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Em hotel ninguém se obriga a dividir o quarto com alguém. Já na saúde ...
0344 – 24/07/2023
Ref.: Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil
Os tempos são outros ... leitos tipo apartamento não são mais somente uma questão de luxo, mesmo no SUS
(*) todos os gráficos e ilustrações são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil e do material didático do Programa Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, dos cursos da Jornada da Gestão em Saúde e da Escepti
Assisti recentemente uma apresentação em que a “retórica” defendia a necessidade de reduzir a hotelaria na saúde suplementar para reduzir o custo do sistema de financiamento.
É uma questão de opinião ... ou de interesse, como era o caso do “defensor” da proposição ... acho que podemos ter opinião contrária quando justificamos a “contraposição”, não é verdade ?
Começaria perguntando:
· Voce dividiria um quarto de hotel com um extremista “Lulista”, ou extremista “Bolsonarista” ?
· Dividiria com um torcedor fanático da organizada do Corinthians, do Palmeiras, do Flamengo ?
· Acredito que não ... se estiver em um hotel acredito que gostaria de empenhar pouco tempo para discutir ideologias, políticas partidárias, futebol ... ou não ?
Tanto faz qual é o time e a “organizada” ... se é ideologia de direita, esquerda ... o que se coloca é ter que compartilhar um espaço de interação “full time” com um extremista radical de qualquer coisa !
Mas se isso acontecesse, embora pudesse ser um grande motivo de chateação, não seria o pior ... tem coisa pior:
· Dividir o quarto do hotel com um bandido ... criminoso ... assassino ...
· Alguém do “efetivo” do crime organizado ... de uma milícia ...
· Bem pior ... a questão nem se enquadra em uma “mera chateação” ... é uma questão de segurança ... de risco de vida !
Então ... para não correr este risco ... se não quiser passar por fortes emoções ... voce não se hospeda em albergues, a não ser que seja por extrema necessidade ... vai para um hotel onde cada um fica “apartado” do outro ... em um aposento que, não por acaso, tem o nome de “apartamento” !
Tem um filme muito bacana ... já meio antigo (2007) ... que se chama “Antes de Partir” onde o administrador de um hospital defendia a tese de que todos devem se hospedar em quartos com 2 leitos:
· Ele próprio quando necessitou internar praguejou contra isso ... queria um apartamento;
· E o filme tinha que ter este apelo para que a história pudesse ter sentido ... um excelente filme com Jack Nicholson e Morgan Freeman que vale muito a pena ver ... aliás, é difícil um filme com um dos dois que não seja recomendável ... este, não tem como não se emocionar conforme ele vai chegando ao final !
· O filme tem sentido, e é fantástico, pelo apelo dos protagonistas terem compartilhado leitos em um mesmo quarto hospitalar em uma situação única das suas vidas;
· Mas a chance deste tipo de convivência render alguma história tão bacana é “praticamente zero” em qualquer lugar do mundo, especialmente em países como o Brasil onde a pessoa que está ao seu lado pode ser um condenado que “ganhou uma saidinha de Natal” e não voltou mais “pra casa” !
E ... se é que me entende ... isso não ocorre somente com “gente pobre” ... é mais do que comum nos lembrarmos de criminosos que ostentam riqueza e frequentam qualquer tipo de “ambiente social” aqui no Brasil !
Para discutir este tema é necessário “clarificar” um pouco a matriz de custos hospitalares, desconhecida para a maioria absoluta das pessoas, inclusive a maioria absoluta dos gestores que atuam no segmento da saúde:
· Os gráficos demonstram a distribuição de custos com insumos, exceto mão de obra (salários e terceirizados), e utilidades (energia, água, telecom ...);
· O da esquerda por “grandes grupos” destes insumos;
· O da direita demonstra a distribuição destes custos entre as unidades por tipo (UTI, Apartamentos e Enfermarias).
O da direita também demonstra a quantidade de leitos que este hospital tem por tipo:
· O que mais chama a atenção é o total equilíbrio da distribuição dos custos destes insumos pelas unidades Apartamentos e Enfermarias;
· O equilíbrio não existe em relação à UTI ... apenas 12 leitos consomem próximo do que consomem unidades “convencionais” de 80 leitos.
É claro que se a gente construir gráficos com hospitais de outra proporção de número de leitos entre as unidades vamos ver barras diferentes ...
... mas posso garantir que quando calculamos valores médios por leito dificilmente vamos chegar em proporções muito diferentes !
O que determina o custo do empenho de insumos em um hospital não é significativamente o fato de existir 1 ou mais leitos por quarto:
· É o tipo de assistência (intensiva, semi, convencional ...) ... e a especialidade que demandou a assistência do paciente (cardio, psico, neuro, orto ...);
· O fato de ele estar sozinho ou acompanhado em um quarto não deve influenciar no empenho destes insumos ... tomara Deus que não, diga-se de passagem, porque se isso acontecer significa que a essência da assistência ... do ato médico ... do cuidado da enfermagem ... da fisio ... da fono ... varia não em função do que necessita ser feito, mas do nível socioeconômico do paciente ... Deus me livre se isso estivesse acontecendo !
O que muda em função da hotelaria:
· O consumo de utilidades (água, energia ...) ... e isso é muito pouco em relação aos custos totais hospitalares;
· E o consumo de serviços de higiene e limpeza ... que é insignificante em relação aos custos totais hospitalares ... mesmo os insumos utilizados variam muito pouco, como os primeiros gráficos puderam demonstrar.
O empenho de mão de obra (enfermagem, fisio ...) sempre é dimensionado por leito ... e não por quarto:
· Porque o plano de cuidados se desenvolve por paciente ... por leito ... e não por tipo de “aposento”;
· A prescrição do medicamento, a ministração, a checagem, a avaliação ... tudo ocorre por paciente, e não “por quarto” !
Somente um empenho de mão de obra muda significativamente em relação à hotelaria ... e somente em relação à saúde suplementar ... honorários médicos ... vamos comentar isso um pouco mais abaixo ... por enquanto ficamos com a métrica de que os custos não variam significativamente em função da hotelaria !
O SUS não paga hotelaria:
· As diárias convencionais estão inclusas no preço do procedimento;
· As diárias de UTI ... são UTI ... UTI não se discute a necessidade de apartar pacientes, porque se ele está na UTI não está em condições de discutir política, futebol ... não está em condições de cometer algum crime ... está sendo monitorado 24 horas por dia ... UTI é outra coisa !
· E todas as demais diárias do Grupo 8 da Tabela SIGTAP não distinguem apartamento ou enfermaria;
· Uma “diária de permanência a maior” é a mesma, não interessa se o paciente está em um quarto com 1, 2, 3, 4 ... 8 leitos ... não interessa se ele está em uma maca no corredor, se é que me entende nisso também !
Então ... com raríssimas exceções ... os hospitais que atendem SUS, atendem em enfermaria, porque ficaram com o “mantra” de que apartamento é mais caro.
No caso do SUS, nem mesmo o empenho de mão de obra referente aos honorários médicos varia em função da hotelaria ... até porque não existe diferenciação de hotelaria para o SUS, conforme “reza” a tabela SIGTAP !
Já na saúde suplementar, as tabelas da AMB (AMB-90, AMB-92, CBHPM ...) descrevem que o honorário médico pode sofrer acréscimo de 100 % (o dobro) se o paciente estiver em apartamento !
Mas é bom entender que o HM não aumenta o custo da unidade ... HM é cobrado a parte:
· Sobe o preço de quem paga ... mas não cresce o custo hospitalar !
· E na saúde suplementar, via de regra ... na maioria da maioria absoluta das vezes ... este honorário é do médico, e não do serviço de saúde !!
O que temos hoje é uma realidade que a retórica não se sustenta ... o “discurso” daquele filme fantástico não se sustenta:
· O custo-benefício, para a saúde privada ou pública, de continuarmos a ter enfermarias não é mais realidade;
· Era realidade quando construir hospitais era algo muito mais caro do que deixou de ser há décadas e décadas ...
· ... quando tínhamos poucos hospitais ...
· ... quando os hospitais eram horizontais e ocupavam enormes terrenos ...
· ... quando não existia a “tecnologia hospitalar” que temos hoje, que reduziu drasticamente os custos internos de logística !
Deixar o paciente apartado dos demais atualmente é uma “obrigação moral” tanto do sistema de financiamento público como dos privados ... como acontece em qualquer hotel, “por mais fuleiro que possa ser” !
Os gráficos demonstram que já não existe mais “tanta diferenciação de custo” por leito que possa justificar as grandes diferenças de preços das diárias praticadas para enfermaria e apartamento:
· A diferença de custo não é proporcional à diferença do preço;
· E é uma diferença pequena a ponto de se colocar a questão da qualidade assistencial no foco ... e não o custo ...
· ... passou da hora de deixarmos de obrigar um “corinthiano da Fiel” a dividir o quarto hospitalar com um “palmeirense da Mancha Verde”.
Isso é preciosismo ? ... então vamos colocar de forma mais incisiva:
· Passou da hora de deixarmos de obrigar uma pessoa de bem a ter que dividir o quarto com um criminoso, ou uma pessoa sem qualquer limite de razoabilidade para conviver em sociedade;
· Mesmo que isso significasse aumento de custo ... e como vimos, não é o caso ... não é mais questão de “mero conforto” ... os tempos são outros ... as pessoas se matam quando não concordam com a opinião do outro ... basta isso !
Hoje criminosos assassinam uma pessoa simplesmente porque ela é policial, fiscal, juiz, agente previdenciário:
· Ter que manter sigilo sobre uma profissão importante para a sociedade é um dos grandes paradoxos da sociedade atual, e é em muitas situações uma questão de sobrevivência;
· Como conseguir fazer isso (manter sigilo sobre a vida) convivendo 24 horas por dia durante alguns dias com outras pessoas ?
· E não são todas profissões que pressupõem que a pessoa tenha recursos financeiros para pagar um plano de saúde que dê cobertura em apartamento ... a maioria é de pessoas que dependem do SUS e/ou têm planos de saúde mais baratos que não dão cobertura para apartamentos em hospitais;
· E o risco não se relaciona apenas ao “profissional paciente”, mas também aos familiares deles.
Este risco do “convívio irracional em sociedade” é o que faz, por exemplo, que em um mesmo estádio em São Paulo seja proibida a presença de torcidas organizadas de times diferentes ...
· ... que nem mesmo se marquem jogos de futebol de times diferentes na mesma data e horário para evitar que torcedores de organizadas diferentes se encontrem no metrô ...
· ... é o extremismo, intolerância e impunidade dominando a sociedade e cristalizando o que se chama de “completa ausência do Estado” na garantia dos direitos individuais das “pessoas de bem” !
É coisa muito séria ... é disso que se trata !
Na prática o que acontece na saúde suplementar é vexatório:
· Não somente o caso de cobrar dobrado se o paciente está em apartamento;
· As figuras demonstram uma tabela de preços de planos de saúde que está na Internet ... voce pode achar várias delas;
· O gráfico da esquerda demonstra o preço do plano variando por faixa etária ... não vamos discutir isso ... a variação dependendo da idade do beneficiário ... daria para discutir ... mas vamos deixar isso pra lá !
· As barras azuis demonstram o preço do plano com enfermaria ... as laranjas, o preço do plano com apartamento;
· Me diga: se o preço já está variando por idade ... o que justifica que quanto maior a idade proporcionalmente maior seja o preço do plano de apartamento em relação ao de enfermaria ? ... qual o parâmetro que poderia justificar isso ?
O gráfico da direita ilustra esta prática absolutamente questionável:
· Nas primeiras faixas etárias ... até 43 anos ... a diferença entre enfermaria e apartamento é ~10 %;
· A partir daí a diferença vai aumentando até ultrapassar 40 % !
· Voce conhece algum hospital que tem apartamentos diferentes para tratar pessoas de acordo com a idade ?
· Se por um acaso voce conhecer esta raridade ... alguma coisa justifica que o preço a ser pago por um “apartamento da maior idade” seja 40 % maior do que o da “menor idade” ?
· Veja ... não estamos falando do que o paciente consome ... o que ele vai consumir está precificado e calculado atuarialmente de outra forma ... estamos falando do tipo de aposento que ele vai dormir !!
No caso do SUS:
· Se os pacientes passassem e ficar em apartamentos inviabilizaria o financiamento do sistema ?
· Poderia onerar um pouco sim ... mas posso garantir que não inviabilizaria ... por experiência, e não porque alguém narrou em um seminário;
· Convido qualquer pessoa a visitar mais de 10 hospitais públicos somente na Cidade de São Paulo que tem unidades de internação totalmente equipadas e completamente fechadas por falta de mão de obra;
· Centenas ... talvez milhares ... de quartos fechados ...
· ... e os pacientes sendo atendidos nos outros quartos com mais de um leito por quarto ... dois, três, quatro e até cinco !
· Se o cálculo de enfermagem, fisio, fono ... é feito por leito, a diferença de custo de continuar atendendo pacientes em “leitos tipo beliche” ou deixar cada paciente em um quarto é mínima ...
· ... afirmação respaldada pelos gráficos de empenho de insumos (exceto MO e U) lá do início do texto.
Aquela apresentação que assisti pregando que todos devem ficar em enfermarias está aqui contraposta ... e justificada:
· O aumento de custo para permitir que os pacientes fiquem “hospedados e não albergados” é muito pequeno;
· E necessitamos que a saúde evolua ... e não retroceda;
· Temos que pensar em melhorar a assistência e o acolhimento ... e não o contrário.
Da forma como a saúde privada (SUS) e a saúde suplementar regulada pela ANS está indo ...
· Ao invés das pessoas trazerem a proposição de que o produto saúde evoluir do 2G para o 3G ... 4G ... 5G ...
· ... aparecem pessoas propondo que como a saúde vai encarecendo, por várias razões muito fáceis de e entender, que para reduzir o custo voltemos aos “telefones fixos com fios” !
· Isso não faz sentido algum !
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Sobre o autor Enio Jorge Salu
CEO da Escepti Consultoria e Treinamento
Histórico Acadêmico
· Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo
· Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo
· Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas
· Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta
· Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed
Histórico Profissional
· Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas
· Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares
· CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa
· Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação
· Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas
· Associado NCMA – National Contract Management Association
· Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
· Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria
· Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado