Boletim    noticia.net.br Conteúdo para Gestores da Área da Saúde
 

 

 


Beneficiário e Contratante Sem Referências para Avaliar Planos de Saúde

0250 – 08/01/2022

Referências: Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil

Regulação da ANS Criou “Uma Torre de Babel” – Confunde Até Mesmo a Maioria dos Gestores da Saúde

 

(*) todos os gráficos e tabelas são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil

 

O gráfico ilustra a variação do ticket médio de despesa assistencial de todas as operadoras de planos de saúde desde antes da pandemia, até o “olho do furação” da pandemia em 2021:

·         Quando “jogamos todas as operadoras em um mesmo caldeirão” pode dar a impressão de que elas terão o mesmo problema para lidar com o pós pandemia;

·         Mas este gráfico é uma média de todas as operadoras, que são muito diferentes ... e na maioria absoluta das vezes em que lidamos com gestão da saúde, se utilizamos a média, na média erramos !

·         Porque em absolutamente quase todos os estudos que fazemos, as médias servem apenas para orientar sobre grandes tendências ... mas não servem para definir ações estratégias, táticas e operacionais ... para definir ações necessitamos “do número específico” de cada cenário.

Infelizmente a regulação da ANS é desenvolvida fortemente baseada em médias:

·         Por exemplo: um beneficiário de plano individual em Pacaraima tem o mesmo índice de reajuste de preços definido pela ANS para o que reside em Chuí !

·         Para a ANS a inflação da saúde em municípios que se distanciam em 5.842 km um do outro, um acima da Linha do Equador e outro perto do meio entre o Trópico de Capricórnio e o Círculo Polar Antártico pode ser definida em função de uma média !!

·         A inflação da saúde suplementar é medida na prática pela variação do que as operadoras chamam de sinistralidade ... a despesa assistencial que está ilustrada no gráfico acima;

·         Acredito que qualquer pessoa que esteja lendo este texto não acredite que possa existir uma média que seja alguma coisa próxima da variação da sinistralidade que ocorre em Pacaraima e em Chuí !

Por isso justificamos a afirmativa de que a regulação da ANS criou “uma Torre de Babel”:

·         Todos falando sobre a mesma coisa, mas ninguém consegue entender o que o outro está falando;

·         O maior prejudicado, indiscutivelmente, é o financiador do sistema ... quem paga a conta ... o beneficiário do plano individual e a empresa que contrata o plano de saúde para seus funcionários.

 

 

O gráfico extrapola a variação do ticket médio de despesa entre 2020 e 2021 por tipo de operadora (“modalidade” no idioma ANS):

·         Os números são implacáveis: as operadoras, “na média”, são muito diferentes;

·         Veja que aqueles 12,26 da média geral do primeiro gráfico não se aplica a nenhum destes “extrapolados” ... no caso das autogestões a diferença é quase o dobro;

·         Então basta imaginar o que ocorre em cada operadora específica !

·         Estabelecer médias gerais para reajuste de planos individuais é uma espécie de “roleta russa” !

Os que menos estudam realmente o assunto acham que na autogestão o custo é maior porque a “carteira é mais velha”:

·         Na maioria absoluta delas a faixa etária é bem menor do que a da operadora que está sendo alvo da CPI, que é uma medicina de grupo !

·         E o ticket médio de despesa desta medicina de grupo citada é muito menor que o da maioria das autogestões !!

·         Alguém pode dizer: porque ela está fazendo coisa errada ... mas não é verdade ... porque ela age completamente de acordo com a regulação da ANS ... mesmo que ela tenha errado no que foi apontado na CPI, e que seja exemplarmente punida se for o caso, isso não influiria significativamente no custo da sua carteira de beneficiários !! 

 

Estes gráficos representam a mesma coisa que os anteriores, mas em relação ao ticket médio de receita de contraprestação:

·         Ou seja, do que a operadora arrecada junto aos beneficiários;

·         As curvas divergem no atacado e no varejo;

·         A regulação ... a precificação ... não é simples ... exige especialização;

·         Importante enfatizar novamente ... elas (as operadoras) não fazem nada de ilegal ... algumas (poucas) até agem de forma antiética ... mas trabalham dentro da lei ... a lei definida na regulação da ANS;

·         O “arquiteto Torre de Babel” é a ANS ... não as operadoras de planos de saúde !

 

 

Veja como as médias podem enganar:

·         “Extrapolando a extrapolação” ... os gráficos ilustram por tipo de operadora, o menor, o maior e o “médio ticket médio” ... o da esquerda de despesa assistencial, e o da direita de receita de contraprestação;

·         Em todas elas, existem planos de baixíssima cobertura – por exemplo, apenas ambulatorial ... e de altíssima cobertura – aquele com internação naquele hospital que é o “sonho de consumo do beneficiário” (pela fama, uma vez que o beneficiário não tem parâmetros para medir qualidade assistencial, apenas hotelaria e marca) !

·         Aí dentro temos planos de internação com e sem obstetrícia, enfermaria ou apartamento, com e sem odontologia ... uma “mixórdia regulada”.

O beneficiário que compra o plano individual ... a empresa que contrata o plano para seus funcionários ... o pequeno empresário que compra o PME ...

·         “Na média” não tem a menor noção do que está comprando;

·         Operadoras “de pedigree” estão vendendo planos com preço de ~R$ 50,00 por mês ... quem compra pensa que está comprando “filé à parmegiana”, mas está comprando “cachorro-quente” !

·         A bagunça é tanta que a operadora nem está preocupada em “queimar” sua marca ... porque da forma como a regulação foi sendo desenvolvida é impossível comparar os planos se você não for profissional do ramo.

 

 

O gráfico demonstra a relação entre o ticket médio de despesa assistencial (barras azuis) e o ticket médio de receita de contraprestação (barras laranjas) por tipo de operadora:

·         Os produtos das operadoras são muito diferentes ... como demonstram os números, mesmo com médias é possível entender isso !

·         Ele remete a entendermos que a regulação, na prática, apenas define algumas diretrizes que impedem que a contabilidade das empresas não seja “tão criativa”;

·         É criativa, é claro, como em qualquer segmento de mercado regulado ... mas é menos criativa do que seria se não houvesse regulação.

 

 

Na prática as pessoas esperam que a ANS esteja prioritariamente atuando para a melhoria do produto “plano de saúde”:

·         Ela não consegue fazer isso ... saúde é livre à iniciativa privada ... e ela não tem competência para isso;

·         Na rotina cria regrinhas de avaliação de operadoras que na prática não servem para muita coisa;

·         Enquanto isso o vendedor do plano promete “o céu”, e o comprador compra algo que quando realmente vai necessitar descobre que é “o inferno”;

·         Como o vendedor, geralmente, não é a operadora e sim um intermediário que na maioria das vezes nem sabe direito o que está vendendo, não se pode culpar a operadora;

·         Então uma boa parte das operadoras, especialmente medicinas de grupo, embarcam “na onda” aproveitando a maré !!

 

 

Observando o gráfico é indiscutível afirmar que a regulação da saúde suplementar no Brasil é completamente inadequada ... beira o absurdo:

·         Apresenta, em novembro de 2021, a frequência existente de planos de saúde por percentual de reajuste apresentado ao comprador – dá para visualizar a proporção de planos que se enquadra em cada % de reajuste;

·         Tanto de planos individuais como coletivos;

·         Como pode um produto qualquer, seja lá qual for, ter variação de preços entre -68 % e +947 % dependendo do caso ?

Nenhum consumidor de qualquer outro produto se sujeita a isso:

·         A regulação da ANATEL, ANEEL, por exemplo, não corrobora este tipo de coisa;

·         Alguém pode dizer que se o consumidor de telefonia ou energia consumir mais, o preço é o mesmo, mas a conta que ele paga é maior;

·         Mas isso não se justifica no caso: se o consumidor de telefonia ou energia não consumir não paga, enquanto o consumidor de plano de saúde utilizando o plano ou não paga ... e ainda lhe é apresentado um reajuste de preços gigante se “as pessoas” da sua carteira consumirem muito !

Tudo que é proposto para mudar o cenário fracassa porque a regulação da ANS se baseia em sinistralidade e não em qualidade e utilização:

·         O discurso é de que está se aprimorando em relação à qualidade das operadoras, ao nível de qualidade da assistência;

·         Mas o consumidor (o beneficiário individual e a empresa que contrata o plano de saúde para seus funcionários) sabe que é apenas narrativa: tudo continua sendo uma operação meramente financeira ... uma aplicação financeira em um investimento de risco, de renda variável !

Nossa realidade indiscutível ... se analisarmos o mesmo período histórico:

·         Enquanto na telefonia saímos do 2G e estamos chegando ao 5G, e o custo não aumentou proporcionalmente à velocidade da transmissão ...

·         Enquanto na energia saímos de um cenário de rotineiros apagões para aumento de cobertura até o ponto de projetos como o “Luz para Todos” iluminar comunidades isoladas no meio da Selva Amazônica, sem aumentar proporcionalmente as tarifas ...

·         Enquanto o SUS foi expandindo mesmo com as limitações orçamentárias sempre menores do que a inflação oficial ... muito menores é bom ressaltar ...

·         Na saúde suplementar regulada pela ANS temos “aumentos aviltantes” de preços e cada vez mais limitações de coberturas nos planos ... judicialização passou a fazer parte do cenário para conseguir determinadas coisas, se é que me entende ... e nada de ilegal por parte das operadoras é bom que se diga: tudo absolutamente “legislado” pela ANS !!!

·         É a verdade “nua e crua” !

E não existe algo que sinalize mudança neste cenário:

·         Basta observar como os candidatos à presidência, governo, senado ... se orgulham de apresentar como suporte eleitoral um “guru de economia”;

·         Absolutamente nenhum deles apresenta como “suportes eleitorais” ministros de áreas de saúde, educação, alimentação, segurança e transportes, que são a base de sustentação da população:

·         O resto é muito importante ... não há dúvida ... mas estes 5 pilares são os que qualquer pessoa necessidade para viver na sociedade ... seja quem for, tenha o que tiver, faça o que fizer, more onde morar;

·         O ministro da economia continuará sendo “o rei das frases de efeito”, para justificar o fato do Brasil perder cada vez mais importância no cenário mundial, como tem sido no Brasil há décadas. Os políticos vão continuar fazendo apologia ao “Posto de Gasolina” até que os números do seu mandato comecem a demonstrar que não chega a ser “Flanelinha em Engarrafamento”.

E o beneficiário de planos de saúde e a empresa que contrata planos de saúde para seus funcionários continuarão sendo esquecidos sem entender o que estão comprando:

·         Um enquanto puder continuar a abrir mão de outras coisas para pagar seu plano individual;

·         E o outro até perder a paciência e deixar de dar o benefício para os seus funcionários ... o que já está acontecendo, diga-se de passagem !

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Informações adicionais     contato@escepti.com.br  !

 

Sobre o autor Enio Jorge Salu

Histórico Acadêmico

·  Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo

·  Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo

·  Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas

·  Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta

·  Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed

Histórico Profissional

·  CEO da Escepti Consultoria e Treinamento

·  Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas

·  Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares

·  CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa

·  Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação

·  Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas

·  Associado NCMA – National Contract Management Association

·  Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde

·  Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria

·  Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado