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O fim do coelho no atletismo e a inflação real da saúde
0351 – 21/08/2023
Ref.: Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil
Na saúde a tecnologia que reduz custo é menor que a tecnologia que aumenta o custo
(*) todos os gráficos e ilustrações são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil e do material didático do Programa Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, dos cursos da Jornada da Gestão em Saúde e da Escepti
Quem teve a oportunidade de assistir alguns trechos da Etapa de Paris da Diamond League de Atletismo 2023 “se deliciou” com a inovação de ver na própria pista a luz que indicava se o atleta estava perto ou longe do recorde:
· Até víamos algo parecido com isso na TV, com recursos de algumas emissoras ... mas quem estava no estádio e o próprio atleta não viam !
· Antes quando um atleta “estava bem” e queria quebrar o recorde em uma corrida, era “guiado” pelo ritmo de “um atleta coelho”;
· O coelho é um atleta que corre em um ritmo bem acelerado no início da prova, mas que não tem “pedigree” para chegar ao final da corrida mantendo o ritmo;
· Mesmo o “mais treinado coelho” não tinha precisão absoluta para julgar se o seu ritmo estava 100 % adequado ... se a cadência das passadas estava “de acordo” ... afinal, seres humanos, são humanos ! ... imprecisos !!
· Já a tecnologia é implacável ... pode reproduzir “como se fosse a sombra” do último atleta a bater o recorde, inclusive nas variações de ritmo que o atleta anterior praticou, e o postulante ao recorde vai tendo “em tempo real” o feedback necessário ... fantástico !!! ... excepcional !!!
Mas o fim do coelho está longe ... bem longe ... de chegar:
· Esta tecnologia custa ... e custa muito !
· E não basta instalar luzes na borda da pista ...
· ... exige operadores do sistema ...
· ... e em uma competição que é transmitida para o mundo todo, especialmente a partir de países “do primeiro mundo” que não podem passar a imagem de “gambiarreiros” ... não se trata de 1 operador do sistema ... é toda uma equipe de suporte ... um sistema caro ... todo um “aparato” !
Ou seja ... por um longo tempo em quase 100 % das competições de atletismo pelo mundo ainda “vai ter muita cenoura” ... os coelhos vão continuar reinando absolutos ...
· ... até que o custo da tecnologia e a capacitação dos operadores se torne acessível para a maioria dos estádios de atletismo que “abrigam” competições de grande porte;
· Quem sabe ... a partir do uso de drones a ideia seja implantada em corridas de rua, natação em piscinas, lagos, rios e mar aberto ... até lá ... longa vida aos coelhos !!
E uma coisa é certa:
· Por mais que a tecnologia barateie ...
· ... por mais que o sistema aumente a segurança para não haver erros ...
· ... o sistema nunca será mais barato do que o coelho ...
· ... até porque boa parte dos coelhos nem ganham para isso !
· Ser convidado para “desempenhar o papel” e aparecer ... ter projeção ... já é a sua cenoura !
A tecnologia pode reduzir ou aumentar custos ... as vezes é muito difícil calcular o custo x benefício da incorporação da tecnologia ... a gente vive as voltas com esta questão o tempo todo em consultorias de gestão de negócios ... por exemplo:
· A lista da esquerda me surpreendeu ao assessorar um complexo hospitalar na análise do impacto da implantação da tecnologia de segurança remota para acesso nas dependências ... a troca de quase 100 % de pessoas nas portarias e acessos, pelo controle remoto, câmeras, “tags” ...
· Minha surpresa se deu pela variedade de profissões que existiam no complexo hospitalar neste pequeno nicho ... funcionários e terceirizados;
· Devo confessar que até agora não entendi direito a diferença entre algumas delas ... entre vigia e vigilante por exemplo ... me explicaram ... pelo menos tentaram ... uma, duas, três vezes ... mas não deu resultado ! ... confesso que tenho “algumas travas” para entender algumas coisas que outras pessoas parecem ter muita facilidade de discernimento !!
De qualquer modo ...
· ... as pintadas de amarelo são profissões que não existiam quando a segurança era 100 % presencial;
· A tecnologia reduz o volume (a quantidade) de profissionais alocados, mas aumenta a variedade (os tipos) de profissionais envolvidos;
· Mesmo antes de iniciar o estudo era sabido que o custo final reduziria ... este cálculo é bem simples de ser feito;
· A questão não era calcular se reduziria, mas o quanto reduziria ... e identificando os pontos de atenção, como onde não é recomendável substituir uma câmera por uma pessoa ...
· Enfim ... minha colaboração neste projeto era mais a de aportar experiência em ter tido a oportunidade de conhecer profissionalmente mais de 200 hospitais, do que como especialista em rentabilidade ... opinar sobre os pontos de atenção operacionais que “a planta” hospitalar sinalizava ... etc...
A tecnologia é implacável:
· Como estava “com a mão na massa” e surpreso com a variedade de profissões na área de segurança deste complexo hospitalar, resolvi fazer, por minha conta, a análise de outras áreas;
· A tabela da direita lista as relacionadas a área de nutrição;
· Quando entrei na área da saúde (faz tempo) em um grande hospital, a lista de profissões relacionadas a nutrição hospitalar tinha meia dúzia de profissões (cargos) ... hoje ... !!!
Imediatamente lembrei que naquela época (quando era executivo naquele grande hospital) participei de um evento onde a IBM (na época empresa da área de TI) fez uma apresentação que continha 3 afirmações muito emblemáticas:
· A maioria absoluta das profissões que são melhores remuneradas hoje não existiam há 10 anos atrás;
· Estamos formando hoje milhões de pessoas para atuar em profissões que ainda não existem ... profissões que não conhecemos e nem sabemos que um dia serão essenciais;
· Para se manter no mercado de trabalho as pessoas que hoje (naquela época) se esforçam para ter um curso superior, daqui 10 anos terão que ter cursado pelo menos 2 especializações ou pós-graduações.
Na época achei exagero ... dá para acreditar que não acreditei naquelas “profecias” de um “consultor engomadinho” da IBM ?
Era tudo verdade ! ... na verdade tinha um erro ... o futuro que eles projetavam como sendo de 10 anos, aconteceu antes ... um pouco mais rápido do que eles estavam profetizando !!
A questão da inflação da saúde é muito similar a questão do fim do coelho !
Como demonstra a tabela, nem sempre a incorporação de uma nova tecnologia “aposenta” a tecnologia anterior !
A tecnologia vai sendo incorporada para evitar o pior: o óbito, a sequela, a perda de qualidade de vida:
· Isso é bom ! ... é o próprio atleta vendo a marca do recorde na pista, com absoluta precisão, guiando seu ritmo para bater a marca anterior !
· Pode ir reduzindo o tempo de internação ... o empenho de procedimentos mais invasivos ... é muito bom !!
· Vai dotando a assistência de qualidade ... mas vai incorporando custos !!!
O custo da tecnologia na saúde demora para chegar em “todas as pistas de atletismo”:
· Enquanto tem serviço de saúde “se gabando” por ter um robô ... a maioria dos outros reclama que tem dificuldade para bancar o custo dos EPIs ! ... usando a luva dos dois lados para economizar, sabe ?
· A “pista com as luzes é o marketing” do serviço de saúde que tem margem para incorporar a tecnologia, porque sua clientela paga pelo custo da tecnologia ... até “se gaba” de pagar mais caro por uma tecnologia na saúde, mesmo que na prática ela não signifique “quebra de recorde” ... que não tenha associação com a parte assistencial do atendimento;
· Mas a maioria dos serviços de saúde “vai de coelho”;
· E isso não significa que o recorde não vai ser batido onde a guia é o coelho ... não mesmo ! ... o atleta muito bem-preparado ... o atleta excepcional ... bate o recorde sem coelho, com coelho ou com luzinha na pista ... se é que me entende !!
Quando cursei o 2º grau era da equipe de atletismo pela minha escola (dá para acreditar ... além de “jogar bola” em times de várzea, já fui atleta do salto !):
· E pela minha escola ganhei medalhas em competições infanto-juvenis que tinham clubes grandes, famosos e tradicionais participando ... não competíamos somente entre escolas;
· Competíamos com atletas que tinham técnicos profissionais ... o meu técnico era o professor de educação física ... e mesmo assim “dava jogo” ! ...
· ... mesmo a gente com coelhos e os clubes com luzinhas na pista, deixei muita gente atras da minha marca no tanque de areia do final da pista !!
Durante estes longos anos vi (ninguém me falou) muitos hospitais que nem sempre tem um mero coelho quebrando recordes que muitos hospitais com luzinhas na pista teriam inveja:
· Hospitais que não aportam tanta tecnologia com indicadores de infecção, média de permanência, reinternação, satisfação de clientes ... indicadores de qualidade assistencial e de acolhimento ... de dar inveja para hospitais que espalham “alexas” para abrir e fechar persianas em janelas;
· É claro que onde a tecnologia é abundante a chance de aportar qualidade é maior ... mas nem sempre é condição “sine qua non” ... dá para bater recorde com luzinhas, ou com coelho, ou com a simples combinação de vocação e determinação ...
· ... e é claro que para dar satisfação ao expectador não é necessário bater o recorde ... o torcedor fica contente em ver voce ganhando a corrida com ou sem recorde ... se é que me entende ... se o resultado do tratamento for bom ... não é necessário ser campeão mundial ... o paciente vai gostar !
O que mais se discute atualmente quando o assunto é gestão da saúde sobre a inflação real da saúde ... a pista com luzinhas ... é o quanto ela se relaciona com a prática assistencial, e o quanto ela pode ser supérflua ... e cara:
· A regulação que exige a rastreabilidade dos medicamentos ...
· ... as melhores práticas de espalhar botões de pânico em banheiros ...
· ... as melhores práticas de aferição do paciente e da prescrição ...
· ... a incorporação de comando de voz para abrir persianas nas janelas e outros “requintes” de hotelaria ...
· ... tudo isso são as luzinhas da pista ... e custam ... tudo isso custa muito caro !
O que é lei é lei ... tem que ser feito ... isso posto ... se a questão não é incorporar a tecnologia para demonstrar que “é moderninho” ... nestes casos regulados por lei ... a incorporação da tecnologia tem que vingar, “e o custo que se dane” !
Naquilo que não é lei a questão sempre deve ser sempre analisar real “custo x benefício” da incorporação da tecnologia.
E continuar recorrendo ao coelho sempre que possível ... sempre que a tecnologia não inviabilize a sustentabilidade financeira da instituição ... do hospital ... da operadora ... do SUS ... não é vergonha nenhuma ... é necessidade para “manter os sinais vitais da instituição” e não somente dos pacientes !!
Um milhão de coelhos vão deixar de existir na saúde ... vamos nos deliciar observando as luzinhas na pista em serviços de saúde ... faz “bem pro ego” ... mas um “zilhão” de coelhos vão continuar protagonizando a competição !
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Sobre o autor Enio Jorge Salu
CEO da Escepti Consultoria e Treinamento
Histórico Acadêmico
· Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo
· Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo
· Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas
· Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta
· Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed
Histórico Profissional
· Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas
· Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares
· CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa
· Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação
· Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas
· Associado NCMA – National Contract Management Association
· Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
· Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria
· Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado