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Impacto da Pandemia nas UTIs no Brasil

0315 – 29/01/2023

Ref.: Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil

COVID-19 realinhou a oferta para a demanda reprimida de leitos de UTI no Brasil

 

 

(*) todos os gráficos e ilustrações são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil e do material didático do Programa Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, dos cursos da Jornada da Gestão em Saúde e da Escepti

Estes gráficos fantásticos demonstram a distribuição de leitos UTI e não UTI no final de 2022:

·        Em relação à tendência histórica algumas coisas não mudaram ... não têm como mudar;

·        Apesar de termos muito mais leitos SUS do que na saúde suplementar, primeiro porque o SUS é muito maior que a saúde suplementar, e segundo porque os sistemas de financiamento definem como “maioria esmagadora” enfermarias no SUS e apartamentos na saúde suplementar ...

·        ... apesar de, “no total” a quantidade de leitos da saúde suplementar é ridiculamente pequena em relação a do SUS ...

·        ... nós temos, já de algumas décadas para cá, mais leitos UTI na saúde suplementar do que no SUS !

Não cabe aqui no espaço do texto relembrar as razões ...

·        ... utilizamos as razões como base nas consultorias ... e “a gente cansa” de discutir o assunto em cursos;

·        Uma delas ... talvez a mais significativa ... é que não existem “apartamentos UTI” e “enfermarias UTI” ... é tudo “enfermaria de 6, 8, 10, 12 leitos de UTI” !!

·        Em textos do início da pandemia tratamos todas as razões ... uma época em que fui muito demandado por secretarias de saúde, operadoras de planos de saúde e hospitais públicos e privados para produzir mapas geoeconômicos da distribuição dos leitos de UTI, uma vez que a demanda “explodiu” com a pandemia ...

·        ... uma época de muito trabalho, mas que fica com muito orgulho na memória afetiva por ter contribuído com a gestão dos leitos na saúde pública e privada naquele momento “ímpar” da história da gestão da saúde !

Mas vale muito a pena “assuntar” com o que aconteceu com leitos de UTI no Brasil ...

 

A maioria das pessoas associa a pandemia como uma espécie de época das trevas da saúde no mundo ... será mesmo ? ... é evidente que não !

·        Como aconteceu em qualquer período de dificuldade extrema, a humanidade se superou desenvolvendo em tempo recorde vacinas ... definindo protocolos de tratamento para uma nova doença terrível ... construindo hospitais de campanha ... foi um “show de reação da ciência” na medicina ... é claro tivemos também um “show de lambanças” ... mas com “heranças” muito boas !

·        A como efeito colateral a pandemia ainda “nos brindou” com uma série de coisas na área da saúde que não andavam ... estavam estagnadas ou não eram levadas a sério;

·        Se proteger, por exemplo ... higienizar as mãos, usar máscaras em locais de alto potencial de contaminação ... são coisas que vieram para ficar ... mesmo que todos os ministros da saúde de todos os países do mundo mais os “caciques da OMS” viessem a público para dizer que não é mais necessário usar máscara em transporte coletivo ... mesmo que o Papa, que o Pelé ou a Madre Teresa ou o Einstein ou o Chico Xavier enviarem mensagens psicografadas dizendo que não é mais necessário o uso de máscaras ... vou usar ... e muitas pessoas mais ... aprendemos que se não faz bem, mal é que não faz ! ... e em determinadas situações o custo x benefício é absolutamente incontestável ... não ser contaminado por doença que é facilmente evitável !!!

·        Uma coisa que estava estagnada, por exemplo ... a necessária expansão dos leitos de UTI ... andou !!!!

E várias outras coisas que a pandemia contribuiu para “desencantar” !!!!!

A maioria das pessoas se atentou somete a necessidade da expansão de leitos de UTI para tratar pacientes COVID – em relação a este tipo de leito de UTI, os gráficos mostram o que aconteceu:

·        O grupo de cima, em relação aos leitos de UTIs COVID para adultos;

·        O grupo de baixo, em relação aos leitos de UTIs COVID pediátricas;

·        Azuis, SUS ... verdes, Saúde Suplementar ... abóbora, SUS + Saúde Suplementar;

Os gráficos de barras demonstram a evolução de 2019 até 2022 do número de leitos:

·        Todos demonstram que tanto SUS como Saúde Suplementar se mobilizaram em equipar UTIs para enfrentar a doença em 2020 e 2021, e em 2022 entraram em franca desmobilização;

·        É importante citar que os números são de final de ano ... se estivessem extrapolando mês a mês teríamos picos maiores;;

·        E é interessante notar que tanto SUS como saúde suplementar regiram de forma diferente em relação aos leitos para adultos em relação aos pediátricos ...

·        ... no início foco total no adulto ... depois que descobriram que a doença não matava somente idosos, inverteram o foco !

Os mapas demonstram a quantidade destes leitos per capita:

·        No caso do SUS, volume de leitos do SUS em relação à população dependente SUS ... a população total menos a quantidade de beneficiários de planos de saúde de assistência médica;

·        No caso da Saúde Suplementar, volume de leitos da Saúde Suplementar em relação à quantidade de beneficiários de planos de saúde de assistência médica;

·        No caso geral ... todos os leitos em relação à população total.

O que chama a atenção é como é difícil “calibrar” a quantidade de leitos em eventos recentes ... sem uma média histórica que dê segurança ao planejamento:

·        O período de pandemia (3 anos) é muito pequeno estatisticamente para calibrar com precisão a oferta para a demanda, não somente porque era uma doença desconhecida, mas principalmente porque a frequência relativa da doença variava muito regionalmente – é só lembrar que no Brasil quase todo mundo escutou falar muito de COVID em Manaus ... mas provavelmente voce não se lembra de ter ouvido falar sobre COVID em Curitiba, Porto Velho ...

·        ... a falta de uma coordenação central do Ministério da Saúde fez com que Estados e Municípios aplicassem as fórmulas que acreditavam ser as melhores ... ou que a pressão política e ideológica obrigou, uma vez que o assunto foi mais politizado do que tecnicamente discutido !

Então a pandemia acabou ... os leitos de UTI para COVID foram sendo desmobilizados ... e tudo volta a ser o que era antes ... ledo engano ! ... muito pelo contrário !! ... a herança que ficou para nós, tanto na saúde suplementar como na saúde pública foi muito positiva em relação a isso !!

 

 

Temos vários tipos de leitos de UTI ... adulto, pediátrica, neonatal, queimados ...

·        Os gráficos demonstram a evolução dos leitos para queimados;

·        São os que menos sofreram influência da pandemia;

·        A variação global foi de 0,4 % ... mesmo com a pandemia manteve praticamente a mesma evolução dos anos anteriores;

·        Ao contrário, diga-se de passagem, do que “terroristas” cansaram de encher  a paciência da gente espalhando fake news sobre o aumento de pessoas queimadas pelo uso de álcool para higienizar as mãos ...

·        ... a demanda manteve a mesma evolução dos anos anteriores ... e a oferta de leitos especializados também;

·        É claro que em uma ou outra situação ... em eventos “fora da curva” ... deve ter faltado leito de UTI para queimados por ter havido aumento de demanda ... mas na média ... “tudo dentro da curva” !

Então compramos respiradores e equipamentos para UTIs ... especializamos médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e outros profissionais assistenciais em medicina intensiva ... e foi tudo perdido ? ... não mesmo ! ... muito pelo contrário !! ... UTI de queimados é um pedacinho da medicina intensiva ... quase insignificante em volume em relação aos demais tipos !!!

 

 

Os gráficos demonstram a evolução nos leitos de UTI Neonatal:

·        Um aumento geral de quase 9 % durante a pandemia ... e nada a ver com tratamento de COVID-19 !

·        O aumento capitaneado pela Saúde Suplementar (16,7 %) dá a falsa impressão de que com este aumento está sobrando leito de UTI Neonatal no Brasil ...

·        ... outro ledo engano ... quem trabalha com gestão em saúde como eu em várias regiões do Brasil sabe que ter leito de UTI Neo ainda é o maior trunfo que os serviços de saúde têm para negociar contratos tanto com o SUS como com as operadoras de planos de saúde;

·        Mas quem está no meio das contratualizações sabe que este aumento na oferta de leitos de UTI Neo está “baixando” o preço nas regiões em que a quantidade per capita vai subindo.

Notar que a variação Per Capita SUS vai de ~13 até ~49 no SUS, enquanto na saúde suplementar vai de ~67  até ~556 ...

·        ... ou seja ... a Saúde Suplementar está proporcionalmente mais bem equipada que o SUS quando falamos de UTI Neo;

·        E no SUS, pelo menor acesso ao pré-natal do que na saúde suplementar, o risco de necessitar de UTI Neo é maior !

·        Em algumas regiões do Brasil é mais fácil acertar na mega sena do que ter um leito de UTI Neo disponível quando a demanda surge no SUS !!

 

 

O aumento nos leitos de UTI pediátrica foi maior que os de UTI Neo:

·        Mesmo se considerar que parte destes leitos foram ... e ainda são ... utilizados para pacientes COVID ...

·        ... que existem pacientes COVID em leitos que não são especificamente para COVID, especialmente a partir de 2022 ...

·        ... o aumento de mais de 20 % em ~3 anos é fantástico !

·        Especialmente quando lembrarmos que parte da coordenação da saúde no Brasil ignorou que “não velhos” ... “não adultos” ... também estavam propensos a quadros graves por contaminação na pandemia !

Mesmo com “teimosia” na coordenação do enfrentamento por parte do MS, tanto SUS como Saúde Suplementar reagiram rapidamente e o legado que ficou é um aumento significativo de leitos de UTI Pediátrica em relação ao que existia antes da pandemia !!

 

 

Quando vemos os gráficos de evolução de leitos de UTI adulto ... meu Deus !

·        O geral quase 38 % de aumento ... mais que fantástico !

·        Também ... mesmo considerando que parte destes leitos foram ... e ainda estão sendo utilizados para pacientes COVID ... não temos nenhum indicador que sinaliza que estes pacientes representem perto de 38 % do total de pacientes em UTI no final de 2022 ...

·        ... não sinalizam 30 % ... não sinalizam 20 % ... não sinalizam nem 10 %.

O aumento da oferta de leitos de UTI é para ser comemorado ... se foi o preço pago pela pandemia não importa ... o que importa é que temos mais leitos.

E vale muito a pena observar o indicador per capita do SUS comparado com o da Saúde Suplementar:

·        Da mesma forma que UTI Neo ... que UTI Pediátrica ... o SUS está pior equipado em relação à Saúde Suplementar também em leitos de UTI Adulto ...

·        ... e da mesma forma, tanto no SUS como na saúde suplementar, enquanto algumas regiões estão clarinhas no “mapa de calor” (SP e SC por exemplo na SS), outras estão “extremamente escuras” (GO e RO por exemplo na SS), demonstrando a diferença de acesso dos beneficiários regionalmente a este importantíssimo recurso da medicina !!

 

 

Estava sentindo falta do comentário sobre UTI Coronarianas ?

·        Olha a inclinação das curvas de evolução no volume de leitos !

·        Quase 56 % no geral ... ~26 % no SUS ... e inacreditáveis ~68 % na saúde suplementar !!

·        Viver neste país “é com emoção” ... nossos corações que o digam !!!

Quem é gestor sabe o quanto de economia significa ter um leito de UTI especializado para cardiologia, ou não ter ...

·        Custa caro manter um paciente em um leito de UTI geral, quando necessita de cuidados específicos de cardiologia;

·        O custo x benefício de ter ou não este tipo de leito especializado, dentro da especialização UTI, ou não, é completamente diferente !

·        O mercado vai se alinhando ao melhor custo x benefício ... e os números refletem este “avanço” na gestão da saúde pública e da saúde privada !!

 

Os gráficos demonstram a soma de todos os tipos (COVID e Não COVID, Adulto, Pediátrico, Neonatal, Queimados e Cardio):

·        Após a montanha russa de abrir e fechar leitos de acordo com as ondas da pandemia ...

·        ... no geral saímos de um patamar de ~50 mil leitos de UTI antes da pandemia, para um patamar de ~68 mil leitos no final de 2022 !

Fala sério ... quantas coisas aumentaram 35 % no Brasil (além da inflação e do salário dos políticos é claro !) ?

Quem não é do ramo pode pensar que este aumento na oferta de leitos de UTI vai servir apenas para tratar pacientes graves, crônicos ... não é verdade ...

·        ... vai dar mais acesso para estes pacientes sim ... mas não é somente isso ...

·        ... uma infinidade de procedimentos cirúrgicos que não necessariamente utilizam UTI são canceladas, ou não agendadas, por falta de leito de UTI;

·        Quando um paciente sai de uma cirurgia no coração vai “praticamente direto” para a UTI na maioria absoluta dos casos;

·        Mas pacientes de algumas cirurgias ortopédicas, por exemplo, têm potencial para que o paciente vá para a UTI ... na rotina não vai, mas o protocolo de precaução destas algumas exige que exista leito de UTI de retaguarda caso necessite;

·        Se não existe leito de UTI disponível previsto a cirurgia não é agendada ... a não ser quer seja de emergência onde o dano de não ter UTI de retaguarda seja menor do que o dano de não realizar a cirurgia;

·        Existem várias cirurgias assim ... na regra não usa a UTI, mas o protocolo exige que exista.

Se não ficou claro ... muito das filas de cirurgias, que são grandes no SUS, se deve a falta de leitos de UTI ... leitos de UTI que podem não serem utilizados ... mas “pelo sim pelo não” tem que existir devido ao protocolo, senão não se agenda.

A pandemia deixou esta herança para nós ... uma boa herança:

·        E como os equipamentos foram adquiridos ... as equipes foram especializadas ... como o ambiente ficou propício ... a saúde suplementar aproveitou “a raspa do taxo” ... muitos equipamentos que foram adquiridos para hospitais de campanha terceirizados para o SUS acabaram tendo como destino a expansão das UTIs na saúde suplementar;

·        Todos os números demonstram que o SUS ainda necessita ... e ainda vai demorar ... se alinhar ao que existe proporcionalmente na saúde suplementar ... mas a proporção no SUS também melhorou ... isso é indiscutível.

Melhorando oferta:

·        Na saúde suplementar a tendência é reduzir o preço pago ... reduzir o custo dos procedimentos que dependem desta infraestrutura “mais robusta” ... onde a concorrência aumenta !

·        No SUS a tendência é contribuir para a redução das filas de procedimentos cirúrgicos ... maior acesso para a população “mais carente” ... que no Brasil não é nenhum pouco pequena não é verdade ?

É, sem dúvida alguma ... conforme todos os números demonstram ... algo para os gestores da saúde pública e privada no Brasil comemorarem ... e para os beneficiários do SUS e das operadoras de planos de saúde agradecerem !!

Referências sobre conteúdo para gestores da área da saúde privada e pública:

·        Programa CPGS – Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde   www.cpgs.net.br

·        Cursos da Jornada da Gestão em Saúde  www.jgs.net.br

·        Geografia Econômica da Saúde no Brasil, e seminários temáticos     www.gesb.net.br

·       Lista de milhares de profissionais certificados   www.escepti.com.br/certificados

·        Informações adicionais sobre cursos e consultoria em gestão na área da saúde     contato@escepti.com.br

 

Sobre o autor Enio Jorge Salu

Histórico Acadêmico

·  Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo

·  Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo

·  Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas

·  Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta

·  Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed

Histórico Profissional

·  CEO da Escepti Consultoria e Treinamento

·  Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas

·  Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares

·  CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa

·  Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação

·  Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas

·  Associado NCMA – National Contract Management Association

·  Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde

·  Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria

·  Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado