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Médico - a solução e o problema da gestão da saúde

0316 – 05/02/2023

Ref.: Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil

Tudo na saúde pública e privada gira em torno de um profissional cada vez mais difícil de encontrar

 

(*) todos os gráficos e ilustrações são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil e do material didático do Programa Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, dos cursos da Jornada da Gestão em Saúde e da Escepti

Sempre dizemos que para entender gestão em saúde ... seja a privada, seja a pública ... é necessário lembrar que a base dos 3 sistemas de financiamento que existem no Brasil (SUS, Saúde Suplementar Regulada pela ANS e Saúde Suplementar Não Regulada) é a da existência de uma infinidade de instituições (ministério, secretarias de saúde, operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros der diagnósticos, emergências, ambulatórios, fornecedores de insumos ...) explorando comercialmente (ou economicamente) o fato de um profissional assistencial estar cuidando de um paciente.

Em especial, na medicina o médico, que definem a conduta em cada caso ... que também depende de uma infinidade de outros profissionais multidisciplinares (enfermagem, fisioterapia, nutrição, farmácia, psicologia, fono ...) para que o tratamento se efetive ... todo o resto gira em torno disso !

O gráfico tabula a quantidade de médicos existente no Brasil.

Não contamos as pessoas físicas (os “médicos CPF”) mas os “postos de trabalho médicos” porque um mesmo médico pode trabalhar no SUS, na Saúde Suplementar Regulada e na Saúde Suplementar Não Regulada ...

·        ... pode ser plantonista em um serviço e clínico em outro ...

·        ... pode ser de uma especialidade em um, e de outra em outro !

·        É claro que existem os que atuam em um “único papel na peça”, mas quando contamos as “personagens das histórias” não contamos o ator ... mas as personagens, porque a história é escrita para descrever as personagens e não os atores.

Então temos quase o dobro de médicos no SUS do que na Saúde suplementar no Brasil !

·        Mais de 1 milhão e quatrocentos mil postos de trabalho médicos;

·        E em torno deste quase 1 milhão e meio de profissionais dezenas de milhões de outros profissionais necessários para que ele consiga “fazer seu trabalho” !

O fator chave de sucesso de qualquer instituição que atue na área da saúde privada ou pública (fonte pagadora, serviço de saúde, fornecedor de insumos, regulador ...) é equacionar o relacionamento comercial com este profissional ...

·        Ele faz e/ou instrui o exame, diagnostica, define o tratamento, realiza procedimentos, acompanha/avalia as atividades dos demais profissionais multidisciplinares ...

·        ... até que o julgamento do resultado justifique a alta do tratamento.

E equacionar esta relação, que é a solução para a sustentabilidade econômica de qualquer instituição, não é simples ...

 

 


Lembrar que eles não atuam da mesma forma ... apesar de praticar a medicina, “não fazem a mesma coisa”:

·        Existe uma infinidade de especialidades como demonstra o gráfico !

·        Médico dermatologista não é endocrinologista ... médico psiquiatra não é cardiologista ...

·        Por definição um médico pode fazer tudo na medicina (desde uma consulta “clínica geral” até uma cirurgia no aparelho digestivo), mas não é assim que atuam ...

·        ... para obter um bom resultado no tratamento de doenças do coração é necessária a especialização em cardiologia ... de transtorno mental em psiquiatria ... e assim por diante.

A “equação” que define o bom relacionamento com eles depende fundamentalmente de entender, pelo menos:

·        Que não existem médicos disponíveis nas especialidades na mesma proporção – como demonstra o gráfico de todos que existem no Brasil ...

·        ... e que regionalmente as “mudanças de proporção” são completamente diferentes ... como os gráficos da geografia econômica da saúde a seguir vão ilustrar !

·        O gestor que não está atento a isso, ao invés de sentir que o médico é a solução para a sua necessidade, acaba tendo na figura do médico seu maior problema !!

 

 

Mesmo durante a pandemia, período em que tratamentos eletivos foram “engavetados”, tivemos aumento de profissionais assistenciais tanto no SUS como na Saúde Suplementar:

·        E médicos não foram os que “granjearam” o maior índice de crescimento, como demonstra o gráfico;

·        Mas uma evolução de ~23 % no volume de médicos neste período é absolutamente fantástico para os sistemas de saúde que necessitam deles.

É interessante notar pelos gráficos que o crescimento no SUS foi maior do que na saúde suplementar ... notar que a linha de tendência das barras azuis (SUS) está mais “empinada” do que a das barras verdes (Saúde Suplementar) !

·        Ou seja, a tendência de continuarmos tendo mais médicos no SUS do que na saúde suplementar é fato;

·        Não vamos comentar aqui senão o texto vai ficar ainda mais gigante, mas é fato que a saúde suplementar não está atenta a se relacionar com os médicos da forma mais adequada ... na média está negligenciando a relação ... já está pagando mais caro em função disso ... e pela tendência o problema desta relação inadequada vai fazer com que o preço que vai pagar no futuro seja ainda maior  ...

·        ... não que a forma como a saúde suplementar está totalmente errada ... algumas fontes pagadoras, em especial algumas operadoras de planos de saúde do tipo medicina de grupo, estão “trilhando um caminho perigoso” para a sua sustentabilidade financeira ... mas isso é assunto para outro texto !

 

 

Os gráficos (espetaculares) demonstram como a “geografia econômica dos médicos” se diferencia pelo Brasil:

·        Os da esquerda demonstram o número absoluto (total) de médicos;

·        Os da direita, a proporção entre médicos e pacientes;

·        Os de cima, do SUS, os do meio da saúde suplementar, e os de baixo o cenário geral (SUS + Saúde Suplementar).

A proporção entre médicos e pacientes é calculada com o cuidado de não misturar “alhos e bugalhos”:

·        O gráfico de baixo (total) é a divisão da quantidade total de médicos, pela população total;

·        O do meio (saúde suplementar) é a divisão de médicos da saúde suplementar pela quantidade de beneficiários de planos de saúde;

·        O de cima (SUS) é a divisão dos médicos do SUS pela população dependente SUS (a total, menos os beneficiários de planos de saúde).

É fácil notar que quando tratamos do volume total de médicos (os da esquerda), UFs mais populosas como SP e MG são protagonistas:

·        Mas quando estabelecemos a relação de oferta de médicos x pacientes (os da direita), este protagonismo não é assim evidenciado ... não se repete;

·        Perceba que no SUS o protagonismo de SP ainda existe, mas “muito parelho” com as demais UFs da Região Sul;

·        Perceba que na SS o protagonismo de SP não existe ... SC, MG, AC ... tem mais oferta proporcional de médicos do que SP.

É importante notar também que:

·        Enquanto no SUS o indicador varia entre 1,9 até 8,9 médicos por paciente ...

·        ... na saúde suplementar o indicador varia entre 3,52 até 19,22 !

·        Ou seja ... na média ... existe maior oferta de médicos por paciente na saúde suplementar do que no SUS;

·        “No geral” temos mais médicos no SUS do que na saúde suplementar, mas proporcionalmente à demanda que a população gera, temos mais médicos na saúde suplementar do que no SUS ...

·        ... esta é, inclusive, uma das razões pelas quais algumas operadoras estão aproveitando a oportunidade para pressionar a relação comercial com os médicos !!

 

 

Mas a gestão da saúde é fascinante porque os cenários variam de forma absurda ... mesmo quando “damos zoom” nos cenários regionais:

·        Os gráficos ilustram a distribuição da população total, dos beneficiários de planos de saúde, e da população dependente SUS no Estado de São Paulo;

·        A Cidade de São Paulo ... a cidade que eu vivo ... é gigantesca quando comparada com as demais cidades do estado que tem, na média, as cidades mais populosas do Brasil;

·        As barras em Sampa são como “arranha céus” ao lado de residências térreas !

 

 

Quando traçamos o mesmo gráfico com a quantidade total de médicos:

·        Percebemos que Sampa continua protagonista ... mas já não tanto como nos gráficos anteriores;

·        É certo que Sampa é um “polo de turismo da saúde gigantesco” ... muita gente de outras cidades do Brasil ... de outros países ... vêm para Sampa em busca de tratamento ...

·        ... e isso faz com que exista uma enorme concentração de médicos não somente para tratar os paulistanos !

 

 

Quando transforamos o gráfico de barras em gráfico de calor, Sampa “ofusca” completamente os demais municípios do Estado ! ...

 

 

... mas quando transformamos os gráficos de volume de médicos em proporção de médicos por doente, Sampa até continua protagonista,  mas “nem tanto mestre ... nem tanto !”.

·        A geografia econômica da saúde de cada região ...

·        ... a demanda de cada região ...

·        ... as condições de trabalho para os médicos em cada região ...

·        ... os vários fatores sócio e econômicos regionais definem quantos médicos vão existir no SUS ... na saúde suplementar ... como será a oferta de médicos em cada região.

Se o gestor não estiver atento a isso, erra na gestão:

·        Investe errado ...

·        ... não consegue manter a sustentabilidade da instituição que gere ...

·        ... transforma o relacionamento com o médico em um “braço de ferro” ...

·        ... perde oportunidades de negócio que a saúde privada e pública “cansam” de ofertar para ele !

 

 

Juntando o gráfico anterior, com aquele lá de cima que demonstra a distribuição dos médicos por especialidade:

·        Peguei por acaso Neuro (médicos clínicos e cirúrgicos) ...

·        ... veja como os mapas de calor são completamente diferentes a ponto de Sampa nem ser protagonista na saúde suplementar ! ... quem diria, se não analisasse !!

Talvez tenha passado desapercebido ao comparar o gráfico anterior, que contabilizava o “per capita” de todos os médicos, com este que contabiliza o per capita de neuro:

·        Lá o indicador máximo era 31,68, enquanto neste o indicador máximo é 1,54 ...

·        ... ou seja ...

·        ... a oferta geral de médicos é mais de 20 vezes maior do que a de “neuros” !

·        Se estiver com escassez geral de médicos na sua gestão, a probabilidade de escassez de neuros é 20 vezes maior ... assim não bem claro ?

A solução dos  problemas do gestor ... existir médico ... pode ser o grande problema da gestão ... se faltar médico ...

·        ... se um dos conceitos de gestão é fundamentalmente agir na dificuldade ... porque se não existe dificuldade qualquer um pode ser gestor não é verdade ? ...

·        ... então a gestão do relacionamento com a “matéria-prima” mais escassa da medicina deve ser a motivação do gestor !!

 

 

Veja o ESP com o número absoluto de médicos desta especialidade:

·        Nos municípios em que “os quadradinhos” estão vazios, qualquer paciente que necessite de neuro ...

·        ... ou vai exigir complexidade econômica da logística necessária para “importar o médico” de outra para eventos específicos ... aleatórios na “linha do tempo” ...

·        ... ou o paciente (e eventualmente acompanhantes do paciente) vai ser encaminhado para outra cidade ...

·        ... ou vai ser atendido nesta especialidade por um médico de outra especialidade;

·        Com todo o respeito que os médicos de outras especialidades merecem ... o tratamento em uma especialidade realizado por médico de outra especialidade não terá a qualidade que o paciente merece ... que o paciente tem direito de ter !

Estou aleatoriamente ilustrando aqui o cenário com neuro:

·        Mas “pode pegar” cardio, nefro, gastro, dermato, pediatra, geriatra ...

·        ... pode pegar qualquer especialidade e construir gráficos geoeconômicos para perceber como a realidade de cada especialidade é tão diferente em cada local ... até entre locais as vezes muito próximos ... “vizinhos” !

·        Para entender como ter o médico é solução ... e porque não ter é “o grande problema” ... entender as nuances dos anestesistas, intensivistas ... do programa “mais médicos” ... dos desafios dos PSFs, PSRs ...

·        E não se arriscar em projetos de expansão de acesso, seja em secretarias de saúde, em operadoras de planos de saúde, em serviços de saúde ... em fornecedores de insumos ... ter discernimento para saber que o projeto de acesso do paciente à saúde passa obrigatoriamente pela disponibilidade da “matéria-prima” médico !

O fato “escancarado pelos números” é que, por mais que tenha crescido o número de médicos nos últimos anos, ainda temos carência de profissionais qualificados para uma enorme quantidade de especialidades pelo Brasil.

Não dá para deixar de comentar que, por isso, dizemos que as Unimeds têm um fator competitivo importante em relação as demais operadoras: os médicos são os donos ... são os seus próprios patrões ... dentro do sistema Unimed falta menos médicos do que fora dele !

Bem ... como dito “lá em cima” ... na saúde pública e privada, todos exploram comercialmente a relação do profissional assistencial com o paciente ... entre os profissionais assistenciais, a relação médico x paciente é chave ! ... ... o gestor da saúde pública ou privada que não entende isso, coloca a instituição que representa em risco !

Referências sobre conteúdo para gestores da área da saúde privada e pública:

·        Programa CPGS – Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde   www.cpgs.net.br

·        Cursos da Jornada da Gestão em Saúde  www.jgs.net.br

·        Geografia Econômica da Saúde no Brasil, e seminários temáticos     www.gesb.net.br

·       Lista de milhares de profissionais certificados   www.escepti.com.br/certificados

·        Informações adicionais sobre cursos e consultoria em gestão na área da saúde     contato@escepti.com.br

 

Sobre o autor Enio Jorge Salu

Histórico Acadêmico

·  Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo

·  Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo

·  Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas

·  Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta

·  Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed

Histórico Profissional

·  CEO da Escepti Consultoria e Treinamento

·  Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas

·  Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares

·  CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa

·  Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação

·  Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas

·  Associado NCMA – National Contract Management Association

·  Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde

·  Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria

·  Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado