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Inflação Acelera a Revisão dos Pacotes em Operadoras, Hospitais, Clínicas e CDIs
0283 – 28/06/2022
Referências: Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil
Inflação geral alta agrava a “muito maior” inflação da saúde
(*) todos os gráficos e ilustrações são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil e do material didático dos cursos da Jornada da Gestão em Saúde e da Escepti
Quem diria que eu iria viver para ver os tempos da alta inflação voltar no Brasil !
Olha ... se estiver com expectativa de ver críticas ao presidente, ao “Posto Ipiranga” ... não perca seu tempo lendo ... já tenho idade suficiente para ter aprendido que se o Congresso não quiser ... se os governadores, estiverem realmente unidos ... “ninguém faz o que quer no Brasil” ... portanto não reputo o cenário tenebroso que vivemos a responsabilidade de “fulano ou ciclano” ... a responsabilidade é de todo o establishment político em âmbitos federal, estadual, distrital e municipal ... isso posto ...
Vivi uma época em que o dinheiro desvalorizava tão rapidamente que as pessoas superlotavam os supermercados no dia do seu pagamento para estocar tudo que fosse possível, porque naquele cenário inflacionário (o de hoje é mais brando, mas lembra isso) não existia aplicação financeira que compensasse a inflação real ... a inflação real é muito, mas muito, mas muito diferente da inflação oficial.
E cheguei a pensar que não viveria mais isso ... quanta inocência ! ... por conta de uma polarização política “sem noção”, que degrada a economia de um dos países mais viáveis do mundo ... aqui estamos nós novamente ... “enchendo o tanque” antes que o valor na bomba carregue o aumento semanal ... “que fase” !!!
Este cenário preocupa particularmente o administrador hospitalar, em relação aos pacotes fechados com as operadoras para procedimentos na alta complexidade.
Podemos enquadrar os preços em 2 tipos de tabelas:
· A de honorários (médicos e odontológicos) e a negociada de diárias e taxas (base da operadora, ou base do hospital), que na prática são reajustadas uma vez por ano;
· As de materiais e medicamentos (Simpro, Brasindice) e os 3 orçamentos de alto custo, que “meio que” acompanham a inflação “automaticamente”.
Quando as contas são abertas (itens faturados individualmente):
· A preocupação do administrador fica com a negociada e de HM, que remuneram itens (custo interno e mão de obra) que não aumentam significativamente em proporção, em relação à inflação real destes insumos, mas ficam congelados geralmente por 1 ano;
· Os demais itens ... que são a maioria em volume nas contas da alta complexidade, mas de menor valor absoluto ... reajustam “automaticamente” ... podem não acompanhar a inflação real, mas não ficam absurdamente defasadas.
Vale comentar que o HM ... embora preocupe ... preocupa menos:
· Se for um administrador hospitalar de um serviço próprio de cooperativas médicas ... preocupação nenhuma diga-se de passagem ... uma vez que o reajuste do HM é definido “pelos donos”;
· Se a fonte pagadora “escamar” no reajuste do HM e a oferta de médicos na região é baixa (e em quase todo o Brasil temos falta de médicos) ... vai ficar sem rede para a demanda dos beneficiários !
Mas quando as contas são negociadas em forma de pacote:
· Vai tudo para a negociada ... toda a variação de preços de insumos fica congelada, geralmente durante 1 ano;
· Se a inflação é baixa ... não preocupa muito;
· Mas com os índices de inflação que estamos experimentando ... estes além de preocupar ... podem inviabilizar completamente a realização do procedimento;
· Se não tomar cuidado, a margem de contribuição positiva (lucro) pode inverter ... o “desavisado” não percebe que o hospital pode estar gastando mais do que recebe para fazer ... literalmente “pagando para fazer” !
· Na prática ... na realidade ... vemos operadoras “escutando” mais do que nunca que “não tem agenda” para fazer determinado procedimento ... quando na verdade o que aconteceu foi a inviabilização financeira do pacote para o prestador do serviço ... não é que não tem vaga – não tem quem queira fazer pelo preço !!
Diferente dos “índices oficiais”, hospitais têm sido reféns de uma inflação gigante desde o início da pandemia:
· É só comparar quanto pagava por máscaras e outros insumos tipo EPI antes da pandemia e ao final de 2021;
· Ou quanto pagava por anestésicos para entubar pacientes;
· Mas não somente itens relacionados ao tratamento de pacientes COVID, ou em função das medidas de proteção em relação a ela ...
· ... “fulano” fala uma bobagem e o dólar dispara ... o Brasil escolheu importar tudo na área da saúde ... um erro estratégico trágico ... disparou o dólar, sobre o preço dos insumos para a área da saúde ... praticamente de todos eles;
· E aqui é Brasil ... quando o dólar recua ... o preço não cai !!! ... a bobagem dita hoje não é compensada por “uma retratação” em relação aos preços !!!!
Em dezembro de 2020 (lá vem história), em plena pandemia, iniciamos um trabalho de redesenho dos pacotes em um hospital – o gráfico ilustra o resultado deste trabalho, tomando como exemplo a Colectomia:
· As barras azuis demonstram a evolução do faturamento das contas abertas do procedimento;
· As laranjas, a evolução do faturamento das contas do tipo pacote do procedimento;
· Dá para ver que redefinimos os pacotes deste procedimento, ficamos alguns meses com queda no faturamento geral, mas depois de alinhados, os pacotes voltaram em volume maior;
· Na verdade, como era inviável, havia “recusa” em aceitar o procedimento (o que chamamos de “seletividade”) !
As barras cinzas demonstram o faturamento total das contas deste procedimento (abertas + pacotes):
· Notar que ao final do período aumenta significativamente o valor total não “mais” porque os preços foram reajustados;
· Ao viabilizar o pacote, valorizando por um preço justo, as agendas voltaram, e o volume de procedimentos aumentou;
· Isso recompensa o esforço neste tipo de projeto ... ao remunerar de forma justa o acesso da população à saúde aumenta (no caso dos beneficiários de planos) ... não é isso que queremos quando fazemos gestão em saúde ? ... dar mais acesso para quem necessita !
Em julho vamos ter cursos deste que é um dos eixos temáticos da Jornada da Gestão em Saúde que mais são procurados por gestores que atuam em operadoras, hospitais e fornecedores de insumos:
· GNAS12 - Como Avaliar Preços de Pacotes em Hospitais, Clínicas e Centros de Diagnósticos;
· GNAS13 - Como Definir e Precificar Pacotes em Operadoras de Planos de Saúde.
São mais procurados porque a maioria absoluta dos profissionais que lida com isso nunca fez um curso, que discute conceitos e práticas para viabilizar os pacotes, seja na fonte pagadora, seja no serviço de saúde, seja no fornecedor:
· Aprenderam com o colega, que nunca fez curso ... e “acha isso”, ou “acha aquilo”, porque “ouviu dizer” que funcionou em outro lugar assim;
· Um festival de lambança ! ... assunto importantíssimo tratado de forma amadora;
· Aí vemos hospital fazendo média histórica de valor de contas para avaliar se aceita ou não uma proposta de pacote ... “acha” que é apenas isso ... e para piorar ainda nem aplica conceitos adequados para selecionar as contas, segregar os pacientes se for o caso ...
· Aí vemos operadoras definindo pacotes sem considerar as diferentes carteiras ... sem considerar a natureza jurídica do prestador de serviços ... colocando “gato, rato e cachorro no mesmo balaio” e “vamos que vamos” !
· Depois reclamam que a “operadora só quer explorar”, que o “hospital só quer explorar”, que o “fornecedor só quer explorar” ... uma “choradeira” na verdade para encobrir a não avaliação adequada de um negócio que pode dar lucro ou prejuízo para a empresa – seja ela operadora, hospital ou fornecedor !!
Fico contente de, encerradas as inscrições, termos algumas dezenas de profissionais de “todos os lados da mesa de negociação” participando ... certeza que no cenário deles serão desenvolvidos projetos de pacotes ... projetos ... e não uma “precificação aleatória” ... contratualizações mais viáveis ... mais aderentes às realidades tão diferentes que a saúde define regionalmente no Brasil !!!
Este gráfico demonstra que da forma como estavam definidos os pacotes deste procedimento, era uma questão de tempo para que a rentabilidade (baixa) se tornasse prejuízo para o serviço de saúde:
· As barras cinzas representam a rentabilidade do procedimento, comparando o faturamento com o custo mínimo estimado – após o trabalho a rentabilidade aumentou, e entrou em um ciclo de estabilização;
· O aumento não foi significativo ... mas uma curva que estava tendendo a zerar a rentabilidade, tomou outra característica ... de rentabilidade e não de lucro;
· Ou seja ... o projeto conduzido de forma transparente apenas procurou resgatar a rentabilidade e não aumentar o lucro ... por isso ao longo do tempo as operadoras além de não deixar de realizar o procedimento no serviço, ainda trouxeram mais volume ... a premissa do projeto nunca foi explorar .. sempre foi obter uma remuneração justa e viável !
Tanto isso é verdade que:
· O Ticket Médio (TM) das contas pacote (laranja) continuou sendo menor que o das contas abertas (azul);
· Mas o Custo Médio Estimado do Procedimento (cinza) era maior que o TM dos pacotes – demonstrando claramente que os pacotes eram inviáveis;
· O resultado foi aproximar o valor do pacote do das contas abertas de forma justa ... apenas isso !
As operadoras naturalmente não provocam a revisão dos pacotes existentes:
· Se o serviço de saúde aceita, ela (a operadora) entende que a parceria está sendo viável;
· A operadora não faz nada de ilegal, imoral ou antiético em defender a manutenção das regras comerciais antigas que lhe favorecem ... apenas defende o que privilegia atuar no mercado de risco;
· É o hospital que deve provocar a discussão ... o interesse é todo seu.
E para provocar esta discussão, o que fazemos (o que discutimos nos cursos) é:
· Discutir as melhores práticas de análise de viabilidade;
· Desenvolver alternativas para as propostas ... na regra as operadoras estão dispostas a discutir alternativas, desde que sejam opções bem embasadas ...
· Estar preparado para discutir de forma profissional ... não recusar sem avaliar adequadamente ... saber construir alternativas viáveis e contrapropor a alternativa inviável ... não é complicado ... é uma “questão de método” !
E quando o assunto é tratado desta forma, profissionalmente e com método, o que ocorre é o inverso do que se pode imaginar quando se trata de forma amadora:
· Uma enorme satisfação saber que tanto o hospital melhorou sua rentabilidade ...
· ... como as operadoras deixaram de lidar com “seletividade e elegibilidade”.
Bem ... a inflação está aí ... enquanto direita, centro e esquerda ficam “se farpando” sobre de quem é a culpa ... produzindo discursos “enfáticos e sonolentos” comparando o “roto do passado com o rasgado do presente” ... ela está aí elevando assustadoramente os custos da área da saúde:
· Para quem tem gordura no preço para gastar na perda de rentabilidade e não se importa muito com isso parabéns ... são raras as instituições que exploram a saúde – no pior significado da palavra explorar – e têm esta “espessa camada de gordura nos preços” para compensar a inflação dos custos;
· Para “os mortais” que não tem esta gordura ... que necessitam adequar os custos às receitas para manter sua sustentabilidade ... não tem como não colocar a inflação no topo das prioridades das agendas neste momento !
E uma destas agendas, é a revisão dos pacotes !
Enquanto políticos em pleno momento eleitoral ... seu minuto de fama ... de direita, esquerda e centro ... jogam toda a culpa da inflação na Petrobras ... quem lida com gestão em saúde “não tem tapete para esconder a poeira” ... tem tratar o assunto de forma técnica !
Conheça os cursos da Jornada da Gestão em Saúde www.jgs.net.br !
Conheça o estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil, e os seminários temáticos www.gesb.net.br !
Confira a lista de milhares de profissionais que já participaram das capacitações da Escepti em www.escepti.com.br/certificados
Informações adicionais sobre cursos e consultoria em gestão na área da saúde contato@escepti.com.br !
Sobre o autor Enio Jorge Salu
Histórico Acadêmico
· Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo
· Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo
· Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas
· Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta
· Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed
Histórico Profissional
· CEO da Escepti Consultoria e Treinamento
· Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas
· Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares
· CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa
· Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação
· Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas
· Associado NCMA – National Contract Management Association
· Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
· Autor de 12 livros sendo 3 pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e demais em edições próprias para download gratuito nas páginas dos modelos
· Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado