antes do registro nos países da África ... e nada foi feito para restringir “os branquinhos” quem vinham da Holanda e países do Bloco Europeu ! ... não é porque sou branco que não tenha me sensibilizado ... não é possível negar ser um exemplo clássico do que está impregnado na nossa cultura !

Até entendo que órgãos públicos estão reféns de 500 anos de cultura racista, e que isso não é fácil de reverter:

·         Não é fácil mudar 500 anos de história em uma colonização de países que escravizaram negros, dizimaram civilizações nativas fora do “velho continente” e não sofreram qualquer “sanção histórica” por isso ... até hoje países europeus que discursam “liberdade, fraternidade e igualdade” mantém colônias nos outros continentes !

·         O estrago feito nas civilizações dos Incas, Maias e indígenas das Américas do Norte, Central e Sul, por exemplo, foi muito maior do que o holocausto ... quem conta a história sempre são os vencedores ... no caso das Américas, por exemplo, não houve resiliência ... civilizações exterminadas e “meia dúzia de catequizados” ... por maior que tenha sido o holocausto, a civilização prejudicada sobreviveu para contar a história ... graças a Deus !

Órgãos públicos são reféns da cultura racista:

·         É claro que são ... é claro que ela existe !

·         São raríssimos líderes, representantes e porta-vozes das instituições públicas de cor negra ... gays ... isso não ocorreria se não existisse o racismo estrutural que permeia nossas vidas !!

·         Já tivemos presidente mulher, mas por um cenário político específico, que tinha “todo um establishment” interessado na “continuidade de poder de um grupo” para conduzi-la ao cargo;

·         Estamos em um ano pré-eleitoral e até agora, como sempre, todas as vias prioritárias de articulação são masculinas;

·         A opção feminina que surge vai encontrar, como encontraram todas as candidatas independentes do “establishment” do passado, uma enorme resistência machista !

·         Veja: muitos cogitam ser ela a candidata ideal para vice em uma coligação “para puxar votos femininos” ... raros cogitam coligação em que ela seja a candidata a presidente tendo como vice “um homem de peso” para puxar votos ... é assim que somos !

 

 

Recentemente li matéria de um “representante” de um complexo hospitalar enaltecendo o fato de que a sua organização é um exemplo de alinhamento ao ESG:

·         ESG, sigla em inglês para "environmental, social and governance" (ambiental, social e governança, em português), é usada para medir as boas práticas ambientais, sociais e de governança das empresas;

·         O complexo hospitalar citado é extremamente poluidor ... viu a cidade crescer ao seu redor e não “arreda o pé” de sair do lugar, mesmo com a região não suportando mais a sua existência ... quando foi criado a região era deserta ... hoje ele é um “estorvo” para a região;

·         Uma instituição que faz transitar em um núcleo urbano com uma das maiores densidades populacionais do mundo, caminhões com material infectado, dejetos químicos e biológicos ... consome uma energia proporcionalmente gigantesca porque “cresceu para cima” encravado na maior densidade de edifícios da cidade e, portanto, tem dificuldade em “respirar naturalmente”, fazendo uso de transporte vertical excessivo, ar-condicionado em excesso ...

·         Que faz com que milhares de profissionais (dezenas de milhares) que atuam em ambiente hospitalar, e naturalmente hospedam agentes de infecção, se espremam em meios de transporte público onde a distância da cabeça de uma pessoa para a cabeça da outra no horário de pico não chegue a 10 cm, espalhando do agentes infecciosos “em massa”;

·         Admiro a instituição ... sei o que representa para a saúde ... sua importância ... entendo a dificuldade de sair do local em que está e ir para outro ... tenho “admiração canina” pela maioria absoluta das personalidades que mantém a imagem de excelência assistencial da instituição ... aprendi muito com eles .. tenho orgulho de ter feito parte da história da instituição – muito orgulho !

·         Mas não dá para compactuar com um discurso de alinhamento com ESG !

·         Não dá para entender por que uma instituição como esta precisa discursar assim ... ela não precisa (nunca precisou) deste tipo de coisa para se projetar ... e não há problema algum em não estar alinhada aos modernos conceitos “politicamente corretos”, porque cumpre com absoluto destaque seu papel social sem necessitar de “discursos markentirosos” !

 

 

Em agosto estive atormentado com o excesso de propagandas de algumas empresas do segmento da saúde que se dizem inclusivas:

·         Algumas propagandas diretas e algumas em forma de merchandising, inserindo entrevistas com dirigentes de empresas que se dizem “do bem” na mídia;

·         Comecei a questionar se estava fora da realidade ... será que o mundo já mudou e não estou percebendo ? ... será que estou desconectado da realidade ?

Ao perder o sono uma noite resolvi fazer “tirar a prova”:

·         Peguei um currículo que um aluno havia me enviado (um currículo muito bom) e maquiei em diversas cópias diferentes, com fotos diferentes (homem, mulher, branco, negro, gordo, magro, jovem e idoso) e, é claro, identificações diferentes e contas de e-mail de provedores diferentes ... mas o conteúdo (experiência, formação ...) tudo exatamente igual;

·         E cadastrei nas páginas de vagas de algumas destas empresas ... foram ~ 50 cadastros em vagas diferentes;

·         Até hoje (6 meses depois) tive poucos retornos, o que era esperado quando se trata destes meios de acesso às vagas oferecidas pelas empresas;

·         “Curiosamente” nos CVs selecionados não tinha foto de pessoas negras, nem pessoas de idade, nem gordas ... e para os cargos de maior nível hierárquico: nenhuma mulher;

·         É “deprimente” constatar que não estou fora da realidade ... não estou desconectado;

·         Mas serve para que não perca mais o sono pensando nisso ... as empresas que aparecem fazendo “pirotecnia” sobre ESG e inclusão discursam uma coisa e praticam outra !

Empresas podem até “decretar” para a sua estrutura organizacional uma coisa, mas são geridas por pessoas ... e as pessoas, em sua maioria, não são inclusivas, não se preocupam com o meio ambiente ... assim foram “educadas”:

·         Uma pessoa com quem nunca tive contato presencial, um dia em uma reunião pela Internet comentou “pensei que você fosse mais magro” ... não vai aqui nenhuma crítica pessoal, e nem acusação de alguma coisa ... não sou magro, nem gordo ... apenas ilustra como de forma subliminar as pessoas não conseguem ser objetivas no relacionamento profissional desprezando “padrões estéticos” construídos por toda uma vida, dentro do seu “meio ambiente social”, mais ou menos carregado de “conserva discriminatória” ... só cito o evento porque ocorreu justamente na época que estava fazendo o teste motivado pela “perda de sono”;

·         Uma vez em uma reunião em que estavam sugerindo pessoas para representar a imagem da instituição, com participantes em sua maioria mulheres, todos os nomes sugeridos eram de homens ... quando comentei: não tem nenhuma mulher que possa fazer parte da lista, senti que o grupo achou que estava querendo “fazer política” com as presentes que, reforçando, elas mesmas não haviam sugerido mulheres – a cultura machista da sociedade é “um mantra” entre as próprias mulheres !

·         Se andar “pelas cercanias” de um complexo hospitalar qualquer ... qualquer um ... vai ver muito ... mas muito ... mas muito mais “mulheres uniformizadas” do que homens – mas se participar de reuniões com pessoas do mais elevado escalão verá que, na média, elas são minoria ... até ocupam a maior parte do escalão tático, mas são raras no escalão estratégico, nos conselhos administrativos ... ali até existem, mas são raras ... e estamos falando de instituições onde a maioria da mão-de-obra é feminina !

·         As recepções de atendimento de pacientes em hospitais, clinicas, consultórios, CDIs ... parecem balcões de atendimento em fast foods ... são raríssimas as “pessoas de idade” ... apesar dos mais velhos terem mais habilidade para lidar com pessoas, as empresas acham “mais valor” em ter pessoas jovens fazendo isso ... ocorre também nas operadoras de planos de saúde nos locais de atendimento de beneficiários ... na área comercial dos fabricantes e fornecedores de insumos para a área da saúde ... somos uma sociedade  gerofóbica;

·         Ao chegar nesta idade conheço uma infinidade de excelentes profissionais que não conseguiram se recolocar em empregos depois dos 50 anos ... não conheço qualquer um que tenha conseguido isso nessas empresas que se dizem inclusivas ... nesta idade estamos acostumados a “ler na expressão nos olhos das pessoas” como diferenciam o tratamento de velhos e jovens profissionalmente ... os olhos das pessoas não mentem !

·         A propósito, isso foi uma das razões, não a principal, que me fez decidir empreender em uma empresa de consultoria quando deixei de ser executivo em empresas ... uma das motivações foi: melhor empreender cedo e construir uma forma de sustento sem depender de processos de seleção para vagas de emprego, porque quando a idade chegar à “rejeição inclusiva” será maior do que a minha eventual competência;

·         Empresas não me contratariam nesta época da vida para fazer “parte do time” ... mas também não me sinto ofendido por isso: não sinto intenção das pessoas ou das empresas em prejudicar “maiores de 50” – é a conserva cultural da nossa sociedade – é algo culposo ... não é doloso !

Vai demorar algumas gerações para mudar:

·         A minha se formou achando graça de “piadas de pretos”, “de bichas” ... era absolutamente normal, e fazia muito sucesso no horário nobre da TV;

·         A dos meus filhos com padrões de beleza tipo “Boneca Barbie” ... do gordo que só servia para fazer papel de “cobrador de aluguéis ou de Ñoño”;

·         E ainda vemos filmes e games eletrônicos que destroem cidades, utilizam armas devastadoras, e super-heróis com corpos esculturais, rostos desenhados quase que igualmente dentro do “padrão de beleza” branco, magro, cabelos lisos;

·         Os profissionais que atuam na área da saúde são formados com “esta influência determinante”, como qualquer outra pessoa.

E a consequência natural, por exemplo, são pessoas sendo barradas para ocupar cargos por opção sexual:

·         “E olha” que a área da saúde é das menos homofóbicas que existem ... infelizmente não dispomos de números para provar – quem “milita no meio” certamente concorda;

·         Mas não é isenta de homofobia !

·         A área da saúde é racista, homofóbica, gerofóbica e gordofóbica ... longe de existir empresa que possa “posar para foto” como sendo modelo em ESG e inclusão ... ouvir falar disso é “piada pronta” !

·         Maquiar, prender o cabelo deixando a aparência de cabelo liso na recepção, enfermagem ... fazendo com que as mulheres que trabalham em recepções pareçam irmãs gêmeas ... é exceção ?

·         Estilo de uniforme desenhado para pessoas que tem corpo atlético / magro, fazendo assim uma seleção que exclui naturalmente o acesso à função por parte de pessoas obesas ... é exceção ?

·         Propagandas e design de web sites de empresas de saúde, cujo maior público consumidor é de pessoas de idade, figurando pessoas jovens, casais jovens, brancos e sorridentes ... exceção ou regra ?

 

 

Então ... o que se coloca aqui não é criticar a característica tradicional das instituições da área da saúde ... é querer se aproveitar de “modismos de gestão” no chamado “oportunismo”:

·         É o modo como algumas instituições que têm “muita coisa debaixo do tapete”, se utilizam de narrativas para inverter seus valores na imagem que passam para a sociedade;

·         Na área da saúde o maior bem que uma instituição pode ter é a transparência, que dá força a uma marca que demora décadas para ser construída !

·         As empresas que admiramos na saúde são as que “não apelam”, por mais que isso possa “ser tentador” para os negócios no curto prazo !

Nas instituições da área da saúde, pequenas mudanças estruturais demoram para acontecer:

·         Temos profissionais de milhares de profissões diferentes, de todos os níveis de formação acadêmica, que “habitam” todas as camadas socioeconômicas convivendo no mesmo espaço físico;

·         Mesmo pequenas mudanças organizacionais são lentas ... por isso quando tratamos de “Lean em saúde” e chegamos ao “capítulo Kaizen”, reforçamos que “tentar fazer uma grande mudança de uma vez só” ao invés de “pequenas e constantes mudanças” é “negociar com o fracasso” !

·         Esperar que mudanças estruturais como inclusão e ESG ocorram nelas da mesma forma como ocorrem em uma Startup que cria aplicativos que serão utilizados para “comprar bitcoins”, é muita inocência !

Estar aderente ao ESG ou não, não modifica a importância destas instituições de saúde:

·         O que elas fizeram pela saúde ... os profissionais brilhantes que formaram e continuam formando;

·         Estas empresas podem continuar sendo mais benéficas à sociedade não estando tão alinhadas aos conceitos modernos, e podem ... na verdade merecem ... mais tempo para se adaptarem “se for o caso” !!

 

 

É bom ressaltar que tivemos progressos importantes no Brasil:

·         É inegável o avanço das leis contra o racismo ... a “Lei Maria da Penha” ... o espaço para programas inclusivos na mídia ... o acesso a uma enormidade de conteúdos que esclarecem e incentivam a proteção ambiental;

·         Apesar da “evidente onda retrógrada” que estamos sendo submetidos atualmente ... o avanço é indiscutível;

·         Isso é o que vai formando novas gerações diferentes da minha ... é natural que demore mais para ir “caindo as fichas” !

“Narrativas pirotécnicas” de algumas pessoas e instituições não contribuem em nada para que a cultura mude ... a área da saúde não precisa de “discursos modísticos” de pessoas que querem “ter um minuto de fama”.

Somente assumindo que a área da saúde é Racista, Machista, Homofóbica, Gordofóbica, Gerofóbica e Poluidora, é que podemos ajudar a mudar o cenário ... não com “fake news institucionalizadas” !

Acho o tema oportuno para esta época do ano em que reservamos algum tempo para pensar na vida, e prometemos fazer algo diferente no ano que vem !!

Conheça os cursos da Jornada da Gestão em Saúde     www.jgs.net.br   !

Conheça o estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil, e os seminários temáticos     www.gesb.net.br     !

Informações adicionais     contato@escepti.com.br  !

 

Sobre o autor Enio Jorge Salu

Histórico Acadêmico

·  Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo

·  Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo

·  Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas

·  Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta

·  Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed

Histórico Profissional

·  CEO da Escepti Consultoria e Treinamento

·  Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas

·  Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares

·  CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa

·  Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação

·  Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas

·  Associado NCMA – National Contract Management Association

·  Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde

·  Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria

·  Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado