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O futuro das operadoras de planos de saúde

0332 – 14/05/2023

Ref.: Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil

Ou a regulação muda, ou continua a agonia das operadoras de planos de saúde

 

(*) todos os gráficos e ilustrações são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil e do material didático do Programa Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, dos cursos da Jornada da Gestão em Saúde e da Escepti

Na semana passada tive a honra de fazer uma apresentação, para “a nata” dos dirigentes das Unimeds de todo o Brasil, de uma visão sobre o futuro das operadoras de planos de saúde ... uma oportunidade para poucos, que agradeço muito, porque são raríssimos os fóruns em que a gente tem oportunidade de discutir neste nível ... com os dirigentes do sistema que representa mais de 30 % do mercado da saúde suplementar regulada do Brasil.

Ha quem diga que o futuro pertence a Deus ... mas até na bíblia existem centenas de passagens que alertam para que devemos estar vigilantes ... não devemos negligenciar os sinais ... e assim diminuir a chance de sermos surpreendidos por algo previsível.

Os gráficos acima demonstram 2 sinais muito evidentes de que a mudança do mercado da saúde suplementar, que já ocorre há alguns anos, com a pandemia acelerou ainda mais !

Analisando as barras e as linhas de tendências:

·        As azuis representam a evolução do ticket médio das receitas de contraprestação – o valor médio arrecadado por beneficiário pelas operadoras;

·        As vermelhas representam a evolução do ticket médio das despesas assistenciais – o valor médio pago pela operadora por beneficiário aos serviços.

·        A aproximação de uma linha da outra ao longo do tempo demonstra que todas estão “no mesmo barco”:

·        As margens diminuem gradativamente.

E os gráficos demonstram o que aconteceu apenas entre 2019 e 2022 ... apenas uma pequena fração do tempo de existência da saúde suplementar no Brasil !

Mas o que mais chama a atenção é a escala dos gráficos:

·        O valor máximo no “eixo y”;

·        Ele demonstra que uma regulação inadequada faz com que as operadoras operem produtos completamente diferentes;

·        Tirando as autogestões que têm uma dinâmica de financiamento própria ... que só por isso deveria ter uma regulação completamente diferente, diga-se de passagem ...

·        ... os outros 3 tipos ... os que “brigam pelo mercado comprador” ... estão entregando produtos cada vez mais completamente diferentes;

·        Principalmente porque, por conta desta regulação, quem compra não tem condições de avaliar o que está comprando ... para a maioria da maioria do público comprador, sejam empresas contratantes, sejam pessoas físicas, estão confiando que estão comprando produtos parecidos, uma vez que existe “número de registro” da operadora na agência reguladora ...

·        ... hoje, na prática, este registro na ANS é uma espécie de “carimbo azul CIF” que a gente via em cortes de carne no passado, se é que me entende !

Este cenário faz com que:

·        Seja necessário repensar conceitos de gestão de operadoras de planos de saúde ... de gestão de planos de saúde ... de gestão de serviços de saúde ... quando o assunto é saúde suplementar;

·        Especialmente os conceitos de qualidade e certificação de qualidade ... de contabilidade de custos e de gestão de custos;

·        Definitivamente é necessário deixar de comparar “alho com bugalho” nos benchmarkings de melhores práticas ...

·        ... definitivamente é necessário eliminar desperdício na gestão ... desperdício na assistência ...

·        ... e analisar o que está acontecendo no nosso quintal ... o que é muito bom em um pequeno país não pode ser modelo para o nosso ... o que é muito bom para uma região do Brasil pode não ser modelo para outra ... o que é muito bom em uma cidade, pode ser extremamente danoso para outra.

E ... há “séculos” discursando ...

·        Pense no “5º S” do 5S: se existe “um dia do 5S” na empresa, ela não prática 5S ... isso é elementar na gestão dos 7 desperdícios de qualquer empresa ... o básico do Lean, antes de “querer falar” de Kaisen, Kanban, Poka Yokê, Monomossu, Just in Time ...

·        ... então pense no dia da certificação: se voce precisa divulgar ... alertar para seus gestores e todos os colaboradores ... que na “data tal” virá o auditor da qualidade, para que todos se preparem ... não se iluda ... voce não tem qualidade na sua empresa ... qualidade a gente tem, não “faz de conta” para mostrar para alguém;

·        Neste cenário de redução de margens, a contenção dos custos é o “fiel da balança” ... o que faz a empresa sobreviver ... não a contabilidade de custos para apontar os custos ... a gestão de custos para o gestor reduzir os custos.

Tão simples quanto isso !!

·        A gestão da qualidade vai reduzir naturalmente os custos nos médio e longo prazos mesmo que voce não queira ... porque processos com qualidade reduzem os 7 desperdícios “automaticamente”;

·        O certificado de qualidade pode aumentar os custos no curto prazo, e não é garantia de redução de custos depois ... muito pelo contrário, pode perpetuar o custo da manutenção de uma certificação “para inglês ver”;

·        Passou da hora de entender e praticar isso ... quanto realmente estou ganhando com o investimento que fiz para colocar o certificado de qualidade na antessala da presidência ?

Quando o cenário era mais favorável ... quando “a carne era picanha com gordura” ... pagar pela gordura não atrapalhava o churrasco, nem pesava no bolso, mesmo de quem não gosta de gordura ... agora ... sabe que “um corte menos nobre” ... uma fraldinha ... também sacia a fome e a vontade de comer ... também dá muito prazer na degustação !

 

 

O nível de endividamento de operadoras aumentou demasiadamente de 2019 e 2022 (antes e depois da pandemia):

·        Em qualquer análise que seja feita ...

·        ... seja  comparando o total de receitas com o total de despesas (gráficos da parte de baixo da ilustração) ...

·        ... seja comparando somente a receita de contraprestação com somente a despesa assistencial (gráficos da parte de cima da ilustração) ...

·        ... a saúde suplementar nunca experimentou um cenário tão crítico.

Pagar pela gordura já está se tornando absolutamente proibitivo ... não é uma questão de gosto ... é uma questão de necessidade ! ... gordura no custo dá nos gráficos acima !!

O que preocupa é que não existe nenhum indicador que sinalize mudança de tendência no curto, médio e longo prazos com esta regulação que se tem ... o cenário é este ... a mesa está posta !!

 

 

O cenário mais preocupante, nos planos de assistência médica, é o das medicinas de grupo:

·        Se entre modalidades os produtos já são completamente diferentes ... com diretrizes completamente diferentes ...

·        Entre próprias medicinas de grupo têm quem vende acém e tem quem vende alcatra ... tudo com nome de “carne para churrasco” ... sem identificar claramente o corte para quem compra.

E a regulação ainda “detona” quem tem coragem de vender planos individuais e fica à mercê da “proclamação do índice de reajuste” igual para todo mundo ... no Brasil inteiro !

Nas outras modalidades (seguradoras, autogestões, cooperativas médicas), por mais que possam existir cenários diferentes, nada se compara com o que acontece “no mundo” das medicinas de grupo.

A regulação que, na média acaba não sendo aderente a necessidade de nenhuma das modalidades especificamente, ainda não adere a necessidade dos vários produtos comercializados dentro de uma mesma modalidade ... é inacreditável !!!!!

 

 

Continuamos a assistir o mesmo cenário já em décadas, mas com os problemas aumentando de forma acelerada nos últimos anos ... especialmente de 2019 para cá:

·        Desde que a portabilidade iniciou, as operadoras começaram a sentir o agravamento da sinistralidade de forma diferente do que era antes;

·        O que ameniza o problema, ou é a entrada de novos beneficiários que nunca tiveram plano (muito pouco), ou a expansão da carteira de beneficiários específica;

·        Como a saúde suplementar está praticamente estagnada em volume de beneficiários (cresce um pouco, diminui um pouco ...) algumas operadoras conseguem resultados melhores quando “roubam” beneficiários de outras ...

·        ... quem perde beneficiários ... grangeia os piores resultados !

Basta analisar o resultado bom ou ruim das operadoras e comprovar:

·        O maior componente de sucesso ou fracasso sempre é o aumento ou redução do volume de beneficiários:

·        Nem tanto os tickets médios de contraprestação de despesas assistenciais ... ou a própria gestão ... em algumas até pode ser isso, mas estas são a minoria da minoria.

Na maioria dos casos o que faz uma operadora estar com o resultado favorável é a entrada de capital de investidores, ou o aumento da carteira de beneficiários:

·        Existe mérito neste tipo de captação, é bom que se diga;

·        Mas não tem a ver com uma boa gestão ...

·        ... e quando “minguam os IPOs” ou caem as vendas dos novos planos a gestão ineficiente prevalece derrubando o resultado !

E o mercado de “roubar beneficiários da outra” é disputado mais acirradamente pelas medicinas de grupo e cooperativas médicas:

·        Seguradoras ... que são poucas ... têm produto muito diferente ... e o volume de beneficiários, embora significativo, não é comparável ao das medicinas de grupo e cooperativas;

·        Filantrópicas têm uma quantidade insignificante de beneficiários e, definitivamente, não agride o mercado em busca de expansão de beneficiários;

·        E autogestões não tem nada a ver com esta briga ... sua clientela é sempre a mesma ... e é “propriedade delas” !]

Expansão mesmo de beneficiários ... pra valer:

·        Está acontecendo nas medicinas de grupo e seguradoras na venda de planos exclusivamente odontológicos;

·        Medicinas de grupo e seguradoras estão captando mais beneficiários de planos exclusivamente odontológicos do que cooperativas odontológicas e odontologias de grupo ... quem diria !

·        Não existe SUS médico e SUS odontológico ... mas a regulação da saúde suplementar desenvolveu esta “jaboticaba transgênica brasileira” ... então as cooperativas médicas, por questões éticas, não estão agredindo o mercado das cooperativas odontológicas ... estão respeitando a classe dos profissionais da odontologia, e por isso não estão expandindo a venda de planos odontológicos como está ocorrendo nas medicinas de grupo e seguradoras ... é ou não é jaboticaba ?

 

 

Os números são implacáveis para demonstrar o que a maioria das pessoas ainda resistem em aceitar:

·        De 2019 para cá, reduziram as quantidades de operadoras em todas as modalidades;

·        E aumentou como nunca a quantidade de administradoras de benefícios !

Sinalização do futuro mais clara do que isso ... impossível:

·        A regulação está obrigando as operadoras a entregarem produtos que agradam cada vez menos aos clientes finais (o beneficiário do plano);

·        Para pessoas físicas e jurídicas resta buscar alternativas junto às administradoras de benefícios que têm como foco a personalização dos produtos !

O futuro é de mudanças estruturais tanto para operadoras como para serviços de saúde:

·        As práticas tradicionais ... remuneração baseada em tabelas de preços sem parâmetros de qualidade ... auditorias de contas agressivas ... fragmentação da rede assistencial ... vão continuar para quem aproveita a oportunidade da regulação para entregar produtos cada vez menos aderentes ao que o mercado comprador gostaria de comprar ... e tem mercado para isso;

·        Práticas alternativas ... parcerias institucionais, matrizes de precificação, descontos progressivos, lotes de produção, contratualizações ... vão crescer para quem quer desenvolver produtos que aderem a um mercado de quem tem dinheiro para pagar por produtos melhores ... tem mercado para isso;

·        É uma questão de se posicionar ... não dá mais para querer vender tudo ... é necessário vender aquilo que  se tem competência e eficiência para entregar ... produtos diferentes que cabem em “bolsos de tamanho diferentes”.

Esta foi a visão apresentada para o seletíssimo grupo de dirigentes do Sistema Unimed ...

... que é uma “mini Saúde suplementar”, que se autorregularia muito bem se não existisse agência reguladora !

Este grupo de gestores que é chave para definir como as operadoras vão enfrentar esta “pandemia de desequilíbrio econômico” que estamos vivendo ... só tenho a agradecer a oportunidade !!!!

Estão abertas as inscrições para turmas dos Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde para gestores da saúde privada e pública:

·        Cursos sem similares em formato e conteúdo

·        O melhor custo x benefício para certificados de acordo com a sua disponibilidade financeira e de agenda

·        Cursos disponíveis: Página do Programa CPGS – Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde   www.cpgs.net.br

·       Agenda das provas para turmas abertas: Página da Jornada da Gestão em Saúde  www.jgs.net.br

·       Lista de milhares de profissionais certificados   www.escepti.com.br/certificados

Referências sobre conteúdo para gestores da área da saúde privada e pública:

·        Conteúdo especializado para gestores da área da saúde privada e pública       www.noticia.net.br

·        Geografia Econômica da Saúde no Brasil, e seminários temáticos     www.gesb.net.br

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·        Informações adicionais sobre cursos e consultoria em gestão na área da saúde     contato@escepti.com.br

 

Sobre o autor Enio Jorge Salu

Histórico Acadêmico

·  Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo

·  Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo

·  Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas

·  Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta

·  Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed

Histórico Profissional

·  CEO da Escepti Consultoria e Treinamento

·  Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas

·  Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares

·  CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa

·  Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação

·  Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas

·  Associado NCMA – National Contract Management Association

·  Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde

·  Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria

·  Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado