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Alternativas das Empresas Contratantes Para Redução do Seu Custo Saúde
0249 – 02/01/2022
Referências: Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil
2022 Enaltecerá que a Regulação da ANS Vai Inviabilizando Cada Vez Mais a Concessão do Benefício aos Funcionários
(*) todas as ilustrações são partes integrantes do material didático dos cursos Escepti e do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil
Números do setor vão sinalizando mudanças significativas na saúde suplementar no Brasil nos últimos anos.
A proporção de beneficiários de planos de saúde de assistência médica dos planos de cobertura plena reduz gradativamente ano após ano:
· Quando referimos “proporção”, é o % da população que possui este tipo de plano em relação à população total do Brasil;
· E quando referimos “cobertura plena”, são os planos que não limitam determinados tipos de atendimento (somente ambulatorial ...), ou coberturas de especialidades (sem obstetrícia ...);
· A queda proporcional do total de beneficiários em relação à população até é menor ... mas é queda (quase 2 %);
· Mas a queda proporcional dos beneficiários dos planos de cobertura plena, que é o plano que qualquer pessoa gostaria de ter é maior (acima de 5 %).
O crescimento da saúde suplementar não regulada pela ANS ... a que não tem a ver com operadoras de planos de saúde ... é elevado:
· Justamente por não ser regulada, não podemos quantificar com segurança;
· Mas é muito visível o crescimento das redes de consultórios, de serviços de diagnósticos ... notamos tanto fisicamente quando circulamos pelos municípios, em especial nas regiões mais centrais dos municípios (os “centros velhos” das cidades), como nas propagandas na mídia, nos mailings que recebemos, e no merchandising direto quando estamos nos entretendo nas mais diversas formas;
· Também é claramente sensível por nós as propagandas de hospitais, ou seja, até mesmo alta complexidade que é paga diretamente por uma parcela muito pequena da população que tem maior poder aquisitivo.
As empresas contratantes:
· Que formam o grupo dos principais atores da saúde suplementar regulada, uma vez que quase 80 % dos beneficiários são de planos coletivos no Brasil;
· Já experimentaram praticamente todas as alternativas para viabilizar o benefício aos seus funcionários dentro da regulação da ANS, mas o aumento exacerbado dos custos prevaleceu ... e não tem como continuar não prevalecendo;
· Começam a experimentar, com sucesso, alternativas que não se submetem a regulação da ANS.
Quando era jovem, nas empresas em que trabalhei o plano de saúde era um benefício que os funcionários nem davam muito valor, porque não “consumíamos saúde como consumimos atualmente”:
· E eram plenos ... a empresa bancava integralmente ... e a gente podia por opção incluir parentes sem qualquer limitação;
· Na época em que minha esposa engravidou do primeiro filho, por exemplo, nenhuma limitação ... pudemos escolher entre as diversas maternidades “da moda” da Cidade de São Paulo;
· Nesta época tinha como dependente mãe, pai e sogra, pagando “uma merreca” por cada adicional;
· A regulação era muito rudimentar, a tecnologia da saúde era mais elementar, e também o nível de exigência do beneficiário baixíssimo;
· Na verdade a gente passava anos sem ao menos usar o plano ... mesmo para fazer exames periódicos.
Conforme a realidade foi mudando:
· A hotelaria foi ganhando espaço na opção do beneficiário ... a inflação da saúde se intensificou pelo avanço da tecnologia ... e os beneficiários passaram a se cuidar mais, demandando mais consumo de serviços ... as empresas começaram a “sentir o golpe no bolso” !
· Financiar o benefício para o funcionário passou a ser questionável, até porque a saúde pública evoluiu ... melhorou ... apesar “dos esforços dos governos no sentido contrário”, como o SUS é gerido por conselhos que sofrem “influência do público votante”, e a sua definição é constitucional e não “vontade do ocupante da cadeira do executivo” ... o SUS “resiste bravamente” e indiscutivelmente evoluiu !!
E as empresas contratantes dos planos de saúde para seus funcionários, naturalmente, passaram a adotar as primeiras práticas para combater este “desconforto financeiro”:
· Começou a “cair a ficha” de que o governo vai cada vez mais “terceirizando” a responsabilidade da saúde pública através da regulação dos planos coletivos de saúde;
· Primeiro começaram as ações de repartição dos custos com os próprios funcionários – limitação de dependentes, participação do funcionário ...
· Depois as ações de combate ao desperdício na utilização dos planos – coparticipação, reembolso, franquia ...
Estas ações, como ilustra a figura, deram um impacto inicial interessante de redução nos custos da empresa:
· Mas a evolução do custeio foi muito maior do que estas ações poderiam mitigar;
· Em um segundo momento o problema voltou a tomar a mesma proporção de antes;
· O custo foi sendo compartilhado com os funcionários, mas na prática “o dinheiro sai do mesmo bolso”, encarece o produto da empresa e influi na sua competitividade no mercado !
Entramos então na época da gestão da sinistralidade:
· As empresas passaram a, direta ou indiretamente, compor estruturas para gerenciar a sinistralidade – planos administrados, turnover de ofensores ...
· Algo que dá um resultado maior do que as ações da primeira etapa, porque ao invés do foco em dividir o custo com os funcionários, o foco passou a ser “reduzir o custo”;
· Mas não eliminou o problema ... a evolução do custo da saúde jamais poderá ser totalmente contida ... e o custo aumenta mais do que as ações de contenção podem reduzir;
· Conforme a qualidade evolui, o custo aumenta ... conforme a tecnologia avança, o custo aumenta ... conforme a expectativa de vida aumenta, o custo aumenta.
Um primeiro problema é que as empresas contratantes de planos de saúde, com razão, não querem fazer a gestão da sinistralidade da saúde dos seus funcionários:
· Isso não tem nada a ver com a atividade fim delas ... são bancos, montadoras de veículos, empresas de tecnologia ...
· A “cabeça delas” está no produto que produzem ... nos seus concorrentes ... no mercado que atuam ... não saúde !
· E a questão não é fazer internamente ou terceirizar com apoio de uma administradora de benefícios ... o resultado final incomoda seja se o assunto for tratado por um funcionário ou por um “consultor externo” !
O segundo problema é que muito da regulação da ANS nada mais agrega do que custo para a empresa contratante ... exemplos:
· Se a operadora não compõe adequadamente a rede credenciada / própria dela, paga multas, que vão se transformar em sinistralidade, de uma forma ou de outra ... acho que não é necessário defender atese de que a contabilidade possui recursos muito criativos, dentro da lei, quando é de interesse;
· Se o beneficiário da operadora é atendido na rede pública porque a rede credenciada/própria é insuficiente/inadequada, o SUS cobra da operadora ... que repassa este custo para a empresa contratante;
· Se o SUS não vacina toda a população e a vacina entra no Rol da ANS, a operadora paga por uma coisa que o SUS deveria fazer, e repassa o custo para a empresa contratante;
· No fim da cadeia de valores o contratante do plano paga a conta sempre ... é claro que não poderia ser de outra forma, mas veja que estes exemplos são problemas de regulação / gestão da operadora ... de transferência da ineficiência da operadora e do SUS para a empresa que contrata plano de saúde para seus funcionários ... que não tem nada a ver com isso !
A regulação da saúde suplementar passa longe do que necessitamos:
· O quadro demonstra o resultado de algumas operadoras da mesma modalidade (mesmo tipo) – cálculo feito com números publicados no site da ANS;
· Algumas delas declaram não tem despesa de comercialização;
· Veja que no exemplo, tem inclusive uma que fatura quase 12 milhões de reais, e declara ter tido uma despesa comercial de R$ 482,00.
O que são elas ?
· Um absoluto “prodígio de marketing” que consegue vender planos sem ter que gastar nada para isso – as “empresas ideais” que não necessitam de estrutura e ações comerciais para vender seus produtos ?
· Ou empresas que se utilizam de oportunidades que a “contabilidade criativa” permite dentro da lei ?
Se for o segundo caso, a sinistralidade está sendo apresentada para quem paga “a maior”, ou seja, o “comprador do plano” está financiando não somente a sinistralidade da sua carteira, mas a estrutura comercial da operadora !
Não pode “passar pela nossa cabeça” que elas estejam fazendo algo ilegal, uma vez que os dados estão publicados na página da agencia reguladora:
· Se existisse algo ilegal, todos nós imaginaríamos que a agencia estaria punindo a operadora ao invés de deixar os dados serem publicados de forma criminosa;
· Portanto, temos que assumir que se trata de “alternativa contábil” devidamente respaldada pela regulação !
Ou seja, a chance de uma empresa contratante estar sendo demandada para um reajuste de preços baseado em uma sinistralidade maior do que a real junto à estas operadoras é muito grande !!
Não dá para não afirmar que a regulação está “punindo” quem compra o plano de saúde – a empresa contratante !!!
As empresas contratantes, evidentemente, estão cansadas disso tudo !
Mapeadas as alternativas para substituir a concessão do benefício “plano de saúde” por outro que permite ao funcionário o acesso ao plano, sem que isso lhe imponha o risco de se submeter a regulação da ANS ... experimentam:
· Em maior escala “Vale Saúde”, mas evoluíram também as iniciativas “Cooperativa da Saúde” e “Previdência da Saúde”;
· As empresas que têm maior pressão de sindicatos de profissionais estão tendo mais dificuldade para migrar ... as outras quase nenhuma dificuldade;
· E os casos reais muitas vezes surpreendem tão grande é a aceitação imediata por parte dos próprios funcionários ... que à primeira vista até dão a impressão de que demandariam um longo processo de convencimento.
Embora seja tendência, e irreversível diga-se de passagem, quando analisamos o cenário acima, é um fenômeno que não produzirá mudança radical no cenário no curto prazo:
· Empresas mais tradicionais, naturalmente, vão aguardar algum tempo analisando resultados no médio prazo das que já se anteciparam, para colocar uma das alternativas na sua agenda;
· A migração em empresas que operam autogestão vai demandar um processo de discussão e análise mais longo, porque envolve a estrutura de funcionários que geram o plano ... que são funcionários da própria empresa ... e não são poucos ... e envolve operadoras que têm no DNA qualidade assistencial para seus beneficiários, que são eles mesmos ... e migrar para uma alternativa que pode privilegiar demais o aspecto financeiro demanda cuidados específicos;
· E o próprio mercado das operadoras será demandado para se adaptar, porque as 3 alternativas conhecidas não eliminam a existência das operadoras e dos planos de saúde ... apenas eliminam o vínculo da empresa que concede o benefício como contratante do plano, que passa a ser o funcionário ! Reduzem os planos coletivos, mas aumentam os planos individuais e por adesão !!
Já podemos afirmar que Vale Saúde é tão realidade, que é até estranho que o governo ainda não esteja regulando:
· Qualquer coisa que movimente dinheiro em algum volume significativo costuma atrair regulações para que o governo cobre alguma espécie de “pedágio tributário”;
· Com Vale Saúde não será diferente ... enquanto esta regulação não chega, as empresas contratantes estão aproveitando a excelente oportunidade ... e os funcionários também;
· O curioso é que a regulação que virá não poderá ser via ANS, porque Vale Saúde não é intermediação de pagamento de saúde por parte da empresa ... não configura um plano de saúde ... então ou será via Ministério da Economia, ou vão criar alguma “Agência Jaboticaba”, que não terá similar em lugar nenhum do mundo, para “abocanhar” alguma espécie de tributo para financiar interesses políticos ... é esperar para ver ... particularmente aposto na “Jaboticaba’, como muito do que ocorre no Brasil !!
Vale Saúde, Previdência da Saúde, Cooperativa da Saúde são alternativas que nos remetem “a luz no fim do túnel” para a maior parcela do mercado da saúde suplementar regulada no Brasil, porque dão:
· Previsibilidade de gastos para a empresa contratante, permitindo que ela “não abandone de vez” a concessão do benefício aos funcionários;
· Opção de escolha de plano e rede (hospital, médico ...) ao próprio funcionário, que no plano coletivo tradicional ou gerenciado, é quem usa mas não escolhe “nada”;
· Alternativas ao funcionário que eventualmente tem acesso à saúde por outra porta, para que utilize o valor do benefício concedido pela empresa para outra finalidade !
Na linguagem “popular de negócios” ... é um “ganha ganha” para todos !
Na minha experiência profissional:
· Cooperativa da Saúde e Previdência da Saúde, por serem um pouco mais complexos de implantar no primeiro momento, acabarão sendo a evolução, ou seja:
· Na prática o que vemos e vamos continuar vendo é a empresa e os funcionários até entenderem que Cooperativa e Previdência são os melhores modelos;
· Mas acabam optando pelo Vale como modelo de transição, por ser muito mais simples de implantar !
Vemos funcionários de empresa acessando a saúde de uma forma mais próxima do que ele quer, porque ele é o maior necessitado:
· Um alívio para ele que é quem sabe o que necessita e não o gestor de benefícios da empresa que ele trabalha, que até sabe onde ele mora, mas não em que condições vive, o histórico de doenças da sua família ...
· A gestão do plano é transferida para ele (funcionário) ... a empresa cumpre apenas o papel de subsidiar, e não de financiar ... e pode “manter sua cabeça” no seu negócio !
E como as alternativas de “não regulação para a empresa contratante” não eliminam a ANS:
· O governo vai continuar “pedageando” os planos individuais e por adesão, que vão crescer muito proporção em relação ao que representam atualmente !
· Por isso não dá para divergir de que se trata de um “ganha ganha” para todos ... governo, operadora, empresa contratante e funcionário !!!
E, se Deus quiser, vamos ver a palavra sinistralidade longe da área de benefícios da empresa:
· Da mesma forma que sinistralidade de roubo, incêndio, inundação ... dos demais seguros que as empresas contratam ... estão longe de demandar análise especializada por parte dela;
· Lembrar que ela contrata plano de saúde justamente para manter o foco naquilo que produz, e não na sinistralidade do plano de saúde dos funcionários ... o modelo regulado de plano coletivo é uma inversão de valores !!!
· Afinal, em um mundo cada vez mais competitivo, se a empresa perder o foco no seu negócio, consumindo recursos para gerir a sinistralidade do plano de saúde dos seus funcionários, é ela ... a empresa ... que corre o risco de ficar doente e ir à óbito !
A figura ilustra a variação da sinistralidade geral dos planos de assistência médica:
· Entre 2019 e 2020, por conta da pandemia, a sinistralidade média caiu ... as empresas contratantes tiveram em 2021 um “refresco”: como este é um indicador médio, algumas até tiveram aumento de sinistralidade, mas a maioria absoluta viu pela primeira vez na história o custo do plano de saúde dos funcionários reduzir;
· Mas entre 2020 e o primeiro semestre de 2021 já temos quase 15 % de aumento;
· Já estamos presenciando casos em que a proposta de reajuste está entre 150 % e 200 % em carteiras de beneficiários “mais velhos” !
“E olha” que nós nem comentamos o fato de que os funcionários deixaram de ser o maior bem que a empresa possui, “faz tempo”:
· Há anos a tendência de mudança de cultura das empresas tem sido a de substituir funcionários “mais caros por mais baratos”, e o custo do benefício plano de saúde é fator determinante no cálculo de quem são os mais caros;
· A cultura de empresa que realmente se preocupa com seus funcionários, e o plano de saúde é muito importante para demonstrar isso, é cada vez algo mais raro !
· Por isso a necessidade de dar para a empresa alguma opção para que “a porta” da concessão do benefício não seja definitivamente “fechada” !!
· E por isso a afirmação de que 2022 será um ano que vai exacerbar na área de benefícios das empresas contratantes a análise do custo x benefício da concessão do plano de saúde para os seus funcionários ... 2022 se apresenta como um possível “divisor de águas” no assunto !
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Informações adicionais contato@escepti.com.br !
Sobre o autor Enio Jorge Salu
Histórico Acadêmico
· Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo
· Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo
· Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas
· Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta
· Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed
Histórico Profissional
· CEO da Escepti Consultoria e Treinamento
· Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas
· Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares
· CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa
· Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação
· Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas
· Associado NCMA – National Contract Management Association
· Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
· Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e de Edição Própria
· Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado