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Impacto COVID no Censo 2022 e o Apagão na Gestão da Saúde
0362 – 18/10/2023
Ref.: Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil
Será que a lição da pandemia serviu para alguma coisa para os políticos ?
(*) todos os gráficos e ilustrações são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil e do material didático do Programa Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, dos cursos da Jornada da Gestão em Saúde e da Escepti
Se voce é de extrema direita ... extrema esquerda ... se espera que este texto tenha sido elaborado para criticar este governo ou o anterior ... não perca seu tempo ... as citações “governo” aqui se referem a este e os anteriores, tanto do executivo, como do legislativo ... federal, estaduais, distrital e municipais !
Nesta semana iniciei mais uma série de aulas em uma nova turma de pós-graduação da Faculdade Einstein ... sempre agradecendo às professoras Marcela Marrach Coutinho, Deise de Carvalho e Glauce Roseane de Almeida Brito a oportunidade de discutir gestão da saúde em um fórum sem vieses de estar do lado do SUS, ou das operadoras, ou dos serviços de saúde.
A “encomenda” da primeira aula foi “Panorama da Saúde no Brasil”, e após algumas exposições sobre sistemas de financiamento da saúde, discutimos a necessidade da gestão da saúde sempre se pautar por números e não em “achismos”, e sempre conhecer o contexto ... sem conhecer o contexto os números podem gerar análises e interpretações completamente equivocadas ... exemplificando o caso do impacto da COVID no crescimento da população do Brasil.
Na minha estada em Brasília na semana retrasada vi uma exposição sobre o censo 2022, e nela o palestrante ressaltou que o Brasil perdeu uma população de ~700 mil pessoas na pandemia:
· Havia um viés político na explanação dele, que não me chamou a atenção porque ele tem um cargo público, e isso faz parte ... é assim mesmo;
· O que me chamou a atenção foi ver que ele não tem discernimento para discutir os números !
· Colocando 700 mil óbitos como a única consequência da COVID nos números do Censo ele acabou favorecendo quem “desejava atacar” !!
O gráfico da esquerda ilustra a “conta de padeiro” que ele fez:
· Pegou o número final do censo e o número oficial de óbitos por COVID;
· Como se a vida real tivesse sido com a COVID a mesma coisa que teria sido sem ela, ou seja, se o crescimento da população tivesse sido linear, como demonstra o gráfico da direita !
O impacto real da COVID no Censo foi muito ... mas muito maior do que 700 mil vidas !
Estas pirâmides populacionais “fantásticas” produzidas pela OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) demonstram como “o bichinnho” foi danoso:
· Sobrepõe a distribuição da população por faixa etária nos dois gráficos ...
· ... com a distribuição da doença por faixa etária no gráfico da esquerda ...
· ... e com a distribuição dos óbitos por COVID por faixa etária no gráfico da direita.
O gráfico da direita representa bem o artifício que o governo utilizou para enfrentar a pandemia ... o apagão da saúde ... as narrativas que permearam os holofotes:
· O argumento que interessava a ele: uma doença que mata os velhinhos ... mata mais os velhinhos do sexo masculino que durante a vida sempre se cuidaram menos que as mulheres, e consequentemente carregam uma “enormidade” comorbidades que agravavam o tratamento deles;
· Um argumento que serviu para um enfrentamento “brando” de uma parte do dano que a pandemia “escancarava”, mas não era conveniente ver !
Já o gráfico da esquerda, para quem tem alguma iniciação em epidemiologia mostrava a outra face da doença, que ficou como “evento oculto, atrás dos holofotes:
· Não uma doença que “apenas” chega e mata !
· Mas uma doença que chega e “deixa de fazer nascer” porque, “tirando os óbitos dos velhinhos”, ela foi muito mais efetiva justamente nas faixas etárias “mais reprodutivas” !!
· E um vírus que, mesmo que não tenha matado, mesmo que não tenha influenciado a natalidade, se impregnou em praticamente toda a população que representa a maior força de trabalho, gerando consequências adversas !!!
· ... efeitos colaterais que agravaram a mudança do perfil epidemiológico da população !!!!
Já pelo gráfico é possível ver que o estrago da pandemia na população foi muito maior que o número de óbitos por COVID, não é verdade ?
Os gráficos ilustram a evolução de partos e óbitos em internações no SUS:
· Temos mais partos no Brasil do que os realizados no SUS ... temos partos na saúde suplementar regulada e não regulada, e partos realizados “pelos confins do Brasil” em residências por parteiras, e em “toda a sorte de locais” por “curandeiros”, por “pajés” ...
· E temos mais óbitos no Brasil do que os realizados no SUS ... temos óbitos na saúde suplementar regulada e não regulada, e em condições inóspitas onde a pessoa, especialmente a menos favorecida economicamente, não tem nem mesmo a oportunidade de falecer de forma digna.
Portanto, ao considerar apenas os partos no SUS, e os óbitos em internações SUS:
· Os cálculos que vamos fazer serão “bonzinhos” para demonstrar a realidade “nua e crua”;
· O impacto que vamos calcular é maior do que o utilizado pelo palestrante em Brasília, mas ainda é menor do que o real, que inclui o que ocorre fora do SUS.
Os gráficos:
· Demonstram a evolução de partos e óbitos entre dezembro de 2019 e dezembro de 2022;
· O da esquerda demonstra uma queda significativa no volume de partos, e mesmo com uma queda no volume de óbitos em 2022, é um volume maior de óbitos em 2022 do que em 2019 !
· O gráfico da direita ilustra a evolução anual de partos, óbitos e óbitos por COVID em 2020, 2021 e 2022;
· O que deve ser destacado no gráfico da direita é que mesmo com uma queda brusca no volume de óbitos por COVID, o volume total de óbitos em 2022 (sem pandemia) é praticamente igual ao de 2020 (com pandemia) !
As 700 mil mortes por COVID ... as escandalosas 700 mil mortes ... infelizmente ... não representam a realidade do impacto da pandemia no Censo 2022 !
Se fizermos uma projeção do que teria sido “a vida” se não tivesse existido COVID-19 podemos construir o gráfico da esquerda:
· Nas barras e linha azuis a evolução dos partos registrada ... a real;
· Nas barras e linha laranjas o que teria sido a evolução dos partos se não tivéssemos sido acometidos pela pandemia;
· A partir de 2020 teríamos o impacto do volume de nascimentos ano a ano !!
E se separarmos os óbitos COVID dos demais óbitos construímos o gráfico da direita:
· Evidentemente com queda no volume de óbitos SUS, entre 2021 e 2022, mas não entre 2020 e 2022;
· E com linha de tendencia de aumento quando analisamos os óbitos “Não COVID”;
· Este aumento de óbitos, diga-se de passagem, já exploramos em diversos textos que demonstram que o perfil epidemiológico da população já vinha ocorrendo há alguns anos, e a pandemia apenas “acelerou” um pouco a realidade ...
· ... mais agravada em 2020 e 2021, mas que continua praticamente na mesma linha de tendencia em 2022 que existia até 2019 !
Então podemos simular a diferença ...
· ... entre o que aconteceu no crescimento da população durante a pandemia, representada pelas barras e linha azuis do gráfico ...
· ... e o que teria sido o crescimento da população se não tivesse existido a pandemia, representada pelas barras e linha laranjas do gráfico.
Ou seja, o impacto real da pandemia no Censo 2022, que não se resume ao número de óbitos registrados com COVID-19 como causa preponderante ! ...
· ... ~ 1 milhão e setecentas mil pessoas !! ... muito, mas muito mais do que ~700 mil óbitos por COVID-19 !!!
E estes números estão “conservadores” ... bonzinhos ... minimizam o impacto ... vamos lembrar ? ... só consideramos no cálculo:
· Os óbitos em internações SUS ... o volume total de óbitos é maior !
· Os óbitos COVID-19 dos números oficiais ... durante meses o MS não divulgou os óbitos e os registros ficaram por conta de um consórcio entre a imprensa e secretarias de saúde, algumas alinhadas e outras não alinhadas com “a causa” ... é improvável que, por exemplo, todas aquelas pessoas que foram enterradas em valas em Manaus tenham sido registradas nos números oficiais ... as que não conseguiram chegar às UPAs em Macapá, que também foi um evento midiático ... e por aí vai em todos os eventos que as pessoas que atuam profissionalmente na gestão da saúde tiveram o desprazer de presenciar, mas não se tornaram eventos midiáticos !
Sabemos que a taxa de natalidade apresenta redução ano a ano desde antes da pandemia:
· Os “casais” estão optando por terem menos filhos;
· Se tivéssemos os números do Censo ano a ano, e não somente a cada 10 anos, poderíamos ter feito cálculos mais precisos;
· É urgente repensar a periodicidade do Censo ... 10 anos podia ser adequado no passado ... hoje as coisas mudam muito mais rapidamente !
· Realizar o Censo a cada 5 anos é um custo insignificante comparado com os resultados que as políticas públicas que utilizam dados do Censo proporcionam ... com o retorno que o Censo pode dar para a população se for feito em períodos de tempo menores.
· Se fazemos eleições a cada 2 anos, a um custo infinitamente superior, não existe razão para que o Censo não seja feito a cada 5 anos ! ... poderíamos mapear com muito mais precisão os nascimentos e os óbitos, empenhando recursos na saúde de forma muito mais eficiente !!
Bem ... se a queda de 1 milhão e setecentos mil habitantes assusta ... assusta ainda mais ter a certeza de que o número é maior do que este, e não podermos calcular com maior precisão !!!
Por isso considerei importante em uma aula de uma turma de pós-graduação da Faculdade Einstein (Centro de Educação em Saúde Abram Szajman) passar para os alunos a importância de trabalharmos com números como base para a gestão adequada da saúde em qualquer tipo de disciplina, e sempre considerando o contexto para não incorrer em erros de interpretação ... quando mais os gestores da saúde tiverem certeza sobre isso ... melhor será a saúde pública e privada no Brasil.
Por isso agradeço a oportunidade para as Profas. Marcela, Deise e Glauce ... muito obrigado !!!
Vale a pena retornar ao início do texto:
· O objetivo aqui não é político ... não se trata de algo para favorecer ou “desconstruir” o que fazem políticos de direita ou de esquerda “como profissão”;
· Basta lembrar que nem o governo anterior, nem o governo atual ... nem a legislatura anterior, nem a legislatura atual ... ninguém colocou na agenda ações de combate às consequências da pandemia ...
· ... se limitaram a falar sobre vacinas, hospitais de campanha, respiradores, oxigênio ...
· ... apenas ações de tratamento dos doentes com COVID !
O que COVID-19 impactou para a população, que é muito mais do que isso ... não está na agenda de ninguém ! ... nem da direita, nem da esquerda, nem “do meio” ... infelizmente !!
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Contato contato@escepti.com.br
Sobre o autor Enio Jorge Salu
CEO da Escepti Consultoria e Treinamento
Histórico Acadêmico
· Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo
· Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo
· Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas
· Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta
· Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed
Histórico Profissional
· Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas
· Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares
· CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa
· Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação
· Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas
· Associado NCMA – National Contract Management Association
· Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
· Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Própria
· Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado