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Muitas operadoras de planos com saudades da pandemia
0295 – 13/09/2022
Referências: Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil
Habilidade na gestão e conhecimento do mercado são os fiéis da balança para rentabilidade da saúde suplementar
(*) todos os gráficos e ilustrações são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil e do material didático dos cursos da Jornada da Gestão em Saúde e da Escepti
Infelizmente ainda não temos na “área dados abertos da ANS” os arquivos de produção hospitalar e ambulatorial de 2021 para analisarmos o perfil epidemiológico detalhado da saúde suplementar:
· Pois é ...
· ... estamos quase em outubro de 2022 e não temos os dados de 2021;
· A ANS retém os dados detalhados e gera relatórios que julga serem os necessários para os gestores trabalharem, como se fosse possível imaginar todas as nuances que cada cenário de negócios demanda ... uma pena que seja assim !
Até que ela disponibilize os dados resta-nos trabalhar limitados com os números que ela publica ... então ...
Podemos avaliar a rentabilidade (o resultado operacional) das operadoras:
· Somando suas receitas (receita de contraprestações e outras receitas operacionais) ...
· ... e subtraindo suas despesas (assistenciais, administrativas, comerciais e outras).
Como a ANS também não divulga estes dados mensalmente ... acabou de divulgar agora no mês de setembro os dados do segundo trimestre de 2022 ... uma pena que seja assim ... para acompanhar a evolução do mercado utilizamos a média mensal de rentabilidade:
· Dos anos fechados, dividimos por 12;
· Em 2022, quem como eu guardou os dados do primeiro trimestre e agora tem acesso ao segundo semestre, pode avaliar a evolução durante o ano dividindo o primeiro período por 3 (3 meses) e o segundo por 6 (6 meses).
Se fizermos isso somando os resultados de todas as operadoras, podemos construir um gráfico como o da esquerda ... ele demonstra que:
· Em 2019 (antes da pandemia) todas as operadoras juntas granjearam um lucro de ~R$ 1 bilhão;
· Tem gente que se assusta com o número ... geralmente são pessoas não se atentam ao fato de que ~50 milhões de beneficiários de planos de assistência médica ... fazendo uma continha simples “chutando” um valor mensal irrisório de mensalidade dá para entender esta ordem de grandeza facilmente;
· Em 2020 (o ano da pandemia em que ninguém saiu de casa nem para trocar um curativo) ... elas granjearam lucro recorde inimaginável ... 50 % a mais do que no ano anterior;
· Em 2021 o olho do furacão da pandemia durou somente até o início da vacinação e as operadoras tiveram que começar “colocar em dia” os atendimentos de tudo que estava parado rapidamente, e praticamente não tiveram lucro;
· Em 2022, sem pandemia, estamos assistindo operadoras lidando com um cenário desafiador.
Os gráficos consideram apenas as operadoras que cravaram mais de 1.000 beneficiários em junho de 2022.
O fantástico gráfico da direita mostra a evolução do número de operadoras que apresentam prejuízo:
· É importante notar que sempre tivemos operadoras lucrativas e deficitárias ... é só observar em 2019, antes da pandemia, que tivemos mais de 100 com prejuízo;
· 2020, com a pandemia, foi o paraíso para as operadoras ... uma queda de 20 % nas operadoras com prejuízo ... também algo inimaginável;
· Em 2021 e 2022 uma explosão do número de operadoras apresentando prejuízo ... mas diferente dos eventos anteriores fora do normal ... que era inimagináveis ... este cenário era mais que previsível ... nenhuma operadora pode dizer que foi pega de surpresa !
Na verdade boa parte das que estão com dificuldades se deve simplesmente pela falta de gestão de custos e do conhecimento do mercado:
· As que desenvolveram esta habilidade ao longo do tempo não estão agonizando ... muito pelo contrário ... apresentando resultados acima do esperado para o cenário que vivemos;
· Infelizmente, com todos os sinais que a pandemia deu ... muitas simplesmente esperaram a ajuda de Deus !
· E é inacreditável que empresas cuja atividade fim é atuar na área de risco, não se prepararam para lidar com “o risco mais previsto da história da gestão de riscos” !!
Para quem não tem intimidade com o tema ... fica fácil entender a dinâmica da sustentabilidade das operadoras analisando este gráfico.
As barras azuis ilustram o ticket médio mensal da receita de contraprestações:
· Das receitas das operadoras, a de contraprestações é o dinheiro que ela capta com o pagamento do plano de saúde por parte dos beneficiários ... ou das empresas que contratam o plano de saúde para seus funcionários;
· Ticket médio mensal é o valor médio que ela recebe por beneficiário (por “cabeça” para utilizar uma linguagem mais chula) – então: dividindo a receita de contraprestações pelo número de beneficiários.
As barras laranjas ilustram o ticket médio mensal da despesa assistencial:
· Das despesas que têm as operadoras, a assistencial é o que ela gasta pagando a conta aos prestadores de serviços dos atendimentos que os seus beneficiários geram nos hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, prontos-socorros ...
· É a maior e a mais importante ... na verdade não é despesa ... é custo ... mas a ANS chama de despesa !
· Então: dividindo o valor da despesa pelo número de beneficiários ... o mesmo número do cálculo anterior !!
Conforme a despesa assistencial cresce, a operadora pede aumento da mesada ... pede reajuste de preço do plano para quem paga:
· No caso dos planos coletivos ... pede para a empresa que paga o plano para seus funcionários;
· No caso de planos individuais ... faz pressão junto à ANS antes que ela divulgue o índice;
· No caso dos planos coletivos por adesão ... é um “me engana que eu gosto” que não vale a pena comentar aqui !
· Este pedido de reajuste de preço é feito após a ocorrência da despesa;
· Portanto existe um gap (um espaço de tempo) entre o gasto e a compensação do reajuste do preço.
Dá para perceber nitidamente que neste período que estamos analisando a curva de tendência laranja está mais empinada do que a curva de tendência azul:
· E dá para perceber que as barras não apresentam aumento contínuo ... oscilam como uma “montanha russa”;
· Vai demorar algum tempo até que os ciclos da principal receita e da principal despesa voltem a se alinhar ... alguns anos;
· O descompasso pode significar prejuízo, que será compensado “paulatinamente” nos próximos reajustes ... enquanto isso o prejuízo tem que ser compensado com aporte de dinheiro ... não tem “milagre” nisso !
O que sempre dizemos é que a saúde suplementar não é um mercado único ... embora a ANS tente regular tudo da mesma forma ... as operadoras são muito diferentes;
· Estão no mercado por motivos diferentes ... têm estruturas de gestão diferentes ...
· ... e isso é fácil de entender quando segregamos os tickets médios, por exemplo, por tipo de operadora (modalidade na linguagem da ANS);
· O gráfico da esquerda segrega o ticket médio de receita de contraprestação;
· Perceba como o trabalho de buscar receita para cobrir os custos foi diferente ao longo do período por cada tipo de operadora;
· O gráfico da direita enaltece o fato ... dá para perceber que autogestões, por exemplo, captam “por cabeça” mais dinheiro do que as outras ... na média dos tipos.
Exemplificando com autogestões:
· A maior parte das pessoas faz uma ideia inadequada das autogestões como sendo operadoras com produtos muito simples, que captam pouco dinheiro por beneficiário;
· Mas existem autogestões com produtos muito complexos, que custam muito caro para a empresa que financia o plano;
· Como é fantástica a saúde suplementar para quem gosta de estudá-la: neste bolo de autogestões está ao mesmo tempo aquela gigante com centenas de milhares de beneficiários vinculada a uma mantenedora de capital misto, junto com aquele pequena do instituto de previdência da pequena Cidade de Xiririca da Serra !
Quando fazemos a estrapolação do ticket médio de despesa assistencial devemos ter uma razoável proporção com ticket médio de receita:
· Quem capta mais, deve estar gastando mais;
· Quem capta mais e gasta um pouco menos, lucra mais;
· Quem capta menos e gasta mais, lucra menos;
· Tão simples como isso !
Quando observamos os gráficos com médias ... comparando os de cima das receitas com estes das despesas ... vemos que eles guardam esta certa proporcionalidade:
· No atacado, misturando operadoras que “trabalham bem seus riscos”, com as que não fazem a “lição de casa” ... na média ... o mercado mostra equilíbrio;
· Mas isso que acontece “no atacado” não acontece no varejo;
· Quando analisamos alguma operadora que está na mira ... seja porque começou a dar sinal de inadimplência, seja porque começou a expandir a carteira no mercado que estamos atuando como prestadores de serviços ...
· ... vemos que existem um monte delas que estão passando um verdadeiro perrengue ... desnecessário, reafirmando, se tivessem se preparado “para o baile” !
Então, por exemplo, embora autogestões sejam as que captam mais recursos de receitas de contraprestações:
· Os gráficos demonstram uma alta proporcionalidade de operadoras deste tipo apresentando prejuízo em 2022;
· Na média, em 2022, quase 60 % de todas as operadoras estão apresentando prejuízo;
· Em volume, a maioria delas são cooperativas ... mas proporcionalmente cooperativas são as de menor % em relação ao total ... por isso sempre dizemos que analisar os números absolutos na saúde suplementar sem analisar o contexto é o maior dos erros que se pode cometer;
· Considerando os 60 % de operadoras com prejuízo podemos afirmar que a maioria não se preparou ... não se equipou ... não se capacitou adequadamente para lidar com o cenário que estamos vivendo.
Quantas vão passar dificuldade e superar ... quantas não vão suportar e sucumbir ... vamos saber somente nos próximos “capítulos da novela” !
Não será bom terminar sem reduzir um pouco o eventual cenário de “terra arrasada” que possa parecer com os gráficos e comentários feitos até aqui:
· Vamos lembrar que, lá em cima, citamos que, como em qualquer outro segmento econômico, sempre tivemos operadoras com lucro e prejuízo antes da pandemia;
· Operadoras atuam no risco ... são as únicas empresas no segmento público e privado da saúde no mundo que atuam no risco ... captam o dinheiro imaginando o que vão ter que gastar ... todos os outros atores recebem pela produção que realizam, sem o risco da previsão ...
· ... e ninguém obrigou as operadoras elas a fazerem isso ... fazem por livre e espontânea vontade ... por isso dizemos que elas têm que saber lidar com isso !
Estes gráficos mostram que:
· As operadoras que estão no grupo das que têm lucro, têm tido em média lucro mensal acima de R$ 800 mil;
· As que estão no grupo das que têm prejuízo, tem tido em média prejuízo mensal abaixo de R$ 3 milhões;
· Para um mercado que movimenta algo na casa das dezenas de bilhões por mês ... isso é “dinheiro de pinga” !
É claro que prejuízo de R$ 1 milhão não é coisa pouca para a maioria das empresas do segmento ... mas é certo que a maioria das que estão sufocadas vão respirar normalmente daqui a alguns meses !
· Bem ... na verdade é certo para aquelas que estão aprendendo “na porrada” que se estão passando sufoco, é porque não se prepararam adequadamente para enfrentar o cenário ...
· ... para estas, este período pós pandemia está sendo pedagógico;
· Ter gestores adequadamente capacitados para lidar com custos e com as nuances do mercado é mais do que obrigação para empresas cuja atividade fim é risco;
· Não pode ser apostar como se fosse loteria ... tem que ser gestão profissional de riscos !
Faltou dizer que os serviços de saúde devem redobrar sua atenção ... avaliar bem quais são os seus clientes que têm potencial de se manterem sadios ... e quais vão “dar um chapéu” nos boletos sem chance de quitarem a inadimplência:
· Porque já tem serviço de saúde desatento apostando na recuperação de algumas operadoras que mergulharam e não vão conseguir emergir;
· Quem estiver atuando de forma amadora é bom se preparar ... antes de ir definitivamente para o fundo do mar ela pode puxar o seu pé !
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Sobre o autor Enio Jorge Salu
Histórico Acadêmico
· Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo
· Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo
· Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas
· Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta
· Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed
Histórico Profissional
· CEO da Escepti Consultoria e Treinamento
· Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas
· Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares
· CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa
· Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação
· Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas
· Associado NCMA – National Contract Management Association
· Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
· Autor de 12 livros sendo 3 pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e demais em edições próprias para download gratuito nas páginas dos modelos
· Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado