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SUS Cobra o Preço do Apagão no Ministério da Saúde Pós Pandemia
0272 – 05/05/2022
Referências: Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil
Diferente dos Outros Segmentos de Mercado, Inflação da Saúde Pública é Técnica, e não Econômica
(*) todos os gráficos e ilustrações são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil e do material didático dos cursos da Jornada da Gestão em Saúde e da Escepti
Não recomendo a leitura se estiver esperando críticas à direita, esquerda, centro, centrão ... ao presidente, governador, prefeito, senador, deputado ... é um conteúdo sem opção política ou ideológica – não vale a pena perder seu tempo se estiver esperando algo diferente de uma discussão técnica !
Estamos todos sentindo o peso da inflação, e tirando uma parcela absolutamente insignificante da população que tem recursos financeiros suficientes para “não estar nem aí com a cotação do dólar”, cada um de nós está abrindo mão de algumas coisas na vida, de uma forma ou de outra.
Quando o dinheiro falta procuramos gastar melhor ... “economizar”, como dizem os “mais antigos” como eu:
· Por que pagar mais caro por alguma coisa que podemos pagar mais barato ?
· Esta é a essência do significado da palavra gestão: fazer melhor uso dos recursos disponíveis – o melhor gestor é o que “entrega o necessário gastando o mínimo possível” !
A politização do Ministério da Saúde causa o efeito exatamente contrário:
· Entramos em um ciclo onde o SUS gasta mais hoje para entregar a mesma coisa que entregava antes, mas ao contrário da justificativa do aumento dos preços nas “prateleiras dos mercados”, na “bomba de gasolina” ...
· ... é porque está consumindo mais do que consumia para entregar a mesma coisa;
· Na verdade, em alguns casos entregando até menos;
· E no SUS é muito fácil entender e justificar a afirmação, porque a tabela de preços do SUS (a que conhecemos pelo nome de SIGTAP) sofre pouca atualização comparada ao “seu tamanho total” ... a maior parte dos itens tem os mesmos preços desde que “o Indiana Jones soltou o Graal na lava ardente” !
· Ou seja, se o reajuste de preços na tabela ocorre em uma quantidade pequena de itens, estamos gastando mais para tratar as doenças, consumindo mais recursos ... empenhando “mais energia” para fazer a mesma coisa ... ou seja, fazendo uma péssima gestão !
Os gráficos demonstram isso:
· O da esquerda a evolução do volume de internações – notar que antes da pandemia vinha crescendo ... ao chegar 2020 (início da pandemia) caiu ... voltou a crescer em 2021 ... mas fechamos 2021 com uma quantidade ainda inferior à tínhamos em 2016;
· Considerando este indicador, retrocedemos 6 anos de evolução de internações vinha tendo antes da pandemia ... evolução às custas de muito suor diga-se de passagem !
· O da direita a evolução do gasto com internações – notar que havia um crescimento discreto até 2020, mas em 2021 um acréscimo sem precedentes;
· O gráfico de baixo mostra a relação (o valor médio ... ou ticket médio) das internações – notar que a partir de 2020 o valor médio gasto em internações começou a aumentar “estratosfericamente”.
· Considerando que “praticamente” não existe inflação de preço, são números indiscutíveis: estamos gastando muito mais nas internações do que gastávamos antes da pandemia !
E existe um “viés subliminar” (abusando em ser prolixo):
· São valores apontados em AIH’s – e nas AIH’s não são lançados medicamentos de alto custo;
· Considerando que a partir de 2020 houve um acréscimo de tratamentos COVID-19, onde a utilização de medicamentos de mais alto custo é menor comparado com outras especialidades que reduziram o volume de internações (as eletivas que “foram colocadas no gelo”), o aumento de gastos somente em itens lançados em AIH’s a partir de 2020 ainda é proporcionalmente menor do que os gastos totais ...
· ... mas vamos ficar só com estes gráficos que tabulam lançamentos em AIH’s ... para “ser bonzinho” com o Ministério da Saúde !
Defensores da “gestão da saúde pública pós pandemia” vão dizer que aumentou muito o custo com o tratamento de doenças infecciosas e parasitárias:
· Antes tratávamos doenças associadas a este CID em unidades não intensivas, e com a pandemia, houve nestes casos utilização “em massa” de unidades intensivas e semi;
· Em relação ao grupo CID 01 é verdade;
· E é tão verdade que mesmo os próprios pacientes COVID-19 passaram a custar mais caro ao longo do tempo como demonstra o gráfico ...
· ... no início da pandemia, sem vacina, os “mais antiguinhos como eu” internavam em UTIs mas morriam rapidamente ... com a vacina, passaram a predominar as internações dos mais jovens, especialmente os sem esquema de vacinação completa – eles ficam mais tempo internado e consomem mais – custam mais – mas se salvam (graças a Deus) !
Mas isso não “livra a barra” da má gestão:
· O gráfico de cima demonstra a evolução do ticket médio entre outubro de 2019 (4 meses antes da pandemia) e dezembro de 2021;
· O gráfico de baixo a evolução do TM em internações do CID 01;
· Somente ao comparar a característica das curvas de evolução seria suficiente para afirmar que a evolução dos gastos gerais do SUS está longe de ser equiparada com as internações COVID-19 !
É só “pegarmos” dois outros CIDs que mesmo a pandemia não teve força para adiar as internações para desmentir completamente a suposta “desculpa” de que foram as internações de COVID-19 as únicas responsáveis pela elevação nos gastos com as internações:
· Nos dois casos, no mesmo período acima, o valor médio das contas “subiu” assustadoramente;
· Não somente os pacientes que contraíram COVID-19 ... mas todos que a pandemia impôs “delay” para internar, estão custando mais caro;
· Se os preços pagos pelo SUS aos serviços praticamente não se elevaram ... é lógico que os pacientes estão consumindo “mais do mesmo preço” ... ao invés de utilizar 1 dia de UTI, gastam mais ... pacientes que não necessitavam de albumina, utilizaram, ou os que já necessitavam passaram a utilizar mais ... efeitos colaterais em pacientes com menor capacidade de absorver o tratamento aumentaram ... e assim por diante ...
Com a politização da gestão pública da saúde, ficamos discutindo cloroquina para quem nem tinha COVID-19, enquanto pacientes que necessitavam de internação para extrair nódulos tiveram que esperar por falta de leito;
· Quantos pacientes com arritmia tiveram seus tratamentos postergados por falta de ação de contingência para dispormos de leitos para eles ?
· A isso se resumiu a gestão pública da saúde do Ministério da Saúde politizado ... ficaram olhando para “as formiguinhas” sem perceber que uma “manada de elefantes está passando pelas costas, e fazendo barulho ... dançando lambada” !
O aumento do TM foi generalizado:
· Os gráficos demonstram que em 2 anos o TM de internações do aparelho respiratório foi da ordem de 60 %;
· As do aparelho digestivo de ~20 % !
Não há CID que escape:
· Alguns mais, outros menos ...
· ... mas todos com aumento ... em um ambiente de inflação de preços praticamente = 0 ... qualquer aumento de custo maior que 1 % já seria alto ...
· ... os gráficos demonstram muito mais que alto: exorbitantes !
Até mesmo doenças em que seria impensável imaginar aumento no TM:
· Lesões e envenenamentos não são eletivas;
· Mas com a população mais debilitada por ausência de prevenção e promoção adequadas da saúde, mesmo estes casos improváveis trazem para a rede pacientes que vão consumir mais recursos em saúde, independente de qual o tipo de doença que estejam associados;
· Números que não dão direito à replica, treplica ... números do próprio SUS !
Porque iniciamos lá em cima dizendo que não se trata de criticar apenas o ministério, e consequentemente apenas o presidente:
· SUS é uma gestão matricial (federal, estadual / distrital e municipal);
· Só se chega a esta situação se todos deixarem acontecer ... nenhum ministro ou presidente tem força e autonomia para fazer isso, se os outros entes da federação não quiserem deixar.
E vivemos um cenário em que:
· Além dos outros entes da federação estarem assistindo passivamente o apagão de gestão no Ministério da Saúde;
· Os outros poderes (legislativo e judiciário) também estão ... ano de eleição “não é mole não” – a palavra de ordem é coligar com amigos e inimigos para ganhar;
· Não vemos movimento eficaz do legislativo para modificar o cenário, e nem do judiciário em dar prioridade às questões de saúde pública.
E no “ano mais eleitoral da história da República Brasileira”, nenhuma proposta real de mudança deste cenário se apresenta “na fala” dos candidatos:
· Os candidatos só falam em economia – a economia que só tem “definhado” nas últimas décadas trocando um Posto Ipiranga por outro igualzinho
· ... e um ou outro vem com discursos de combate a corrupção que a gente assiste desde a época da “caça aos marajás”, que destronou o “apologista das carroças” e não deu em nada !
Infelizmente, como já defendido em outros posts, o apagão do MS só tem alguma chance de acabar lá para o terceiro trimestre de 2023 ... quem sobreviver verá.
Até lá vamos ver estas curvas de TM continuarem “apontando lá para o alto” !
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Sobre o autor Enio Jorge Salu
Histórico Acadêmico
· Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo
· Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo
· Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas
· Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta
· Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed
Histórico Profissional
· CEO da Escepti Consultoria e Treinamento
· Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas
· Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares
· CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa
· Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação
· Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas
· Associado NCMA – National Contract Management Association
· Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
· Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria
· Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado