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SUS, Sistema Único de Saúde, ou SSU, Sistema Somente para Urgências ?
0342 – 12/07/2023
Ref.: Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil
Pela primeira vez SUS e Saúde Suplementar “naufragam no mesmo barco” !
(*) todos os gráficos e ilustrações são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil e do material didático do Programa Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, dos cursos da Jornada da Gestão em Saúde e da Escepti
Fato: só existe saúde suplementar regulada porque o SUS tem deficiência.
Então, quanto maior a deficiência do SUS, maior a oportunidade de expansão da saúde suplementar !
Que momento estamos vivendo desta relação SUS x Saúde Suplementar Regulada ?
Para quem estiver um pouco desatento os dois mapas parecem ser iguais:
· Mas observando um pouco mais detalhadamente é fácil perceber que são bem diferentes;
· O da esquerda ilustra valor do repasse de internações eletivas do SUS para o Estado de São Paulo em 2022;
· O da direita, o de internações de urgência.
Que bom seria se fosse ao contrário ...
· ... que o da esquerda estivesse “com mais calor” que o da direita !
· Não dá para esperar que um dia o da esquerda fique completamente vermelho e o da direita completamente cinza ... internações de urgência sempre ocorrerão ... mas a gente torce para que, se existe um protagonista, que seja o das eletivas ... não o das urgências.
Não é assim no Estado de São Paulo ...
· ... e não é assim infelizmente em 26 das 27 UFs Brasileiras;
· Somente no Acre o repasse para internações eletivas é maior do que o das internações de Urgência ... e não se engane ... o mapa é quase igual ... as eletivas são “uma merrequinha” maior que as de urgência !
Em 82,5 % dos municípios brasileiros, o repasse para internações de urgência é maior do que o para internações eletivas !
O valor total do repasse para internações de urgência em 2022 foi mais que 3 vezes o valor do repasse para internações eletivas no Brasil !
Analisando a série histórica destes números a gente vê como o ministério da saúde ... as secretarias estaduais e distrital de saúde ... as secretarias municiais de saúde ...
· ... não estão conseguindo lidar adequadamente com a prevenção ...
· ... não estão priorizando o diagnóstico precoce ...
· Não priorizam o tratamento preventivo e precoce !
Como eles estão focados na urgência ...
· ... além de perpetuar a tendência de aumentar cada vez mais a urgência ...
· ... ainda falta dinheiro para as ações de prevenção.
· É um “cadavérico” círculo vicioso !
O gráfico demonstra a evolução do repasse para internações de 2017 até 2022:
· As barras azuis ... para internações eletivas;
· As barras vermelhas ... para internações de urgência;
· Já é meio humilhante saber que há anos ... na verdade há décadas ... gastamos muito mais com urgência do que com eletivas.
O assunto é complexo ... não existe dúvida quanto a isso:
· Existem práticas de classificar como urgência coisas que não são urgências para “facilitar” alguns processos de regulação;
· Isso acontece no SUS e na Saúde Suplementar, é bom que se diga;
· Mas esta prática, embora exista, não seria suficiente para que esta proporção entre as barras fosse tão exacerbada.
O que também chama a atenção ... e muito ... é que não existe sinalização de que o cenário esteja mudando ...
É certo que na pandemia a maioria das internações era de urgência:
· COVID-19 surgiu do nada ... e levou milhões de pessoas a serem internadas no SUS em regime de urgência ... como mostra o gráfico da esquerda;
· O gráfico da esquerda demonstra, além do crescimento das de urgência, a queda nas eletivas durante a pandemia;
· Entre 2020 e 2021 não há o que divergir ... os números espelham a realidade de uma situação inusitada !
Mas o gráfico da direita compara 2017 com 2022 ... anos sem pandemia:
· Por mais que “oficialmente” 2022 seja rotulado como ano de pandemia ... na prática não foi ... tivemos muito maiores índices de óbitos em outras doenças do que de COVID-19;
· Então, se estivéssemos tratando direito da questão da saúde pública, o SUS teria aumentado muito mais a oferta de vagas para eletivas ... para compensar o que ficou represado nos anos de pandemia ... afinal, as doenças que necessitam de internação não se curam com “chazinho”;
· Mas como demonstra o gráfico, além de não termos tido aumento de eletivas, ainda tivemos redução em relação à 2017 ... olha ... não estamos nem comparando com 2019 ...
· ... estamos comparando com 2017 onde a rede de atendimento do SUS era “5 anos menor” ... a rede de atendimento do SUS cresceu em 5 anos ...
· ... não estamos comparando vagas de uma mesma estrutura ... estamos comparando vagas de 2022 que tem uma estrutura de atendimento maior que a de 2017 !
Infelizmente aquele primeiro gráfico de calor do Estado de São Paulo não é o resultado de uma situação pontual:
· Olhando os mapas por estado, primeiro vemos que os maiores percentuais de internações eletivas estão “na casa” dos 50 % ... apenas metade;
· E estes maiores percentuais ocorrem em poucos Estados ... a maioria deles é “clarinho”, ou seja, percentual “baixinho baixinho”;
· E comparando o mapa de 2017 com o de 2022, vemos que o cenário é muito parecido ... parece que em 2022 tiramos uma cópia “meio desbotada” do mapa de 2017 ...
· ... ou seja ... não temos razões para achar que algo está mudando ... infelizmente !
Se calculamos a evolução das internações eletivas em relação ao total de internações por UF, de 2017 até 2022, a gente só tem decepção:
· O Estado que mais evoluiu percentualmente (Rio de Janeiro, com 6,5 %) registrou em 2022 apenas 28,9 % das internações eletivas ...
· ... mesmo que ele continuar crescendo 6,5 % a cada 5 anos ... daqui a 10 anos ele terá apenas ~34 % das internações eletivas !
· Estados populosos como Pernambuco e Bahia retrocederam no indicador !
· E o Estado mais populoso do Brasil, teve a segunda maior queda entre todos !!
Vale muito a pena pensar bem em quem vai votar na eleição do ano que vem:
· A gente não mora no Brasil ... a gente mora na nossa Cidade !
· A base de estruturação do SUS começa no Município;
· Se não temos representantes que realmente entendem e se preocupam com a saúde no município, não tem chance de melhorar o SUS !!
Estes “números fatídicos” que alimentam estes gráficos fantásticos estão nos dizendo 4 coisas que não têm como serem contraditas:
1. Estamos gastando mal o dinheiro insuficiente que temos para a área da saúde ... quando a gente descobre e trata a doença antes, o custo do tratamento é menor ... se estamos gastando mais em urgência ... estamos gastando mais !
2. Estamos vendo políticos “de cara lavada” dizerem “a torto e a direito” que fila no SUS só existe em atendimentos eletivos ... que na urgência não existe fila ... meu caro “político”: estamos vivendo uma situação em que as filas estão grandes o suficiente para o paciente nem conseguir ser diagnosticado como urgência ... ao invés de chegar na internação pela regulação “eletiva”, chega de SAMU !! ... por isso não vemos fila em urgência !!! ... é tudo urgência !!!!
3. Se cada vez mais o paciente não conseguir ser “modo eletivo”, naturalmente vai detonando a estrutura da urgência e reduzindo cada vez mais a possibilidade de ser atendido para ser diagnosticado e tratado não de forma tardia !!!!!
4. Como a tendência não muda, vai ficando cada vez mais evidente que a estrutura de gestão do SUS ... os profissionais de carreira do SUS ... os que têm capacitação para regular e reduzir filas ... estão sendo tolhidos de atuar tecnicamente em função do que é decidido politicamente !!!!!!
Para “colocar a roda de volta no eixo” são necessárias duas coisas básicas ... e os gráficos que demonstram que em algumas regiões no Brasil o cenário é melhor que em outras “não deixam a gente mentir”:
· É necessário ter determinação ... “vontade política” ... para aumentar a oferta de vagas eletivas no SUS;
· E é necessário deixar a estrutura técnica do SUS fazer o que ela sabe fazer ... o que deve ser feito pensando nos médio e longo prazos ... e não o que o candidato necessita no curto prazo eleitoral !
Senão vamos transformar aquilo que levamos 34 anos para construir ... o SUS – Sistema Único de Saúde ...
· ... em algo que jamais gostaríamos que fosse;
· Um SSU – Sistema Somente para Urgências !
Uma boa dica: se o candidato à prefeito da sua cidade ... a vereador da sua cidade ... estiver baseando a sua campanha na construção de UPAs ... de pronto socorro e de pronto atendimento ... se é este “the crème de la crème” da campanha dele ... pense bem se é isso que voce deseja para o SUS !
Voltando a questão colocada no início do texto: quanto mais o SUS e deficiente, maior a oportunidade para a Saúde Suplementar Regulada.
Vivemos um momento único na história do relacionamento entre estes dois sistemas de financiamento da saúde no Brasil:
· O SUS vivendo uma crise de gestão ... contabilizando as maiores filas de sua história;
· Mas a Saúde Suplementar Regulada vivendo uma crise de gestão ... contabilizando recordes de operadoras de planos de saúde com prejuízo;
· Isso nunca ocorreu ... sempre que o SUS “engoliu água” a Saúde Suplementar Regulada “nadou de braçada” !
Talvez apenas uma coisa possa explicar: a crise econômica para a população que compra planos individuais, e para as empresas que contratam planos coletivos para seus funcionários, é muito maior do que “os números oficiais” demonstram !
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Sobre o autor Enio Jorge Salu
CEO da Escepti Consultoria e Treinamento
Histórico Acadêmico
· Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo
· Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo
· Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas
· Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta
· Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed
Histórico Profissional
· Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas
· Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares
· CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa
· Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação
· Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas
· Associado NCMA – National Contract Management Association
· Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
· Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria
· Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado