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LPM vai dar muito mais trabalho para a Unimed do que a maioria imaginava
0313 – 16/01/2023
Ref.: Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil
Qualquer tipo de tabelamento de preços nunca é algo simples de se lidar
(*) todos os gráficos e ilustrações são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil e do material didático do Programa Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, dos cursos da Jornada da Gestão em Saúde e da Escepti
Quando me deparo com alguns eventos sempre acabo me considerando um privilegiado ... o caso da LPM é um deles.
Tenho a oportunidade de acompanhar profissionalmente, em consultorias, alguns cenários diferentes de avaliação do impacto que a iniciativa da Unimed está causando ... vou aqui comentar sobre 3 destes cenários:
· O primeiro em um credenciado (hospital) de uma Unimed que domina totalmente o mercado em que estão inseridos:
· A tabela foi praticamente imposta pela Unimed sem muita margem de negociação;
· É natural quando a fonte pagadora é muito forte na relação comercial que o cliente acabe aceitando as condições definidas pela fonte pagadora !
O segundo em um hospital da própria Unimed:
· Utiliza LPM para as contas dos próprios beneficiários da Unimed – locais e de intercâmbio;
· Não utiliza para os demais clientes (particulares e de outras operadoras de planos de saúde).
O terceiro em um credenciado da Unimed em uma região onde ela não domina o mercado – tem forte concorrência de uma medicina de grupo:
· O credenciado aceitou a LPM apenas para os beneficiários de intercâmbio, em nome de uma “parceria”;
· Para os beneficiários locais manteve as regras tradicionais.
Nos três casos, a receita dos serviços de saúde reduziu, como demonstra o quadro ... cenário por cenário.
Nos três casos os próximos meses serão de ajustes ... calibração ... das negociações !
A regra básica da implantação seria (deveria ter sido) ajustar os preços das diárias e taxas, para compensar a redução dos preços de materiais e medicamentos ... nos três casos:
· Parece simples ... mas não é ... só quem trabalha com precificação sabe que uma “calibração” de preços como esta é, antes de mais nada, um teste de paciência !
· Seria simples se a produção fosse a mesma ... e nunca é;
· A quantidade de atendimentos até pode ter alguma constância ... mas os procedimentos realizados não ... e os pacientes que são submetidos aos procedimentos também não são os mesmos !!
Variando os procedimentos, e os pacientes, os insumos consumidos variam:
· As quantidades de diárias e taxas variam desproporcionalmente em relação à variação do empenho de materiais e medicamentos;
· Se a proporção da variação fosse a mesma, seria fácil projetar o impacto ... como não é, por mais cuidado que a gente tenha em projetar o que pode acontecer ... não acerta nunca “os 6 números sorteados” !
É fácil entender:
· O quadro foi composto com os valores faturados por grupo de receita;
· Foi transformado em proporção de valores para não dar a menor chance de identificar as instituições envolvidas para quem está lendo este texto;
· Observamos que a variação absoluta de valor entre o que foi faturado (inserindo a LPM no contexto) comparando com o valor que seria faturado (se não existisse LPM) é muito diferente entre um cenário e outro, por grupo de receita;
· Com tanta variação entre grupos, evidentemente a variação total vai ser “meio que aleatória”;
· Estes números se referem ao faturamento de novembro de 2022 ... “logo logo”, se Deus quiser, vou ter a oportunidade de avaliar dezembro ... com a certeza de que as proporções vão se alterar completamente, porque – novamente enfatizando – não serão os mesmos pacientes submetidos aos mesmos procedimentos.
E como “fotografar um céu com nuvens” ... não há como ao longo dos meses estas proporções se repetirem:
· Então, como a base de negociação nos valores de diárias se basearam em um determinado mês ... ou mesmo em um período de alguns meses ... a base nunca vai refletir a realidade futura ... as nuvens do céu amanhã são diferentes da de hoje ... das de ontem ...
· ... a projeção sempre vai ser diferente da realidade ... tão simples quanto isso !!
Há anos digo em aulas que “dou graças a Deus” porque o SUS, a ANS, as operadoras ... adoram complicar as coisas:
· Quanto mais complicam, mais trabalho eu tenho ... e os alunos dão risada;
· Mas é a pura verdade !
A iniciativa da Unimed com LPM me fez até recusar um serviço: como minha atuação como consultor é personalíssima, tenho uma capacidade limitada para absorver projetos !
Para lidar com um tabelamento de preços, em um mercado onde a inflação é mais alta que a inflação comum, é necessário fazer as projeções com muito cuidado ...
· ... e inserir na negociação elementos que permitam ajustes de alinhamento ...
· ... porque se deixar para falar sobre o assunto só daqui a um ano ... é suicídio !
Mesmo que os parâmetros de negociação não sejam revistos mensalmente, em alguns momentos será mandatório sentar e realinhar:
· Quando a ANVISA reajustar os preços dos medicamentos, por exemplo;
· ... no mês do dissídio coletivo da enfermagem, por exemplo !
Não cabe aqui ... não é propósito do texto ... discutir se LPM foi uma boa iniciativa ou não por parte da Unimed ... mas uma coisa é certa: quem pensa que o trabalho foi implantar e a manutenção é fácil, se enganou 2 vezes:
· O fácil foi implantar ... a manutenção vai dar trabalho !!
É necessário abrir parênteses sobre a LPM sob o ponto de vista de tabelamento de preços:
· Raras coisas têm preços tabelados no Brasil ... tarifa de energia elétrica por concessionária ... de fornecimento de água por concessionária ...
· ... praticamente só serviços públicos ... e com variações regionais, porque o Brasil são vários países diferentes em um só !
· Só quem teve a oportunidade de trabalhar (não visitar como turista) Manaus e Belo Horizonte ... Porto Alegre e Campo Grande ... até Recife e João Pessoa que são “pertinho uma da outra” entende como regionalmente os negócios se adaptam às condições muito específicas de cada região !
O governo, através da ANVISA, está há décadas com um tabelamento de preços de medicamento que só serve para “inglês ver” ... na prática não funciona nem na área pública, nem na área privada:
· Também, só quem lida com isso profissionalmente acompanhando licitações de compra de medicamentos para serviços públicos, compra de medicamentos em serviços privados, contratos entre operadoras e serviços de saúde ...
· ... só quem vivência sabe o quanto a CMED da ANVISA (o Brasindice) é apenas uma referência de indexação de preços ... não tabela os preços.
Não é questão de defender ou não qualquer tipo de tabelamento de preços (eu por exemplo não defendo – o mercado dita o preço sempre, com tabelamento ou não) ...
· ... a questão é que não existe espaço para tabelamento de preços em uma economia aberta ... para uma economia de mercado;
· Gostando ou não da LPM, ela está aí, inserida no contexto da “Saúde Suplementar Particular do Sistema Unimed”, que diga-se de passagem é uma saúde suplementar muito bem estruturada !
Gostando ou não, o que o gestor, seja da Unimed Operadora, seja do serviço de saúde próprio da Unimed, seja do credenciado da Unimed ... o que o gestor deve fazer é, dentro daquilo é não é ilegal, imoral ou antiético, obter o melhor resultado possível.
Entender todas as nuances da LPM e onde ela é mais ou menos danosa para o seu negócio é fundamental ... porque “estamos falando” de mais ou menos um terço de todos os beneficiários da saúde suplementar regulada pela ANS no Brasil !
Referências sobre conteúdo para gestores da área da saúde privada e pública:
· Programa CPGS – Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde www.cpgs.net.br
· Cursos da Jornada da Gestão em Saúde www.jgs.net.br
· Geografia Econômica da Saúde no Brasil, e seminários temáticos www.gesb.net.br
· Lista de milhares de profissionais certificados www.escepti.com.br/certificados
· Informações adicionais sobre cursos e consultoria em gestão na área da saúde contato@escepti.com.br
Sobre o autor Enio Jorge Salu
Histórico Acadêmico
· Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo
· Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo
· Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas
· Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta
· Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed
Histórico Profissional
· CEO da Escepti Consultoria e Treinamento
· Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas
· Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares
· CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa
· Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação
· Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas
· Associado NCMA – National Contract Management Association
· Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
· Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria
· Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado